quinta-feira, 23 de junho de 2022

Condado de Eguren Viúra 2019

 

Dizem que nada combinado transcorre da forma que esperamos. Não sei se é mais ou menos assim a frase, mas, no cotidiano de nossas vidas costumamos dizer que se fosse combinado não seria melhor. Parece que as coisas que acontecem sem combinar, sem projetar ou coisa que o valha têm um “sabor” diferente. Será?

Bom não vou contextualizar essa questão, mas acredito que tais fenômenos se adequem ao universo do vinho. Esse “sabor” diferente torna-se afável aos sentidos. Bem pelo menos para mim as experiências têm sido agradáveis.

Uma em especial vale ser contada, mas confesso que não projetei nada de bom no início, mas o valor, extremamente atrativo, me estimulou a levar esse rótulo, cuja casta, até então, não conhecia. Esse ponto também foi o que me chamou a atenção sendo preponderante para a minha decisão de compra.

Estava eu, em minhas incursões aos supermercados, fazendo aquelas compras cotidianas, algumas inclusive frívolas, e, como ainda tinha tempo, era um domingo ensolarado, decidi passar na adega para ver se havia alguma novidade.

Os olhos correndo as gôndolas avistou algo interessante. Um rótulo simples, mas impactado por um preço imbatível: R$ 19,90! Tomei a garrafa em minhas mãos e, a princípio, não vi nada que me chamasse a atenção. Olhando um pouco mais, com aquele requinte de detalhes, percebi a palavra “Viúra”. Não conhecia e, de posse de meu celular, alguns caprichos da tecnologia, me pus a pesquisar e percebi que se tratava de uma variedade branca muito popular na Espanha, mas eu não conhecia.

Não era uma casta tão difundida lá para o ano de 2019, creio, pois nunca tinha visto um rótulo desta variedade. Agora tomado por uma curiosidade, mas temeroso pela qualidade do vinho, decidi leva-lo, mas decidido também em degusta-lo naquele mesmo dia. Que vinho surpreendente foi o El Lagar de la Aldea Viúra 2017. Decidi comprar mais rótulos desta variedade.

Ao longo do tempo descobri que a Viúra também se chama Macabeo e também é usada para compor blends do famoso espumante espanhol Cava. O meu desejo em degustar o Cava aumentou e degustar alguns poucos rótulos, mas eu precisava degustar o Viúra, o branco tranquilo. Vi uma promoção muito interessante em um site de vendas de vinhos popular e não hesitei e comprei.

E ele demorou algum tempo para ser degustado, mas agora não vai passar despercebido, será “abatido” mesmo que nessa noite de início de inverno. Estou longe do ortodoxo, afinal, nem sempre tenho de degustar tintos encorpados no inverno.

E ele não decepcionou! Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da minha queridinha região de Castilla La Mancha e se chama Condado de Eguren da casta Viúra da safra 2019. Já tem algum tempo, três anos de safra, fiquei um tanto quanto temeroso, mas está ótimo, de ótima drincabilidade. Mas antes de falar do vinho contemos a história da terra de Dom Quixote e da casta branca mais popular da Espanha: Viúra.

Castilla La Mancha

Bem ao centro da Espanha, país com a maior área de vinhas plantadas em todo o mundo e o terceiro maior mercado produtor de vinhos, está localizada a região vitivinícola de Castilla La Mancha. Um território com grande extensão de terra quase que completamente plana, sem grandes elevações.  É nessa macrorregião que se origina quase 50% do total de litros de vinho produzidos anualmente na Espanha.

O nome “La Mancha” tem origem na expressão “Mantxa” que em árabe significa “terra seca”, o que de fato caracteriza a região. Neste território, o clima continental ao extremo provoca grandes diferenças de temperaturas entre verão e inverno. Nos dias quentes de verão os termômetros podem alcançar os 45°C, enquanto nas noites rigorosas de frio intenso do inverno, as temperaturas negativas podem chegar a até -15°C.

A irrigação torna-se muitas vezes essencial: além do baixo índice pluviométrico devido ao caráter continental e mediterrâneo do clima, o local se torna ainda mais seco graças ao seu microclima, que impede a entrada de correntes marítimas úmidas. A ocorrência de sol por ano é de aproximadamente 3.000 horas. Esta macrorregião é composta por várias regiões menores, incluindo sete “Denominações de Origem”, das quais se pode destacar La Mancha e Valdepeñenas.

Castilla La Mancha

Sub-regiões de Castilla

La Mancha: é a principal região dentre elas, sendo considerada a maior DO da Espanha e a mais extensa zona vinícola do mundo.  O território abrange 182 municípios, distribuídos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo. As principais uvas produzidas naquele solo são a uva branca Airen e a popular tinta espanhola Tempranillo, também conhecida localmente como Cencibel.

Valdepeñenas: localizada mais ao sul, mas com as mesmas condições climáticas, tem construído sua boa reputação graças à produção de vinhos de grande qualidade, normalmente varietais da uva Tempranillo ou blends desta com castas internacionais.

A DO La Mancha conta mais de 164.000 hectares de vinhedos plantados. Com isso, é a maior Denominação de Origem do país e a maior área vitivinícola contínua do mundo, abrangendo 182 municípios, divididos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo.

A regulamentação comunitária permite a produção de vinhos com indicação geográfica (IGP Vinos de la Tierra de Castilla), desde que tenham sido obtidos a partir de determinadas castas e provenham de uma determinada zona de produção. Na Espanha, esses vinhos são chamados de Vinos de la Tierra e podem usar menções em sua rotulagem relacionadas às variedades, safras e nome da vinícola, bem como às condições naturais ou técnicas da viticultura que deram origem ao vinho.

A importância social e econômica do setor na região, bem como o esforço de modernização feito pelos produtores, transformadores, engarrafadores e comerciantes nos últimos anos, exige um instrumento que lhes permita oferecer os seus vinhos de qualidade dignamente rotulados ao mercado.

Os tipos de vinhos que podem ser elaborados no IGP Vinos de la Tierra de Castilla são: vinhos brancos, rosés e tintos; Vinhos espumantes; Vinhos espumantes; vinhos licorosos; e vinhos de uvas maduras. São eles:

Brancas: Airén, Albillo Real, Chardonnay, Gewürztraminer, Macabeo oViura, Malvar, Malvasía Aromática, Marisancho o Pardillo, Merseguera, Moscatel de grano menudo, Moscatel de Alejandría, Parellada, Pedro Ximénez, Riesling, Sauvignon blanc, Torrontés, Verdejo, Verdoncho e Viognier.

