domingo, 19 de julho de 2020

Festival de Vinhos Supermercado Real 2017


No dia 10 de julho de 2017 participei de um festival de vinhos patrocinado por uma rede de supermercados importantes da minha cidade, Niterói. A princípio, quando anunciaram as informações sobre o evento, achei o valor do ingresso um pouco caro, sobretudo para aqueles iniciantes no mundo do vinho que desejam participar de festivais como esse para ampliar seus horizontes, conhecendo novos rótulos, fazer um escambo de informações e conhecimento, reforçando sua predileção pelo néctar. Sempre critiquei os altos valores de tais eventos realizados no Brasil. A demanda tem aumentado pelo que pude observar nos eventos que tenho ido, logo a oferta também está aumentando, mas o valor está um verdadeiro absurdo! Se está tendo um fenômeno de crescimento e interesse de enófilos para estes eventos, qual a dificuldade de reduzir os valores dos ingressos estimulando ainda mais a procura? É uma forma de democratizar a cultura para o vinho! Enfim...Mas este evento trouxe uma novidade: Dos R$ 150,00 do valor do ingresso, R$ 100,00 foram revertidos para compra de rótulos nos supermercados do grupo! Bem, já foi uma boa ajuda!

As Importadoras confirmadas foram:

Importadora Real Comercial Woldwine

Vinhos Italianos: Primitivo di Manduria Zenith / Farnese Fantini /
Vinhos Chilenos: Petirrojo tinto e branco
Vinho Uruguaio Garzon tannat e outros

Importadora Casa Flora

Vinho Argentino Nieto Emilia tinto e Rosé
Vinho Chileno Santa Carolina tinto e branco
Espumantes, Vodka, Cerveja Paulaner e outros

Importadora Real Comercial La Pastina

Vinhos Chileno Orgânico Emiliana Adobe tinto e branco / Cono sur Bicicleta tinto e branco
Vinho Francês JP Chenet e outros

Importadora Adega Alentejana

Vinhos Portugueses Paulo Laureano Premium Vinhas Velhas / Cartuxa Reserva / Chaminé e outros

Importadora Qualimpor

Vinhos Portugueses Esporão Reserva tinto / Assobio Douro tinto / Monte velho e outros

Importadora VCT Brasil Conha y Toro

Vinhos Chilenos Marquês de Casa Concha / Trio Concha y toro / Casillero del Diablo
Vinho Argentino Trivento e outros

Importadora Cantu

Vinhos Chilenos Ventisquero Reserva e Clásico
Vinho Português Quinta de Bons Ventos e outros

Vinhos exclusivos:

Vinhos Portugueses Herdade do Grous Casa Real / Regional Transmontano Encostas do Trogão tinto, branco e Reserva

Então vamos aos principais rótulos degustados no evento:

Quando se fala na vinícola Emiliana do Chile a primeira coisa que vem à mente é o processo de fabricação de seus vinhos orgânicos e claro não faltou no festival de degustação e também o meu ímpeto e interesse por degustar um de seus principais rótulos.

A começar pela linha reserva “Adobe”

De entrada eu degustei o rosé, da casta Syrah: um vinho fresco, jovem, mas de bom volume de boca, frutado, aromático e de personalidade marcante. Não costumo degustar com frequência os rosés chilenos e quando o fiz com o “Adobe” foi uma experiência fantástica. Logo após o rosé degustei o Carmenere, casta carro chefe de todas as vinícolas chilenas e claro, não ficou atrás em termos de qualidade, de drincabilidade. Um vinhaço! Aquele toque de couro, tabaco, de frutas negras e vermelhas no paladar e no aroma. Um toque na medida de um amadeirado, bem integrado, um vinho estruturado e macio, ao mesmo tempo. Fechei com o Cabernet Sauvignon: encorpado, robusto, frutado, macio, harmonioso. Definitivamente a linha “Adobe” me fisgou de vez.

 


Mas a surpresa estaria guardada para logo depois da curta, mas significativa série de degustação da linha “Adobe”. Tive o prazer de degustar o “Novas”, a linha orgânica gran reserva da Vinícola Emiliana. Um corte das castas mais populares do Chile, Cabernet Sauvignon e Carmenere, é um vinho encorpado, com um aroma de frutas vermelhas, com toques generosos de especiarias e a madeira bem integrada, com aquele tostado. Na boca segue as mesmas percepções olfativas com taninos elegantes e presentes e boa acidez. Um belíssimo vinho! Esse, com os meus R$ 100,00 de crédito, tive a oportunidade e a alegria de comprar e que, três anos depois do evento, ainda está na minha adega evoluindo, me esperando para degustá-lo no melhor momento para nós dois!



Continuando com o Chile “viajei” para a vinícola Cono Sur, onde degustei os famosos vinhos da “bicicleta”, com uma proposta mais simples, com vinhos de entrada, mas não menos importante para o meu humilde paladar. Que belos vinhos! Apesar da popularidade do rótulo em terras brasileiras, não os conhecia, não os tinha degustado até então.

