Estive em um supermercado fazendo compras cotidianas e, não
me lembro (acho que sim!) na adega deste correndo os meus olhos nas suas
gôndolas. E com um olhar de detetive olhei cada espaço, cada metro quadrado
dessas gôndolas quando fixei os olhos em um lugar improvável: na parte de baixo
e a mais empoeirada e avistei um vinho que me parecia um tanto quanto
esquecido, rejeitado por tudo e todos (confesso-lhes que ultimamente tenho dado
atenção aos vinhos “vilipendiados”) e o peguei. Como de costume examinei-o
detalhadamente e vi série de grandes novidades, já dizia Cazuza, pelo menos
para mim, um simples enófilo. Percebi que, além de ser um vinho espanhol, que
não é uma novidade, observei que era um vinho da casta Viúra, que eu nunca
havia degustado e de uma região chamada Navarra, local que nunca bebi um vinho
sequer e, para fechar, o preço. Estava muito barato! Estava na faixa dos R$
22,00! Animei-me, mas também fiquei com receio quanto a sua qualidade, mas
arrisquei e comprei, afinal, se for ruim, pensei o gasto não seria tão alto.
O vinho que degustei e gostei, pasmem, se chama El Lagar de
la Aldea (Vinícola da Vila, em tradução literal), da já mencionada região de
Navarra, 100% Viúra, da safra 2017. Como muito das características e
apresentações desse vinho foram novidades para mim, não posso deixar de falar,
mesmo que brevemente, da história da casta Viúra e da região de Navarra.
Viúra
É a uva vinífera branca mais popular do norte da Espanha,
também conhecida como Macabeu. Os nomes Macabeu e Maccabéo são mais comuns em
Languedoc-Roussillon, no sul da França. Macabeo aparece em grande parte de sua
terra natal, na Espanha. Viúra é comum em Rioja, onde é, de longe, a uva de
vinho branco mais plantada. Uma informação relevante: essa é uma das principais
variedades utilizadas na produção dos espumantes Cava. Na maioria das vezes
engarrafado jovem, o vinho produzido com essa uva é seco, e tem uma boa
capacidade de envelhecimento, como comprovam os melhores exemplares da cepa. E
essa é uma uva, naturalmente, de alto rendimento. Sem o devido cuidado, os
frutos ficam muito grandes, com baixa proporção entre casca e polpa, e os
cachos, de tão apertados, podem facilmente apodrecer. Mas, com a planejada
redução por parte do viticultor, essa uva concentra aromas e sabores de maneira
muito interessante. Fonte: Tintos & Tantos (http://www.tintosetantos.com/index.php/escolhendo/cepas/448-macabeo).
Região de Navarra
Navarra fica no norte da Espanha e a tradição da uva, aqui,
vem de muito longe. Recentemente, pesquisadores identificaram, em Navarra,
plantas da primitiva Vitis silvestris, encontrada em pouquíssimos lugares do
mundo, e cuja origem pode chegar a, quem sabe, 5 milhões de anos!
A produção do vinho, por sua vez, acredita-se ter sido
iniciada com os romanos. Vestígios arqueológicos de adegas, túmulos e ânforas
comprovam essa tese. Essa tradição sobreviveu ao domínio árabe, e expandiu-se
significativamente com a ajuda do clero durante a Idade Média. Mas, depois de
ver seu apogeu no século 19, a vinicultura em Navarra quase morreu, à época da
Filoxera. Dos 50.000 hectares de vinhas existentes, 48.500 foram destruídos
pela praga. Para saber mais sobre esse assunto, clique aqui. Atualmente,
existem cerca de 11.500 hectares ocupados por vinhedos, em Navarra,
distribuídos em 5 áreas de produção, de acordo com a diversidade de clima e
solo: Baja Montaña, Ribera Alta, Valdizarbe, Tierra Estella, Ribera Baja. Cerca
de 70% dos vinhos produzidos em Navarra são tintos, 25% são rosés, e apenas 5%
são brancos (incluindo uma pequena parcela de vinhos de sobremesa). As uvas
mais cultivadas na região, dentre as autorizadas pelo conselho regulador da
denominação de origem, são Tempranillo, Garnacha, Cabernet Sauvignon, Merlot,
Graciano e Mazuelo. Entre as brancas, destacam-se Chardonnay, Viura e Moscatel.
