sábado, 16 de julho de 2022

Panizzon Maximus 2018

 

Algumas discussões vêm se tornando recorrente entre os enófilos brasileiros e é bom que aconteça mesmo, pois estimula o senso crítico e a capacidade de entendimento de determinados cenários. E quais seriam as discussões? A disseminação da cultura do vinho, democratizando-a, a qualidade crescente do vinho brasileiro e o seu reconhecimento pela crítica especializada internacional, o custo Brasil que os encarece etc.

Por que falo tudo isso? Acredito que precisamos discutir tais temas e entender como e em que circunstâncias o vinho nacional enche as nossas taças. Não quero parecer ufanista e tão pouco ser um espírito de porco chato que critica os problemas pela qual a nossa cultura (ou falta de) na degustação de nossos vinhos passa.

O fato é que os nossos vinhos ganham, a cada dia, em qualidade, adquirindo tipicidade, expressando o que há de mais genuíno de nossos mais significativos terroirs, embora o consumo per capita, por ano, insiste em não passar dos dois litros e detalhe: Esse triste e preocupante panorama desde 1986, pasmem!

Então tentemos enxergar o que há de bom e ruim na nossa viticultura e, evidente tentar tirar bons proveitos nisso tudo e tentar degustar, em especial, os nossos rótulos. O conceito de preço baixo pode ser relativo, mas o cenário difícil dos valores e os altos tributos que pesam sobre nossa bebida é nítido, mas, enquanto enófilos que somos, temos de ter a mínima capacidade de garimpar, de buscar opções de vinhos mais justas no preço para o seu bolso. Isso sim é ter o que eu chamei de bom senso no início deste texto.

E acreditem há sim vinhos com um excelente custo X benefício, com propostas arrojadas, de vinhos complexos, que entregam qualidade, tipicidade, de regiões que aprecia, bem como castas ou blends igualmente atrativas.

E preciso citar alguns poucos produtores que, a duras penas, tem produzindo vinhos de extrema qualidade há décadas e que mantém um valor justo, democrático e que vem ganhando também a credibilidade em todo o planeta ganhando prêmios, sendo laureados com reconhecimentos dos mais expressivos: Falo da Panizzon e da Garibaldi.

A Garibaldi entrega rótulos especiais e muito bem feitos, sobretudo os espumantes e não ousarei aqui a elencar todos os seus grandes rótulos que degustei e gostei para não correr o risco de ser injusto. A Panizzon eu conheci, o que é uma pena, recentemente e confesso que fiquei impressionado com os preços que são praticados dos seus rótulos mais simples aos complexos.

Fui presenteado por um amigo e foi assim que conheci esse produtor com um Panizzon da casta Ancellotta da safra 2015 e estava simplesmente espetacular e o valor de mercado gira em torno dos R$ 40,00, aproximadamente! Então movido pelo interesse e excitação por buscar novos rótulos a ótimos preços da Panizzon me pus a garimpar pela grande rede.

E parei em um site conhecido que vende vinhos brasileiros e me deparei com um, que parece ser um dos mais complexos do portfólio deste produtor e quando vi o preço não acreditei: em torno dos R$50,00! Vi novamente, talvez poderia ter sido um erro, mas não, o valor era aquele! Li a descrição do vinho me excitando ainda mais! Então a aquisição era inevitável.

Ficou algum tempo na adega até que precisava iniciar a minha experiência com esse rótulo e o dia chegou! Eis que o momento chegou e o ritual de iniciação se fez necessário neste dia! Desarrolhado, a taça inundada, os sentidos aguçados e...voilá! De fato, o vinho correspondeu de forma suprema, única! Um estupendo vinho da região de Campos de Cima da Serra, um terroir que também vem me ganhando definitivamente. Ainda ouvirão e muito falar de Campos de Cima da Serra!

Então sem mais delongas vamos às apresentações: O vinho que degustei e gostei veio, como disse, de Campos de Cima da Serra, no Brasil, e se chama Panizzon Maximus composto pelas castas Cabernet Franc (35%), Merlot (35%), Sangiovese (15%) e Ancellotta (15%) da safra 2018. Então antes de falar sobre o vinho vamos traçar a história de Campos de Cima da Serra.

Campos de Cima da Serra

Por muito tempo, a região dos Campos de Cima da Serra ficou à sombra da Serra Gaúcha. A predominância do cultivo de variedades híbridas e o clima frio e ventoso eram encarados como entraves para o desenvolvimento de grandes vinhedos. Atualmente, no entanto, o cenário é o oposto.

A baixa temperatura e a incidência constante do vento foram transformadas em diferenciais, pois propiciam uma maturação mais longa e condições para que as uvas viníferas apresentem excelente sanidade.

As iniciativas de empresários que se aventuraram em elaborar vinhos na região foram recompensadas com grandes rótulos, hoje nacionalmente conhecidos por sua qualidade.

A vitivinicultura na região dos Campos de Cima da Serra é recente, iniciou com pesquisas realizadas pela Embrapa Uva e Vinho, que desde 2004 conduz experimentos nas áreas de viticultura e enologia na região, tem indicado condições favoráveis devido ao solo e o clima.

Ainda em fase de crescimento, destacam-se municípios como Campestre da Serra, Monte Alegre dos Campos, Ipê e Vacaria. Até então, o que víamos eram esplêndidas maçãs, sobretudo plantadas em Vacaria: "maçãs da Serra Gaúcha para a sua mesa!", um slogan bem conhecido localmente.

Campos de Cima da Serra

Naturalmente tem naquelas terras, devido ao fato de ser um pouco mais frio, um terreno propício para ciclos vegetativos mais longos e aos vinhos com menor teor alcoólico, acidez mais alta e boa estabilidade de cor e bom perfil aromático (os dois últimos graças à boa amplitude térmica).

Recordando a teoria: a cada 100 metros de altitude a temperatura média decresce em torno de 0,5 graus e corresponde a um retardo de 2-3 dias no período de crescimento da planta. Isso, comparativamente, coloca a região de Campos de Cima mais próxima de um clima de Bordeaux, ao contrário da Serra Gaúcha. Mas, há uma boa insolação sem dúvidas! Aliás, turisticamente, dali pode-se iniciar, rumo ao litoral, a conhecida "Rota do Sol"!

Como os ciclos da planta são longos, há colheitas de uvas tardias como a Cabernet Sauvignon no mês de abril, fato que traduz uma maturação lenta e que associada à já citada amplitude térmica (com variações de 15 graus em média, entre dia-noite) propicia vinhos mais harmônicos, com bom equilíbrio geral entre corpo-álcool-acidez.

Dentre as uvas principais temos as tintas Ancelotta, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat e Pinot Noir. Esta última, tem tido bom destaque, sobretudo no munícipio de Muitos Capões. As brancas mais cultivadas são Chardonnay, Moscato Branco, Glera (Prosecco), Trebbiano e a de melhor potencial de qualidade, a Viognier.

As videiras estão situadas principalmente em três municípios: Vacaria, Muitos Capões e Monte Alegre dos Campos. As uvas Pinot Noir e Chardonnay (uvas utilizadas na elaboração de espumantes) são muito cultivadas na região que apresenta clima temperado, com boa amplitude térmica. Por conta das baixas temperaturas, as videiras têm um ciclo vegetativo mais longo, brotam mais tarde. Consequentemente, a colheita é mais tardia, quase no início do outono.