Comecei com o Pinot Noir: muito legal! Soube, com primazia, representar a essência da casta como poucos chilenos que tive a oportunidade de degustar. Um vinho que privilegia a fruta vermelha, a delicadeza e a maciez, a elegância típica da boa Pinot Noir. Depois degustei uma casta não muito comum nas taças dos brasileiros: a Gewurztraminer. Vinho muito bem feito! Um vinho fresco, jovem, frutado, um toque meio apimentado, de bom volume de boca. Dois grandes rótulos da vinícola com excelente custo x benefício.


Agora indo para a Argentina pousei em uma das vinícolas mais tradicionais dos hermanos: Bodegas Norton!

Não tinha sido o meu primeiro contato com os rótulos da vinícola, mas o “Cosecha Tardia” branco e rosé foi a minha primeira vez. Sempre tive uma reticência com relação aos vinhos da colheita tardia, por serem doces demasiadamente. Não sou apreciador desses tipos de vinho. Mas o demonstrador me abordou e disse: “Já experimentou o colheita tardia branco e rosé da Norton?” Disse que não gostava desses vinhos por serem muito doces, mas logo ele disse: “Esses não são tão doces assim, acredite, você irá gostar!” Bem, não tinha nada a perder, experimentei. Não é que ele tinha razão! Um vinho com um baixo residual de açúcar, tanto o branco quanto o rosé. Esses eu compraria. Depois degustei o emblemático Malbec tinto da Norton, da região de Luján de Cuyo. Esse eu já conhecia, mas não poderia deixar de degusta-lo novamente, é sempre um prazer! Macio, frutado, como todo bom Malbec, encorpado, taninos presentes e sedosos. Clássico!




Agora o Velho Mundo, a Velha Bota, a Itália!

Um rótulo bem conhecido aqui no Brasil, muito bem aceito por aqui: A linha Santa Cristina. Já degustei no passado o tinto e o branco, da casta Pinot Grigio, que me surpreendeu positivamente e que foi responsável pela minha predileção pela casta branca, típica e altamente cultivada na Itália.
Mas o que eu degustei no evento foi o Chianti Superiore, que não havia bebido antes. Que grata experiência! Um vinho encorpado, redondo, com taninos gordos, presentes, mas sedosos, boa acidez, a fruta presente, a madeira bem integrada. Um belo vinho que eu nunca tinha visto nas gôndolas dos supermercados da minha cidade, Niterói, apesar da popularidade desta linha de vinhos por aqui em terras “brasilianas”.


O Brasil não poderia ficar de fora e a escolhida para a minha degustação é a mais importante e premiada vinícola deste país: A Cooperativa Aurora! Infelizmente não tinha os rótulos tintos da vinícola, apenas contou com os brancos, espumantes e moscatéis, mais populares entre os enófilos.

Comecei a degustar o Moscatel rosé, nunca havia degustado um Moscatel rosado. Resolvi experimentar e vou confessar aqui, apesar de não gostar mais dos moscatéis: Esse me surpreendeu positivamente! Baixo residual de açúcar, frutado, fresco, leve e bem descontraído. Degustaria ele novamente. Degustei o Moscatel branco que já o fiz em outras ocasiões na minha vida de enófilo. O Rosé é muito melhor! E para fazer também um paralelo com o “Cosecha Tardia Norton” degustei o “Colheita Tardia” da Aurora e dessa vez os argentinos saíram na frente, em minha opinião.




Ainda na Argentina, tive o meu momento mágico em degustar um vinho que parecia, ou melhor, ainda está tão distante em minhas pretensões de compra. Um vinho de alto custo, mas que entrega cada centavo de seu valor: Um Rutini com o corte de Cabernet Sauvignon e Malbec da safra 2015. Um vinho encorpado, poderoso, que enche a boca, frutas vermelhas e pretas, taninos presentes, mas sedosos e boa acidez. Aquele vinho que se quiseres pode guardar por muitos anos.


Voltei ao Velho Mundo dando uma passadinha por Portugal. Ah a terrinha não pode ficar de fora em nenhum evento de degustação de vinhos que se preze.

Comecei com uma região, que até aquele momento, nunca havia degustado um rótulo sequer: Trás-os-Montes! E quando me aproximei do stand dos rótulos dessa região, fiquei um tanto quanto curioso e, claro, não pude deixar de degustar. Então comecei com o branco “Encostas do Trogão” da Cooperativa Rabaçal. Um produtor pouco conhecido no Brasil e me parece que apenas o Supermercado Real vende, distribui esses rótulos em Niterói. Um vinho de ótima acidez, gostoso, frutas brancas e cítricas e com um aroma floral que me encantou. Infelizmente não tinha esse vinho na filial do supermercado próximo a minha região e até hoje não o encontrei! Que falta de sorte! Logo depois degustei o tinto reserva de uma safra relativamente antiga, de 2011: fiquei receoso, na época com seis anos de vida! Mas degustei: Que vinho! Pleno, vivo, encorpado, frutado, com taninos presentes e um retrogosto persistente! Não o comprei no mesmo ano do evento. Fui comprá-lo um ano depois.