Fonte: Tintos & Tantos (http://www.tintosetantos.com/index.php/denominando/855-navarra)
Agora o vinho!
Na taça apresentou um amarelo bem intenso, vivo, pleno,
brilhante, com discretos tons esverdeados.
No nariz apresentou um discreto, mas agradável toque cítrico,
frutas tropicais e notas florais, de flores brancas
.
Na boca é um vinho majoritariamente seco, típica da casta,
que me agrada muito, embora tenha sido um dos vinhos mais secos que degustei
nos últimos anos. Acidez muito boa, diria um pouco elevada, denunciando a sua
leveza e certo frescor com final frutado e persistente.
Diria que é um vinho “atípico” e por que digo isso? É um
vinho, como disse muito seco o que não agradaria, embora seja um branco, a
paladares de um iniciante (a mim agradou!) e também não percebi um grande
frescor no vinho, como de outros brancos que degustei que tem a mesma proposta
deste em especial. Mas estava lá, graças a sua boa acidez, mas em menor
intensidade, em relação aos demais brancos que já degustei. São
características, sejam da casta ou do rótulo propriamente dito, que, com mais
experiências de degustação da Viúra poderá formar a minha opinião com mais
certeza e diria até com mais consistência. E o farei, espero que muito em
breve. Fiquei muito feliz com essa degustação cheia de estreias! Um achado que,
mesmo rejeitada no fundo das gôndolas dos supermercados, à sombra dos
badalados, me trouxe grande satisfação, principalmente pelo fato de que,
conforme já mencionado no histórico da região de Navarra, de onde o vinho veio apenas
5% dos vinhos nesta região produzidos são brancos! Tem 12,5% de teor alcoólico.
Sobre a Bodegas El Lagar de la Aldea e o Grupo Manzanos
Wines:
Manzanos Wines é a divisão de vinhos da Manzanos Enterprises,
dedicada à produção de DOCa Rioja , DO Navarra e vinho espanhol desde 1890. Sua
história está ligada à história de uma família, ao seu esforço, à sua
constância e aos seus vinhos, o saber fazer. Como resultado, a empresa possui
onze vinícolas que cresceram as cinco gerações da família Fernández de
Manzanos. Depois de mais de 128 anos dedicados de corpo e alma à cultura do
vinho, a Manzanos Wines possui 950 hectares protegidos pelo DOCa Rioja.
Juntamente com os 575 hectares cobertos pela Denominação de Origem Navarra, a
empresa possui um total de 1.525 hectares. A principal atividade da empresa é a
elaboração e comercialização do vinho DOCa Rioja e suas principais vinícolas
pertencem a essa denominação. Bodegas Manzanos Haro, Bodegas Manzanos Azagra ,
Viña Marichalar e Bodegas Luis Gurpegui
Muga são as vinícolas nas quais Manzanos
produziu os vinhos desta Denominação de Origem Qualificada a partir de seus 950
hectares de vinhedo. As vinícolas onde os vinhos DO Navarra são feitos são as
recém-adquiridas Bodegas Manzanos Campanas (antiga Vinícola Navarra, a mais
antiga da DO Navarra), Castillo de Enériz e Monte Ory . Manzanos possui 575
hectares de vinhedos nessa denominação. Por seu lado, Bodegas Mosen Pierre, El
Lagar de la Aldea e Bodegas Gurpegui são as vinícolas onde são feitos os vinhos
espanhóis. As Bodegas El Lagar de la Aldea estão localizadas na cidade de
Azagra , no sul de Navarra e quase na fronteira com La Rioja. São as vinícolas
com as quais a família Fernández de Manzanos iniciou há mais de 125 anos, em
1890 , a produção e a comercialização de seus vinhos quando as denominações de
origem ainda não existiam. Eles renovaram as instalações e continuam a produzir
o vinho clássico de todos os tempos, mas aplicando as novas técnicas e
tecnologias adquiridas nesses 125 anos. Eles não apenas produzem a marca El
Lagar de la Aldea, mas
também têm outros vinhos como Portil de Lobos, La Heredada, Marqués de Araiz e
Davne.
Mais informações acesse:
Vinho degustado em 2019.
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