Tintas: Bobal, Cabernet-sauvignon, Cabernet-franc, Coloraillo, Forcallat tinta, Garnacha tinta, Garnacha tintorera, Graciano, Malbec, Mazuela, Mencia, Merlot, Monastrell, Moravia agria, Moravia dulce o Crujidera, Petit Verdot, Pinot Noir, Prieto picudo, Rojal tinta, Syrah, Tempranillo o Cencibel, Tinto de la pámpana blanca e Tinto Velasco o Frasco.

As castas mais cultivadas em Castilla de La Mancha, sejam DO ou IGP, são: Airén, Viúra, Sauvignon Blanc e Chardonnay entre as brancas e as tintas são: Tempranillo, Syrah, Cabernet Sauvignon, Merlot e Grenache.

Classificação dos rótulos da DO de Castilla La Mancha:

• Jóven: Categoria mais básica, sem passagem por madeira, para ser consumido preferencialmente no mesmo ano da colheita.

• Tradicional: Sem passagem por madeira, porém com mais estrutura do que o Jóven.

• Envelhecimento em barris de carvalho: Envelhecimento mínimo de 90 dias em barris de carvalho.

• Crianza: Envelhecimento natural de dois anos, sendo, pelo menos, seis meses em barris de carvalho.

• Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 12 meses em barris de carvalho e 24 meses em garrafa.

• Gran Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 18 meses em barris de carvalho e 42 meses em garrafa.

• Espumante: Produzidos a partir do método tradicional (segunda fermentação em garrafa), com no mínimo nove meses de autólise.

Viúra ou Macabeo

A Viura, conhecida também como Macabeo, é uma variedade de uva branca amplamente utilizada na Espanha e em algumas áreas vinícolas da França. Trata-se de uma casta versátil, podendo dar origem a vinhos tranquilos, secos, doces e espumantes. Os nomes Macabeu e Maccabéo são mais comuns em Languedoc-Roussillon, no sul da França.

Os vinhos elaborados a partir da Viura podem ser frescos, aromáticos e florais quando as uvas são colhidas cedo e os exemplares envelhecidos em barris de aço inoxidável. Quando as uvas permanecem um tempo a mais na videira e a bebida é envelhecida em barris de carvalho, os vinhos adquirem aromas de mel e noz.

A Espanha é o lar da uva Viura, principalmente, as regiões do norte do país. A variedade é o principal ingrediente dos vinhos brancos de Rioja, onde é utilizada em quase todos as áreas da Catalunha, principalmente, no espumante Cava, ao lado das uvas Parellada e Xarel-lo. No Sul, ao longo da costa do Mediterrâneo, a Viura pode ser encontrada em diferentes regiões, especialmente em Jumilla, Valencia e Yecla.

Trata-se de uma uva com baixa complexidade aromática e sua relativa neutralidade a torna uma boa candidata para vinhos de corte. Quando colhida antecipadamente, os vinhos varietais Viura podem apresentar sabores de toranja com altos níveis de acidez, no entanto, quando permanece por mais um tempo na vinha, os vinhos em geral apresentam um gosto mais de carvalho.

A uva Viura pode ser utilizada por conta própria para dar origem a vinhos varietais, no entanto, a variedade é comumente misturada com outras uvas locais. Na região de Rioja, as principais parceiras da Viura são as uvas Malvasia e Garnacha Blanca, enquanto na Catalunha as uvas que aparecem ao lado da Viura são a Parellada e Xarel-lo.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um amarelo pálido, palha, límpido e bem brilhante, mas com reflexos esverdeados.

No nariz não entrega complexidade, expressividade aromática, mas se percebe as notas de frutas brancas e cítricas e delicados e agradáveis notas florais, de flores brancas.

Na boca tem o seu destaque. As frutas brancas e cítricas ganham protagonismo, onde se nota abacaxi, maça-verde, pera, lima, com belíssimo volume de boca, cheio, marcante, compensando a baixa acidez. Tem um final com um discreto dulçor, fazendo dele prolongado e persistente.

Uma casta popular na Espanha e que certamente será popular em minha taça! Um vinho frutado, leve, despretensioso. Não é tão aromático, mas compensa e muito pelo sabor marcante na boca. Um vinho altivo, vivaz e com uma personalidade muito marcante, mesmo que seja um branco leve e despretensioso. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Bodegas Condado de Eguren:

A Bodega Condado de Egúren é uma adega familiar, localizada em Laguardia. Inovadora, com projeção internacional, autofinanciada e independente, dedicada à produção e comercialização dos nossos vinhos Rioja Alavesa.

Tem 130 hectares de vinha própria onde cultivam e controlam a produção das uvas de forma tradicional em harmonia com as mais recentes técnicas vitícolas.

As uvas usadas para fazer os vinhos são provenientes de vinhedos nos solos argilo-calcários de Labastida, Páganos, Leza e Elciego, no coração da Rioja Alavesa. Procura-se uma orientação norte-sul e são realizados em treliças altas, garantindo assim uma maior exposição solar. Como as vinhas não são irrigadas, estão totalmente dependentes das condições climáticas. Realiza-se a vindima manual e mecanicamente, para que as uvas cheguem à adega no seu melhor momento.

A adega está na sexta geração de uma família dedicada ao cuidado da vinha, com uma adega e um hotel entre vinhas localizado em Laguardia.

Mais informações acesse:

https://egurenugarte.com/

Referências:

“Vinho Blog”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote

Blog “Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote#:~:text=Este%20livro%2C%20universalmente%20famoso%2C%20trata,no%20centro%2Fsudeste%20da%20Espanha.&text=Os%20primeiros%20escritos%20da%20cultura,vinhas%20foram%20introduzidas%20pelos%20romanos.

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinhos-dos-moinhos_4580.html

“Blog VinhoSite”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/viura

“Adega Tanino”: https://www.adegatanino.com.br/uva/macabeoviura

 

 

 

 

 


sábado, 18 de junho de 2022

Moinho de Sula Reserva Baga 2014

 

Eis que, finalmente, ela me surge por inteiro! Falo de uma casta que é o símbolo, a personificação de uma região que, tem pouco tempo, que conheci e que, a cada rótulo, me deixo seduzir: Falo da casta Baga e da Bairrada!

E quando falo que ela me surge por inteiro é na sua versão varietal! Em várias experiências ela veio em corte, em blends, igualmente sedutores em que ela protagonizou e entregou vinhos peculiares, diria arrebatadores.