Continuei em Portugal e degustei uma das mais emblemáticas vinícolas daquele país: A Herdade do Esporão! Vinhos de excelência e sempre com rótulos que contemplam todas as propostas, adequadas para vários momentos, dos mais descontraídos aos mais célebres.

Degustei, primeiramente, um velho conhecido: o Monte Velho tinto. Esse nunca sai de moda, vinho de médio corpo, com aromas de frutas vermelhas e negras, com taninos delicados e boa acidez. Depois fui para o Esporão Reserva: um vinho robusto, da velha e essencial Alentejo, amadeirado, toque de chocolate e tostado, encorpado, taninos gordos e robustos, acidez correta. Que vinho espetacular! E fechei com outro velho conhecido: Assobio. O Douro muito bem representado. Um vinho fresco, jovem, mas de grande personalidade.



E fechei a minha estadia em Portugal com um rótulo tradicional e emblemático também do Douro, da famosa e conceituada Casa Ferreirinha: o Papa Figos da safra 2015. Um senhor vinho encorpado, mas harmonioso, de personalidade marcante, toques de madeira bem integrada, tabaco, frutas vermelhas.


Dei uma “passadinha” pela bela e emblemática Bordeaux, da França. Muitos dizem que para degustar bons vinhos dessa região tem de custar mais de “três dígitos”, em suma, tem de custar caro! Mas eu acho que essa antiga cultura está caindo por terra. Temos visto bons bordaleses a ótimos preços e vinhos com ótima drincabilidade.

E a prova foram esses dois belos vinhos que degustei: a começar com o “Marquis de Sade”, da safra 2012. Um vinho de uma proposta simples, mas que já tinha, á época, cinco anos de safra! Fiquei curioso para degusta-lo, será que ele estaria avinagrado? Nunca! Que vinho sensacional, incrível! Ele estava pleno, vivo, um vinho cheio de altivez e personalidade no alto dos seus cinco anos de vida! Frutado, aromas de frutas vermelhas, especiarias, toques de pimenta. Na boca é frutado, taninos elegantes e delicados e um final agradável com retrogosto persistente e frutado. Finalizei Bordeaux com o Chateau Haut-Giron, também da safra 2012. Um vinho interessante, frutado e saboroso, mas não tão bom quanto o primeiro.


E para finalizar a França outro vinho que me surpreendeu por inteiro e, quando a demonstradora me falou do seu valor, fiquei boquiaberto por completo: R$ 40,00! Bouchard Ainé. Um vinho leve, despretensioso, pouco austero, fácil de degustar. Frutadinho, fresco, correto, honesto, com taninos leves, quase que imperceptíveis e acidez correta.


E fechei com a Espanha. Infelizmente não tinha muitos rótulos da Espanha para degustar, diria que esse foi o ponto negativo do evento. Mas consegui degustar uma casta, popular neste país, que nunca havia tido uma experiência: a Monastrell, da região de Jumilla. O Castillo San Simón Monastrell é um vinho de proposta mais simples, de entrada. 

Mas entregou muito bem a sua proposta, com um vinho de leve a médio corpo, frutado, de taninos finos e sedosos e boa acidez. Não é aquele Monastrell encorpado, típica da casta, mas valeu e muito a minha primeira degustação da referida casta.


Além das degustações e do clima agradável da estrutura do local, um restaurante chamado Villa Toscana, em Niterói, tivemos ótimas degustações de queijos, entre outros quitutes deliciosos que harmonizou maravilhosamente com os rótulos e com a bela noite de degustação, troca de informações, de conhecimento e a certeza de que novos festivais de vinhos virão para que possamos ser “submetidos” a novas experiências de degustações especiais.











quarta-feira, 15 de julho de 2020

Bobal de SanJuan 2016


Hoje é um dia especial para no meu caminho na degustação de vinhos. Não que o meu caminho de um simples e humilde enófilo não tenha sido especial. Todos os momentos em que enchi a taça, a empunhava e levava à boca foi e é especial. O ritual da degustação é fabuloso! Mas esse dia será especial porque serei submetido a algumas novas experiências. Ah quanto maior o percurso no mundo do vinho, menores são as experiências, afinal o universo é vasto, infinito e inexplorado. E hoje o meu caminho segue um novo curso! Novas castas e regiões viníferas se descortinarão diante de mim, meus sentidos serão impactados com a tal nova experiência. Afinal penso que deve ser assim, o mundo do vinho, quando nele imergimos, exige isso: navegar em novas percepções.

E hoje o vinho que degustei e gostei vem da Espanha, da “nova” casta para o meu paladar, Bobal, de uma nova região para mim também, Utiel-Requena, e se chama Bobal de SanJuan, da safra 2016. A Bobal, apesar de não ser tão popular aqui no Brasil, como a Tempranillo, por exemplo, é a segunda mais produzida e plantada na Espanha, e neste vinho a mesma é proveniente de vinhas velhas, com 60 a 80 anos de idade! E a região, Utiel-Requena, acolhe a casta, sendo esta a mais plantada naquela região. Então nada mais pertinente do que falar sobre a história da casta e da região, antes de mencionar as propriedades organolépticas dessa surpreendente e maravilhoso vinho.

