Uma vez eu disse: só comprarei espumantes brasileiros. Faz
sentido e é justo, levando-se em conta que os nossos espumantes, a meu ver, são
os melhores, ainda tendo uma diversidade de propostas e preços. Portanto não
fui, com essa opinião, ufanista. É uma ideia acertada, mas hoje, penso que não
deve ser definitiva, apenas prioritária, para não cair na contradição. Digo
isso, pois, em meus passeios pelos supermercados da vida, me deparei com um
espumante argentino, da região emblemática de Mendoza que, admito, foi pelo
preço: R$ 19,90! Infelizmente, por melhor que os nossos espumantes sejam,
encontrar um por 19,90, de qualidade, é uma árdua missão. Fiquei curioso e
comecei com meu “primeiro contato” de identificação do vinho, acessando o site
do produtor, lendo e interpretando as informações contidas no rótulo etc. E a
primeira coisa que me chamou a atenção foi o blend. Embora as castas sejam
típicas na Argentina, o corte, pelo menos para mim é atípico, com Chardonnay,
Chenin Blanc e Bonarda. Foi definitivo para a minha decisão de compra.
E o vinho que degustei e gostei, que me surpreendeu de forma
positiva, é o Noveento Rosado, composto pelas castas Chardonnay (50%), Chenin
Blanc (40%) e Bonarda (10%) da safra 2017 e feito pelo méodo charmat Se quiser saber sobre o método de vinificação acesse: Diferenças entre os métodos Champenoise e Charmat. O curioso
e que vale mencionar é que as uvas vieram de regiões ou sub-regiões diferentes
de Mendoza: o Chardonnay veio da zona alta de Lujan de Cuyo, o Chenin Blanc das
vinhas velhas na Zona Central e a Bonarda da região de Santa Rosa. E, segundo a
informação que consta no site do produtor é de que são solos diferentes, de
barro pedregoso de profundidade, solos arenosos profundos, boa amplitude térmica, excelente
iluminação etc. Enfim, sendo determinante, claro, para o vinho final. Mas isso
falarei agora.
Na taça apresenta um rosa casca de cebola, meio acobreado,
bem bonito, com perlages finos e abundantes, muito elegantes explodindo no
copo.
No nariz traz aromas de frutas vermelhas, como morango e
cereja, aromas esses agradáveis prenunciando a jovialidade e frescura do vinho.
Na boca reproduz as impressões olfativas, com certa
untuosidade, bom volume de boca, descortinado pelo toque adocicado que, embora
seja evidente, não se torna enjoativo. Baixa acidez, afinal as castas que
compõe o corte, não tem tal característica, com um final persistente e
agradável.
Um vinho, apesar da safra (2017), e talvez seja
exclusivamente por ela, tenha barateado o vinho, se revelou fresco, jovem,
delicado, equilibrado, ideal para ser degustado em dias quentes e ensolarados
ou simplesmente para dias ou noites agradáveis, sendo extremamente informal. O
posto nobre dos espumantes brasileiros em minha adega estará sempre guardado,
mas a flexibilidade de garimpar novos borbulhantes espalhados pelo mundo não
estará fora de minhas pretensões. Um belo espumante dos hermanos. Com 11,5% de
teor alcoólico.
Sobre a Bodega Dante Robino:
A Dante Robino é conhecida por ser uma vinícola argentina com
espírito italiano. Com quase 200 anos de tradição, foi uma das primeiras a
cultivar a uva Malbec no país e, portanto, a história desta casta na Argentina
tem episódios importantes que passam pela adega. Conhecida tanto por seus
vinhos tranquilos quanto pelos com borbulhas, a Bodega Dante Robino é o
principal produtor de espumantes
argentinos. Nascido em uma comunidade de vinicultores do Piemonte, no noroeste
da Itália, Dante Robino mudou a história da sua família ao se mudar para a
Argentina, em 1920. Chegando em Mendoza, o italiano logo começou a estruturar
uma vinícola que levaria seu nome, e onde ele escolheu cultivar as mudas de
Malbec e Bonarda que trouxe consigo na bagagem. Foi a partir de 1982, no
entanto, que a tradicional vinícola deu um passo rumo à modernidade com a
chegada da família Squassini ao comando do empreendimento. Somando às técnicas
tradicionais piemontesas de Dante com equipamentos de tecnologia de ponta, a
nova gerência iniciou então a produção de seus vinhos espumantes, que
rapidamente teriam sua qualidade reconhecida pelos cinco continentes do mundo. A
vinícola trabalha com vinhas plantadas na década de 1990, ou seja, com
aproximadamente 20 anos. A idade da vinha é muito importante, uma vez que
determina o quanto as raízes estão profundamente embrenhadas na terra. Uma
vinha nova (de até quatro anos) ainda está desenvolvendo as suas raízes, o que
significa que sua maior fonte de água ainda é a chuva. Já uma vinha velha
possui raízes bastante arraigadas e, dessa forma, consegue alcançar água em
níveis mais profundos do solo. A vinícola possui dois vinhedos, um em Lujan de
Cuyo e outro em Tupungato. Ambas as áreas tem uma temperatura média bastante
favorável para a viticultura. O vinhedo de Tupungato encontra-se a 1.100 metros
de altitude, enquanto o de Lujan de Cuyo está a 980 metros, ambos com excelente
exposição. Atualmente a vinícola tem uma produção estimada em 9 milhões dos
quais metade é de espumantes ou vinho base para espumantes – que além de ser
usado na própria vinícola é também vendido a terceiros -, sendo o Novecento, um
espumante produzido por método tanque e de preço bastante acessível –
principalmente no mercado interno, ocupa a maior fatia.
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