Pode-se resumir que a região de Campos de Cima da Serra aporta e acrescenta um toque a mais de sutilezas climáticas, permitindo a diversificação de estilos de vinhos do Rio Grande do Sul como um todo e, por sua bela paisagem natural, pode se tornar um novo polo turístico, a contrapartida lúdica no trabalho de informação e educação sobre vinhos aos consumidores.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um intenso e profundo vermelho rubi, porém com tons brilhantes, com lágrimas finas e em profusão que, lentamente, desenham as bordas do copo.

No nariz entregam aromas intensos de frutas negras bem maduras, com destaque para a ameixa, amora e cereja preta, em perfeita sinergia com a madeira que evidente, aporta notas de chocolate, torrefação e baunilha, além de toques de especiarias que vai surgindo com a evolução do vinho em taça, diria algo de pimenta ou ervas.

Na boca é intensamente seco, mas saboroso, volumoso em boca, de médio corpo, a sua estrutura é evidente, mas, por outro lado, é macio e equilibrado graças a sinergia, também percebida no palato, da fruta com a madeira, afinal os 12 meses de passagem por barricas de carvalho, evidencia o amadeirado, mas privilegia o protagonismo da fruta. Os taninos são gulosos, marcados, mas aveludados, com uma acidez alta que corrobora, reforça o volume de boca, com a percepção de notas terrosas, de couro e tabaco. Tem final persistente e retrogosto frutado.

Gratas novidades, novas experiências sensoriais! A comprovação de que os vinhos brasileiros estão arrojados e expressivos, está na sua tipicidade, respeitando o seu terroir e convenhamos que, mais uma vez, Campos de Cima da Serra se revela maravilhosa, personificada em um vinho estupendo como o Panizzon Maximus! O vinho já traz sua imponência no nome! Nunca um nome de vinho veio tão a calhar como esse da Panizzon que merece, mais uma vez, os louros por produzir grandes vinhos a preços acessíveis. Não! Neste caso não podemos criticar sobre os altos valores dos vinhos brasileiros. Panizzon Maximus ostenta não só o nome e a qualidade, mas a relevância de seu preço que só estimula a democratização da cultura do vinho brasileiro! Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Panizzon:

Foi em 1960 que Ricardo Panizzon e seus filhos decidiram apostar em sua produção própria de vinhos. Com vasta experiência como fornecedores de matéria-prima para vinícolas da região, a família Panizzon teve a visão empreendedora de investir em um novo negócio. E foi a partir deste importante passo que nasce a Sociedade de Bebidas Panizzon Ltda., surgida e instalada até hoje no Travessão Martins, interior de Flores da Cunha, e atualmente capitaneada pela terceira geração da família.

Até 1990, as atividades da empresa se concentravam na produção de vinhos de mesa. Em 1991, inicia-se a produção de vinagres, sob a marca Rosina, em homenagem à nona Rosina, esposa do fundador Ricardo. Ainda na primeira metade da década de 90, a Sociedade amplia seu mix de produtos com o lançamento de bebidas quentes e vinhos compostos. Com o aquecimento do mercado e a grande demanda por novos produtos, em 1999 a Panizzon lança seus primeiros vinhos finos e, em 2002, passa a fazer parte também do nicho de espumantes finos.

Mas foi no ano 2003 que a empresa ampliou ainda mais sua atuação, apresentando ao mercado linhas de vinagre balsâmico e suco de uva. Um marco no setor produtivo da Panizzon foi a implementação de técnicas, equipamentos e infraestrutura de última geração aplicada na produção de suco de uva concentrado, no ano de 2006. Os vinhedos Durans são o berço da produção das uvas dos Vinhos Panizzon. A produção de vinhos e espumantes realizada a partir de vinhedos próprios é garantia de excelência, devido ao controle rigoroso de qualidade que é feito desde o plantio, que é realizado em espaldeiras, até a vintage.

Esses diferenciais únicos garantem reconhecimento aos Espumantes e Vinhos Finos Panizzon, premiados em concursos nacionais e internacionais. Hoje, presente há mais de 59 anos no mercado brasileiro de bebidas, a Panizzon se configura como referência por sua excelência, fruto da tradição do legado da família e do constante aprimoramento técnico e produtivo.

A sua postura inovadora, responsável pela introdução de novos gêneros de produtos em território nacional evidencia a maturidade da empresa, que possui mais de 50 anos de mercado. Além da tradição e do legado da família, o que impulsiona a Panizzon é a responsabilidade de aprimorar constantemente os conhecimentos adquiridos, formar técnicos, investir em tecnologia e novos projetos como o plantio de grandes áreas de vinhedos próprios. O resultado deste incansável trabalho são os espumantes, vinhos finos, vinhos de mesa, vinagres, sucos e bebidas quentes, todos os produtos referência no mercado por sua excelência em qualidade.

Mais informações acesse:

http://www.panizzon.com.br/

Referências:

“Cafeviagem”: https://cafeviagem.com/vinhos-de-campos-de-cima-da-serra/

“ABS-SP”: https://www.abs-sp.com.br/noticias/n144/c/vinhos-do-brasil-parte-iv-campos-de-cima-da-serra

 

 

 

 

 







sábado, 9 de julho de 2022

Witral Gran Reserva Syrah 2016

 

Seria possível enxergar novidades em algo que já conhecemos desde os tempos de outrora? Digo que no universo vasto e inexplorado do vinho podemos sem sombra de dúvida.

E não é somente nas novas safras de um mesmo rótulo que as influências naturais (clima, temperatura etc.) tem impacto determinante nos vinhos, dando-lhes um caráter único, safra após safra, ano após ano, mas também na novidade de uma região, por exemplo.

Quer algo mais regionalista que degustarmos rótulos de microrregiões, pequenas e desconhecidas regiões inseridas em um grande “bloco” regional, muitas vezes, conhecidos e respeitados mundialmente?

Mas no caso da região cujo vinho degustarei hoje vem ganhando notoriedade pela sua credibilidade, pelos seus vinhos de qualidade, que eu, até o momento, não tive o prazer de degustar. Até o momento, porque a espera acabou, ele chegou!

Quem não gosta de um belo Syrah chileno? Definitivamente a variedade ganhou o mundo e em qualquer terroir se adapta divinamente, ganhando claro suas peculiaridades de acordo com a terra, o clima e a geografia do local de cultivo.

E essa região de hoje, nova para mim, me oferece um Syrah. Entendeu a novidade mesmo que com algo que já profundamente conhecemos? Sim! Isso é mágico e só mesmo o universo do vinho e toda a sua aura cósmica e especial pode nos proporcionar.

Esse vinho, depois da aquisição, ficou por um período que considerei razoável na adega. Esperei, pacientemente, o melhor momento para degusta-lo e hoje com seus seis anos de vida, está maduro, elegante, complexo, arrisco, como tem de ser um belo Syrah com a sua proposta e do Chile.

Bem sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio do Valle del Limarí e se chama Witral Gran Reserva, um 100% Syrah da safra 2016. Antes de viajarmos na história de Limarí e da descrição do vinho, cabe aqui uma curiosidade: “Witral” significa “tear” na língua dos Mapuches e expressa uma das mais antigas tradições desse povo. Essa civilização habitou o Valle del Limarí.