Bobal

As primeiras notícias da Bobal datam do século XIV. Da costa de Valência, esta uva estabeleceu-se com sucesso em outras regiões do interior da Espanha. Lugares como Utiel-Requena, Ribera e Manchuela, todas Denominação de Origem Controlada, tem a Bobal como uma das suas principais variedades, chegando seu cultivo ser quase que majoritário. A Bobal é pouco cultivada fora da Espanha, há plantações dela nas regiões de Languedoc-Roussillon, no sul da França, e da Sardenha, na Itália. Dentro dessas regiões é também conhecida por requena, espagnol, benicarlo, provechón, valenciana, carignan d’espagne, balau, requenera, requeno, valenciana tinta ou bobos. Seu nome é derivado da palavra latina Bovale, que significa touro, e refere-se à semelhança que os seus cachos têm com a cabeça de um touro. 

Bobal

É uma uva de porte médio para grande, com bagos redondos e cheios de sumo; além disso, apresentam quantidade razoável de taninos e sabores de chocolate e frutos secos. Seus cachos, por sua vez, são muito grandes, bem compactados e pesados. Dá-se muito bem com climas mediterrâneos. Elabora diferentes tipos de vinhos, com especial destaque para os vinhos rosés, sempre jovens, com muita cor e com boa acidez; a Bobal ainda é responsável pelos aromas frutados destas bebidas. Os tintos desta uva são pouco alcoólicos, mas muito saborosos, vinhos de coloração cereja escura profunda e boa estrutura de taninos. Por sua versatilidade e acidez adequada, a Bobal pode ainda ser ainda utilizada para produzir espumantes. As peles grossas de Bobal têm uma elevada quantidade de uma substância que dá cor intensa aos vinhos, bem como presenteia a bebida com uma presença importante de taninos finos, esse é um dos motivos que tem dado a esta uva um destaque especial na produção espanhola, principalmente na região de Manchuela, cujo status de Denominação de Origem deu respaldo ao cultivo da Bobal e aos os vinhos elaborados com ela frente ao mercado interno e externo.

Utiel-Requena

Espanha possui a maior área cultivada de Vitis Vinifera do mundo, embora em volume de produção ocupe somente a terceira posição. Trata-se de um amplo território o qual nos presenteia, ano após ano, com vinhos exuberantes e geralmente de bastante personalidade: o emblemático Jerez fortificado da Andaluzia, tintos de Rioja, Priorat e Ribera Del Duero, brancos de Rueda, entre outros. É natural que, entre as 13 macrorregiões a qual está dividida, existam sub-regiões as quais permaneçam relativamente ocultas do grande público, mesmo daquele consumidor habitual de vinhos. Algumas preferem manter o “anonimato”, dedicando sua produção ao consumo regional; outras, porém, dedicam esforços incansáveis no sentido de promover seu terroir, suas cepas endêmicas, a tipicidade de seus vinhos e as melhorias em seu processo produtivo. Este é o caso de Utiel-Requena. Recentemente, foram descobertos registros arqueológicos que comprovam que, desde o século V a.C., era praticada a vitivinicultura na região de Utiel-Requena. Sítios arqueológicos como El Molón, em Camporrobles, Las Pilillas, em Requena e Kelin, em Caudete atestam o passado vinícola da região. Quando do domínio romano sobre a região, estes introduziram novas técnicas de vinificação, propiciando a melhora dos vinhos ali produzidos. Utiel-Requena têm sua história também ligada ao período conhecido como Reconquista: a retomada, a partir do século VIII, do controle europeu dos territórios da Península Ibérica, dominados pelos árabes (mouros) desde o século VI. Muitas das cidades da região foram fundadas e/ou possuem grande influência islâmica em suas construções, bem como vestígios de fortalezas e construções mouras, como a cidade de Chera, por exemplo. Em 1238, a região cai sob o domínio do reino de Castela. No século seguinte, após conflitos envolvendo este reino e seu vizinho, Aragão, ocorre a união entre a rainha Isabel (Castela) e Fernando (Aragão), conhecidos como os Reis Católicos, e, após a conquista dos demais reinos ibéricos por estes (exceto Portugal), constitui-se o Reino da Espanha. Utiel-Requena, consequentemente, torna-se domínio espanhol. Durante o século XIX, eclodem na Espanha as Guerras Carlistas, que dividem a população espanhola entre os partidários do absolutismo e do liberalismo; reflexo de outras manifestações do mesmo cunho ocorridas Europa afora. Utiel (absolutista) e Requena (liberal), assim como as demais cidades da região, assumem posições antagônicas, situação somente resolvida com a conclusão da Primeira Guerra Carlista.

