sábado, 11 de junho de 2022

Syrah & Tinta Roriz 2018

 

Há algum tempo atrás, e põe tempo nisso, eu não me importava muito com alguns detalhes dos vinhos, tais como: região, castas, safras, produtores etc. Confesso que a minha relação com o vinho, além de prazerosa e especial, era rasa, superficial.

Bem considero hoje essas descrições de suma importância para criar uma espécie de identidade com o vinho que degustamos, sem aquela visão aleatória, distante. Acredito firmemente que tais elos criam uma predileção, um norte na tomada de decisão com determinados vinhos etc.

Mas por outro lado pode suscitar a tal temida zona de conforto, onde torna-se cômodo para nós degustarmos vinhos de determinadas regiões, castas e produtores e neste estabelecer algo relacionado a fortaleza, a segurança que escraviza.

Claro que, para tudo na vida, precisa-se buscar o equilíbrio e na adega nossa de cada dia o equilíbrio significa diversidade, leque de opções. Sair do senso comum e de modismos, independentemente de ter ou não a tal da “litragem”, é imprescindível e olhar para ela, a adega, e ter a liberdade de escolher o que melhor lhe convém para o momento.

Confesso que os lisboetas são uma forte predileção e algo muito presente, consequentemente, na minha adega em termos quantitativos e, modéstia à parte, qualitativamente.

Se há esse quantitativo razoavelmente grande, há uma diversidade de propostas que vai das castas, dos blends, até aos valores ofertados e este rótulo de hoje se mostrou simplesmente imbatível no custo! Em torno de R$ 32,00! Uma verdadeira pechincha! Não gosto muito de apresentar valores, haja vista que estes mudam drasticamente e em um curto espaço de tempo em terras brasileiras, mas vale a pena mostrar agora, para enfatizar o valer a pena na compra.

E esse rótulo, além do atraente valor, traz um produtor que, pelo menos para mim, é novo e, creio, pouco conhecido no Brasil, um produtor “underground”: Adega Cooperativa Labrugeira.

Há certo preconceito com vinhos portugueses, franceses e espanhóis baratos quando chegam no Brasil e de adegas cooperativas portuguesas também. Acham que portugueses com esse preço baixo traz baixa qualidade também. Tive algumas experiências com lusitanos nesta mesma faixa de preço e alguns entregaram além do que valia. Tudo é uma questão de garimpar, pesquisar, acessar o site do produtor e, diante disso, analisar se tais vinhos estão alinhados com as suas pretensões! Simples assim, penso!

Então eis que é chegado o momento de degustar o rótulo. E como sempre sou tomado por uma excitação quando degusto um lisboeta e com esse não seria diferente, independentemente da sua proposta. O vinho foi desarrolhado, inundou a minha taça e já no aroma entregava uma explosão de frutas vermelhas e pretas maduras e no paladar personalidade mesmo que diante da sua simplicidade. Nobre!

Então sem mais delongas o vinho que degustei e gostei veio, claro, de Lisboa, Portugal, e se traz no seu nome das castas que o compõe: Syrah & Tinta Roriz da safra 2018. E antes de falar sobre o vinho, não custa falar da região novamente, porque a sua história “harmoniza” perfeitamente com a história da Portugal vitivinícola.

Lisboa

A costa de Portugal é muito privilegiada para a produção vitivinícola graças à sua posição em relação ao Oceano Atlântico, à incidência de ventos, ao solo e ao relevo que constituem o local. Entre as principais áreas produtoras podemos citar a região dos vinhos de Lisboa, antigamente conhecida como Estremadura, famosa tanto por tintos encorpados como por brancos leves e aromáticos.

Tem mais de 30 hectares de cultivo com mais de 9 mil aptas à produção de Vinho Regional de Lisboa e Vinho com Denominação de Origem Controlada. O nome passou em 2009 para Lisboa de forma a diferenciar da região de mesmo nome na Espanha, também produtora de vinhos.

O litoral da IGP Lisboa corre para o sul de Beiras a partir da capital de Portugal, onde o rio Tejo encontra o Oceano Atlântico. Suas características geográficas proporcionam certa complexidade à região, pois está situada climaticamente em zona de transição dos ventos úmidos e estios, com solo de idades variadas, secos, encostas e maciços montanhosos se contrapõem a várzeas e terras de aluvião.