Os mapuches são um povo indígena da região centro-sul do Chile e do sudoeste da Argentina. São conhecidos também como araucanos (nome que os espanhóis lhes deram, mas que eles não reconhecem como próprio e percebido como pejorativo) ou eram também chamados reches antes do século XVIII.

A denominação Mapuche se origina da fusão de duas palavras, “mapu” que significa terra, e “che”, que significa gente. Em algumas regiões, ambos os termos são utilizados com pequenas diferenças de significado. Especula-se que o nome araucano proceda da palavra quechua "awqa", inimigo, selvagem ou rebelde, ou de "palqu", silvestre, tendo sido lhes dada pelos incas ou pelos espanhóis, fato que explica o repúdio desta designação por parte dos próprios Mapuche. 

Valle del Limarí

Localizado na província de Coquimbo, a cerca de 400 quilômetros ao norte de Santiago e às portas do deserto do Atacama, o Valle del Limarí é uma importante área vitivinícola chilena. Seu nome é devido ao rio Limarí, que corta o vale levando água pura e cristalina das Cordilheiras dos Andes. O Rio Limarí desce das montanhas dos Andes, formando uma ampla bacia com o maior reservatório do Norte Chico, o que favorece toda a agricultura.

O Vale do Limarí é conhecido como o “Norte Verde do Chile”, pois nele se encontram metade das áreas irrigadas da região de Coquimbo. Os vinhedos nesta área são famosos por suas variedades Chardonnay, Sauvignon Blanc e Cabernet Sauvignon, mas outras variedades também são encontradas como a Syrah,  Viognier e Pinot Gris.

Coquimbo e as suas regiões, inclusive Valle del Limarí

Com um terroir que possui características excepcionais, o Valle del Limarí é um verdadeiro oásis em meio à paisagem desértica. A região possui um dos céus mais claros do mundo. Para se ter uma ideia, o Valle del Limarí recebe, aproximadamente, 35% a mais de intensidade solar e uma quantidade alta de dias de sol por ano, cerca de 300, quando comparado a outras regiões vitivinícolas chilenas, como o Valle Central. Devido a essa característica é também um dos principais polos de observação astronômica do mundo.

Antes de ganhar fama pela qualidade da enologia, o Valle del Limarí chamou a atenção internacional em 1987, quando pesquisadores de La Serena fotografaram a explosão de uma estrela da categoria Supernova, feito considerado raro. O clima árido da região desértica é perfeito para a observação espacial, já que a umidade local é muito baixa, o que evita que as imagens captadas pelas lentes dos telescópios embacem.

Outra característica marcante da região é a influência marítima do Oceano Pacífico. Por lá, essa brisa marítima recebe o nome de Camanchaca. É por isso que a temperatura local baixa com facilidade, devido às brisas durante os dias e as noites, o que ajuda no amadurecimento lento das uvas, resultando em uma maior concentração de aromas e sabores.

Além das importantes características citadas, o Valle del Limarí tem um fator que determina a tipicidade da região e, consequentemente, de seus vinhos, que é a mineralidade. Isso ocorre devido à quantidade de carbonato de cálcio presente no solo, que é absorvido pela videira e até chegar aos cachos de uva.

Na serra costeira os Altos de Talinay recebem a umidade do mar, gerando um afloresta com espécies vegetais que sobrevivem 1000 km ao norte de seu habitat natural. As brisas marítimas que entram no vale refrescam possíveis altas temperaturas, permitindo a produção de vinhos finos entre o setor de Socos e a cidade de Ovalle.

A região vinícola de Valle del Limari possui 4 denominações: Monte Patria (DO), Ovalle (DO), Punitaqui (DO) e Rio Hurtado (DO).

Além da beleza natural o turismo em Valle del Limarí conta com um forte potencial turístico com uma gastronomia marinha tendo a oportunidade de acompanhar produtos típicos como a papaia e os queijos de cabra. E uma grande variedade de piscos gourmet para descobrir! Os vestígios arqueológicos e os parques naturais completam uma experiência completa a quatro horas da capital.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresente um vermelho rubi intenso, escuro, profundo, mas brilhante, com lágrimas grossas, lentas e em profusão. Um vinho caudaloso, consistente já denunciando o seu corpo intenso.

No nariz traz aromas de frutas pretas maduras com destaque para amora e ameixa, com um curioso frescor, com notas de especiarias, baunilha e um tostado médio, graças aos dez meses de passagem por barricas de carvalho.

Na boca é seco, encorpado, complexo, volumoso no palato, quente e alcoólico, mas muito bem integrado ao vinho, bem como a fruta madura e a madeira, ambos evidentes, mas em sinergia, mostrando equilíbrio e personalidade, mas fácil de degustar. Pimenta trazendo picância, toques de chocolate meio amargo, torrefação, taninos marcantes, acidez média com um final prolongado e persistente.

Um Syrah de respeito, de marcante personalidade, mas com um incrível frescor que, após familiarizar com a história da região, é muito típico. Um vinho solar, com pouca acidez sim, mas que compensa nas frutas vermelhas maduras. De fato, um Syrah chileno que entrega toda a característica essencial da variedade, como tem de ser, mas redondo e equilibrado. Um vinho que teve a capacidade de unir complexidade e frescor, além da sua plenitude com 6 anos de vida e que tinha mais, muito mais a evoluir. Simples e nobre! Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Tabalí:

A Viña Tabalí, presidida por Nicolás Luksic, é há anos o vinhedo icônico e um dos pioneiros do Vale do Limarí. Continuando o caminho do pai, Guillermo Luksic, que fundou a adega em 2002, os locais escolhidos para cada casta têm uma singularidade que deve ser vista refletida em cada vinho

Guillermo Luksic foi o primeiro empresário a construir uma moderna adega no Vale do Limarí. Ele tinha um carinho especial por Ovalle porque sua mãe, Ena Craig, havia estudado na escola Amalia Errázuriz, então desde criança ele visitava a área com sua família e amigos. Ele tinha essa coisa sentimental da mãe, e a certa altura disse: quero ter um campo em Ovalle porque a região é fascinante, o clima, a temperatura e também é muito bonita.

Foi assim que Guillermo, no início da década de 1990, comprou a fazenda Tabalí, às margens do Valle del Encanto, onde plantou seus primeiros vinhedos em 1993. Só em 2002 foram lançados os primeiros vinhos da marca Tabalí, que rapidamente ganhariam reconhecimento pela sua qualidade tanto no mercado nacional como internacional.

Em 2009, após anos de estudos geológicos e experimentação, na busca constante pela inovação e excelência na qualidade de seus vinhos, a vinícola adquiriu o vinhedo Talinay. Esta vinha está localizada no sopé do Parque Nacional Fray Jorge e faz parte da Reserva Mundial da Biosfera da UNESCO. Apenas 12km o separam da costa, sendo o vinhedo mais costeiro do vale e aquele que surpreenderia todo o Chile com prêmios de Melhor Pinot Noir e Melhor Chardonnay do país em sua primeira colheita.