Utiel-Requena

Utiel-Requena localiza-se na porção leste do território espanhol, dentro da província de Valencia. Situa-se numa zona de transição entre a costa mediterrânea e os platôs da região da Mancha. Seus vinhedos localizam-se predominantemente entre os rios Turia e Cabriel. A região possui um dos climas mais severos de toda a Espanha. Os verões costumam ser longos e quentes (máximas por vezes de 40 graus), enquanto os invernos são muito frios, com ocorrência freqüente de geadas e granizo (mínimas podem chegar a -10 graus). No entanto, as vinhas encontram-se adaptadas a tais rigores e oscilações e, como atenuante, sopra do Mar Mediterrâneo o Solano, vento frio que ajuda a suavizar o efeito dos quentes verões da região. O solo possui cor escura, de natureza calcária e pobre em matéria orgânica. Utiel-Requena é uma DOP (Denominación de Origen Protegida – Denominação de Origem Protegida) pertencente a Comunidade Valenciana, a qual possui certa autonomia em relação ao governo central espanhol. Não possui sub-regiões.

Agora o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi escuro com entornos violáceos de um reluzente brilho, com um bom número de lágrimas finas e que leva algum tempo para dissipar das paredes do copo, desenhando-o.

No nariz traz um delicado aroma floral e de frutas vermelhas e negras como morango e cereja.

Na boca é frutado, com um ótimo frescor, mas que revela uma personalidade marcante, com uma boa acidez, taninos sedosos e um final de relativa persistência, um retrogosto frutado.

As novas descobertas me fez rememorar os meus tempos de outrora como um simples enófilo em potencial que logo descobrira o mundo maravilhoso desta bebida e que se viu envolvido e deslumbrado. Essa última palavra define muito bem o sentimento por este rótulo: deslumbrado. Um vinho saboroso, harmonioso, equilibrado, de personalidade marcante e peculiar, mas fácil de degustar e de um belo refinamento. 7% do vinho passou 8 meses por barricas de carvalho, sendo que os 93% restantes estagiou, pelo mesmo período, em tanques de cimento. Essa proposta da passagem por tanques de cimento, contemplada pelo projeto Bobal de SanJuan da vinícola, privilegia as características da cepa, a sua essência, sendo certamente um dos motivos do equilíbrio e harmonia do vinho, com muita drincabilidade, personalidade e simplicidade, a nobreza da simplicidade. E esse equilíbrio e harmonia se deve também as vinhas velhas (60 a 80 anos de idade!) que entregam vinhos mais redondos, sem sombra de dúvida. Um vinho que harmoniza bem com pratos mais simples a elaborados, bem como uma solitária degustação. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Valsangiacomo:

As origens de Cherubino Valsangiacomo remontam a 1831, na Suíça. Nesse ano, Vittore Valsangiacomo fundou uma vinícola com seu nome em Chiasso, no cantão suíço de Ticino, próximo à fronteira com a Itália. É a primeira vinícola da família. No final do século XIX, seu filho Cherubino Valsangiacomo decidiu abrir uma empresa de exportação de vinhos em Valência e Alicante, atraído pelas condições logísticas de seus portos e pelos excelentes frutos da terra. Cherubino, como seu pai, coloca seu nome nas vinícolas. Em 1890, o negócio se tornou tão importante que Cherubino Valsagiacomo possui várias instalações em Chiva, Requena, Utiel, Monóvar, Yecla e Grao de Valencia, a última sede da empresa até 1997. Nesse ano, Cherubino assumiu um importante compromisso com o futuro. e qualidade e é transferido para Chiva, cujas instalações são providas dos meios apropriados para o tratamento e armazenamento de vinhos a granel e equipadas com uma planta concentrada de produção de suco de uva, aumentando e melhorando a capacidade das instalações. Em 2002, as vinícolas foram ampliadas e modernizadas, criando uma nova planta e uma linha de engarrafamento, que incorporaram as melhores condições e as mais modernas técnicas de controle de qualidade na produção de nossos vinhos. Em 2008, iniciou-se o projeto bobal da SanJuan, com o objetivo de produzir vinhos 100% tintos e rosés a partir de videiras bobal velhas, fermentadas e amadurecidas em tanques de cimento bruto. As antigas instalações da Coop de San Juan adaptam-se à nova maneira de produzir e envelhecer uvas bobal, preservando sempre o valor do cimento bruto. O projeto é concluído com a aquisição de um lote de bobal centenário em um navio de 10 hectares localizado a 750m do nível do mar no município de Requena.

