Algumas discussões vêm se tornando recorrente entre os
enófilos brasileiros e é bom que aconteça mesmo, pois estimula o senso crítico
e a capacidade de entendimento de determinados cenários. E quais seriam as
discussões? A disseminação da cultura do vinho, democratizando-a, a qualidade
crescente do vinho brasileiro e o seu reconhecimento pela crítica especializada
internacional, o custo Brasil que os encarece etc.
Por que falo tudo isso? Acredito que precisamos discutir tais
temas e entender como e em que circunstâncias o vinho nacional enche as nossas
taças. Não quero parecer ufanista e tão pouco ser um espírito de porco chato
que critica os problemas pela qual a nossa cultura (ou falta de) na degustação
de nossos vinhos passa.
O fato é que os nossos vinhos ganham, a cada dia, em
qualidade, adquirindo tipicidade, expressando o que há de mais genuíno de
nossos mais significativos terroirs, embora o consumo per capita, por ano,
insiste em não passar dos dois litros e detalhe: Esse triste e preocupante
panorama desde 1986, pasmem!
Então tentemos enxergar o que há de bom e ruim na nossa
viticultura e, evidente tentar tirar bons proveitos nisso tudo e tentar
degustar, em especial, os nossos rótulos. O conceito de preço baixo pode ser
relativo, mas o cenário difícil dos valores e os altos tributos que pesam sobre
nossa bebida é nítido, mas, enquanto enófilos que somos, temos de ter a mínima
capacidade de garimpar, de buscar opções de vinhos mais justas no preço para o
seu bolso. Isso sim é ter o que eu chamei de bom senso no início deste texto.
E acreditem há sim vinhos com um excelente custo X benefício,
com propostas arrojadas, de vinhos complexos, que entregam qualidade,
tipicidade, de regiões que aprecia, bem como castas ou blends igualmente
atrativas.
E preciso citar alguns poucos produtores que, a duras penas,
tem produzindo vinhos de extrema qualidade há décadas e que mantém um valor
justo, democrático e que vem ganhando também a credibilidade em todo o planeta
ganhando prêmios, sendo laureados com reconhecimentos dos mais expressivos:
Falo da Panizzon e da Garibaldi.
A Garibaldi entrega rótulos especiais e muito bem feitos,
sobretudo os espumantes e não ousarei aqui a elencar todos os seus grandes
rótulos que degustei e gostei para não correr o risco de ser injusto. A
Panizzon eu conheci, o que é uma pena, recentemente e confesso que fiquei
impressionado com os preços que são praticados dos seus rótulos mais simples
aos complexos.
Fui presenteado por um amigo e foi assim que conheci esse
produtor com um Panizzon da casta Ancellotta da safra 2015 e estava
simplesmente espetacular e o valor de mercado gira em torno dos R$ 40,00,
aproximadamente! Então movido pelo interesse e excitação por buscar novos
rótulos a ótimos preços da Panizzon me pus a garimpar pela grande rede.
E parei em um site conhecido que vende vinhos brasileiros e
me deparei com um, que parece ser um dos mais complexos do portfólio deste
produtor e quando vi o preço não acreditei: em torno dos R$50,00! Vi novamente,
talvez poderia ter sido um erro, mas não, o valor era aquele! Li a descrição do
vinho me excitando ainda mais! Então a aquisição era inevitável.
Ficou algum tempo na adega até que precisava iniciar a minha
experiência com esse rótulo e o dia chegou! Eis que o momento chegou e o ritual
de iniciação se fez necessário neste dia! Desarrolhado, a taça inundada, os
sentidos aguçados e...voilá! De fato, o vinho correspondeu de forma suprema,
única! Um estupendo vinho da região de Campos de Cima da Serra, um terroir que
também vem me ganhando definitivamente. Ainda ouvirão e muito falar de Campos
de Cima da Serra!
Então sem mais delongas vamos às apresentações: O vinho que
degustei e gostei veio, como disse, de Campos de Cima da Serra, no Brasil, e se
chama Panizzon Maximus composto pelas castas Cabernet Franc (35%), Merlot
(35%), Sangiovese (15%) e Ancellotta (15%) da safra 2018. Então antes de falar
sobre o vinho vamos traçar a história de Campos de Cima da Serra.
