domingo, 3 de maio de 2020

Woodbridge Robert Mondavi Zinfandel 2012


Muitos torcem o nariz quando se fala em vinhos básicos, despretensiosos, de consumo diário. Ainda existe, sobretudo no Brasil, uma soberba fomentada por uma cultura preconceituosa de que degustar esses tipos de vinhos é certeza de que terá experiências desagradáveis, de vinhos ruins. Sempre defenderei de que há variadas propostas de vinhos e a de vinhos básicos sendo impossível comparar, por exemplo, com os vinhos complexos e barricados. Em alguns países, como os Estados Unidos, essas propostas de vinhos para o consumo cotidiano e frescos são levados a sério e representa um mercado proeminente naquele país. 

O vinho que degustei e gostei foi o Woodbridge Robert Mondavi da casta Zinfandel safra 2012 da emblemática região de Napa Valley, na Califórnia. Zinfandel que é conhecida como Primitivo na Itália, principalmente na conhecida região de Puglia.

Um pouco sobre Napa Valley

Pense no Napa Valley, e as maiorias dos amantes de vinho lembram-se de Cabernet Sauvignon e Chardonnay. Na verdade, o Napa Valley é uma denominação de origem só, ou American Viticultural Area (AVA) — em português, Área Americana de Viticultura. No entanto, dentro de suas fronteiras existem 16 sub-denominações, cada uma com o próprio microclima e, muitas vezes, com uvas que sua marca registrada.


Considerado há muito tempo como a região vinícola mais famosa da Califórnia, Napa Valley tornou-se destaque mundial depois do Julgamento de Paris, em 1976, quando um Chardonnay Chateau Montelena de Calistoga derrotou nove Chardonnays em uma degustação às cegas em Paris, que incluiu garrafas extremamente prestigiadas da França. Na época, a França era considerada a região vitivinícola do mundo, mas este triunfo mudou para sempre a percepção internacional dos vinhos do norte da Califórnia.

O vinho:

Na taça tem um vermelho rubi intenso com tons violáceos, lágrimas finas e em média intensidade.

No nariz apresenta um exuberante aroma de frutas vermelhas como ameixa, amora com toques de especiarias.

Na boca tem corpo médio, com certa estrutura, mas que se revela muito frutado, fresco, macio e fácil de beber, com taninos finos, aveludados, baixa acidez e um retrogosto agradável e frutado.

Gosto muito da proposta de vinhos frescos e básicos dos EUA e a dedicação e importância que os produtores dão a esses vinhos, mostrando que há sim como aliar simplicidade e qualidade. O Woodbridge Zinfandel sintetiza bem essas características sendo equilibrado, jovem, fresco, mas com uma personalidade. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Robert Mondavi Winery e a Woodbridge Winery:

No início de 1900, Cesare e Rosa Mondavi, recém-casados ​​de Sassoferrato, no norte da Itália, estabeleceram-se em Minnesota. Em 1919, a Lei Nacional de Proibição foi aprovada, proibindo a venda de álcool. Isso parecia incompreensível para as famílias italianas, para quem o vinho era um elemento básico da vida cotidiana. Felizmente, uma brecha na lei permitia que as pessoas fizessem 200 galões de vinho por ano para consumo familiar. Cesare se envolveu no envio de uvas da Califórnia para vinificação em casa e percebeu que a maioria das uvas vinha de um local chamado “Lodi” na Califórnia. Sentindo uma oportunidade, ele mudou sua família, que agora incluía um jovem Robert Mondavi e começou seu próprio negócio enviando uvas de volta para o leste, para famílias ítalo-americanas. O primeiro trabalho de Robert foi pregar caixas para segurar as uvas. Os pais de Robert incutiram nele as virtudes do trabalho duro e o encorajaram a explorar a crescente indústria do vinho. Depois de estudar administração e química na Universidade de Stanford e fazer um curso intensivo de viticultura e enologia na Universidade da Califórnia em Berkeley, Robert Mondavi mergulhou em todos os aspectos da indústria do vinho. Robert Mondavi sentiu-se confiante de que o Vale do Napa e a Califórnia poderiam criar vinhos que ficariam lado a lado com os grandes vinhos do mundo. Ele fundou a icônica Robert Mondavi Winery em 1966, perto de Oakville, Califórnia; a primeira grande vinícola a ser construída no vale de Napa desde a proibição. Após o notável sucesso de sua vinícola em Napa Valley, Robert Mondavi seguiu sua segunda visão de criação de deliciosos vinhos para a diversão diária. Tendo crescido em Lodi, Robert sabia que a região era ideal para o cultivo de uvas para vinho a partir das quais ele podia produzir vinhos de qualidade a preços acessíveis. Em 1979, ele adquiriu uma cooperativa local de produtores de uvas, nomeando a vinícola em homenagem a uma cidade vizinha - a Woodbridge Winery nasceu.