Projeto Bobal de SanJuan

A produção de vinhos de San Juan é baseada no trabalho com a matéria-prima, a uva . O trabalho com os viticultores concentra-se na seleção de vinhedos, estabelecendo as diretrizes que favorecem as características que são posteriormente transmitidas no vinho. As práticas agrícolas tradicionalmente focadas na obtenção de quantidade são modificadas por aquelas que, respeitando a identidade da variedade, favorecem a qualidade, como o equilíbrio do vigor das plantas, a interpretação das características edáficas, genéticas e climatológicas de cada vinhedo como entidade individual. A maturação adequada, marca a entrada do vinho da uva, evitando maturações desnecessárias que prejudicariam o perfil fresco dos vinhos que buscamos. O trabalho na adega, todo em tanques de concreto bruto, baseia-se na preservação das características aromáticas da uva, e na maceração respeitosa durante a fermentação, principalmente com base no delastage e no bombeamento suave, dependendo da uva em cada depósito. Uma pequena quantidade é transferida para litros franceses de 500 litros e o restante do vinho passa por fermentação malolática e subsequente envelhecimento em um tanque de cimento até o engarrafamento, onde aproximadamente uma pequena porcentagem de Bobal com 6 meses de idade é misturada com o vinho e criado em cimento. Atualmente, a quinta geração da família Valsangiacomo é responsável pelo gerenciamento direto da vinícola, mostrando um compromisso com seu futuro e desenvolvimento.

Mais informações acesse:


Fonte para a história da casta Bobal e da Região de Utiel-Requena:





sábado, 11 de julho de 2020

Coppiere Montepulciano D'Abruzzo 2016


Nada melhor do que “degustar” a tradição de um país. A tipicidade de um país dentro de um pequeno recipiente, dentro de uma garrafa, mas que revela uma grandiosidade significativa da tipicidade, da cultura vitivinífera de uma emblemática região produtora. Há quem diga que para entender e definir tais quesitos é preciso ter um detalhado conhecimento do terroir de uma região ou de um país, talvez seja verdade, mas o simples fato de saber que está degustando uma casta tradicional, de uma importante região, nos transportamos para aquele país e região, em uma viagem enológica que nos propicia prazer e a sensação, mais do que evidente, de uma celebração, uma genuína ode ao vinho.

A tradição vem da região de Abruzzo, na Itália, a casta é a Montepulciano, e o vinho que degustei e gostei é o Coppiere, um DOC (Denominação de Origem Controlada), da safra 2016, do Grupo Schenk Wineries. Eu havia degustado, um tempo atrás, o Nero d’Avola da Coppiere e tive uma grata surpresa com o vinho, que fiz uma resenha e que pode ser lida aqui: Coppiere Nero D'Avola 2018. Um vinho correto, honesto, bem feito e no que se propôs a entregar foi pleno, perfeito. Então decidi comprar o Montepulciano d’Abruzzo, um tradicional vinho da Velha Bota e o custo X benefício, como o Nero d’Avola, foi surpreendente. Mas antes de falar do vinho, uma breve história da Montepulciano e o seu berço, Abruzzo.

Montepulciano e Abruzzo

Antes de qualquer coisa não confundir a casta Montepulciano com a região chamada Montepulciano que fica na Toscana. A casta Montepulciano tem sua base na região de Abruzzo, já a região Montepulciano traz vinhos com a casta predominante na Toscana, a Sangiovese. A uva tinta Montepulciano é cultivada em regiões da Itália banhadas pelo mar Adriático como Abruzzo, Molise e Marches. Além dos excelentes vinhos varietais que elabora, a Montepulciano dá origem a bons vinhos de corte, especialmente quando é combinada às uvas Sangiovese e Syrah. Os vinhos à base dessa variedade de uva apresentam sabor leve, baixa acidez, taninos suaves e coloração escura e densa. Os aromas mais frequentemente encontrados nesses rótulos são os de cereja, amora preta, notas de cacau e tabaco. Podendo ser consumidos ainda jovens, os vinhos elaborados a partir da uva Montepulciano também são excelentes exemplares de guarda, com a capacidade de envelhecer por décadas. Suas melhores harmonizações se dão com pratos mais encorpados como guisados, carnes de cordeiro ou de porco. Massas que apresentem molhos vermelhos e temperos fortes são ótimas escolhas para acompanhar os vinhos Montepulciano. Seus melhores vinhos Montepulcianos são da parte norte de Abruzzo, sendo que grande parte provém do distrito de Chieti. Assim, a região é considerada uma das maiores produtoras de vinhos italianos, tornando-se fundamental para viticultura do país. Tanto é que eles são comercializados sob a denominação de origem. Abruzzo está localizada na parte centro-oriental da Itália, ela é cercada por uma natureza exuberante e paisagens de tirar o fôlego. Além de vilarejos charmosos e uma culinária que provoca nosso paladar.

Abruzzo, Itália

É uma região montanhosa, formada por várias colinas e quilômetros de praias, incluindo a imponente cordilheira dos Appennini. Dessa forma, Abruzzo apresenta vários microclimas que favorecem as condições ideais para o cultivo de varietais importantes, como a Trebbiano e a Montepulciano. Ao norte, o cenário é composto por terrenos arenosos; já no sul, encontram-se terrenos marcados por uma vegetação mediterrânea. A temperatura média anual varia entre 8 e 12 ºC nas áreas montanhosas e de 12 a 16 ºC na parte marítima.

Agora o vinho!