São definitivamente vinhos pouco usuais, pouco ortodoxos, diria difíceis para aqueles que estão adentrando no universo do vinho ou ainda aqueles que se entregam às zonas de conforto dos vinhos escancaradamente frutados.

Mesmo que a Baga, em tempos contemporâneos, graças ao enólogo e vinhateiro Luis Pato, conhecido como aquele que “domou” a Baga, a variedade é, por si só, extremamente peculiar, diferente, por assim dizer.

Como? Não sei dizer, tecnicamente! Talvez é mais algo mais orgânico ou pelo menos deveria ser os dois, mas a Baga traz, ainda hoje, algo de selvagem, de rústico, que a caracterizou nos seus primórdios, traz contornos de tabaco, de couro, de frutas secas e pretas. Em suma, uma casta pouco usual.

E quem abriu as cortinas, os meus olhos para a Baga, a Bairrada e o Beira Atlântico, a região coadjuvante, mas não menos importante, foi a Adega de Cantanhede. A Cantanhede me foi revelada, de uma forma quase despretensiosa, por um de seus rótulos mais falados e premiados, o Marquês de Marialva Colheita Selecionada. Eu degustei a safra 2014 no ano de 2019! Achei que estaria “avinagrado”, ruim! Enganei-me! Um senhor vinho! Vivo, pleno aos 5 anos! A Bairrada se revelara para mim com esse rótulo! A Baga se mostrava com a sua incrível capacidade longeva!

O interesse pelos rótulos desse produtor, pelos vinhos da Bairrada e do Beira Atlântico foi instantâneo. Para o Beira Atlântico foi um pulo! E a linha Moinho de Sula me foi apresentada! O Colheita Selecionada branco, o Reserva Arinto e mais recentemente o Colheita Selecionada tinto degustado com 6 anos de safra e tendo a Baga predominante.

Então dessa vez a Baga será protagonista e o vinho escolhido é da “família” Moinho de Sula. E este já está com seus oito anos de vida! Será que resistiu? Será que está em sua plenitude? A Ansiedade me toma de assalto nesse momento. O vinho ganha a liberdade com a retirada da rolha, o ritual traz a textura inicial à degustação.

A taça finalmente é inundada pela poesia líquida e finalmente o vinho que degustei e gostei veio do Beira Atlântico e se chama Moinho de Sula Reserva da casta Baga (100%) da safra 2014. E como gostei! Todas as características da Baga, que conheci, há pouco tempo, estão neste rótulo e agora figurando solitariamente, mas ricamente.

Então sem mais delongas, antes de tecer maiores e melhores, sem dúvida, comentários do vinho, contemos um pouco a história da Baga e da região onde domina: Beira Atlântico.

Baga

A uva Baga, uma das principais uvas nativas de Portugal, é capaz de oferecer enorme complexidade aos rótulos que compõe. Demonstrando muita classe e estrutura, a variedade da casta de tintos é única no seu valor e possui um fantástico potencial de envelhecimento, que atua com o vinho na garrafa durante anos após sua fabricação.

A uva Baga é uma variedade amplamente utilizada na costa central de Portugal, na elaboração de ótimos vinhos tintos. Particularmente na região da Bairrada, a Baga é, sem dúvida, uma das uvas tintas mais cultivadas, além de ser plantada também no Dão e em Ribatejo. Há quem diga que a casta nasceu nas terras do Dão, inclusive alguns produtores locais mais tradicionais defendem essa tese, mas foi nas terras da Bairrada que ganhou reputação, onde ocupa mais de 90% dos vinhedos.

A Baga é conhecida tradicionalmente pela espessura de sua pele, em proporção com o tamanho das pequenas bagas que o cacho apresenta. Além disso, essa variedade é extremamente tânica, podendo ser notado o caráter adstringente em alguns vinhos.

Baga

A Baga é uma uva pequena, com casca grossa, capaz de oferecer classe e estrutura aos rótulos que compõem, que vão desde os tintos até os rosés e espumantes. É exatamente o fato do fruto ser pequeno que faz com que os vinhos da uva Baga tenham taninos em alta concentração e acidez acentuada.

No passado, a Baga era conhecida por ser empregada na produção de vinhos rústicos, excessivamente ácidos e tânicos e de pouca concentração. Porém, após a chegada do genial Luís Pato, conhecido como o “revolucionário da Bairrada” e maior expoente desta variedade, a casta da uva Baga foi “domesticada”.

Luis Pato

O cultivo da Baga é árduo e trabalhoso, demorando para que o amadurecimento ocorra. A fruta desenvolve-se melhor quando plantada em solos argilosos e necessita de uma excelente exposição ao sol durante o processo de cultivo. Entretanto, após os devidos cuidados e maturação, a Baga produz preciosos rótulos, podendo envelhecer na garrafa durante anos, garantindo complexidade e elegância para seus exemplares, além de tornar os vinhos concentrados, aromáticos e possuidores de uma coloração escura.

Conhecida também como Tinta da Bairrada, Tinta Poeirinha ou Tinta Fina, a uva Baga atualmente é considerada uma das maiores uvas portuguesas, com enorme complexidade, estrutura e classe, sendo muito apreciada no mundo do vinho. A casta Baga dá origem a vinhos portugueses com muita personalidade, altamente interessantes e únicos.

Beira Atlântico

A produção de vinho na região remonta ao tempo dos romanos, fazendo disso prova os diversos lagares talhados nas rochas graníticas (lagares antropomórficos), onde na época o vinho era produzido. Já nos reinados de D. João I e de D. João III, respectivamente, foram tomadas medidas de proteção para os vinhos desta área do país, dadas a sua qualidade e importância social e econômica.

A tradição destes vinhos remonta ao reinado de D. Afonso Henriques, que autorizou a plantação das vinhas na região, com a condição de ser dada uma quarta parte do vinho produzido. Estendendo-se desde o Minho ate a Alta Estremadura, e uma região de agricultura predominantemente intensiva e multicultural, de pequena propriedade, aonde a vinha ocupa um lugar de destaque e a qualidade dos seus vinhos justifica o reconhecimento da DOC "Bairrada".

Beira Atlântico

Os solos são de diferentes épocas geológicas, predominando os terrenos pobres que variam de arenosos a argilosos, encontrando-se também, com frequência, franco-arenosos. A vinha e cultivada predominantemente em solos de natureza argilosa e argilo-calcaria. Os Invernos são longos e frescos e os Verões quentes, amenizados por ventos de Oeste e de Noroeste, que com maior frequenta e intensidade se faz sentir nas regiões mais próximas do mar.