Mais informações acesse:



Degustado em: 2017

Conte di Monforte Primitivo de Manduria 2012


Quem é enófilo sabe. Sabe do sentimento e as sensações mais do que reais de se degustar um vinho com o DNA de um país com forte tradição vitivinícola. Pode não ter conhecimento de causa ou riqueza de detalhes sobre o tão complexo conceito de tipicidade, terroir da região daquele rótulo, afinal é um universo tão vasto, mas, com o mínimo discernimento, já te desperta o prazer e a alegria de se degustar um vinho de determinadas regiões. Algumas são como marcas registradas, dada, sobretudo a sua notoriedade e qualidade de seus vinhos, a tal da tipicidade. O rótulo da qual me refiro, além de ser um representante de uma emblemática região, fora o meu primeiro! Ainda tem o momento especial de uma estreia, debutar alguns vinhos só fomenta os grandes rituais da degustação do vinho.

O vinho que degustei e gostei veio da comuna de Manduria, da excepcional região de Puglia ou Apúlia e se chama Conte di Monforte by Leoni de Castris, um DOC da casta Primitivo da safra 2012. Mas já que falei da importância de uma região vitivinícola nada mais adequado do que pincelar sobre a sua história, então eis um pouco sobre Manduria e Puglia e também da sua principal casta: a Primitivo que também é conhecida como Zinfandel, nome este usado nos EUA.

Manduria e Puglia

Manduria é uma pequena comuna italiana, localizada na região da Puglia, ao sul do país, também descrito constantemente como o “calcanhar da bota” da Itália. As belas praias de Puglia, fruto dos mares Jônico e Adriático, atraem diversos turistas de todo o mundo. A grande produção de vinhos e a alta qualidade das garrafas rendeu à Manduria o título de principal região vinícola do sul do país, dentro do território considerado o berço dos vinhos italianos.




Puglia é uma enorme região predominantemente agrícola no calcanhar da bota banhada por dois mares no Mediterrâneo, uma parte do sul que sofre o preconceito de local pobre na Itália. Mas a Puglia é muito mais do que isso. A beleza natural é marcada pelo calor e pelo sol intensos, com pouca chuva e com solo seco embora cercado por água. As condições que restringem muitas atividades agrícolas são ideais para o cultivo de frutas, entre elas a uva e, sobretudo vastas e lindas “florestas” de oliveiras.

Primitivo

A uva do tipo Primitivo recebeu este nome pelo amadurecimento precoce das suas vinhas. E por conta deste amadurecimento precoce, esta uva tem grande quantidade de açúcar residual, o que resulta em vinhos com alto teor alcoólico. Com origem incerta, a Primitivo é a base do sucesso dos vinhos de Manduria. Curiosamente, ela foi levada por imigrantes americanos para os Estados Unidos, onde é conhecida como zinfandel.

Finalmente o vinho:

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso com bordas violáceas com intenso e marcante brilho com lágrimas em abundância e que vagarosamente escorre e se dissipa das paredes do copo.

No nariz é muito perfumado, talvez toques florais, traz aromas de frutas maduras, mas diria que, ao mesmo tempo, muito frescas, com toque discreto de especiarias, tabaco.

Na boca se reproduz as percepções olfativas sendo estruturado, encorpado, com certa complexidade, com taninos presentes que enche a boca, um bom volume de boca, mas sedosos, domados, com uma razoável acidez, um toque discreto da madeira, muito bem integrada (não tem informações no site do produtor o tempo de passagem por barricas de carvalho, mas é perceptível a sua passagem) e um final longo e gordo.

Um vinhaço que se revelou com muita personalidade, tipicidade, equilíbrio entre potência e frescor. Com 14,5% de teor alcoólico. Ideal para harmonizar com massas condimentadas, como foi no meu caso, ou carnes vermelhas e queijos curados.

Sobre a vinícola Leoni Di Castris:

A noroeste da península de Salento, uma área de tradição vinícola antiga, fica SALICE SALENTINO, uma pequena cidade rural que abriga uma adega antiga por mais de três séculos: a Leone de Castris. É o ano de 1665. Entre as vinhas férteis da época, Oronzo Arcangelo Maria Francesco dos Contos de Lemos deu à luz a adega. O fundador é apaixonado por uma terra tão fértil e rica e entende seu valor; portanto, após os primeiros anos de processamento e transformação do produto, ele volta para a Espanha, vende alguns bens, retorna e investe o produto nas terras de Salento. Em torno de Salice, Guagnano, Veglie, Villa Baldassarri, Novoli e San Pancrazio, ele se torna proprietário de vários milhares de hectares, nos quais não apenas planta novas vinhas, mas também plantas de oliveira e trigo. No início do século XIX, a vinícola começou a exportar vinho cru para os Estados Unidos, Alemanha e França. A vinícola começou a engarrafar seus produtos com Piero e Lisetta Leone de Castris, em 1925. Five Roses nasceu em 1943, o produto mais conhecido da empresa e o primeiro vinho rosé a ser engarrafado e comercializado na Itália e imediatamente exportado nos Estados Unidos. A história deste vinho ainda hoje é lembrada na empresa como um dos eventos mais significativos em sua jornada secular. De fato, há um distrito no feudo de Salice Salentino chamado "Cinque Rose", um nome devido ao fato de que por gerações o Leone de Castris teve cada um, com incrível constância, cinco filhos. No final da guerra, o general Charles Poletti, comissário de suprimentos das forças aliadas, pediu um grande suprimento de vinho rosé, cujas uvas vieram do feudo de Cinque Rose. Mas o general queria um vinho com nome americano, e não demorou muito para encontrá-lo: "Five Roses" nasceu. Com a safra de 1954, nasceu Salice Leone de Castris e, graças ao marketing na Itália e no exterior por cerca de 20 anos, Salice Salentino Doc foi obtido no início dos anos 70. Portanto, com DOC, outras empresas também entraram no mercado. A história desta família e da vinícola continua. Cav. del Lavoro Salvatore Leone de Castris, filho de Piero e Lisetta, contribuiu para um notável desenvolvimento - também internacionalmente - da empresa. Por vinte anos, seu filho, Dr. Piernicola, dirigiu. Prêmios cada vez mais prestigiados são constantemente atribuídos a toda a gama de empresas. Hoje, a rede de vendas externas vê os produtos presentes e também nos mercados europeus, nos Estados Unidos, Cingapura, Canadá, Brasil, Autralia, Japão, China, Hong Kong, etc. Novas vinhas foram plantadas nas fazendas da família: Chardonnay, Sauvignon, Montepulciano, que flanqueiam as vinhas tradicionais: Negroamaro, Malvasia nera, Verdeca, branco d'Alessano, Moscato, Aleatico, Primitivo, Susumaniello, Ottavianello. A Adega apresenta uma gama variada de produtos: vinhos DOC tintos, brancos e rosados ​​(Salice Salentino, Locorotondo, Copertino, Primitivo di Manduria), interessantes vinhos IGT Salento e Puglia, vinhos espumantes rosados ​​e brancos; um conhaque e um óleo particularmente valioso. Também possui um hotel "Villa Donna Lisa" de primeira classe, com instalações esportivas; atua como apoio às visitas diárias de delegações italianas e estrangeiras. A produção média anual é de cerca de 2,5 milhões de garrafas. A Leone de Castris é uma empresa que há séculos trabalha na Apúlia e apenas nos produtos da Apúlia.