Na taça um vermelho rubi com reflexos violáceos vivos e brilhantes. Com uma profusão de lágrimas finas, porém que logo se dissipam das paredes do copo, devido, é claro, do baixo teor alcoólico do vinho, característico da casta Montepulciano.

No nariz não é tão aromático, mas traz notas de frutas vermelhas e negras, tais como: cereja, morando, com toques de tabaco, denotando certa rusticidade.

Na boca é seco e, por ser um vinho jovem, é macio, fácil de degustar, leve e agradável. É frutado, tem uma acidez evidente para um tinto, porém equilibrado, não tão elevada, taninos presentes, mas delicados e com uma adstringência discreta sem agredir ao palato. Um retrogosto persistente e frutado.

Um vinho redondo, agradável e com um excelente custo X benefício, o que me parece não ser muito comum, sobretudo vinhos com essa casta ofertadas no Brasil, onde tenho a impressão de que são poucos. E esses poucos rótulos disponíveis para venda no Brasil estão em um preço elevados e que tem a mesma proposta do Coppiere Montepulciano d’Abruzzo, que custou, pasmem: R$ 25,90! Como todo bom vinho italiano é muito gastronômico e harmoniza muito bem com carnes mais gordurosas e encorpadas e massas com temperos mais proeminentes, sendo este último o que usei para a harmonização e ficou fantástico. Nada como uma boa massa com um vinho tradicional italiano. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Schenk Wineries:

As vinícolas italianas de Schenk são de longe um dos produtores de vinho mais importantes a nível nacional. Fundada em 1952 em Reggio Emilia e transferida em 1960 para Ora, no sul do Tirol, a sede da primeira vinícola está intimamente ligada à área de produção. Este foi o primeiro passo do projeto "Vinícolas Italianas". Através deste projeto, a empresa, anteriormente dedicada ao engarrafamento de vinho a granel, torna-se produtora antes de tudo com o desenvolvimento de “Marcas da terra”, graças à colaboração com pequenos produtores de alta qualidade localizados nessas regiões, historicamente mais vocacionados para produção de vinho como Tirol do Sul, Toscana, Veneto, Sicília, Piemonte, Apúlia e Abruzzo. Em segundo lugar, através da aquisição das vinícolas “Bacio della Luna” em Vidor - Valdobbiadene (Treviso) e “Lunadoro” em Valiano di Montepulciano (Siena). Um caminho evolutivo começou há muitos anos, com o objetivo de fortalecer os laços com a terra e as tradições. Esses valores, juntamente com as fortes oportunidades oferecidas pelo progresso tecnológico, permitem que as vinícolas italianas da Schenk trabalhem de maneira sustentável.

Mais informações acesse:


Fonte sobre a Montepulciano e Abruzzo:








terça-feira, 7 de julho de 2020

Santa Helena Seleccion Del Directorio Cabernet Sauvignon e Syrah 2012


Esse vinho tem história em minha vida. Tem fator, um valor sentimental que definiu e traçou as minhas percepções de enófilo e que me fez enveredar para os vinhos finos, produzidos por cepas vitis viníferas. Seus vinhos foram responsáveis para a transição dos simples vinhos de mesa, os famosos “vinhos de garrafão”, os “vinhos coloniais”, para os vinhos finos, estimulou o meu ávido interesse para o caminho do aprendizado do universo rico e ainda inexplorado mundo do vinho. Ah como ele foi e ainda é importante para mim, esse simples apreciador de vinhos que, por mais que busque novas experiências e sensações, sempre nos lembramos do nosso início, dos nossos primeiros passos e os quantos ainda têm a percorrer. Comecei a degustar os vinhos de entrada, os mais simples e fui degustando a sua história, passo a passo, degrau por degrau. Ele passeou, transitou por tanto tempo em minhas taças, as lembranças de bons momentos que ele protagonizou nas minhas celebrações, foram determinantes para o que sou hoje como enófilo e sinto sim orgulho disso tudo.

E o ápice, o cume desse momento se deu com um vinho fantástico, um vinho que degustei e gostei e que veio do Vale do Colchagua, é o Santa Helena Selección Del Directório composto pelas castas Cabernet Sauvignon (85%) e Syrah (15%), da safra 2012. Embora no rótulo esteja estampado apenas “Cabernet Sauvignon” ele, pelo menos para mim, é um corte. Mas a legislação chilena garante ao vinho a condição de um varietal, pois o é porque o Cabernet Sauvignon leva mais de 75% da composição do vinho. E que vinho! Um vinhaço!

Na taça o vinho se revela com um vermelho rubi intenso e profundo, intenso e brilhante, um tom lindamente reluzente, com lágrimas em profusão, finas e abundantes que teimavam em desaparecer das paredes do vinhos, desenhando-as.

No nariz é uma explosão aromática de frutas negras, com toque de baunilha e tabaco, diria um toque de especiarias, conferido pelos seus 10 meses de passagem por barricas de carvalho.

Na boca é frutado, estruturado, com alguma complexidade, mas macio, elegante com taninos presentes, mas delicado e domado, um toque amadeirado, de tosta, com acidez correta e um final longo e persistente.