A região da Bairrada situa-se entre Agueda e Coimbra, delimitada a Norte pelo rio Vouga, a Sul pelo rio Mondego, a Leste pelas serras do Caramulo e Bucaco e a Oeste pelo oceano Atlântico. E uma região de orografia maioritariamente plana, com vinhas que raramente ultrapassam os 120 metros de altitude, que, devido a sua planura e a proximidade do oceano, goza de um clima temperado por uma fortíssima influencia atlântica, com chuvas abundantes e temperaturas médias comedidas. Os solos dividem-se preponderantemente entre os terrenos argilo-calcários e as longas faixas arenosas, consagrando estilos bem diversos consoantes à predominância de cada elemento.

Integrada numa faixa litoral submetida a uma fortíssima densidade populacional, a propriedade rural encontra-se dividida em milhares de pequenas parcelas, com dimensões medias de exploração que raramente ultrapassam um hectare de vinha, favorecendo a presença de grandes adegas cooperativas e de grandes empresas vinificadoras, a par de um conjunto de produtores engarrafadores que muito dignificam a região.

As fronteiras oficiais da Bairrada foram estabelecidas em 1867, por Antônio Augusto de Aguiar, tendo sido das primeiras regiões nacionais a adoptar e a explorar os vinhos espumantes, uma vez que na região, o clima fresco, úmido e de forte ascendência marítima favorece a sua elaboração, oferecendo uvas de baixa graduação alcoólica e acidez elevada, condição indispensável para a elaboração dos vinhos espumantes.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho granada intenso e límpido, típico da casta e talvez pelos seus oito anos de safra, com lágrimas finas, lentas e abundantes.

No nariz traz ainda, apesar do tempo de safra, um considerável aroma de frutas vermelhas e pretas bem maduras em perfeita sinergia com as notas amadeiradas, graças aos nove meses de passagem por barricas de carvalho, com toques de especiarias, diria um herbáceo, além de leve tosta e defumado.

Na boca apresenta um corpo médio, com um bom volume de boca e complexidade, mas elegante, redondo, equilibrado. A fruta madura protagoniza, como no aspecto olfativo, bem como o amadeirado, que ainda entrega o chocolate, a baunilha. Percebem-se também especiarias doces, terra molhada e tabaco. Tem taninos macios e uma incrível acidez. Final longo e cheio.

A experiência foi incrível! A Baga de fato traz personalidade! Essa é a palavra! E o vinho está no auge, no ápice com os seus oito anos de vida. A plenitude de uma casta retratada com as suas mais fiéis características e mesmo com a sua domesticação, se mostrou rústica, corpo médio, estrutura marcante, mas macio, elegante como bom vinho de oito anos de vida. Que a Baga se revele para todos dignos dela! Que a Baga se revele para mim sempre que eu merecer! O seu apelo regional merece o mundo! Tem 13,5% de teor alcoólico.

Curiosidades sobre o nome “Moinho de Sula”:

O Campo Militar da Batalha do Bussaco distribuiu-se por uma extensa zona da Serra do Bussaco e duas áreas, correspondentes a dois locais de combate distintos: o Campo de Santo António do Cântaro, situado abaixo da cumeada da Serra; o Campo de Moura/Sula, que inclui os moinhos com o mesmo nome, o Obelisco comemorativo da Batalha, erigido em 1873; e a Capela da Vitória, originalmente das Almas, que serviu de enfermaria de campanha às tropas da batalha.

Localizado na freguesia de Trezoi, no alto da Serra do Bussaco, o moinho de Sula foi construído entre os séculos XVII e XVIII. Com uma vista privilegiada sobre o vale de Mortágua, este lugar emblemático do Bussaco serviu de posto de comando ao general Robert Craufurd, comandante das tropas luso-britânicas que defendiam o flanco norte da Serra, em 1810.

Moinho de Sula

A cerca de 2 km do moinho de Sula, encontra-se o Moinho da Moura, moinho que foi albergue do posto de comando do Marechal André Massena, comandante em chefe das forças francesas, na Batalha do Bussaco, travada a 27 de setembro de 1810.

Um agradecimento especial e carinhoso à Adega de Cantanhede por gentilmente ceder o subsídio histórico de Moinho de Sula que entregue seu nome ao vinho que degustei e gostei.

Sobre a Adega de Cantanhede:                    

Fundada em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega de Cantanhede conta hoje com 500 viticultores associados ativos e uma produção anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, constituindo-se como o principal produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da produção global da região. Hoje certifica cerca de 80% da sua produção, sendo líder destacado nas vendas de vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.

Reconhecendo a enorme competitividade existente no mercado nacional e internacional, a evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado da mais moderna tecnologia, com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega Certificada pela norma ISO 9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.), mas também da promoção das castas Portuguesas, que sempre guiou a sua estratégia, particularmente das variedades tradicionais da Bairrada – Baga, Bical e Maria Gomes – mas também de outras castas

Portuguesas que encontram na Bairrada um Terroir de eleição, como sejam a Touriga Nacional, Aragonez e Arinto, pois acredita que no inequívoco potencial de diferenciação e singularidade que este património confere aos seus vinhos.

O seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto, branco e rose os seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a que acresce uma vasta gama de espumantes produzidos exclusivamente pelo Método Clássico, bem como Aguardentes e Vinhos Fortificados. É um portfólio que, graças à sua diversidade e versatilidade, é capaz de atender a diferentes segmentos de mercado, com diferentes graus de exigência em qualidade, que resulta na presença dos seus produtos em mais de 20 mercados.

A sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos e das suas marcas, vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos prémios que vem acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750 distinções atribuídas nos mais prestigiados concursos nacionais e internacionais, com destaque para Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de Bruxelles, Selections Mondiales du Vins - Canada, Effervescents du Monde – França, Berliner Wein Trophy – Alemanha e Japan Wine Challenge, sendo por diversas ocasiões o único produtor da Bairrada com vinhos premiados nesses concursos e, por isso, hoje um dos mais galardoados produtores da região. Em 2015 integrou o TOP 100 dos Melhores Produtores Mundiais, pela WAWWJ – Associação Mundial dos Jornalistas e Críticos de Vinho e Bebidas Espirituosas. Nos últimos 8 anos foi eleita “Melhor Adega Cooperativa” em Portugal por 3 vezes pela imprensa especializada.