Mais informações acesse:



quarta-feira, 29 de abril de 2020

Vinificação em ovos de concreto

Tanques de concreto de formato oval estão sendo usados na elaboração de vinhos


Antigamente, pensar em uma vinícola trazia automaticamente à nossa mente a imagem de uma sala repleta de barricas e tonéis de madeira, nas quais os vinhos eram feitos e envelhecidos. Hoje, muitos já sabem que, no processo de elaboração da maioria dos vinhos, ele, em algum momento, vai passar por um recipiente que seja de aço inoxidável, concreto e/ou madeira – e aquela primeira imagem já não é tão “automática” assim.

Entretanto, o que nem todos sabem é que, nos últimos anos, um número maior de enólogos tem dado muita importância à forma do recipiente e vinificado alguns de seus rótulos em tanques de cimento em formato de ovos, por exemplo.

Antes de qualquer coisa, há relatos do uso do concreto com sucesso no processo de vinificação desde o século XIX. A “novidade”, contudo, é o formato ovalado do recipiente – inspirado nas ânforas que etruscos, gregos, persas e romanos já usavam para fermentar e envelhecer seus vinhos.

Mas, afinal, o que são esses ovos e de que forma influenciam no vinho que bebemos?

Proporção áurea

O primeiro ovo de concreto foi fabricado na França, em 2001, por Marc Nomblot – cuja expertise em construir tanques de concreto era vasta, já que sua empresa atuava no ramo desde 1922 – a pedido do renomado enólogo Michel Chapoutier. De acordo com Nomblot, não foram usados quaisquer aditivos químicos, apenas “areia lavada do Loire, cascalhos e água mineral não clorada e cimento”.

O projeto teve como base os princípios da “razão áurea” estudada pelo matemático Euclides, representada pela letra grega phi (φ) – em homenagem ao escultor grego Phidias – e ligada à mais agradável proporção entre dois segmentos ou duas medidas. Esse fato é bastante interessante, já que a proporção áurea também foi utilizada na construção das pirâmides do Egito e de alguns prédios da Grécia Antiga, como o Parthenon. Essa “regra” influenciou artistas de todas as gerações. Leonardo Da Vinci e outros renascentistas, além de Le Courbusier e Salvador Dalí, por exemplo, que calcularam as proporções de alguns de seus trabalhos levando isso em conta.

Movimento constante



O principal fator do formato oval, sem cantos ou bordas, é permitir a constante movimentação do vinho dentro do recipiente, sem necessidade do uso de bombas ou eletricidade, sem contato com oxigênio e sem bâtonnage, remontagem ou outras interferências. A composição do líquido é mais uniforme, especialmente no tocante à temperatura.

Gilles Lapaulus, da Sutton Grange Winery, foi o primeiro a importar ovos de concreto para a Austrália, em 2005, e afirma que “a cinética de fermentação parece mais regular, sem picos de alta e baixa velocidades, e, além disso, é menos redutiva do que a fermentação em tanques de aço inoxidável”.

Acredita-se que a fermentação em ovos de cimento seja mais regular

Ademais, dentro do ovo, as leveduras ficam em constante movimento ascendente ao redor de um vórtice que se forma devido a uma corrente interna, fazendo com que os taninos se tornem mais polidos e sejam suavizados pelas porosas paredes de concreto do ovo, que permitem a micro-oxigenação do vinho, sem a necessidade de usar a madeira e também sem interferência nos aromas e sabores da bebida. Tudo isso realça o caráter das uvas, aumenta a cremosidade de vinho e destaca as características de seu terroir.