Com o objetivo de buscar novos Terroirs no Vale, em 2010 foi comprada uma parte da antiga Hacienda El Bosque, localizada na área andina de Río Hurtado. Neste local, está plantado um vinhedo a 1.600 metros acima do nível do mar, algo completamente novo, tornando Tabalí o único vinhedo que possui vinhas do mar à montanha, no mesmo vale.

Finalmente, em 2013 e sob a presidência de Nicolás, Tabalí adquiriu um dos vinhedos Cabernet Sauvignon mais exclusivos e de alta qualidade do Vale do Maipo, com a singularidade de estar localizado na Cordilheira da Costa, com encostas de solos coluviais e com exposição. Esta vinha promete novas oportunidades para a adega, que finalmente decide expandir o seu portfólio e explorar outros vales.

Mais informações acesse:

https://www.tabali.com/

Referências:

“Winepedia”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/o-vale-do-limari/

“Boa Bebida”: https://boabebida.com.br/regiao/Valle-del-Limari

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=LIMARI

“Wikipedia”: https://pt.wikipedia.org/wiki/Mapuches

“Enoturismo Chile”: https://www.enoturismochile.cl/valle-del-limari/

“Top do Brasil”: http://www.topdobrasil.com.br/vinhos/chile/valle-del-limari.php

 

 

 





quarta-feira, 6 de julho de 2022

Cave Antiga Marselan 2017

 

Mais um vinho da série “novidades”! Definitivamente me deixei seduzir pelas novidades, pelas novas e gratas experiências sensoriais, afinal, para que ficar na zona de conforto e se limitar, se permitir escravizar pelo famoso “mais do mesmo”?

E já começo com o produtor! A cada novidade, seja na região ou nas castas, nas uvas, a gente percebe e constata, consequentemente, que o Brasil está na rota da qualidade dos vinhos nacionais. Com rótulos com cara de Brasil, ufanismos à parte!

Vinhos com tipicidade, que enaltece o terroir e que entregam o Brasil! E a região desse vinho é simplesmente tida como a capital do Moscatel! A “família Moscato” traz o topo do cultivo no Brasil. As castas mais produzidas no Brasil, embora ainda tenha certo preconceito com tais cepas, pelo simples fato de serem uvas simples, leves. Somente por isso, penso! Um absurdo, não? Falo de Farroupilha, região dominada pela imigração e cultura italiana e, claro que também a cultura do vinho “sofreu” com o impacto dessa imigração.

Mas hoje não degustarei um vinho da “família Moscato”. Será um tinto, cuja casta entrega o oposto da leveza e frescor das moscateis e sim a força, a estrutura e também a personalidade muito apropriada para ao atuais dias de frio. Essa casta é a Marselan.

A Marselan vem crescendo a olhos vistos no Brasil. Seu cultivo vem ganhando certa representatividade e encontrou nos solos gaúchos, sobretudo na Serra Gaúcha, o clima ideal, pelo seu clima frio e úmido. Mas falaremos com requintes de detalhes da uva, bem como das regiões.

Eu lembro que conheci a Marselan quase que de forma ocasional, diria despretensiosa quando participei de um evento destinados a promoção dos vinhos brasileiros chamado Vinho na Vila, em 2017, quando o nome da cepa me chamou a atenção, fazendo com que me aproximasse do estande da famosa vinícola Perini, do Vale Trentino, em Farroupilha. O degustei e achei extremamente interessante! Era o Arbo Marselan!

Lembro-me também que prometi que iria degustar outro vinho da casta, pois uma das minhas primeiras impressões acerca da mesma foi de uma uva rústica, um tanto quanto selvagem, então claro, me chamou a atenção.

E a oportunidade do “repeteco” da degustação veio agora. Quando o escolhi eu pensei em guarda-lo por mais algum tempo, mas a curiosidade de tê-lo em minha taça foi maior! Agora degustar um Marselan com uma proposta distinta a do Arbo, um vinho mais básico, tornou-se mais do que necessário.

Quando o desarrolhei o aroma explodiu! As expectativas cresceram! O estímulo também! Realmente a complexidade e a personalidade adjetivam os vinhos da casta Marselan. Então sem mais delongas apresentemos o vinho: O vinho que degustei e gostei veio de Farroupilha, Serra Gaúcha, e se chama Cave Antiga Marselan da safra 2017. E antes de falar do vinho, contemos a história da Serra Gaúcha, a Farroupilha com o seu novo IP (Indicação de Procedência) e a Marselan.

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geoclimáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira. Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do Vale.

O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação de Origem Controlada) na região.

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto, logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local. Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.

Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.

Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.

Farroupilha

A cidade de Farroupilha, na Serra Gaúcha, é conhecida oficialmente como a Capital Nacional do Moscatel. O título é de 3 de janeiro de 2019, quando a lei foi sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro. Mas, por que esse título?  Isso porque Farroupilha detém a maior área de cultivo de uvas Moscato Branco no Rio Grande do Sul. Dos 540 hectares, o município responde por 40%, ou seja 213,15 hectares.

Farroupilha

Farroupilha, além de excelentes moscatos, tranquilos e espumantes, também ofertam vinhos tintos e rosés de excelente qualidade. A região possui vinícolas incríveis para os diversos perfis, ótimos restaurantes e é berço da história da imigração italiana no Brasil.

O enoturismo, a exemplo de outras cidades da Serra Gaúcha, tem se destacado. Novos projetos estão surgindo e as vinícolas organizam diferentes experiências para seus visitantes.

Indicação de Procedência (IP)

A região da Indicação de Procedência Farroupilha insere-se no contexto da Serra Gaúcha vitivinícola, cujo território apresenta características culturais relacionadas à colonização italiana ocorrida na região, a partir de 1875, com a chegada de imigrantes que se fixaram inicialmente em Nova Milano, atual município de Farroupilha.

As famílias produziam para subsistência, sendo a vitivinicultura expressão de sua cultura. A evolução da vitivinicultura impulsionou a economia de Farroupilha, que se qualifica, agora, com a Indicação Geográfica.

A viticultura na área delimitada de Farroupilha é a maior área de produção de uvas moscatéis do Brasil, autorizadas para a elaboração dos produtos da Indicação de Procedência Farroupilha, principalmente a cultivar Moscato Branco, cujo perfil genético foi identificado como único no mundo.

A produção das uvas moscatéis é realizada por centenas de pequenos produtores concentrados, sobretudo, na Região Delimitada de Produção de Uvas Moscatéis, enquanto os vinhos são elaborados por diversas vinícolas, que se encontram distribuídas em todo o território da Indicação de Procedência.

A organização da Associação Farroupilhense de Produtores de Vinhos, Espumantes, Sucos e Derivados (AFAVIN), constituída por vinícolas familiares e cooperativas de pequenos viticultores, promove e estimula a vitivinicultura regional, cuja identidade é reconhecida na Indicação de Procedência Farroupilha, de fortes traços culturais, com foco na produção de vinhos finos moscatéis, incluindo os vinhos tranquilos, moscatel espumante, moscatel frisante, vinho licoroso, mistela e brandy.