Mais informações acesse:

https://www.cantanhede.com/

Referências:

“Divinho”: https://www.divinho.com.br/uva/baga/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/baga

“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/tipo-de-uva/baga

“Winepedia”: https://www.wine.com.br/winepedia/sommelier-wine/serie-uvas-baga/

“Região de Coimbra”: https://visitregiaodecoimbra.pt/cultura-e-patrimonio/roteiros-de-3-dias/terras-ferteis-de-ilustres-guerras/mortagua/moinho-de-sula/#

“Soulwines”: https://www.soulwines.com.br/uvas-de-vinhos/baga

“IVV”: https://www.ivv.gov.pt/np4/503/

 

 












quinta-feira, 16 de junho de 2022

Miolo Reserva Tannat 2020

 

Dizem por aí que tudo que é bom merece repetição, merece um “bis”! Talvez faça sentido, afinal, se é bom, por que não repetir as experiências? Mas será que no universo do vinho essa afirmação tão carregada de aceitação é válida?

Quando falamos em repetir um rótulo, independente de safra ou de novos momentos, pode incorrer no risco famigerado da “zona de conforto” e seus travestidos males. Nos ancoramos do prazer de degustar aquele rótulo, aquela casta, aquele produtor, aquela região de que tanto gostamos e nos tornamos subservientes a eles.

E temos também de levar em consideração a gama, o leque de opções que temos de rótulos, de castas, de regiões que ainda não degustamos, não é à toa que chamamos de universo do vinho, porque precisaríamos de várias vidas para degustar a infinidade de vinhos que temos espalhados pelo mundo.

E devemos, enquanto enófilos, nos permitir garimpar, conhecer novos rótulos, ter experiências sensoriais que nos arrebata e nos faça aprender, viajar em generosas taças de vinhos por culturas e histórias que somente um líquido como o vinho pode proporcionar.

Mas não é pecado (o que é pecado para o vinho?) seguir o caminho de uma história de um rótulo que, de alguma forma, está marcado na sua história, por exemplo? Tudo é válido quando se degusta vinho, porque o mais importante é tê-lo em nossa taça, inundando as nossas vidas de celebração.

E tem um rótulo, em especial, que me marcou, não apenas por ele, mas pela vinícola que, por muitas vezes, teci elogios pelo apelo sentimental e importância em minha vida de enófilo, em minha caminhada.

E esse rótulo, atualmente, assumiu contornos de afirmação de qualidade, de sucesso, no Brasil, seja pelo próprio rótulo, como pela casta e pela vinícola que vem se afirmando, definitivamente, como uma das melhores do Brasil e quiçá do mundo: falo da Miolo Wine Group! Falo da Campanha Gaúcha e também da Tannat.

É notório que a Campanha vem se notabilizando, construindo sua identidade, apoderando de seu terroir e a Tannat, creio, vem se tornando a casta mais importante dessa região, junto com a Cabernet Franc e mesmo que degustando um rótulo que seja um velho conhecido meu, degusta-lo hoje, com esse atual e favorável cenário, é maravilhoso.

E decidi degusta-lo jovem, cheio de vivacidade, as frutas gritando ao olfato e paladar, com taninos pronunciados e acidez plena. E não é que ele continua especial, sobretudo pelo custo X benefício??

Então sem mais delongas o vinho que degustei e gostei veio da Campanha Gaúcha, do Brasil, e se chama Miolo Tannat Reserva da safra 2020. Estou animado para falar dele e digo que continua fantástico, mas, para variar precisamos contar um pouco da história da Campanha Gaúcha.

Campanha Gaúcha

Entre o encontro de rios como Rio Ibicuí e o Rio Quaraí, forma-se o do Rio Uruguai, divisa entre o Brasil, Argentina e Uruguai. Parte da Campanha Gaúcha também recebe corpo hídrico subterrâneo, o Aquífero Guarani representa a segunda maior fonte de água doce subterrânea do planeta, dele estando 157.600 km2 no Rio grande do Sul.

A Campanha Gaúcha se espalha também pelo Uruguai e pela Argentina garante uma cumplicidade com os hermanos do outro lado do Rio Uruguai. Os costumes se assemelham e os elementos locais emprestam rusticidade original: o cabo de osso das facas, o couro nos tapetes, a tesoura de tosquia que ganha novas utilidades.

Campanha Gaúcha

No verão, entre os meses de dezembro a fevereiro, os dias ficam com iluminação solar extensa, contendo praticamente 15 horas diárias de insolação, o que colabora para a rápida maturação das uvas e também ajuda a garantir uma elevada concentração de açúcar, fundamental para a produção de vinhos finos de alta qualidade, complexos e intensos.

As condições climáticas são melhores que as da Serra Gaúcha e tem-se avançado na produção de uvas europeias e vinhos de qualidade. Com o bom clima local, o investimento em tecnologia e a vontade das empresas, a região hoje já produz vinhos de grande qualidade que vêm surpreendendo a vinicultura brasileira.

Há mais de 150 anos, antes mesmo da abolição da escravatura, a fronteira Oeste do Rio Grande do Sul já produzia vinhos de mesa que eram exportados para os países do Prata (Uruguai, Argentina e Paraguai) e vendidos no Brasil.

A primeira vinícola registrada do Brasil ficava na Campanha Gaúcha. Com paredes de barro e telhado de palha, fundada por José Marimon, a vinícola J. Marimon & Filhos iniciou o plantio de seus vinhedos em 1882, na Quinta do Seival, onde hoje fica o município de Candiota.

E o mais interessante é que, desde o início da elaboração de vinhos na região, os vinhos da Campanha Gaúcha comprovam sua qualidade recebendo medalha de ouro, conforme um artigo de fevereiro de 1923, do extinto jornal Correio do Sul de Bagé.

IP Campanha Gaúcha

O ano de 2020 ficará marcado na história dos vinhos da Campanha Gaúcha, como o ano em que a região recebeu a Indicação de Procedência (IP), além, é claro, da excepcional safra. A IP é a comprovação da qualidade da uva que é produzida neste território, que pela combinação de clima, solo, relevo e a cultura local compõe o terroir da Campanha Gaúcha. 

O selo, fornecido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), atesta não só qualidade, como também um caráter único do produto local e que deve impulsionar o desenvolvimento dos negócios relacionados ao vinho e também ao enoturismo na região.

Segunda maior região produtora de vinhos finos do país, responsável por 31% da produção nacional, com 1.560 hectares de área plantados com vinhedos de vitis vinífera e mais de 5,6 milhões de litros vinificados em 2019, a Campanha Gaúcha se estende por uma área de 44.365 km2 no extremo sul do Brasil, fazendo fronteira com o Uruguai e a Argentina. Hoje existem 18 vinícolas produtoras de vinhos finos em operação na região, sendo que 15 delas são consideradas pequenas, pois produzem menos de 500 mil litros. Muitos desses produtores já trabalhavam com agropecuária.