Vale ressaltar que o cuidado com a qualidade das uvas e com seu ponto de maturação é muito importante na vinificação em ovos de concreto – particularmente nos tintos, quando pode acabar ocorrendo uma redução acentuada. Em suma, quando bem trabalhado, o resultado é um vinho de aromas mais pronunciados e identificáveis por apresentar uma fruta mais evidente, realçando sua estrutura de boca e, de alguma forma, mais fiel ao lugar de onde vêm as suas uvas.

Os ovos de concreto exigem alguns cuidados, todavia. Como não têm qualquer tratamento interno, devem receber aplicações de soluções à base de ácido tartárico. Segundo fabricantes e enólogos, o ideal é que a aplicação da substância seja feita em duas etapas: a primeira dois dias antes e, a segunda, na véspera de cada uso. Também deve ser inspecionado regularmente para checar eventuais rachaduras, além de terem que ser lavados com água morna após cada ciclo.

Pioneiros



Os ovos de concreto de Nomblot chegaram à América do Sul, em 2009, pelas mãos de Álvaro Espinoza, pioneiro enólogo chileno, simpático aos preceitos biodinâmicos. Sua motivação veio de conversas com colegas biodinâmicos franceses associados ao desejo de produzir vinhos não padronizados. A experiência lhe foi bastante satisfatória, tanto que seu tinto ícone, Antiyal, passa um ano em ovo de concreto, sem sequer se aproximar de qualquer madeira. Devido aos custos, Espinoza começou com ovos de 6 hectolitros no intuito de “envelhecer o vinho em suas próprias borras após a fermentação malolática” e, nos ovos, por conta de seu formato, “as borras se mantêm em constante movimento, como se fizesse bâtonnage contínua”.

Ainda no Chile, os Chardonnay, Sauvignon Blanc, Pinot Noir e Syrah da linha EQ, da Matetic, e os vinhos da linha Signos de Origen, da Emiliana, são produzidos em ovos de concreto. Na Morandé, o enólogo Ricardo Baettig compõe tanto o Sauvignon Blanc Edición Limitada quanto o Chardonnay Gran Reserva fermentando 80% dos vinhos em carvalho e 20% em ovos de 1.800 litros, deixando-os envelhecer nos ovos por dez meses. Outros exemplos de vinícolas que contam com ovos de concreto em suas adegas são Errázuriz, Undurraga, Veramonte, Cono Sur, Viu Manent e Montes.

Na Argentina, um entusiasta é Matías Michelini, que adotou o método de vinificação em 2012. E não só. Como o investimento em ovos é alto (eles não são baratos; um Nomblot, na França, varia entre € 3.000 – 6 hl – e € 6.000 – 16 hl –, fora as despesas de transporte), Michelini contratou o fabricante de tanques Daniel Moreno para construir os recipientes. Resultado disso é que outros produtores, como a Viña Morandé, por exemplo, usam ovos fabricados na Argentina. Aliás, os recipientes têm feito a cabeça de outras vinícolas como Bodega Aleanna, do famoso tinto El Enemigo, da Zorzal, com a linha Eggo, da Catena, da Zuccardi, da Trapiche, da Rutini e de muitas outras mais.

Galinha dos ovos de ouro?



O uso ovo de concreto tem sido analisado pelo Centro de Pesquisas da Universidade de Geisenheim, na Alemanha. Um experimento conduzido pelo Dr. Maximilian Freund comparou a vinificação de um Riesling Rheingau em um ovo de concreto de 900 litros fabricado pela empresa Michlits e outro em um tanque de 900 litros de aço inoxidável. Os resultados indicaram que, pelo menos na safra 2008, o branco em questão não se adaptou exatamente bem ao concreto. Isso porque o pH do vinho se mostrou muito baixo para o material e seus ácidos corroeram o concreto, ainda que as propriedades sensoriais do vinho não tenham sido afetadas.

Freund levanta duas considerações principais a respeito dos ovos de concreto: o concreto em si e o formato oval. Para ele, vinhos que apresentam pH mais elevado e acidez mais baixa – como os do sul da Europa, por exemplo – são menos corrosivos ao material. Já com relação ao ovo, nesse único experimento, não foram notadas diferenças consideráveis nas fermentações feitas no ovo de concreto e no tanque de aço, seja em relação às leveduras, seja em relação à biomassa. Um ponto diferencial foi a duração da fermentação – mais longa, e com açúcar residual ligeiramente mais alto no ovo.

O estudo conclui que os ovos não seriam uma espécie de artifício com a capacidade de fazer mágicas na elaboração do vinho. O trabalho importante continua acontecendo no vinhedo e todo o processo de vinificação deve ser considerado, não apenas um aspecto dele.

