Há algum tempo atrás, e põe tempo nisso, eu não me importava
muito com alguns detalhes dos vinhos, tais como: região, castas, safras,
produtores etc. Confesso que a minha relação com o vinho, além de prazerosa e
especial, era rasa, superficial.
Bem considero hoje essas descrições de suma importância para
criar uma espécie de identidade com o vinho que degustamos, sem aquela visão
aleatória, distante. Acredito firmemente que tais elos criam uma predileção, um
norte na tomada de decisão com determinados vinhos etc.
Mas por outro lado pode suscitar a tal temida zona de
conforto, onde torna-se cômodo para nós degustarmos vinhos de determinadas
regiões, castas e produtores e neste estabelecer algo relacionado a fortaleza,
a segurança que escraviza.
Claro que, para tudo na vida, precisa-se buscar o equilíbrio
e na adega nossa de cada dia o equilíbrio significa diversidade, leque de
opções. Sair do senso comum e de modismos, independentemente de ter ou não a
tal da “litragem”, é imprescindível e olhar para ela, a adega, e ter a
liberdade de escolher o que melhor lhe convém para o momento.
Confesso que os lisboetas são uma forte predileção e algo
muito presente, consequentemente, na minha adega em termos quantitativos e,
modéstia à parte, qualitativamente.
Se há esse quantitativo razoavelmente grande, há uma
diversidade de propostas que vai das castas, dos blends, até aos valores
ofertados e este rótulo de hoje se mostrou simplesmente imbatível no custo! Em
torno de R$ 32,00! Uma verdadeira pechincha! Não gosto muito de apresentar
valores, haja vista que estes mudam drasticamente e em um curto espaço de tempo
em terras brasileiras, mas vale a pena mostrar agora, para enfatizar o valer a
pena na compra.
E esse rótulo, além do atraente valor, traz um produtor que, pelo
menos para mim, é novo e, creio, pouco conhecido no Brasil, um produtor
“underground”: Adega Cooperativa Labrugeira.
Há certo preconceito com vinhos portugueses, franceses e
espanhóis baratos quando chegam no Brasil e de adegas cooperativas portuguesas
também. Acham que portugueses com esse preço baixo traz baixa qualidade também.
Tive algumas experiências com lusitanos nesta mesma faixa de preço e alguns
entregaram além do que valia. Tudo é uma questão de garimpar, pesquisar,
acessar o site do produtor e, diante disso, analisar se tais vinhos estão
alinhados com as suas pretensões! Simples assim, penso!
Então eis que é chegado o momento de degustar o rótulo. E
como sempre sou tomado por uma excitação quando degusto um lisboeta e com esse
não seria diferente, independentemente da sua proposta. O vinho foi
desarrolhado, inundou a minha taça e já no aroma entregava uma explosão de
frutas vermelhas e pretas maduras e no paladar personalidade mesmo que diante
da sua simplicidade. Nobre!
Então sem mais delongas o vinho que degustei e gostei veio,
claro, de Lisboa, Portugal, e se traz no seu nome das castas que o compõe:
Syrah & Tinta Roriz da safra 2018. E antes de falar sobre o vinho, não
custa falar da região novamente, porque a sua história “harmoniza” perfeitamente
com a história da Portugal vitivinícola.
Lisboa
A costa de Portugal é muito privilegiada para a produção
vitivinícola graças à sua posição em relação ao Oceano Atlântico, à incidência
de ventos, ao solo e ao relevo que constituem o local. Entre as principais
áreas produtoras podemos citar a região dos vinhos de Lisboa, antigamente
conhecida como Estremadura, famosa tanto por tintos encorpados como por brancos
leves e aromáticos.
Tem mais de 30 hectares de cultivo com mais de 9 mil aptas à
produção de Vinho Regional de Lisboa e Vinho com Denominação de Origem
Controlada. O nome passou em 2009 para Lisboa de forma a diferenciar da região
de mesmo nome na Espanha, também produtora de vinhos.
O litoral da IGP Lisboa corre para o sul de Beiras a partir
da capital de Portugal, onde o rio Tejo encontra o Oceano Atlântico. Suas
características geográficas proporcionam certa complexidade à região, pois está
situada climaticamente em zona de transição dos ventos úmidos e estios, com
solo de idades variadas, secos, encostas e maciços montanhosos se contrapõem a
várzeas e terras de aluvião.