A área da IP Campanha Gaúcha está localizada entre as coordenadas 29º e 32º de Latitude Sul, sendo contornada pelas regiões da Serra do Sudeste, Depressão Central e Missões e pelos limites de fronteira com a Argentina e o Uruguai.

IP Campanha Gaúcha

Detalhes da IP:

1- A área geográfica delimitada totaliza 44.365 km2.

2- A área da IP abrange, em todo ou em parte, 14 municípios da região: Aceguá, Alegrete, Bagé, Barra do Quaraí, Candiota, Dom Pedrito, Hulha Negra, Itaqui, Lavras do Sul, Maçambará, Quaraí, Rosário do Sul, Santana do Livramento e Uruguaiana.

3- Para a elaboração dos vinhos, 100% das uvas devem ser produzidas na área delimitada.

4- Os vinhedos são cultivados em espaldeiras, existindo limites de produtividade e padrões de maturação das uvas para aumentar a qualidade dos produtos.

5- Para a elaboração dos vinhos, são autorizadas 36 cultivares de videira produzidas na região, todas elas de Vitis vinifera.

6- Os vinhos finos tranquilos brancos, rosados e tintos e os espumantes naturais são os produtos autorizados na IP.

7- Os vinhos varietais são elaborados com no mínimo 85% da respectiva variedade indicada no vinho varietal.

8- Os vinhos com indicação de safra têm em sua composição no mínimo 85% da respectiva safra mencionada.

9- Os vinhos devem atender a padrões analíticos específicos da IP associados à qualidade e devem ser aprovados em avaliação sensorial realizada às cegas por comissão de degustação.

10- Para poder utilizar o signo distintivo da IP, os vinhos devem ser produzidos de acordo com o Regulamento de Uso e devem passar pelos controles que estão sob a gestão do Conselho Regulador da IP, para receber a atestação de conformidade dos produtos.

11- Os vinhos chegam ao mercado consumidor com a identificação do nome geográfico - Campanha Gaúcha, mais o qualificativo – Indicação de Procedência.

E agora finalmente o vinho!

Na taça se desenvolve um lindo vermelho rubi intenso, quase escuro, com traços violáceos, sobretudo em seu entorno. Tem lágrimas finas, lentas e em profusão.

No nariz é extremamente aromático, rico, com destaque para as frutas vermelhas maduras, tais como amora, framboesa e cereja, com as notas amadeiradas bem integradas, que aporta um defumado, tabaco, carpete, diria um mentolado interessante.

Na boca é intenso, de estrutura média, com personalidade marcante e bom volume de boca, mas é redondo e equilibrado que o torna fácil de degustar. As notas frutadas se fazem presente como no aspecto olfativo, com a madeira em evidência, além de toques de tosta média, baunilha. Taninos estão vivos, presentes, mas elegantes, com boa acidez e final longo de retrogosto frutado.

É definitivo que a Campanha Gaúcha vem entregando, cada vez mais e melhor, grandes rótulos da casta Tannat. Digo sem medo que Tannat vem se tornando uma variedade tinta com grande representatividade em nosso país, ganhando em tipicidade, ganhando em qualidade, sem aquela estúpida intenção de outrora de ser o Chile ou copiar os Tannats uruguaios. E o Miolo Tannat Reserva é o exemplo contundente de que o futuro é promissor e de que o passado teve suas arestas bem cuidadas, sobretudo com essa linha de rótulos. Ah e quando falei que essa era a minha segunda experiência com esse rótulo é de que eu já havia degustado o Miolo Reserva Tannat 2015 e, mesmo que com uma “roupagem” antiga, já demonstrava todo o seu potencial. Tânico, frutas pretas, acidez vivaz, encorpado, redondo e equilibrado! Esse é o Miolo Tannat! Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Miolo:

A paixão pelo mundo fascinante do vinho é facilmente explicada pela história da família Miolo que, além de trabalhar na vitivinicultura desde a chegada de Giuseppe no Brasil em 1897, inova ano após ano. Uma das fundadoras do projeto Wines of Brasil, a Miolo Wine Group é a maior exportadora de vinhos do Brasil e a mais reconhecida no mercado internacional. A produção dentre as 4 vinícolas do grupo soma, em média, 10 milhões de litros por ano numa área cultivada de vinhedos próprios com aproximadamente 1.000 hectares.

A Miolo exporta para mais de 30 países de todos os continentes. É o maior exportador de vinhos finos do Brasil. De 30 hectares em 1989, a Miolo cultiva hoje, 30 safras mais tarde, cerca de 950 hectares de vinhedos em quatro terroirs brasileiros: Vale dos Vinhedos (Serra Gaúcha), Seival/Candiota (Campanha Meridional), Almadén/Santana do Livramento (Campanha Central) e Terranova/Casa Nova (Vale do São Francisco), sendo a única empresa do setor genuinamente brasileira com atuação em quatro diferentes regiões produtoras.

Com uma produção anual de cerca de 10 milhões de litros, é a marca que detém o maior portfólio de rótulos verde amarelos, exibindo centenas de prêmios conquistados no mundo inteiro. O pioneirismo na elaboração dos vinhos se estendeu para o enoturismo, onde a marca gera experiência, aproximando e formando novos apreciadores da bebida. Assim é no Vale dos Vinhedos com o Wine Garden Miolo, assim é no Vale do São Francisco com o Vapor do Vinho pelo Velho Chico, onde a Miolo transformou o sertão em vinhedo. Este mesmo espírito empreendedor que fez da pequena vinícola familiar a maior produtora de vinhos finos do Brasil em apenas 30 safras, é que move gerações e aproxima quem sonha de quem quer fazer.

Mais informações acesse:

https://www.miolo.com.br/

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=CAMPANHA

“Vinhos da Campanha”: https://www.vinhosdacampanha.com.br/campanha-gaucha/

“Embrapa”: https://www.embrapa.br/uva-e-vinho/indicacoes-geograficas-de-vinhos-do-brasil/ig-registrada/campanha-gaucha#:~:text=A%20%C3%A1rea%20da%20IP%20Campanha,geogr%C3%A1fica%20delimitada%20totaliza%2044.365%20km2.