Ovo de madeira

Atenta ao interesse dos enólogos – especialmente os afeitos aos métodos biodinâmicos – em usar ovos de concreto para produzir seus vinhos, a reconhecida tonelaria francesa Taransaud desenvolveu um ovo de carvalho francês, o qual chamou de “Ovum”. É o primeiro projeto de tanque de fermentação em formato oval fabricado a partir de algo que não o concreto. O valor do Ovum é alto, aproximadamente € 40.000. A questão é: vale o investimento? As primeiras degustações de vinhos fermentados e envelhecidos no Ovum não foram tão animadoras assim. Um ponto positivo foi o fato de que, no Ovum de 400 litros, as características e qualidades pretendidas foram atingidas em metade do tempo de guarda estimado, provavelmente devido ao tamanho e ao formato do recipiente. O Domaine de Chevalier, em Bordeaux, e a Maison Drapier, em Champagne, são dois dos produtores que estão vinificando alguns de seus vinhos no Ovum.


sábado, 25 de abril de 2020

Novecento Rosado 2017


Uma vez eu disse: só comprarei espumantes brasileiros. Faz sentido e é justo, levando-se em conta que os nossos espumantes, a meu ver, são os melhores, ainda tendo uma diversidade de propostas e preços. Portanto não fui, com essa opinião, ufanista. É uma ideia acertada, mas hoje, penso que não deve ser definitiva, apenas prioritária, para não cair na contradição. Digo isso, pois, em meus passeios pelos supermercados da vida, me deparei com um espumante argentino, da região emblemática de Mendoza que, admito, foi pelo preço: R$ 19,90! Infelizmente, por melhor que os nossos espumantes sejam, encontrar um por 19,90, de qualidade, é uma árdua missão. Fiquei curioso e comecei com meu “primeiro contato” de identificação do vinho, acessando o site do produtor, lendo e interpretando as informações contidas no rótulo etc. E a primeira coisa que me chamou a atenção foi o blend. Embora as castas sejam típicas na Argentina, o corte, pelo menos para mim é atípico, com Chardonnay, Chenin Blanc e Bonarda. Foi definitivo para a minha decisão de compra.

E o vinho que degustei e gostei, que me surpreendeu de forma positiva, é o Noveento Rosado, composto pelas castas Chardonnay (50%), Chenin Blanc (40%) e Bonarda (10%) da safra 2017 e feito pelo méodo charmat Se quiser saber sobre o método de vinificação acesse: Diferenças entre os métodos Champenoise e Charmat. O curioso e que vale mencionar é que as uvas vieram de regiões ou sub-regiões diferentes de Mendoza: o Chardonnay veio da zona alta de Lujan de Cuyo, o Chenin Blanc das vinhas velhas na Zona Central e a Bonarda da região de Santa Rosa. E, segundo a informação que consta no site do produtor é de que são solos diferentes, de barro pedregoso de profundidade, solos arenosos profundos, boa amplitude térmica, excelente iluminação etc. Enfim, sendo determinante, claro, para o vinho final. Mas isso falarei agora.

Na taça apresenta um rosa casca de cebola, meio acobreado, bem bonito, com perlages finos e abundantes, muito elegantes explodindo no copo.

No nariz traz aromas de frutas vermelhas, como morango e cereja, aromas esses agradáveis prenunciando a jovialidade e frescura do vinho.

Na boca reproduz as impressões olfativas, com certa untuosidade, bom volume de boca, descortinado pelo toque adocicado que, embora seja evidente, não se torna enjoativo. Baixa acidez, afinal as castas que compõe o corte, não tem tal característica, com um final persistente e agradável.

Um vinho, apesar da safra (2017), e talvez seja exclusivamente por ela, tenha barateado o vinho, se revelou fresco, jovem, delicado, equilibrado, ideal para ser degustado em dias quentes e ensolarados ou simplesmente para dias ou noites agradáveis, sendo extremamente informal. O posto nobre dos espumantes brasileiros em minha adega estará sempre guardado, mas a flexibilidade de garimpar novos borbulhantes espalhados pelo mundo não estará fora de minhas pretensões. Um belo espumante dos hermanos. Com 11,5% de teor alcoólico.

Sobre a Bodega Dante Robino:

A Dante Robino é conhecida por ser uma vinícola argentina com espírito italiano. Com quase 200 anos de tradição, foi uma das primeiras a cultivar a uva Malbec no país e, portanto, a história desta casta na Argentina tem episódios importantes que passam pela adega. Conhecida tanto por seus vinhos tranquilos quanto pelos com borbulhas, a Bodega Dante Robino é o principal  produtor de espumantes argentinos. Nascido em uma comunidade de vinicultores do Piemonte, no noroeste da Itália, Dante Robino mudou a história da sua família ao se mudar para a Argentina, em 1920. Chegando em Mendoza, o italiano logo começou a estruturar uma vinícola que levaria seu nome, e onde ele escolheu cultivar as mudas de Malbec e Bonarda que trouxe consigo na bagagem. Foi a partir de 1982, no entanto, que a tradicional vinícola deu um passo rumo à modernidade com a chegada da família Squassini ao comando do empreendimento. Somando às técnicas tradicionais piemontesas de Dante com equipamentos de tecnologia de ponta, a nova gerência iniciou então a produção de seus vinhos espumantes, que rapidamente teriam sua qualidade reconhecida pelos cinco continentes do mundo. A vinícola trabalha com vinhas plantadas na década de 1990, ou seja, com aproximadamente 20 anos. A idade da vinha é muito importante, uma vez que determina o quanto as raízes estão profundamente embrenhadas na terra. Uma vinha nova (de até quatro anos) ainda está desenvolvendo as suas raízes, o que significa que sua maior fonte de água ainda é a chuva. Já uma vinha velha possui raízes bastante arraigadas e, dessa forma, consegue alcançar água em níveis mais profundos do solo. A vinícola possui dois vinhedos, um em Lujan de Cuyo e outro em Tupungato. Ambas as áreas tem uma temperatura média bastante favorável para a viticultura. O vinhedo de Tupungato encontra-se a 1.100 metros de altitude, enquanto o de Lujan de Cuyo está a 980 metros, ambos com excelente exposição. Atualmente a vinícola tem uma produção estimada em 9 milhões dos quais metade é de espumantes ou vinho base para espumantes – que além de ser usado na própria vinícola é também vendido a terceiros -, sendo o Novecento, um espumante produzido por método tanque e de preço bastante acessível – principalmente no mercado interno, ocupa a maior fatia.