Ainda sofre influência direta da capital do país localizada em um extremo da região. Uma de suas características determinantes é a grande variedade de solos, como terras de aluvião (sedimentar), calcário secundário, várzeas e maciços montanhosos, muitas vezes misturados. Cada um desses terrenos pode proporcionar às uvas características completamente diferentes.

Lisboa

Esta região possui boas condições para produzir vinhos de qualidade, todavia há cerca de quinze anos atrás a região de Lisboa era essencialmente conhecida por produzir vinho em elevada quantidade e de pouca qualidade. Assim, iniciou-se um processo de reestruturação nas vinhas e adegas. Provavelmente a reestruturação mais importante realizou-se nas vinhas, uma vez que as novas castas plantadas foram escolhidas em função da sua produção em qualidade e não em quantidade. Hoje, os vinhos da Região de Lisboa são conhecidos pela sua boa relação qualidade/preço.

A região concentrou-se na plantação das mais nobres castas portuguesas e estrangeiras e em 1993 foi criada a categoria “Vinho Regional da Estremadura”, hoje "Vinho Regional Lisboa". A nova categoria incentivou os produtores a estudar as potencialidades de diferentes castas e, neste momento, a maior parte dos vinhos produzidos na região de Lisboa são regionais (a lei de vinhos DOC é muito restritiva na utilização de castas).

Entre as principais uvas cultivadas podemos citar as brancas Arinto, Fernão Pires (ambos naturais de Portugal) e Malvasia, e as tintas, Alicante Bouschet, Castelão, Touriga Nacional e Aragonez (como é chamada a Tempranillo na região).

Acredita-se que a elaboração de vinhos seja uma atividade desde o século 12, quando os monges da Ordem de Cister se estabeleceram na região. Uma de suas principais funções era justamente a produção da bebida para a celebração de missas.

A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa), Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).

Lisboa DOC

A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa), Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).

As regiões de Colares, Carcavelos e Bucelas outrora muito importantes, hoje têm praticamente um interesse histórico. A proximidade da capital e a necessidade de urbanizar terrenos quase levou à extinção das vinhas nestas Denominações de Origem.

A Denominação de Origem de Bucelas apenas produz vinhos brancos e foi demarcada em 1911. Os seus vinhos, essencialmente elaborados a partir da casta Arinto, foram muito apreciados no estrangeiro, especialmente pela corte inglesa. Os vinhos brancos de Bucelas apresentam acidez equilibrada, aromas florais e são capazes de conservar as suas qualidades durante anos.

Colares é uma Denominação de Origem que se situa na zona sul da região de Lisboa. É muito próxima do mar e as suas vinhas são instaladas em solos calcários ou assentes em areia. Os vinhos são essencialmente elaborados a partir da casta Ramisco, todavia a produção desta região raramente atinge as 10 mil garrafas.

A zona central da região de Lisboa (Óbidos, Arruda, Torres Vedras e Alenquer) recebeu a maioria dos investimentos na região: procedeu-se à modernização das vinhas e apostou-se na plantação de novas castas. Hoje em dia, os melhores vinhos DOC desta zona provêm de castas tintas como por exemplo, a casta Castelão, a Aragonez (Tinta Roriz), a Touriga Nacional, a Tinta Miúda e a Trincadeira que por vezes são lotadas com a Alicante Bouschet, a Touriga Franca, a Cabernet Sauvignon e a Syrah, entre outras. Os vinhos brancos são normalmente elaborados com as castas Arinto, Fernão Pires, Seara-Nova e Vital, apesar da Chardonnay também ser cultivada em algumas zonas.

A região de Alenquer produz alguns dos mais prestigiados vinhos DOC da região de Lisboa (tintos e brancos). Nesta zona as vinhas são protegidas dos ventos atlânticos, favorecendo a maturação das uvas e a produção de vinhos mais concentrados. Noutras zonas da região de Lisboa, os vinhos tintos são aromáticos, elegantes, ricos em taninos e capazes de envelhecer alguns anos em garrafa. Os vinhos brancos caracterizam-se pela sua frescura e carácter citrino.

A maior Denominação de Origem da região, Encostas d’Aire, foi a última a sofrer as consequências da modernização. Apostou-se na plantação de novas castas como a Baga ou Castelão e castas brancas como Arinto, Malvasia, Fernão Pires, que partilham as terras com outras castas portuguesas e internacionais, como por exemplo, a Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Aragonez, Touriga Nacional ou Trincadeira. O perfil dos vinhos começou a alterar-se: ganharam mais cor, corpo e intensidade.

