Seria possível enxergar novidades em algo que já conhecemos
desde os tempos de outrora? Digo que no universo vasto e inexplorado do vinho
podemos sem sombra de dúvida.
E não é somente nas novas safras de um mesmo rótulo que as
influências naturais (clima, temperatura etc.) tem impacto determinante nos
vinhos, dando-lhes um caráter único, safra após safra, ano após ano, mas também
na novidade de uma região, por exemplo.
Quer algo mais regionalista que degustarmos rótulos de
microrregiões, pequenas e desconhecidas regiões inseridas em um grande “bloco”
regional, muitas vezes, conhecidos e respeitados mundialmente?
Mas no caso da região cujo vinho degustarei hoje vem ganhando
notoriedade pela sua credibilidade, pelos seus vinhos de qualidade, que eu, até
o momento, não tive o prazer de degustar. Até o momento, porque a espera
acabou, ele chegou!
Quem não gosta de um belo Syrah chileno? Definitivamente a
variedade ganhou o mundo e em qualquer terroir se adapta divinamente, ganhando
claro suas peculiaridades de acordo com a terra, o clima e a geografia do local
de cultivo.
E essa região de hoje, nova para mim, me oferece um Syrah.
Entendeu a novidade mesmo que com algo que já profundamente conhecemos? Sim!
Isso é mágico e só mesmo o universo do vinho e toda a sua aura cósmica e
especial pode nos proporcionar.
Esse vinho, depois da aquisição, ficou por um período que
considerei razoável na adega. Esperei, pacientemente, o melhor momento para
degusta-lo e hoje com seus seis anos de vida, está maduro, elegante, complexo,
arrisco, como tem de ser um belo Syrah com a sua proposta e do Chile.
Bem sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que
degustei e gostei veio do Valle del Limarí e se chama Witral Gran Reserva, um
100% Syrah da safra 2016. Antes de viajarmos na história de Limarí e da
descrição do vinho, cabe aqui uma curiosidade: “Witral” significa “tear” na
língua dos Mapuches e expressa uma das mais antigas tradições desse povo. Essa
civilização habitou o Valle del Limarí.
Os mapuches são um povo indígena da região centro-sul do
Chile e do sudoeste da Argentina. São conhecidos também como araucanos (nome
que os espanhóis lhes deram, mas que eles não reconhecem como próprio e
percebido como pejorativo) ou eram também chamados reches antes do século
XVIII.
A denominação Mapuche se origina da fusão de duas palavras, “mapu” que significa terra, e “che”, que significa gente. Em algumas regiões, ambos os termos são utilizados com pequenas diferenças de significado. Especula-se que o nome araucano proceda da palavra quechua "awqa", inimigo, selvagem ou rebelde, ou de "palqu", silvestre, tendo sido lhes dada pelos incas ou pelos espanhóis, fato que explica o repúdio desta designação por parte dos próprios Mapuche.
Valle del Limarí
Localizado na província de Coquimbo, a cerca de 400
quilômetros ao norte de Santiago e às portas do deserto do Atacama, o Valle del
Limarí é uma importante área vitivinícola chilena. Seu nome é devido ao rio
Limarí, que corta o vale levando água pura e cristalina das Cordilheiras dos
Andes. O Rio Limarí desce das montanhas dos Andes, formando uma ampla bacia com
o maior reservatório do Norte Chico, o que favorece toda a agricultura.
O Vale do Limarí é conhecido como o “Norte Verde do Chile”,
pois nele se encontram metade das áreas irrigadas da região de Coquimbo. Os
vinhedos nesta área são famosos por suas variedades Chardonnay, Sauvignon Blanc
e Cabernet Sauvignon, mas outras variedades também são encontradas como a
Syrah, Viognier e Pinot Gris.
Com um terroir que possui características excepcionais, o
Valle del Limarí é um verdadeiro oásis em meio à paisagem desértica. A região
possui um dos céus mais claros do mundo. Para se ter uma ideia, o Valle del
Limarí recebe, aproximadamente, 35% a mais de intensidade solar e uma
quantidade alta de dias de sol por ano, cerca de 300, quando comparado a outras
regiões vitivinícolas chilenas, como o Valle Central. Devido a essa característica
é também um dos principais polos de observação astronômica do mundo.
Antes de ganhar fama pela qualidade da enologia, o Valle del
Limarí chamou a atenção internacional em 1987, quando pesquisadores de La
Serena fotografaram a explosão de uma estrela da categoria Supernova, feito
considerado raro. O clima árido da região desértica é perfeito para a
observação espacial, já que a umidade local é muito baixa, o que evita que as
imagens captadas pelas lentes dos telescópios embacem.
Outra característica marcante da região é a influência
marítima do Oceano Pacífico. Por lá, essa brisa marítima recebe o nome de
Camanchaca. É por isso que a temperatura local baixa com facilidade, devido às
brisas durante os dias e as noites, o que ajuda no amadurecimento lento das
uvas, resultando em uma maior concentração de aromas e sabores.
Além das importantes características citadas, o Valle del
Limarí tem um fator que determina a tipicidade da região e, consequentemente,
de seus vinhos, que é a mineralidade. Isso ocorre devido à quantidade de
carbonato de cálcio presente no solo, que é absorvido pela videira e até chegar
aos cachos de uva.