Marselan

A Marselan é uma uva tinta que pode aparecer cada vez mais nos vinhos. Ela faz parte do seleto grupo das 6 uvas já aprovadas pelo INAO (Institut National de L’Origine et de La Qualité) para compor a lista das uvas em Bordeaux e Bordeaux Superiéur. Juntam a esse time as tintas Castets, Arinarnoa, Touriga Nacional, bem como as brancas Alvarinho e Liliorila.

A Marselan não surgiu naturalmente. Nasceu, contudo, pelas mãos do ampelógrafo parisiense Paul Truel, criador de mais de 12 outras variedades de uvas, em 1961, no sul da França. O nome da casta foi inspirado na cidade de Marseillan próxima a Montpellier. É lá onde fica localizado o INRA – centro de pesquisa agronômica, onde ele trabalhou até se aposentar em 1985.

Paul Truel

Quando Paul idealizou a Marselan ele tinha em mente potencializar, unir e melhorar as características de duas uvas conhecidas: a Cabernet Sauvignon e a Grenache. Da Cabernet Sauvignon, Truel queria preservar a potência, com rendimentos maiores, por outro lado, da Grenache – uva que se adaptou muito bem aos climas quentes – ele queria uma uva que tivesse resistência às altas temperaturas e, claro, uma nova casta resistente às doenças.

No início, ela não ganhou destaque e não foi o sucesso esperado, devido à baixa produtividade e aos pequeninos bagos. Com o aumento da demanda por uvas resistentes às moléstias – oídio, ácaros e podridão cinzenta, por exemplo -, ela foi incluída na listagem oficial de registros quase 30 anos depois, em 1990. Atualmente, é possível encontrá-la em terroirs com características distintas e ela deixa sua marca talentosa em diversos estilos, seja em um blend ou mesmo reinando sozinha em um varietal.

Muitos a utilizaram por anos apenas em pequenas porções em vinhos de corte, até que em 2002 surgiu o primeiro vinho 100% Marselan do mercado, o francês Domaine Devereux. De lá para cá, a Marselan começou a ser exportada para diferentes países, e vem ganhando espaço na California, Brasil e até na China, onde o Chateau Lafite Rotschild implantou vinhedos de Marselan mirando o mercado interno chinês.

Falando em países produtores, a Marselan vem sendo muito cultivada no Brasil, e a cada safra que passa novos produtores lançam seus rótulos. a Marselan é muito interessante para os produtores nacionais, especialmente os da Serra Gaucha, por sua boa resistência a doenças fúngicas, que aparecem ao menor sinal de umidade. Vinificada, a uva apresenta bebidas muito agradáveis e com grande potencial de guarda. Uma característica é o ótimo equilíbrio entre taninos e acidez, além do álcool sempre bem incorporado. Estas características fazem com que os vinhos sejam de fácil consumo tanto com um ano de garrafa quanto com 5 ou 6. O estágio em barris de carvalho deixa os vinhos de Marselan ainda mais interessantes, dando um aspecto de vinhos da Toscana – com estrutura, corpo, mas muita elegância.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um lindo e intenso vermelho rubi, mas com entornos violáceos com brilhos de razoável intensidade, com lágrimas finas, lentas e em profusão.

No nariz traz aromas de frutas vermelhas maduras, como groselha e cereja, especiarias que lembram ervas, pimentas, notas amadeiradas que aportam baunilha e toques de tostado médio, graças aos seis meses de passagem por barricas de carvalho.

Na boca é seco, típico da variedade, as frutas não são tão evidentes, como no aspecto olfativo, não tem aquele volume de boca, mas tem média estrutura, caráter, porém elegante, álcool destacado, mas bem integrado. Amadeirado, chocolate, café. Taninos marcados, presentes, mas aveludados, com uma acidez equilibrada. Percebe-se algo de selvagem, indomado neste vinho, nesta variedade. Final de média intensidade.

Digo sem medo que se trata de um vinho nobre! Fantástico! Cave Antiga Marselan entrega personalidade, estrutura, complexidade, mas, ao mesmo tempo, é equilibrado, redondo, sendo, inclusive fácil de degustar! Uma casta, mesmo que criada nos laboratórios, entrega frutas vermelhas maduras, rusticidade, notas terrosas, traz o terroir da Serra Gaúcha na sua plenitude. Um grande vinho cuja casta merece ser explorada abundantemente. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Cave Antiga:

A Vinícola Cave Antiga nasceu de um sonho dos mais destacados enólogos da Serra Gaúcha e tem orgulho de estar entre as vinícolas que revolucionaram a vitivinicultura brasileira. Fundada em 1998, a Cave Antiga está situada no 3° Distrito de Farroupilha, ocupando um conjunto predial que foi concluído em 1948, localizado numa região belíssima, que tudo faz lembrar a história dos imigrantes italianos.

Em curto espaço de tempo, a Cave Antiga tem os seus produtos reconhecidos pela excelência de qualidade nos mais importantes concursos de vinhos e espumantes, no âmbito nacional e internacional.

A Cave Antiga tem focado o desenvolvimento de novos varietais, zelando por todo o processo produtivo, do plantio das uvas até a elaboração dos vinhos. Agregado ao pioneirismo produtivo, a Cave Antiga preocupa-se com a busca de forma que possibilitem a acessibilidade aos vinhos de qualidade, tendo sido pioneira na nova apresentação das embalagens bag-in-box, com varietais nobres.

Preservar a história viva que é o seu conjunto predial, interagir social e culturalmente, sempre com o zelo de preservação ecológica, levam a Cave Antiga à inserção na modernidade produtiva, resguardando a excelência da qualidade do que a natureza nos oferece.

Mais informações acesse:

https://www.caveantiga.com.br/

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA

“Blog Art de Caves”: https://blog.artdescaves.com.br/uva-marselan-cruzamento-cabernet-sauvignon-grenache-noir

“Tosin Consultoria”: https://tosinconsultoria.com.br/marselan-que-uva-e-essa/

“Enocultura”: https://www.enocultura.com.br/cruzamento-entre-uvas-marselan/

“Site de Farroupilha”: https://farroupilha.rs.gov.br/noticia/visualizar/id/3108/?farroupilha-e-a-nova-indicacao-de-procedencia-de-vinhos-finos-do-brasil.html

“Embrapa”: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1026870/indicacao-de-procedencia-farroupilha-vinhos-finos-moscateis

“Portal Bom Vivant”: https://www.portalbonvivant.com.br/post/uma-escapada-para-farroupilha-a-capital-do-moscatel

 

 

 

 




 




domingo, 3 de julho de 2022

Terras de Felgueiras Loureiro 2020

 

Meu reino por um vinho verde! Sempre costumo dizer essa frase e a digo sem medo da dependência, da subserviência. O amor pelo vinho verde é incondicional e antigo. Sou ainda da época do vinho verde leve, fresco, despretensioso, com aquela típica “agulha” e uma boa acidez!

Hoje tenho testemunhado uma proliferação de propostas de vinhos verdes com uma cara de “vinhos de boutique”, com estilo, com estrutura, com passagens por barricas de carvalho também. Estive inclusive em um evento que trazia essa multiplicidade dos vinhos verdes chamado Vinho Verde Wine Experience em duas edições.

Claro que não sou aquele tipo de gente que rejeita o novo, que vira os olhos para as novas propostas. Acho que oxigena o vinho verde e valoriza a região que já tem a sua importância e que traz, desde sempre, visibilidade aos vinhos portugueses no mundo, mas ainda me curvo para os frescos vinhos verdes e toda a sua nobre simplicidade.