E agora finalmente o vinho!

Na taça impressiona com o vermelho rubi intenso, profundo, quase escuro, com tonalidade arroxeada, com uma profusão de lágrimas finas e que mancham as paredes do copo.

No nariz se destaca de imediato, as notas frutadas, de frutas vermelhas bem maduras, tais como groselha, cereja, ameixa. Traz também algumas percepções de defumado, de chocolate, embora o vinho não passe por barricas de carvalho, além de especiarias, pimenta, talvez.

Na boca entrega um impressionante equilíbrio. É seco, tem estrutura média, alcoólico, mas bem integrado, cheio, marcante, mas redondo, fácil de degustar, sendo também frutado. Tem taninos gulosos, carnudos, mas domados, acidez equilibrada. É franco, persistente no seu final, com aquela picância, típica da Syrah, com um retrogosto marcado pela fruta.

Barato! Simples! Intenso! De marcante personalidade! Um vinho aveludado, macio, redondo, mas robusto, cheio! Será que essas descrições “harmonizam” bem? Pode não harmonizar para percepções retas e lineares, carregadas de visões pré-concebidas, mas uma das grandes coisas do universo do vinho é a capacidade de surpreender-nos! De nos surpreender positivamente, de onde menos se espera! E assim tal universo que nos contempla cada vez mais nos embriaga de alegria, de momentos especiais, mesmo que não seja aquele vinho da moda ou demasiadamente caro! Aposte no que o seu coração diz, não se renda a efêmeros modismos! Tradição conta? Sim, mas não é regra no vinho! Mais uma vez Lisboa me revela o que há de melhor no seu terroir. Altamente aprovado! Te 14% de teor alcoólico.

Sobre a Adega Cooperativa Labrugeira:

A origem da Adega Cooperativa da Labrugeira, ACL, remonta ao ano de 1973, a partir da iniciativa de 85 viticultores, tendo visto a sua primeira vindima em 1975. Atualmente representa 437 associados com uma área total de 620 hectares.

Na década de 1990, com o aparecimento das comissões vitivinícolas regionais – CVR, começou a ver os seus vinhos a serem certificados como Vinho Regional da Estremadura, hoje Vinho Regional Lisboa, e Vinho de Denominação de Origem Controlada – DOC Alenquer.

A Adega Cooperativa da Labrugeira, ACL, situada no concelho de Alenquer, é atualmente a única adega cooperativa deste concelho, representado assim todos os viticultores cooperantes desta área. Assim se deu um grande passo para potencializar a boa qualidade das uvas para a produção de grandes vinhos da região. E pouco a pouco se foram juntando novos associados com vinhas situadas na zona norte do concelho de Alenquer, no sopé sul e oeste da serra de Montejunto, com uma área de influência que cobre as freguesias de Ventosa, Olhalvo, Cabanas de Torres e Abrigada e Vila Verde dos Francos.

Com uma forte tradição na produção de vinhos de qualidade, a adega tem vindo a melhorar gradualmente as suas estruturas, sendo uma das adegas com maior e melhor resposta às exigências enológicas. Atualmente a Adega da Labrugeira comercializa uma vasta gama de vinhos engarrafados e acondicionados, brancos, tintos, rosés, vinhos leves, aguardentes bagaceiras e vinho espumante, com a certificação Regional Lisboa (IGP) e DOP Alenquer. Distribui no mercado português, no mercado Europeu e exporta para países da América do Sul. A sua produção anual cifra-se em cerca de 4 milhões de litros.

Mais informações acesse:

http://www.adegalabrugeira.pt/index.html

Referências:

“Blog do Syrah”: http://www.blogdosyrah.com/2015/09/24/acl-adega-cooperativa-da-labrugeira-crl-100-syrah-lisboa-2009/

“Garrafeira Nacional”: https://www.garrafeiranacional.com/2010-adega-cooperativa-da-labrugeira-syrah-reserva-tinto-1-5l.html

“Blog Divvino”: https://www.divvino.com.br/blog/vinho-lisboa/

“Olhar Turístico”: https://www.olharturistico.com.br/regiao-dos-vinhos-de-lisboa/

“Belle Cave”: https://www.bellecave.com.br/vinhos-de-lisboa-saiba-mais-sobre-essa-regiao-produtora

“Infovini”: http://www.infovini.com/pagina.php?codNode=3901

 

 

 








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