Mais informações acesse:




sexta-feira, 24 de abril de 2020

Diferenças entre os métodos Champenoise e Charmat


Se você se interessa por espumante, já deve ter ouvido falar ou visto nos rótulos as expressões Champenoise e Charmat. As duas palavras, de origem francesa, identificam o método pelo qual o espumante foi elaborado antes de receber a rolha.

Método Champenoise

O método Champenoise recebeu esse nome porque é a forma na qual os primeiros espumantes foram feitos na região de Champagne, na França. Também conhecido no Brasil por método tradicional, nessa forma de elaboração, as borbulhas do vinho são criadas graças a uma segunda fermentação em garrafa. Primeiro, fermenta-se o mosto para que seja transformado em vinho. Depois, já com o vinho engarrafado, antes de receber a rolha de cortiça, ocorre a segunda fermentação. Diz a história que Pierre Pérignon, que era um monge beneditino da Abadia de Hautvillers, mais conhecido como Dom Pérignon, esforçou-se muito para domar os vinhos que fermentavam pela segunda vez nas garrafas, frequentemente, fazendo-as explodir. Dom Pérignon é reconhecido por vários historiadores como o criador do Champagne. A escala de produção é menor, já que um espumante elaborado pelo método demanda meses ou anos para ficar pronto. Além disso, pela forma quase artesanal, tem custo mais elevado que o método Charmat. Devido ao maior tempo de contato com a levedura, o espumante feito pelo método Champenoise tende a ser mais complexo, com aromas de fermento, pão e frutas secas.


Método Charmat

O método Charmat foi criado pelo italiano Federico Martinotti em 1895, mas foi patenteado pelo francês Eugène Charmat em 1907. Assim como no método Champenoise, as borbulhas do vinho também ocorrem devido a uma segunda fermentação. Contudo, essa fermentação não ocorre na garrafa, mas em um grande tanque de inox.  Esses tanques são especialmente desenvolvidos para suportar a pressão advinda da liberação do gás carbônico. Nesse método, o tempo de produção é bem menor, podendo o espumante ficar pronto em dias. Com isso, reduz-se consideravelmente o custo. Com um tempo bem menor de contato com a levedura, o espumante feito pelo método Charmat tende a ser mais leve, frutado e cítrico.


Não importa o método de produção, ambos produzem ótimos espumantes.

Fontes: 







quinta-feira, 23 de abril de 2020

El Lagar de la Aldea Viúra 2017


Estive em um supermercado fazendo compras cotidianas e, não me lembro (acho que sim!) na adega deste correndo os meus olhos nas suas gôndolas. E com um olhar de detetive olhei cada espaço, cada metro quadrado dessas gôndolas quando fixei os olhos em um lugar improvável: na parte de baixo e a mais empoeirada e avistei um vinho que me parecia um tanto quanto esquecido, rejeitado por tudo e todos (confesso-lhes que ultimamente tenho dado atenção aos vinhos “vilipendiados”) e o peguei. Como de costume examinei-o detalhadamente e vi série de grandes novidades, já dizia Cazuza, pelo menos para mim, um simples enófilo. Percebi que, além de ser um vinho espanhol, que não é uma novidade, observei que era um vinho da casta Viúra, que eu nunca havia degustado e de uma região chamada Navarra, local que nunca bebi um vinho sequer e, para fechar, o preço. Estava muito barato! Estava na faixa dos R$ 22,00! Animei-me, mas também fiquei com receio quanto a sua qualidade, mas arrisquei e comprei, afinal, se for ruim, pensei o gasto não seria tão alto.

O vinho que degustei e gostei, pasmem, se chama El Lagar de la Aldea (Vinícola da Vila, em tradução literal), da já mencionada região de Navarra, 100% Viúra, da safra 2017. Como muito das características e apresentações desse vinho foram novidades para mim, não posso deixar de falar, mesmo que brevemente, da história da casta Viúra e da região de Navarra.

Viúra

É a uva vinífera branca mais popular do norte da Espanha, também conhecida como Macabeu. Os nomes Macabeu e Maccabéo são mais comuns em Languedoc-Roussillon, no sul da França. Macabeo aparece em grande parte de sua terra natal, na Espanha. Viúra é comum em Rioja, onde é, de longe, a uva de vinho branco mais plantada. Uma informação relevante: essa é uma das principais variedades utilizadas na produção dos espumantes Cava. Na maioria das vezes engarrafado jovem, o vinho produzido com essa uva é seco, e tem uma boa capacidade de envelhecimento, como comprovam os melhores exemplares da cepa. E essa é uma uva, naturalmente, de alto rendimento. Sem o devido cuidado, os frutos ficam muito grandes, com baixa proporção entre casca e polpa, e os cachos, de tão apertados, podem facilmente apodrecer. Mas, com a planejada redução por parte do viticultor, essa uva concentra aromas e sabores de maneira muito interessante. Fonte: Tintos & Tantos (http://www.tintosetantos.com/index.php/escolhendo/cepas/448-macabeo).