Campos de Cima da Serra
Por muito tempo, a região dos Campos de Cima da Serra ficou à
sombra da Serra Gaúcha. A predominância do cultivo de variedades híbridas e o
clima frio e ventoso eram encarados como entraves para o desenvolvimento de
grandes vinhedos. Atualmente, no entanto, o cenário é o oposto.
A baixa temperatura e a incidência constante do vento foram
transformadas em diferenciais, pois propiciam uma maturação mais longa e
condições para que as uvas viníferas apresentem excelente sanidade.
As iniciativas de empresários que se aventuraram em elaborar
vinhos na região foram recompensadas com grandes rótulos, hoje nacionalmente
conhecidos por sua qualidade.
A vitivinicultura na região dos Campos de Cima da Serra é
recente, iniciou com pesquisas realizadas pela Embrapa Uva e Vinho, que desde
2004 conduz experimentos nas áreas de viticultura e enologia na região, tem
indicado condições favoráveis devido ao solo e o clima.
Ainda em fase de crescimento, destacam-se municípios como
Campestre da Serra, Monte Alegre dos Campos, Ipê e Vacaria. Até então, o que
víamos eram esplêndidas maçãs, sobretudo plantadas em Vacaria: "maçãs da
Serra Gaúcha para a sua mesa!", um slogan bem conhecido localmente.
Naturalmente tem naquelas terras, devido ao fato de ser um
pouco mais frio, um terreno propício para ciclos vegetativos mais longos e aos
vinhos com menor teor alcoólico, acidez mais alta e boa estabilidade de cor e
bom perfil aromático (os dois últimos graças à boa amplitude térmica).
Recordando a teoria: a cada 100 metros de altitude a
temperatura média decresce em torno de 0,5 graus e corresponde a um retardo de
2-3 dias no período de crescimento da planta. Isso, comparativamente, coloca a
região de Campos de Cima mais próxima de um clima de Bordeaux, ao contrário da
Serra Gaúcha. Mas, há uma boa insolação sem dúvidas! Aliás, turisticamente,
dali pode-se iniciar, rumo ao litoral, a conhecida "Rota do Sol"!
Como os ciclos da planta são longos, há colheitas de uvas
tardias como a Cabernet Sauvignon no mês de abril, fato que traduz uma maturação
lenta e que associada à já citada amplitude térmica (com variações de 15 graus
em média, entre dia-noite) propicia vinhos mais harmônicos, com bom equilíbrio
geral entre corpo-álcool-acidez.
Dentre as uvas principais temos as tintas Ancelotta, Cabernet
Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat e Pinot Noir. Esta última, tem tido
bom destaque, sobretudo no munícipio de Muitos Capões. As brancas mais
cultivadas são Chardonnay, Moscato Branco, Glera (Prosecco), Trebbiano e a de
melhor potencial de qualidade, a Viognier.
As videiras estão situadas principalmente em três municípios:
Vacaria, Muitos Capões e Monte Alegre dos Campos. As uvas Pinot Noir e
Chardonnay (uvas utilizadas na elaboração de espumantes) são muito cultivadas
na região que apresenta clima temperado, com boa amplitude térmica. Por conta
das baixas temperaturas, as videiras têm um ciclo vegetativo mais longo, brotam
mais tarde. Consequentemente, a colheita é mais tardia, quase no início do
outono.
Pode-se resumir que a região de Campos de Cima da Serra
aporta e acrescenta um toque a mais de sutilezas climáticas, permitindo a
diversificação de estilos de vinhos do Rio Grande do Sul como um todo e, por
sua bela paisagem natural, pode se tornar um novo polo turístico, a
contrapartida lúdica no trabalho de informação e educação sobre vinhos aos
consumidores.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um intenso e profundo vermelho rubi, porém com
tons brilhantes, com lágrimas finas e em profusão que, lentamente, desenham as
bordas do copo.
No nariz entregam aromas intensos de frutas negras bem
maduras, com destaque para a ameixa, amora e cereja preta, em perfeita sinergia
com a madeira que evidente, aporta notas de chocolate, torrefação e baunilha,
além de toques de especiarias que vai surgindo com a evolução do vinho em taça,
diria algo de pimenta ou ervas.