Claro que a intenção da instituição que rege, regulamenta e dissemina a cultura dos vinhos verdes, bem como os seus produtores, querem trazer, com os vinhos mais complexos, a valorização de seus rótulos, pois, penso que, pelo fato de produzirem vinhos mais frescos, jovens e frutados, básicos e baratos, associa-se a produtos ruins, mas são apenas propostas, digo, apenas propostas.

E a degustação de hoje será de um produtor que aprendi a gostar pelos seus rótulos com excelente custo X benefício e que conheci por intermédio de um surpreendente Alvarinho que, quando chegam em terras brasileiras, sobretudo os varietais, vem com um alto valor que é o Terra de Felgueiras Alvarinho 2017.

Não preciso falar que é a linha de rótulos da “Terra de Felgueiras” do grupo Vercoope. Já degustei também alguns vinhos desse produtor, os ditos mais básicos, os de mesa não safrados e digo que também surpreenderam pela simplicidade, pela qualidade.

E hoje apresento um rótulo cuja casta é a minha preferida da região do Minho, da região dos Vinhos Verdes, que é a Loureiro. A Alvarinho é a rainha dos Vinhos Verdes, de toda aquela região, sobretudo das emblemáticas Monção e Melgaço, mas há de se reverenciar a Loureiro pela sua boa acidez, levez e mineralidade. Expressa com fidelidade os rótulos solares dessa região.

E esse vinho eu já havia degustado no evento mencionado antes, o “Vinho Verde Wine Experience” e dessa vez terei a garrafa toda a minha disposição. Então sem mais delongas o vinho que degustei e gostei vem da Região de Vinhos Verdes e se chama Terras de Felgueiras Loureiro da safra 2020. E antes de falar do vinho falemos da sub-região de Felgueiras, que estampa no rótulo do vinho e da minha queridinha Loureiro.

Felgueiras

Felgueiras é uma cidade portuguesa no Distrito do Porto, região Norte e sub-região Tâmega, com cerca de 15.525 habitantes, inserida na freguesia de Margaride. É sede de um município com 115,62 km² de área e 58.922 habitantes (2006), subdividido em 32 freguesias. O município é limitado a norte pelo município de Fafe, a nordeste por Celorico de Basto, a sueste por Amarante, a sudoeste por Lousada e a noroeste por Vizela e Guimarães. 

O município é constituído por quatro centros urbanos: a Cidade de Felgueiras, a Cidade da Lixa, a Vila de Barrosas e a Vila da Longra. Verdadeiro coração da NUT Tâmega, constitui hoje uma centralidade importante no mapa de auto-estradas e itinerários principais, uma garantia sólida de afirmação das inúmeras potencialidades reais concelhias. 

Felgueiras

Os bordados são uma das mais ricas tradições do concelho, que emprega cerca de dois terços das bordadeiras nacionais. O filé ou ponto de nó, o ponto de cruz, o bordado a cheio, o richelieu e o crivo são exemplos genuínos do produto artesanal de verdadeiras mãos de fada. Os sabores autênticos da gastronomia, a frescura e intensidade dos aromas dos vinhos e o ambiente de grande animação proporcionam momentos inesquecíveis.

Dando corpo a essa riqueza, foi já constituída a “Confraria do Vinho de Felgueiras”, destinada a divulgar e defender o vinho e a gastronomia felgueirenses. Felgueiras, com 58 000 habitantes é um dos concelhos com a população mais jovem do país e da Europa. Uma terra de exceção que aposta na valorização dos seus recursos humanos, na consolidação do campus politécnico, no desenvolvimento econômico (pleno emprego e centro de negócios) e na consolidação das suas infraestruturas.

Marcada pela invulgar capacidade empreendedora do seu povo é responsável por 50% da exportação nacional de calçado, por um terço do melhor Vinho Verde da Região e por um valioso patrimônio cultural. Felgueiras é um dos municípios com maior desenvolvimento do Norte do País.

A primeira referência histórica a Felgueiras data de 959, no testamento de Mumadona Dias, quando é citada para identificar a vila de Moure: "In Felgaria Rubeans villa de Mauri". Felgueiras deriva do termo felgaria, que significa terreno coberto de fetos que, quando secos, são avermelhados (rubeans).

Havendo quem afirme que o determinativo Rubeans se deve a que o local foi calcinado pelo fogo. Existem historiadores que afirmam que Felgueiras recebeu foral do conde D. Henrique. No entanto, apenas se conhece o foral de D. Manuel a 15 de outubro de 1514.

 No entanto, já em 1220, a terra de Felgueiras contava com 20 paróquias (conhecidas hoje em dia como freguesias) e vários mosteiros e igrejas. Em 1855, ao ser transformado em comarca, Felgueiras ganhou mais doze freguesias. Em 13 de Julho de 1990 Felgueiras foi elevada à categoria de cidade.

Loureiro

A uva Loureiro é uma variedade branca amplamente cultivada no norte de Portugal, famosa por fazer parte na composição do tradicional Vinho Verde, elaborado na região do Minho. Além disso, a Loureiro também é cultivada em pequenas quantidades na Galícia, comunidade autônoma espanhola, ao noroeste da península ibérica.

Originária do Vale do rio Lima, a uva Loureiro é uma variedade extremamente fértil e com rendimentos generosos e que, apenas recentemente, assumiu o papel de uma casta nobre. Em regiões espanholas, essa variedade é conhecida também como Loureira, dando origem a excelentes vinhos brancos em Rías Baijas e, muitas vezes, sendo misturada com a casta mais tradicional e emblemática do país, a uva Albariño.

O nome Loureiro vem de “louros” que, no dialeto espanhol, é como eram chamadas às folhas da vinha por causa do seu perfume muito característico. Além das folhas, a flor da uva Loureiro tem também qualidades aromáticas marcantes por conta da sua personalidade floral, com ênfase nos aromas de flor de acácia, tília e laranjeira.

Os vinhos produzidos a partir da uva Loureiro apresentam excelentes aromas, notável acidez e baixos índices alcoólicos, visto que os varietais estão se tornando cada vez mais populares entre consumidores e críticos. No entanto, os famosos Vinhos Verdes, sempre foram historicamente elaborados com as uvas Trajadura e Arinto – conhecida também como Perdenã na região do Minho.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um amarelo palha, límpido, brilhante e com reflexos esverdeados, com bolhas que mostram leveza e frescor.

No nariz explode em aromas de frutas tropicais, brancas e cítricas onde se destacam lima, abacaxi, pera, maçã-verde, que denotam um incrível frescor e leveza já denunciados no aspecto visual.

Na boca é seco, saboroso, com as notas frutadas e cítricas assumindo o protagonismo, como no aspecto olfativo, com aquela agulha típica da casta, com uma acidez evidente e agradável, que saliva. Tem um final longo, persistente e frutado.