Região de Navarra

Navarra fica no norte da Espanha e a tradição da uva, aqui, vem de muito longe. Recentemente, pesquisadores identificaram, em Navarra, plantas da primitiva Vitis silvestris, encontrada em pouquíssimos lugares do mundo, e cuja origem pode chegar a, quem sabe, 5 milhões de anos!


A produção do vinho, por sua vez, acredita-se ter sido iniciada com os romanos. Vestígios arqueológicos de adegas, túmulos e ânforas comprovam essa tese. Essa tradição sobreviveu ao domínio árabe, e expandiu-se significativamente com a ajuda do clero durante a Idade Média. Mas, depois de ver seu apogeu no século 19, a vinicultura em Navarra quase morreu, à época da Filoxera. Dos 50.000 hectares de vinhas existentes, 48.500 foram destruídos pela praga. Para saber mais sobre esse assunto, clique aqui. Atualmente, existem cerca de 11.500 hectares ocupados por vinhedos, em Navarra, distribuídos em 5 áreas de produção, de acordo com a diversidade de clima e solo: Baja Montaña, Ribera Alta, Valdizarbe, Tierra Estella, Ribera Baja. Cerca de 70% dos vinhos produzidos em Navarra são tintos, 25% são rosés, e apenas 5% são brancos (incluindo uma pequena parcela de vinhos de sobremesa). As uvas mais cultivadas na região, dentre as autorizadas pelo conselho regulador da denominação de origem, são Tempranillo, Garnacha, Cabernet Sauvignon, Merlot, Graciano e Mazuelo. Entre as brancas, destacam-se Chardonnay, Viura e Moscatel. Fonte: Tintos & Tantos (http://www.tintosetantos.com/index.php/denominando/855-navarra)

Agora o vinho!

Na taça apresentou um amarelo bem intenso, vivo, pleno, brilhante, com discretos tons esverdeados.

No nariz apresentou um discreto, mas agradável toque cítrico, frutas tropicais e notas florais, de flores brancas
.
Na boca é um vinho majoritariamente seco, típica da casta, que me agrada muito, embora tenha sido um dos vinhos mais secos que degustei nos últimos anos. Acidez muito boa, diria um pouco elevada, denunciando a sua leveza e certo frescor com final frutado e persistente.

Diria que é um vinho “atípico” e por que digo isso? É um vinho, como disse muito seco o que não agradaria, embora seja um branco, a paladares de um iniciante (a mim agradou!) e também não percebi um grande frescor no vinho, como de outros brancos que degustei que tem a mesma proposta deste em especial. Mas estava lá, graças a sua boa acidez, mas em menor intensidade, em relação aos demais brancos que já degustei. São características, sejam da casta ou do rótulo propriamente dito, que, com mais experiências de degustação da Viúra poderá formar a minha opinião com mais certeza e diria até com mais consistência. E o farei, espero que muito em breve. Fiquei muito feliz com essa degustação cheia de estreias! Um achado que, mesmo rejeitada no fundo das gôndolas dos supermercados, à sombra dos badalados, me trouxe grande satisfação, principalmente pelo fato de que, conforme já mencionado no histórico da região de Navarra, de onde o vinho veio apenas 5% dos vinhos nesta região produzidos são brancos! Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Bodegas El Lagar de la Aldea e o Grupo Manzanos Wines:

Manzanos Wines é a divisão de vinhos da Manzanos Enterprises, dedicada à produção de DOCa Rioja , DO Navarra e vinho espanhol desde 1890. Sua história está ligada à história de uma família, ao seu esforço, à sua constância e aos seus vinhos, o saber fazer. Como resultado, a empresa possui onze vinícolas que cresceram as cinco gerações da família Fernández de Manzanos. Depois de mais de 128 anos dedicados de corpo e alma à cultura do vinho, a Manzanos Wines possui 950 hectares protegidos pelo DOCa Rioja. Juntamente com os 575 hectares cobertos pela Denominação de Origem Navarra, a empresa possui um total de 1.525 hectares. A principal atividade da empresa é a elaboração e comercialização do vinho DOCa Rioja e suas principais vinícolas pertencem a essa denominação. Bodegas Manzanos Haro, Bodegas Manzanos Azagra , Viña Marichalar e  Bodegas Luis Gurpegui Muga  são as vinícolas nas quais Manzanos produziu os vinhos desta Denominação de Origem Qualificada a partir de seus 950 hectares de vinhedo. As vinícolas onde os vinhos DO Navarra são feitos são as recém-adquiridas Bodegas Manzanos Campanas (antiga Vinícola Navarra, a mais antiga da DO Navarra), Castillo de Enériz e Monte Ory . Manzanos possui 575 hectares de vinhedos nessa denominação. Por seu lado, Bodegas Mosen Pierre, El Lagar de la Aldea e Bodegas Gurpegui são as vinícolas onde são feitos os vinhos espanhóis. As Bodegas El Lagar de la Aldea estão localizadas na cidade de Azagra , no sul de Navarra e quase na fronteira com La Rioja. São as vinícolas com as quais a família Fernández de Manzanos iniciou há mais de 125 anos, em 1890 , a produção e a comercialização de seus vinhos quando as denominações de origem ainda não existiam. Eles renovaram as instalações e continuam a produzir o vinho clássico de todos os tempos, mas aplicando as novas técnicas e tecnologias adquiridas nesses 125 anos. Eles não apenas produzem a marca El Lagar de la Aldea, mas também têm outros vinhos como Portil de Lobos, La Heredada, Marqués de Araiz e Davne.