Ainda sofre influência direta da capital do país localizada
em um extremo da região. Uma de suas características determinantes é a grande
variedade de solos, como terras de aluvião (sedimentar), calcário secundário,
várzeas e maciços montanhosos, muitas vezes misturados. Cada um desses terrenos
pode proporcionar às uvas características completamente diferentes.
Esta região possui boas condições para produzir vinhos de
qualidade, todavia há cerca de quinze anos atrás a região de Lisboa era
essencialmente conhecida por produzir vinho em elevada quantidade e de pouca
qualidade. Assim, iniciou-se um processo de reestruturação nas vinhas e adegas.
Provavelmente a reestruturação mais importante realizou-se nas vinhas, uma vez
que as novas castas plantadas foram escolhidas em função da sua produção em
qualidade e não em quantidade. Hoje, os vinhos da Região de Lisboa são
conhecidos pela sua boa relação qualidade/preço.
A região concentrou-se na plantação das mais nobres castas
portuguesas e estrangeiras e em 1993 foi criada a categoria “Vinho Regional da
Estremadura”, hoje "Vinho Regional Lisboa". A nova categoria
incentivou os produtores a estudar as potencialidades de diferentes castas e,
neste momento, a maior parte dos vinhos produzidos na região de Lisboa são
regionais (a lei de vinhos DOC é muito restritiva na utilização de castas).
Entre as principais uvas cultivadas podemos citar as brancas
Arinto, Fernão Pires (ambos naturais de Portugal) e Malvasia, e as tintas,
Alicante Bouschet, Castelão, Touriga Nacional e Aragonez (como é chamada a
Tempranillo na região).
Acredita-se que a elaboração de vinhos seja uma atividade
desde o século 12, quando os monges da Ordem de Cister se estabeleceram na
região. Uma de suas principais funções era justamente a produção da bebida para
a celebração de missas.
A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de
Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa),
Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e
Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).
A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de
Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa),
Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e
Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).
As regiões de Colares, Carcavelos e Bucelas outrora muito
importantes, hoje têm praticamente um interesse histórico. A proximidade da
capital e a necessidade de urbanizar terrenos quase levou à extinção das vinhas
nestas Denominações de Origem.
A Denominação de Origem de Bucelas apenas produz vinhos
brancos e foi demarcada em 1911. Os seus vinhos, essencialmente elaborados a
partir da casta Arinto, foram muito apreciados no estrangeiro, especialmente
pela corte inglesa. Os vinhos brancos de Bucelas apresentam acidez equilibrada,
aromas florais e são capazes de conservar as suas qualidades durante anos.
Colares é uma Denominação de Origem que se situa na zona sul
da região de Lisboa. É muito próxima do mar e as suas vinhas são instaladas em
solos calcários ou assentes em areia. Os vinhos são essencialmente elaborados a
partir da casta Ramisco, todavia a produção desta região raramente atinge as 10
mil garrafas.
A zona central da região de Lisboa (Óbidos, Arruda, Torres
Vedras e Alenquer) recebeu a maioria dos investimentos na região: procedeu-se à
modernização das vinhas e apostou-se na plantação de novas castas. Hoje em dia,
os melhores vinhos DOC desta zona provêm de castas tintas como por exemplo, a
casta Castelão, a Aragonez (Tinta Roriz), a Touriga Nacional, a Tinta Miúda e a
Trincadeira que por vezes são lotadas com a Alicante Bouschet, a Touriga
Franca, a Cabernet Sauvignon e a Syrah, entre outras. Os vinhos brancos são
normalmente elaborados com as castas Arinto, Fernão Pires, Seara-Nova e Vital,
apesar da Chardonnay também ser cultivada em algumas zonas.
A região de Alenquer produz alguns dos mais prestigiados
vinhos DOC da região de Lisboa (tintos e brancos). Nesta zona as vinhas são
protegidas dos ventos atlânticos, favorecendo a maturação das uvas e a produção
de vinhos mais concentrados. Noutras zonas da região de Lisboa, os vinhos
tintos são aromáticos, elegantes, ricos em taninos e capazes de envelhecer
alguns anos em garrafa. Os vinhos brancos caracterizam-se pela sua frescura e
carácter citrino.
A maior Denominação de Origem da região, Encostas d’Aire, foi
a última a sofrer as consequências da modernização. Apostou-se na plantação de
novas castas como a Baga ou Castelão e castas brancas como Arinto, Malvasia,
Fernão Pires, que partilham as terras com outras castas portuguesas e
internacionais, como por exemplo, a Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Aragonez,
Touriga Nacional ou Trincadeira. O perfil dos vinhos começou a alterar-se:
ganharam mais cor, corpo e intensidade.