“Exame”: https://exame.com/casual/vinhos-da-campanha-gaucha-ganham-indicacao-de-procedencia/

“Vinhos da Campanha”: https://www.vinhosdacampanha.com.br/ciclo-de-crescimento-da-uva/

 

 

 

 

 








sábado, 11 de junho de 2022

Syrah & Tinta Roriz 2018

 

Há algum tempo atrás, e põe tempo nisso, eu não me importava muito com alguns detalhes dos vinhos, tais como: região, castas, safras, produtores etc. Confesso que a minha relação com o vinho, além de prazerosa e especial, era rasa, superficial.

Bem considero hoje essas descrições de suma importância para criar uma espécie de identidade com o vinho que degustamos, sem aquela visão aleatória, distante. Acredito firmemente que tais elos criam uma predileção, um norte na tomada de decisão com determinados vinhos etc.

Mas por outro lado pode suscitar a tal temida zona de conforto, onde torna-se cômodo para nós degustarmos vinhos de determinadas regiões, castas e produtores e neste estabelecer algo relacionado a fortaleza, a segurança que escraviza.

Claro que, para tudo na vida, precisa-se buscar o equilíbrio e na adega nossa de cada dia o equilíbrio significa diversidade, leque de opções. Sair do senso comum e de modismos, independentemente de ter ou não a tal da “litragem”, é imprescindível e olhar para ela, a adega, e ter a liberdade de escolher o que melhor lhe convém para o momento.

Confesso que os lisboetas são uma forte predileção e algo muito presente, consequentemente, na minha adega em termos quantitativos e, modéstia à parte, qualitativamente.

Se há esse quantitativo razoavelmente grande, há uma diversidade de propostas que vai das castas, dos blends, até aos valores ofertados e este rótulo de hoje se mostrou simplesmente imbatível no custo! Em torno de R$ 32,00! Uma verdadeira pechincha! Não gosto muito de apresentar valores, haja vista que estes mudam drasticamente e em um curto espaço de tempo em terras brasileiras, mas vale a pena mostrar agora, para enfatizar o valer a pena na compra.

E esse rótulo, além do atraente valor, traz um produtor que, pelo menos para mim, é novo e, creio, pouco conhecido no Brasil, um produtor “underground”: Adega Cooperativa Labrugeira.

Há certo preconceito com vinhos portugueses, franceses e espanhóis baratos quando chegam no Brasil e de adegas cooperativas portuguesas também. Acham que portugueses com esse preço baixo traz baixa qualidade também. Tive algumas experiências com lusitanos nesta mesma faixa de preço e alguns entregaram além do que valia. Tudo é uma questão de garimpar, pesquisar, acessar o site do produtor e, diante disso, analisar se tais vinhos estão alinhados com as suas pretensões! Simples assim, penso!

Então eis que é chegado o momento de degustar o rótulo. E como sempre sou tomado por uma excitação quando degusto um lisboeta e com esse não seria diferente, independentemente da sua proposta. O vinho foi desarrolhado, inundou a minha taça e já no aroma entregava uma explosão de frutas vermelhas e pretas maduras e no paladar personalidade mesmo que diante da sua simplicidade. Nobre!

Então sem mais delongas o vinho que degustei e gostei veio, claro, de Lisboa, Portugal, e se traz no seu nome das castas que o compõe: Syrah & Tinta Roriz da safra 2018. E antes de falar sobre o vinho, não custa falar da região novamente, porque a sua história “harmoniza” perfeitamente com a história da Portugal vitivinícola.

Lisboa

A costa de Portugal é muito privilegiada para a produção vitivinícola graças à sua posição em relação ao Oceano Atlântico, à incidência de ventos, ao solo e ao relevo que constituem o local. Entre as principais áreas produtoras podemos citar a região dos vinhos de Lisboa, antigamente conhecida como Estremadura, famosa tanto por tintos encorpados como por brancos leves e aromáticos.

Tem mais de 30 hectares de cultivo com mais de 9 mil aptas à produção de Vinho Regional de Lisboa e Vinho com Denominação de Origem Controlada. O nome passou em 2009 para Lisboa de forma a diferenciar da região de mesmo nome na Espanha, também produtora de vinhos.

O litoral da IGP Lisboa corre para o sul de Beiras a partir da capital de Portugal, onde o rio Tejo encontra o Oceano Atlântico. Suas características geográficas proporcionam certa complexidade à região, pois está situada climaticamente em zona de transição dos ventos úmidos e estios, com solo de idades variadas, secos, encostas e maciços montanhosos se contrapõem a várzeas e terras de aluvião.

Ainda sofre influência direta da capital do país localizada em um extremo da região. Uma de suas características determinantes é a grande variedade de solos, como terras de aluvião (sedimentar), calcário secundário, várzeas e maciços montanhosos, muitas vezes misturados. Cada um desses terrenos pode proporcionar às uvas características completamente diferentes.

Lisboa

Esta região possui boas condições para produzir vinhos de qualidade, todavia há cerca de quinze anos atrás a região de Lisboa era essencialmente conhecida por produzir vinho em elevada quantidade e de pouca qualidade. Assim, iniciou-se um processo de reestruturação nas vinhas e adegas. Provavelmente a reestruturação mais importante realizou-se nas vinhas, uma vez que as novas castas plantadas foram escolhidas em função da sua produção em qualidade e não em quantidade. Hoje, os vinhos da Região de Lisboa são conhecidos pela sua boa relação qualidade/preço.

A região concentrou-se na plantação das mais nobres castas portuguesas e estrangeiras e em 1993 foi criada a categoria “Vinho Regional da Estremadura”, hoje "Vinho Regional Lisboa". A nova categoria incentivou os produtores a estudar as potencialidades de diferentes castas e, neste momento, a maior parte dos vinhos produzidos na região de Lisboa são regionais (a lei de vinhos DOC é muito restritiva na utilização de castas).

Entre as principais uvas cultivadas podemos citar as brancas Arinto, Fernão Pires (ambos naturais de Portugal) e Malvasia, e as tintas, Alicante Bouschet, Castelão, Touriga Nacional e Aragonez (como é chamada a Tempranillo na região).

Acredita-se que a elaboração de vinhos seja uma atividade desde o século 12, quando os monges da Ordem de Cister se estabeleceram na região. Uma de suas principais funções era justamente a produção da bebida para a celebração de missas.

A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa), Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).

Lisboa DOC

A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa), Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).

As regiões de Colares, Carcavelos e Bucelas outrora muito importantes, hoje têm praticamente um interesse histórico. A proximidade da capital e a necessidade de urbanizar terrenos quase levou à extinção das vinhas nestas Denominações de Origem.