Mais informações acesse:



Vinho degustado em 2019.


Elegido Bivarietal tinto 2015


Na escolha de um vinho temos que seguir, basicamente, a meu ver, o que diz o nosso coração aliado, é claro, aos seus anseios de momento, tais como: casta que quer degustar, região a qual o vinho foi produzido, safra em especial, o país etc. Mas também uma recomendação de outra pessoa pode ser preponderante para a sua escolha e isso não é ser sugestionável, é tão somente mais uma ajuda que você fará uso, como uma espécie de “suporte” para a sua decisão final. E neste vinho em especial foi uma dica que recebi. Estive em uma loja especializada de vinhos e o funcionário me abordou perguntando se eu tinha uma predileção. Disse que sim, gostaria de um vinho uruguaio, de preferência, é claro, da casta Tannat e que não “doesse” ao bolso. Ele foi categórico na escolha e me indicou um vinho de uma região que não conhecia, bem como o seu produtor.

O vinho escolhido e que degustei e gostei é o Elegido da tradicional Montes Toscanini, da emblemática região de Canelones, mais precisamente de Las Piedras, da safra 2015, um bivarietal das castas Tannat (60%) e Merlot (40%). Embora seja um bivarietal e a minha intenção era ter um 100% Tannat, esse corte foi, diria, determinante para a minha simpatia ao rótulo e o direi nas minhas descrições organolépticas.

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, com entornos violáceos com lágrimas espessas e ocasionais, que logo se dissipa.

No nariz tem aromas intensos de frutas vermelhas frescas com destaque também para frutas vermelhas maduras, mas que lhe conferem aquele sabor enjoativo comum em alguns vinhos frutados. Tem também um curioso toque de tostado e baunilha, não sei dizer ao certo se é em virtude de passagem por barricas de carvalho ou características oriundas do próprio vinho. No rótulo, bem como no site do produtor não há referências sobre este vinho ter passado por madeira, principalmente por se tratar de um vinho básico.

Na boca traz as mesmas percepções olfativas, além de ser seco, corpo leve para médio, elegante, equilibrado, isso se deve muito ao corte onde o Tannat é amansado pelo Merlot, graças ao percentual praticamente igual entre as cepas. Trata-se de um corte típico nos vinhos uruguaios. Apresenta ainda boa acidez, que traz ao vinho certo frescor e jovialidade, taninos macios e um final de média persistência e frutado.

Um vinho pronto para ser degustado, graças, como disse, ao corte das cepas, agradável de ser degustar, redondo e de interessante custo X benefício. O teor alcoólico segue a proposta com seus 12%.

Sobre a Montes Toscanini Wines:

Tudo começa em 1894 quando don Juan Toscanini e sua esposa dona María Bianchi, deixam a cidade de Gênova, na Itália, e se estabelecem na região do Rio da Prata, mais precisamente na zona de Canelón Chico, localizada a 30 Km ao norte de Montevidéu, Uruguai.


Em dito lugar, desempenham atividades como trabalhadores rurais, arrendando uma pequena parcela de campo que posteriormente conseguem adquirir. Visionário e empreendedor, e, após vários anos trabalhando como peão, don Juan Toscanini funda sua própria vinícola no ano de 1908, elaborando 4200 litros de vinho que se comercializaram sob a marca “La Fuente”. A partir desse momento, a fértil semente da vitivinicultura lança raízes muito firmes na família com a arte do cultivo da uva e a produção de vinhos sendo seguida, até hoje, por seus filhos, netos e bisnetos.



Em 1982, ocorre a re-estruturação de nossos vinhedos substituindo-se as variedades comuns por tannat, cabernet e merlot. Com tal mudança, começam a elaborar vinhos finos. Em 1995, obteve o primeiro reconhecimento internacional e, dois anos mais tarde, nossa primeira exportação ao Reino Unido. No ano de 2000, nasce o vinho premium ADAGIO, uma fusão de tannat, cabernet sauvignon e merlot. É um vinho elaborado apenas com vindimas excepcionais, maximizando o melhor das uvas. Em 2001, graças a projeção internacional, surge uma joint venture com Chateau Los Boldos, do grupo Massenez. Nasce CASA VIALONA, um vinho 100% tannat com maturação de um ano e meio em barril. Em 2008, a Montes Toscanini completou 100 anos de história. E, para honrar essa trajetória, criou o vinho ANTOLOGÍA. Trata-se de uma edição limitada de 1908 garrafas que contêm a maior experiência na vinificação da uva tannat. É um vinho elaborado com arte e as melhores uvas da vindima desse ano.

Mais informações acesse:

https://www.toscaniniwines.com/pt/

Vinho degustado em 2016.