E agora finalmente o vinho!
Na taça impressiona com o vermelho rubi intenso, profundo,
quase escuro, com tonalidade arroxeada, com uma profusão de lágrimas finas e
que mancham as paredes do copo.
No nariz se destaca de imediato, as notas frutadas, de frutas
vermelhas bem maduras, tais como groselha, cereja, ameixa. Traz também algumas
percepções de defumado, de chocolate, embora o vinho não passe por barricas de
carvalho, além de especiarias, pimenta, talvez.
Na boca entrega um impressionante equilíbrio. É seco, tem
estrutura média, alcoólico, mas bem integrado, cheio, marcante, mas redondo,
fácil de degustar, sendo também frutado.
Tem taninos gulosos, carnudos, mas domados, acidez equilibrada. É franco,
persistente no seu final, com aquela picância, típica da Syrah, com um
retrogosto marcado pela fruta.
Barato! Simples! Intenso! De marcante personalidade! Um vinho
aveludado, macio, redondo, mas robusto, cheio! Será que essas descrições “harmonizam”
bem? Pode não harmonizar para percepções retas e lineares, carregadas de visões
pré-concebidas, mas uma das grandes coisas do universo do vinho é a capacidade
de surpreender-nos! De nos surpreender positivamente, de onde menos se espera!
E assim tal universo que nos contempla cada vez mais nos embriaga de alegria,
de momentos especiais, mesmo que não seja aquele vinho da moda ou
demasiadamente caro! Aposte no que o seu coração diz, não se renda a efêmeros
modismos! Tradição conta? Sim, mas não é regra no vinho! Mais uma vez Lisboa me
revela o que há de melhor no seu terroir. Altamente aprovado! Te 14% de teor
alcoólico.
Sobre a Adega Cooperativa Labrugeira:
A origem da Adega Cooperativa da Labrugeira, ACL, remonta ao
ano de 1973, a partir da iniciativa de 85 viticultores, tendo visto a sua
primeira vindima em 1975. Atualmente representa 437 associados com uma área
total de 620 hectares.
Na década de 1990, com o aparecimento das comissões
vitivinícolas regionais – CVR, começou a ver os seus vinhos a serem
certificados como Vinho Regional da Estremadura, hoje Vinho Regional Lisboa, e
Vinho de Denominação de Origem Controlada – DOC Alenquer.
A Adega Cooperativa da Labrugeira, ACL, situada no concelho
de Alenquer, é atualmente a única adega cooperativa deste concelho,
representado assim todos os viticultores cooperantes desta área. Assim se deu
um grande passo para potencializar a boa qualidade das uvas para a produção de
grandes vinhos da região. E pouco a pouco se foram juntando novos associados com
vinhas situadas na zona norte do concelho de Alenquer, no sopé sul e oeste da
serra de Montejunto, com uma área de influência que cobre as freguesias de
Ventosa, Olhalvo, Cabanas de Torres e Abrigada e Vila Verde dos Francos.
Com uma forte tradição na produção de vinhos de qualidade, a
adega tem vindo a melhorar gradualmente as suas estruturas, sendo uma das
adegas com maior e melhor resposta às exigências enológicas. Atualmente a Adega
da Labrugeira comercializa uma vasta gama de vinhos engarrafados e acondicionados,
brancos, tintos, rosés, vinhos leves, aguardentes bagaceiras e vinho espumante,
com a certificação Regional Lisboa (IGP) e DOP Alenquer. Distribui no mercado
português, no mercado Europeu e exporta para países da América do Sul. A sua
produção anual cifra-se em cerca de 4 milhões de litros.
Mais informações acesse:
http://www.adegalabrugeira.pt/index.html
Referências:
“Blog do Syrah”: http://www.blogdosyrah.com/2015/09/24/acl-adega-cooperativa-da-labrugeira-crl-100-syrah-lisboa-2009/
“Garrafeira Nacional”: https://www.garrafeiranacional.com/2010-adega-cooperativa-da-labrugeira-syrah-reserva-tinto-1-5l.html
“Blog Divvino”: https://www.divvino.com.br/blog/vinho-lisboa/
“Olhar Turístico”: https://www.olharturistico.com.br/regiao-dos-vinhos-de-lisboa/
“Belle Cave”:
https://www.bellecave.com.br/vinhos-de-lisboa-saiba-mais-sobre-essa-regiao-produtora
“Infovini”: http://www.infovini.com/pagina.php?codNode=3901
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