Frescor, leveza, aquela “agulha”, simplicidade! Esses são os predicados dos vinhos verdes e sim, não devem ser taxados de ruins, de vinhos de baixa qualidade, mas uma proposta de vinho verde ideal para o nosso clima, o DNA, a identidade do brasileiro, do brasileiro enófilo, claro, que aprecia, em dias de sol e calor um bom vinho verde! Adotamos como o nosso vinho, adotamos porque ele sintetiza o estado de espírito solar e altivo do brasileiro, mesmo que em momentos difíceis em que um bom vinho na taça traz a harmonia necessária para os nossos males. E um viva ao vinho verde, um viva a Loureiro! Tem 11% de teor alcoólico.

Sobre a Vercoope:

A Vercoope é uma união de sete Cooperativas Vitivinícolas da Região dos Vinhos Verdes: Amarante, Braga, Guimarães, Famalicão, Felgueiras, Paredes e Vale de Cambra. Foi criada em 1964 com o objetivo de engarrafar, comercializar e distribuir o vinho produzido pelos viticultores destas cooperativas. A união permitiu juntar a produção de 4 000 viticultores e lança-la no mercado, nacional e internacional, conseguindo mais qualidade, dimensão e competitividade.

A qualidade dos vinhos é reconhecida e comprovada pelos consumidores, pelas vendas e pelas centenas de prémios conquistados em competições de vinhos e imprensa especializada. A Vercoope produz anualmente 8 milhões de garrafas de Vinho Verde, sendo 30% para exportação. A Vercoope – União das Adegas Cooperativas da Região dos Vinhos Verdes, U.C.R.L, está inserida na Região Demarcada dos Vinhos Verdes, considerada a maior região demarcada de Portugal e uma das maiores do mundo, essencialmente devido à sua extensão e da área dos solos dedicados à cultura da vinha, a que acresce uma significativa percentagem de população diretamente dependente do sector vitivinícola e nomeadamente do Vinho Verde.

A Vercoope é uma entidade vocacionada para o engarrafamento, comercialização e distribuição de Vinho Verde e integra na sua estrutura as adegas cooperativas de Amarante, Braga, Guimarães, Famalicão, Felgueiras, Paredes e Vale de Cambra que representam no seu conjunto explorações vitícolas de cerca de 5000 viticultores. Situada em Agrela, Santo-Tirso, numa estrutura moderna e tecnologicamente avançada, quer com meios técnicos quer com meios humanos, tem potenciado, desde a sua fundação, em 1964, o desenvolvimento da cultura do Vinho Verde, promovendo a sua divulgação, o seu consumo e a valorização do produtor.

Com mais de meio século de atividade a defender uma política de qualidade e prestígio para os seus vinhos, espumantes e aguardentes, ocupa por direito próprio, um lugar de destaque no sector, sendo muito naturalmente considerada uma instituição de referência no panorama regional e nacional.

Mais informações acesse:

https://vercoope.pt/

Referências:

“Terras de Portugal” em: http://www.terrasdeportugal.pt/felgueiras

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/loureiro

 

 

 


 



 


sábado, 2 de julho de 2022

Urries Nerello Cappuccio 2020

 

Mais um rótulo da série: Vinho e suas novas castas. E esse vem da bela Sicília, um IGT Terre Siciliane, região esta que, a cada vinho degustado, vem me ganhando de forma incondicional.

E quando essa casta é popular e conhecida em suas terras torna-se tudo, tudo melhor. Traz aquele apelo regionalista, que evidencia todas as suas características, as nuances de seu terroir, isso quando o produtor reflete fielmente, desde a vindima, vinificação, até a mesa de nós, privilegiados enófilos.

Mas digo também que a cultura do povo pode ser determinante para todos esses processos de produção, influenciando diretamente às questões relacionadas à terra, aos aspectos naturais, somando ao dedo do enólogo, o trabalho daqueles que estão na terra. Tudo é terroir que, por sua vez nos remete ao apelo regional.

Sabe aquela sensação de que, embora nunca tenha pisado na região, o contato, as experiências sensoriais com os seus rótulos entregam um panorama de suas propostas e faz valer o conceito acima mencionado.

Esse rótulo da Sicília eu recebi de um clube de vinhos a qual fui assinante. Acredito ter dito, em algum momento, sobre a minha opinião acerca dos clubes dos vinhos. Para um iniciante talvez seja consistente e para quem já é um inveterado degustador, nem tanto, mas o fato é que esta seleção me surpreendeu positivamente pois me proporcionou degustar um vinho de uma casta pouquíssimo conhecida em terras brasileiras.

O vinho que degustei e gostei veio da região italiana da Sicília, do Monte Etna, e se chama Urries da casta Nerello Cappuccio (100%) da safra 2020. Nerello Cappuccio? Sim! O nome soa como um gongo repleto de novidades! Nunca tinha ouvido falar dela até receber esse rótulo do clube de vinhos a qual fazia parte. Então para não perder mais tempo falemos um pouco da casta, da sua história e depois da Sicília. Ah antes de falar sobre a Nerello Cappuccio e da Sicília, vale lembrar que já degustei e gostei o Urries Nerello Mascalese da safra 2020! Foi surpreendente!

Nerello Cappuccio

Nerello Cappuccio, também conhecido como Nerello Mantellato, Nerello di San Antonio, nerello Mantellato, nireddu Cappucciu ou niureddu Cappucciu (pequeno dialeto negro duplo siciliano), niureddu Mascali, niureddu minuteddu, nirello Cappuccio, Perricone, é uma variedade cultivada nas encostas do Etna, na província de Catania, e na província de Messina e Sicília e que contribui para a produção dos vinhos Etna DOC e Faro DOC.

A sua origem é desconhecida, mas tem sido cultivada localmente há várias centenas de anos. Sua produção vem diminuindo ano após ano e há um certo período teme-se sua extinção. Como o Nerello Mascalese, com o qual contribui para a produção do Etna tinto, é colhido muito tarde, em meados de outubro.

Em 1998, cobria 6.550 ha. É cultivada principalmente na Sicília e é a terceira uva atrás da Nero d'Avola e Nerello Mascalese na ilha.

A Nerello Capuccio é uma uva vigorosa, que resulta em vinhos frutados e com boa acidez. Também famosa na Sicília, é muito utilizada em cortes com a Nerello Mascalese, a comparação seria como a Capuccio sendo a Merlot e a Mascalese a uva Cabernet Sauvignon de um corte bordalês.

Sicília

A Sicília é a maior ilha do Mediterrâneo. É uma ilha vulcânica repleta de praias lindas, paisagens espetaculares e uma arquitetura interessante. Fruto da mistura de civilizações que habitaram a ilha e da cálida hospitalidade de seu povo. A Passagem de diversos povos através durante séculos, a Sicília tornou-se um entreposto importante no Mediterrâneo. É um destino desejado para todo viajante. Mas a Sicília não é apenas conhecida pela exuberante natureza, mas também se destaca quando o assunto é vinho. E isso teve influências na sua cultura e, claro, no seu vinho.


Foram os fenícios que iniciaram o cultivo da videira e a elaboração do vinho na Sicilia, porém foram os gregos que introduziram as cepas de melhor qualidade. Alguns historiadores relatam que antigamente na região de Siracusa (província siciliana), havia um vinho chamado Pollios, em homenagem a Pollis de Agro (que foi um ditador nessa região), que se tornou famoso na Sicilia no século VIII-VII a.C..