Na boca é intensamente seco, mas saboroso, volumoso em boca,
de médio corpo, a sua estrutura é evidente, mas, por outro lado, é macio e
equilibrado graças a sinergia, também percebida no palato, da fruta com a
madeira, afinal os 12 meses de passagem por barricas de carvalho, evidencia o
amadeirado, mas privilegia o protagonismo da fruta. Os taninos são gulosos,
marcados, mas aveludados, com uma acidez alta que corrobora, reforça o volume
de boca, com a percepção de notas terrosas, de couro e tabaco. Tem final
persistente e retrogosto frutado.
Gratas novidades, novas experiências sensoriais! A
comprovação de que os vinhos brasileiros estão arrojados e expressivos, está na
sua tipicidade, respeitando o seu terroir e convenhamos que, mais uma vez,
Campos de Cima da Serra se revela maravilhosa, personificada em um vinho
estupendo como o Panizzon Maximus! O vinho já traz sua imponência no nome!
Nunca um nome de vinho veio tão a calhar como esse da Panizzon que merece, mais
uma vez, os louros por produzir grandes vinhos a preços acessíveis. Não! Neste
caso não podemos criticar sobre os altos valores dos vinhos brasileiros.
Panizzon Maximus ostenta não só o nome e a qualidade, mas a relevância de seu
preço que só estimula a democratização da cultura do vinho brasileiro! Tem 13%
de teor alcoólico.
Sobre a Vinícola Panizzon:
Foi em 1960 que Ricardo Panizzon e seus filhos decidiram
apostar em sua produção própria de vinhos. Com vasta experiência como
fornecedores de matéria-prima para vinícolas da região, a família Panizzon teve
a visão empreendedora de investir em um novo negócio. E foi a partir deste
importante passo que nasce a Sociedade de Bebidas Panizzon Ltda., surgida e
instalada até hoje no Travessão Martins, interior de Flores da Cunha, e
atualmente capitaneada pela terceira geração da família.
Até 1990, as atividades da empresa se concentravam na
produção de vinhos de mesa. Em 1991, inicia-se a produção de vinagres, sob a
marca Rosina, em homenagem à nona Rosina, esposa do fundador Ricardo. Ainda na
primeira metade da década de 90, a Sociedade amplia seu mix de produtos com o lançamento de bebidas quentes e vinhos
compostos. Com o aquecimento do mercado e a grande demanda por novos produtos,
em 1999 a Panizzon lança seus primeiros vinhos finos e, em 2002, passa a fazer
parte também do nicho de espumantes finos.
Mas foi no ano 2003 que a empresa ampliou ainda mais sua
atuação, apresentando ao mercado linhas de vinagre balsâmico e suco de uva. Um
marco no setor produtivo da Panizzon foi a implementação de técnicas,
equipamentos e infraestrutura de última geração aplicada na produção de suco de
uva concentrado, no ano de 2006. Os vinhedos Durans são o berço da produção das
uvas dos Vinhos Panizzon. A produção de vinhos e espumantes realizada a partir
de vinhedos próprios é garantia de excelência, devido ao controle rigoroso de
qualidade que é feito desde o plantio, que é realizado em espaldeiras, até a
vintage.
Esses diferenciais únicos garantem reconhecimento aos
Espumantes e Vinhos Finos Panizzon, premiados em concursos nacionais e
internacionais. Hoje, presente há mais de 59 anos no mercado brasileiro de
bebidas, a Panizzon se configura como referência por sua excelência, fruto da
tradição do legado da família e do constante aprimoramento técnico e produtivo.
A sua postura inovadora, responsável pela introdução de novos
gêneros de produtos em território nacional evidencia a maturidade da empresa,
que possui mais de 50 anos de mercado. Além da tradição e do legado da família,
o que impulsiona a Panizzon é a responsabilidade de aprimorar constantemente os
conhecimentos adquiridos, formar técnicos, investir em tecnologia e novos
projetos como o plantio de grandes áreas de vinhedos próprios. O resultado
deste incansável trabalho são os espumantes, vinhos finos, vinhos de mesa,
vinagres, sucos e bebidas quentes, todos os produtos referência no mercado por
sua excelência em qualidade.
Mais informações acesse:
Referências:
“Cafeviagem”: https://cafeviagem.com/vinhos-de-campos-de-cima-da-serra/
“ABS-SP”: https://www.abs-sp.com.br/noticias/n144/c/vinhos-do-brasil-parte-iv-campos-de-cima-da-serra
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