A Denominação de Origem de Bucelas apenas produz vinhos brancos e foi demarcada em 1911. Os seus vinhos, essencialmente elaborados a partir da casta Arinto, foram muito apreciados no estrangeiro, especialmente pela corte inglesa. Os vinhos brancos de Bucelas apresentam acidez equilibrada, aromas florais e são capazes de conservar as suas qualidades durante anos.

Colares é uma Denominação de Origem que se situa na zona sul da região de Lisboa. É muito próxima do mar e as suas vinhas são instaladas em solos calcários ou assentes em areia. Os vinhos são essencialmente elaborados a partir da casta Ramisco, todavia a produção desta região raramente atinge as 10 mil garrafas.

A zona central da região de Lisboa (Óbidos, Arruda, Torres Vedras e Alenquer) recebeu a maioria dos investimentos na região: procedeu-se à modernização das vinhas e apostou-se na plantação de novas castas. Hoje em dia, os melhores vinhos DOC desta zona provêm de castas tintas como por exemplo, a casta Castelão, a Aragonez (Tinta Roriz), a Touriga Nacional, a Tinta Miúda e a Trincadeira que por vezes são lotadas com a Alicante Bouschet, a Touriga Franca, a Cabernet Sauvignon e a Syrah, entre outras. Os vinhos brancos são normalmente elaborados com as castas Arinto, Fernão Pires, Seara-Nova e Vital, apesar da Chardonnay também ser cultivada em algumas zonas.

A região de Alenquer produz alguns dos mais prestigiados vinhos DOC da região de Lisboa (tintos e brancos). Nesta zona as vinhas são protegidas dos ventos atlânticos, favorecendo a maturação das uvas e a produção de vinhos mais concentrados. Noutras zonas da região de Lisboa, os vinhos tintos são aromáticos, elegantes, ricos em taninos e capazes de envelhecer alguns anos em garrafa. Os vinhos brancos caracterizam-se pela sua frescura e carácter citrino.

A maior Denominação de Origem da região, Encostas d’Aire, foi a última a sofrer as consequências da modernização. Apostou-se na plantação de novas castas como a Baga ou Castelão e castas brancas como Arinto, Malvasia, Fernão Pires, que partilham as terras com outras castas portuguesas e internacionais, como por exemplo, a Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Aragonez, Touriga Nacional ou Trincadeira. O perfil dos vinhos começou a alterar-se: ganharam mais cor, corpo e intensidade.

E agora finalmente o vinho!

Na taça impressiona com o vermelho rubi intenso, profundo, quase escuro, com tonalidade arroxeada, com uma profusão de lágrimas finas e que mancham as paredes do copo.

No nariz se destaca de imediato, as notas frutadas, de frutas vermelhas bem maduras, tais como groselha, cereja, ameixa. Traz também algumas percepções de defumado, de chocolate, embora o vinho não passe por barricas de carvalho, além de especiarias, pimenta, talvez.

Na boca entrega um impressionante equilíbrio. É seco, tem estrutura média, alcoólico, mas bem integrado, cheio, marcante, mas redondo, fácil de degustar, sendo também frutado. Tem taninos gulosos, carnudos, mas domados, acidez equilibrada. É franco, persistente no seu final, com aquela picância, típica da Syrah, com um retrogosto marcado pela fruta.

Barato! Simples! Intenso! De marcante personalidade! Um vinho aveludado, macio, redondo, mas robusto, cheio! Será que essas descrições “harmonizam” bem? Pode não harmonizar para percepções retas e lineares, carregadas de visões pré-concebidas, mas uma das grandes coisas do universo do vinho é a capacidade de surpreender-nos! De nos surpreender positivamente, de onde menos se espera! E assim tal universo que nos contempla cada vez mais nos embriaga de alegria, de momentos especiais, mesmo que não seja aquele vinho da moda ou demasiadamente caro! Aposte no que o seu coração diz, não se renda a efêmeros modismos! Tradição conta? Sim, mas não é regra no vinho! Mais uma vez Lisboa me revela o que há de melhor no seu terroir. Altamente aprovado! Te 14% de teor alcoólico.

Sobre a Adega Cooperativa Labrugeira:

A origem da Adega Cooperativa da Labrugeira, ACL, remonta ao ano de 1973, a partir da iniciativa de 85 viticultores, tendo visto a sua primeira vindima em 1975. Atualmente representa 437 associados com uma área total de 620 hectares.

Na década de 1990, com o aparecimento das comissões vitivinícolas regionais – CVR, começou a ver os seus vinhos a serem certificados como Vinho Regional da Estremadura, hoje Vinho Regional Lisboa, e Vinho de Denominação de Origem Controlada – DOC Alenquer.

A Adega Cooperativa da Labrugeira, ACL, situada no concelho de Alenquer, é atualmente a única adega cooperativa deste concelho, representado assim todos os viticultores cooperantes desta área. Assim se deu um grande passo para potencializar a boa qualidade das uvas para a produção de grandes vinhos da região. E pouco a pouco se foram juntando novos associados com vinhas situadas na zona norte do concelho de Alenquer, no sopé sul e oeste da serra de Montejunto, com uma área de influência que cobre as freguesias de Ventosa, Olhalvo, Cabanas de Torres e Abrigada e Vila Verde dos Francos.

Com uma forte tradição na produção de vinhos de qualidade, a adega tem vindo a melhorar gradualmente as suas estruturas, sendo uma das adegas com maior e melhor resposta às exigências enológicas. Atualmente a Adega da Labrugeira comercializa uma vasta gama de vinhos engarrafados e acondicionados, brancos, tintos, rosés, vinhos leves, aguardentes bagaceiras e vinho espumante, com a certificação Regional Lisboa (IGP) e DOP Alenquer. Distribui no mercado português, no mercado Europeu e exporta para países da América do Sul. A sua produção anual cifra-se em cerca de 4 milhões de litros.

Mais informações acesse:

http://www.adegalabrugeira.pt/index.html

Referências:

“Blog do Syrah”: http://www.blogdosyrah.com/2015/09/24/acl-adega-cooperativa-da-labrugeira-crl-100-syrah-lisboa-2009/

“Garrafeira Nacional”: https://www.garrafeiranacional.com/2010-adega-cooperativa-da-labrugeira-syrah-reserva-tinto-1-5l.html

“Blog Divvino”: https://www.divvino.com.br/blog/vinho-lisboa/

“Olhar Turístico”: https://www.olharturistico.com.br/regiao-dos-vinhos-de-lisboa/

“Belle Cave”: https://www.bellecave.com.br/vinhos-de-lisboa-saiba-mais-sobre-essa-regiao-produtora

“Infovini”: http://www.infovini.com/pagina.php?codNode=3901