Esse vinho era um varietal de Byblia, uva originária da área mais oriental do Mediterrâneo, dos montes de Biblini na Trácia (antiga região macedônica que hoje é dividida entre a Grécia, Turquia e Bulgária). O historiador Saverio Landolina Nava (1743-1814) relatou que o Moscato de Siracusa deriva desse vinho de Biblini, sendo classificado como o vinho mais antigo da Itália.

Já o vinho doce Malvasia delle Lipari (Denominação de Origem do norte da Sicilia) parece ter sua origem na época da colonização grega na Sicilia. Lipari é uma cidade que pertence ao arquipélago das ilhas Eólicas.

Durante o Império Romano, o também vinho doce Mamertino (outra Denominação de Origem) produzido no norte da Sicilia, era muito apreciado por muitos, inclusive por Júlio César e era exportado para Roma e África

A viticultura na região sofreu uma grande redução com a queda do Império Romano, porém durante a dominação árabe foi introduzida a variedade de uva Moscatel de Alexandria na ilha Pantelleria, que mantém ainda hoje ali o nome árabe Zibibbo. Os árabes introduziram na Sicília suas técnicas de viticultura e também o processo de passificação das uvas.

No século XVIII a indústria enológica na Sicilia teve um grande avanço e começou a produzir o vinho de Marsala que conta atualmente com uma Denominação de Origem Protegida. Esse vinho se tornou conhecidíssimo no resto da Europa graças a um navegante e comerciante inglês chamado John Woodhouse, que ancorou sua embarcação no porto de Marsala para se proteger de uma tempestade. Foi quando provou o vinho local e se apaixonou, resolvendo levar alguns barris para a Inglaterra. O vinho de Marsala fez tanto sucesso por lá que Woodhouse começou a investir na Sicilia comprando vinhedos e construindo vinícolas para produzir vinho de Marsala, se tornando um empresário do setor vitivinícola de grande êxito.

Como na maioria dos vinhedos da Europa, a Phylloxera também atingiu a ilha Salinas, no norte da Sicilia, provocando uma devastação dos vinhedos que foram se recuperando gradativamente com a plantação de novos vinhedos e a criação em 1973 da Denominação de Origem Malvasia delle Lipari.

A região possui um clima e um solo que favorecem muito a viticultura e a elaboração de vinhos, sendo uma das principais atividades econômicas da ilha italiana. A topografia é variada, formada por colinas, montanhas, planícies e o majestoso vulcão Etna. Encontramos vinhedos por toda parte, que vão das colinas até a parte costeira.

Nas colinas os vinhedos são cultivados em terrazas que chegam inclusive a uma altitude de 1.300 metros, o que as videiras adoram, pois proporciona muita luminosidade e uma ótima drenagem. Encontramos vinhedos também na parte costeira da ilha.

O clima na Sicília é mediterrâneo, mais quente na área mais costeira e no interior da ilha é temperado e úmido, podendo ás vezes apresentar temperaturas bem elevadas por influência de ventos procedentes da África. Também possui uma quantidade grande de microclimas por causa da influência do mar. As chuvas são mais comuns durante o inverno com cerca de 600mm anuais. Os vinhedos sicilianos necessitam, portanto, serem regados.

O solo na ilha é muito variado e rico em nutrientes em razão das erupções vulcânicas do Etna. Encontramos solos arenosos, argilosos e de composição calcária. Em uma parte da ilha o solo é constituído de gneiss, que é um tipo de rocha metamórfica composta de granito. Em quase todas as localidades da Sicília se elaboram vinhos, e essas regiões vitivinícolas contam com várias DOC.

Sicília e suas sub-regiões

As principais castas tintas produzidas na Sicília são: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Syrah, Nerello Mascalese, Nerello Capuccio, Frappato, Sangiovese, Nero d’Avola e Pinot Nero. Já as brancas destacam-se: Grillo, Catarrato, Carricante, Inzolia, Moscato di Panteleria, Grecanico, Trebbiano Toscano, Malvasia, Chardonnay e Sauvignon Blanc.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi, com alguma intensidade, mas com reflexos violáceos que o torna brilhante e envolvente, com lágrimas finas e rápidas.

No nariz se revela o destaque. É extremamente aromático, graças às suas notas frutadas, de frutas vermelhas bem frescas, tais como morango, framboesa e cereja, com um toque de especiarias e de flores vermelhas, fazendo do vinho delicado.

Na boca é leve, fresco, potencializado pela fruta, como no aspecto olfativo. É um vinho saboroso, devido a sua jovialidade e a acidez proeminente. Os taninos, no início, se mostrou um pouco adstringente, mas, ao respirar na taça, ficou bem domado, fino e elegante. Percebe-se, no final, um discreto dulçor que não compromete, pelo contrário, o torna persistente e longo.

Mais uma vez a novidade trouxe prazer! O regozijo de uma degustação surpreendente nos ensina que o universo do vinho é vasto e ainda inexplorado, então temos de nos permitir diversificar as nossas experiências, abrir a mente para as novas possibilidades e não cair na temível zona de conforto. Degustar o Urries Nerello Cappuccio foi perceber que a Sicília é um continente dentro de um país, pois traz uma diversidade incrível de castas, propostas e micro terroirs que faz com que viajemos intensamente por intermédio de seus rótulos. Um vinho de personalidade, por ter o caráter regional de um local improvável para cultivo, um vinho harmonioso, saboroso, descontraído, porém intenso. Mais uma vez me sinto privilegiado por degustar um vinho especial, simples, mas nobre, pois personifica uma região que a cada dia me surpreende, a cada rótulo degustado. A experiência sensorial mais do que agradece, se rende, de forma incondicional, aos caprichos de rótulos interessantes e marcantes. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Cantine La Vite:

Cantine La Vite foi fundada em 1970 pela vontade de 43 fundadores que decidiram se unir para dar vida ao que se tornou uma das vinícolas mais produtivas e florescentes da Sicília.

Os 1.300 sócios cultivadores cultivam cerca de 2.300 hectares nos territórios do centro e sul da Sicília, em particular entre as províncias de Caltanissetta, Agrigento e Ragusa. A produção está orientada para as castas de bagas pretas (cerca de 80%), as uvas brancas locais da Sicília e as uvas Nero d'Avola, das quais a empresa é a maior produtora na Sicília.

Graças ao uso das técnicas de produção mais inovadoras e, acima de tudo, operando com o máximo cuidado e respeito ao meio ambiente, a Cantine La Vite é conhecida mundialmente pela qualidade de seus produtos.

Desde 2020 Cantine La Vite SCA criou a marca Le Schette Fruit para promover um novo negócio de frutas e legumes inteiramente feito em nosso território e por nossos produtores, e nasceu graças à criação de uma infraestrutura moderna, tecnológica e eficiente.

Mais informações acesse:

https://www.cantinelavite.it/en/main-home-english/

Referências:

“Wine”: https://www.wine.com.br/vinhos/urries-i-g-t-terre-siciliane-nerello-cappuccio-2020/prod27166.html

“Wikipedia”: https://pt.frwiki.wiki/wiki/Nerello_Cappuccio

“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2016/04/sicilia/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/290-sicilia-o-continente-do-vinho

“Vinhos e Castelos”: https://vinhosecastelos.com/vinhos-da-sicilia-italia/