Na serra costeira os Altos de Talinay recebem a umidade do
mar, gerando um afloresta com espécies vegetais que sobrevivem 1000 km ao norte
de seu habitat natural. As brisas marítimas que entram no vale refrescam
possíveis altas temperaturas, permitindo a produção de vinhos finos entre o
setor de Socos e a cidade de Ovalle.
A região vinícola de Valle del Limari possui 4 denominações:
Monte Patria (DO), Ovalle (DO), Punitaqui (DO) e Rio Hurtado (DO).
Além da beleza natural o turismo em Valle del Limarí conta
com um forte potencial turístico com uma gastronomia marinha tendo a
oportunidade de acompanhar produtos típicos como a papaia e os queijos de
cabra. E uma grande variedade de piscos gourmet para descobrir! Os vestígios
arqueológicos e os parques naturais completam uma experiência completa a quatro
horas da capital.
E agora finalmente o vinho!
Na taça apresente um vermelho rubi intenso, escuro, profundo,
mas brilhante, com lágrimas grossas, lentas e em profusão. Um vinho caudaloso, consistente
já denunciando o seu corpo intenso.
No nariz traz aromas de frutas pretas maduras com destaque
para amora e ameixa, com um curioso frescor, com notas de especiarias, baunilha
e um tostado médio, graças aos dez meses de passagem por barricas de carvalho.
Na boca é seco, encorpado, complexo, volumoso no palato,
quente e alcoólico, mas muito bem integrado ao vinho, bem como a fruta madura e
a madeira, ambos evidentes, mas em sinergia, mostrando equilíbrio e personalidade,
mas fácil de degustar. Pimenta trazendo picância, toques de chocolate meio amargo,
torrefação, taninos marcantes, acidez média com um final prolongado e
persistente.
Um Syrah de respeito, de marcante personalidade, mas com um
incrível frescor que, após familiarizar com a história da região, é muito
típico. Um vinho solar, com pouca acidez sim, mas que compensa nas frutas
vermelhas maduras. De fato, um Syrah chileno que entrega toda a característica
essencial da variedade, como tem de ser, mas redondo e equilibrado. Um vinho
que teve a capacidade de unir complexidade e frescor, além da sua plenitude com
6 anos de vida e que tinha mais, muito mais a evoluir. Simples e nobre! Tem 14%
de teor alcoólico.
Sobre a Vinícola Tabalí:
A Viña Tabalí, presidida por Nicolás Luksic, é há anos o
vinhedo icônico e um dos pioneiros do Vale do Limarí. Continuando o caminho do
pai, Guillermo Luksic, que fundou a adega em 2002, os locais escolhidos para
cada casta têm uma singularidade que deve ser vista refletida em cada vinho
Guillermo Luksic foi o primeiro empresário a construir uma
moderna adega no Vale do Limarí. Ele tinha um carinho especial por Ovalle
porque sua mãe, Ena Craig, havia estudado na escola Amalia Errázuriz, então
desde criança ele visitava a área com sua família e amigos. Ele tinha essa
coisa sentimental da mãe, e a certa altura disse: quero ter um campo em Ovalle
porque a região é fascinante, o clima, a temperatura e também é muito bonita.
Foi assim que Guillermo, no início da década de 1990, comprou
a fazenda Tabalí, às margens do Valle del Encanto, onde plantou seus primeiros
vinhedos em 1993. Só em 2002 foram lançados os primeiros vinhos da marca
Tabalí, que rapidamente ganhariam reconhecimento pela sua qualidade tanto no
mercado nacional como internacional.
Em 2009, após anos de estudos geológicos e experimentação, na
busca constante pela inovação e excelência na qualidade de seus vinhos, a
vinícola adquiriu o vinhedo Talinay. Esta vinha está localizada no sopé do
Parque Nacional Fray Jorge e faz parte da Reserva Mundial da Biosfera da
UNESCO. Apenas 12km o separam da costa, sendo o vinhedo mais costeiro do vale e
aquele que surpreenderia todo o Chile com prêmios de Melhor Pinot Noir e Melhor
Chardonnay do país em sua primeira colheita.
Com o objetivo de buscar novos Terroirs no Vale, em 2010 foi
comprada uma parte da antiga Hacienda El Bosque, localizada na área andina de
Río Hurtado. Neste local, está plantado um vinhedo a 1.600 metros acima do
nível do mar, algo completamente novo, tornando Tabalí o único vinhedo que
possui vinhas do mar à montanha, no mesmo vale.
Finalmente, em 2013 e sob a presidência de Nicolás, Tabalí
adquiriu um dos vinhedos Cabernet Sauvignon mais exclusivos e de alta qualidade
do Vale do Maipo, com a singularidade de estar localizado na Cordilheira da
Costa, com encostas de solos coluviais e com exposição. Esta vinha promete
novas oportunidades para a adega, que finalmente decide expandir o seu portfólio
e explorar outros vales.
Mais informações acesse:
Referências:
“Winepedia”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/o-vale-do-limari/
“Boa Bebida”: https://boabebida.com.br/regiao/Valle-del-Limari
“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=LIMARI
“Wikipedia”: https://pt.wikipedia.org/wiki/Mapuches
“Enoturismo Chile”: https://www.enoturismochile.cl/valle-del-limari/
“Top do Brasil”: http://www.topdobrasil.com.br/vinhos/chile/valle-del-limari.php
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