Um vinho de grande personalidade, mas fácil de degustar, afinal o tempo em barricas de carvalho lhe conferiu equilíbrio, tornando-o harmonioso, mas, ao mesmo tempo, complexidade, elegância e um toque delicado. E olha que, quando o degustei, em 2017, ele já tinha 5 anos de vida! E ainda se mostrou vivo e pleno! Um vinho, uma vinícola que fez parte da minha história, uma história ainda viva, que ainda caminha graças ao que a Santa Helena me revelou e revela ao longo do tempo. Tem 14% de teor alcoólico muito bem integrado.

Sobre a Vinícola Santa Helena:

No início do século XX, no Chile, um amado produtor de vinho ficou seriamente doente. Sua família e trabalhadores dedicaram-se a cuidar dele, o que fez que seu campo sofresse uma notável deterioração. Helena, sua filha, vendo como o campo perdeu seu encanto, partiu para reviver todas as videiras do vale. Com determinação e dedicação, ele conseguiu devolver a qualidade e seu pai, uma vez recuperado, decidiu batizar seus vinhos com o nome "Santa Helena", em homenagem a sua filha. Juntos, eles aperfeiçoaram e completaram o trabalho enológico, cujo legado durou até hoje. A Viña Santa Helena, fundada em 1942 e com mais de 75 anos de experiência, está localizada no Vale Central, o vale mais característico do Chile. A qualidade do vinho nasce na vinha, por isso a nossa atenção e energia começam na terra, preocupando-se com a gestão sustentável de todos os nossos processos agrícolas. O Vale Central tem ótimas condições naturais de clima e solo, que permitem uma terra fértil e perfeita para a produção de vinhos de alta qualidade, refletidos em nossas diferentes linhas. Em 1994 a vinícola Santa Helena foi adquirida pelo VSPT Wine Group, grupo composto pelas seguintes vinícolas: San Pedro, Tarapacá, Leyda, Santa Helena, Misiones de Rengo, Viña Mar e Casa Rivas no Chile, e por duas vinícolas argentinas, a La Celia e a Tamarí. Apesar da grande diversidade de marcas, o Grupo mantém a identidade de cada uma das vinícolas, que produzem o seu próprio vinho com as próprias características. Atualmente a vinícola Santa Helena é uma das 10 maiores exportadoras do Chile e seus vinhos estão em mais de 45 países, nos 5 continentes. Os principais mercados são: Brasil, Finlândia, Japão, Coreia do Sul e Reino Unido.

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Degustado em: 2017



segunda-feira, 6 de julho de 2020

Armador Cabernet Sauvignon 2015


Tradição é estabelecimento de qualidade! E no mundo do vinho não é muito diferente essa máxima. Algumas “marcas registradas” trazem a confiabilidade, a tão importante credibilidade de que esperamos no difícil momento da escolha de um vinho. Uma região importante, um produtor de renome e idôneo, uma casta de predominância internacional entre vários outros fatores, podem ser preponderantes para uma boa degustação, não duvido disso. Mas também pode te escravizar, te engessar, as vezes é preciso “ousar” e correr riscos para que você se permita buscar novas experiências, novas e possíveis gratas sensações. Mas nessa degustação a tradição e a idoneidade pesaram firmes e de forma avassaladora. Foi uma das minhas grandes e inesquecíveis experiências de degustação. É consenso que no Chile se produz um dos melhores Cabernet Sauvignon do mundo, como também é unânime que podemos encontrar os melhores vinhos orgânicos. Eu consegui aliar esses dois quesitos em um vinho e o resultado foi...

O vinho que degustei e gostei veio da emblemática região do Vale do Maipo, Chile, da famosa vinícola Odfjell, é o Armador da casta Cabernet Sauvignon (100%) da safra 2015. Um maiúsculo vinho chileno, arrebatador, excelente!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso e profundo, mas com bordas violáceas muito brilhantes e reluzentes. Tinha lágrimas finas e em profusão, que demoravam a se dissipar desenhando as bordas do copo.

No nariz traz uma explosão aromática de frutas vermelhas e negras, maduras, como cerejas e amoras, com toques generosos de especiarias, como pimenta preta, o toque de baunilha também é evidente, mas bem equilibrado.

Na boca é estruturado, robusto, mas equilibrado, elegante e harmonioso, o tornando, apesar de encorpado, muito fácil de degustar, com taninos maduros, gordos, mas sedosos e calmos, com acidez correta. Um toque discreto da madeira, com um agradável toque de madeira, tostado e chocolate meio amargo, graças aos 20% do vinho passar por 6 meses por barricas de carvalho e os outros 80% permaneceu em tanques de aço inoxidável. Tem um final persistente e frutado.

Sem sombra de dúvida que o Armador foi um dos melhores vinhos orgânicos de que degustei, trazendo toda a tipicidade de um Cabernet Sauvignon tipicamente chileno, o terroir se fez presente, a tradição se fez presente neste vinho. A cultura de um povo produtor de vinho embalado em uma garrafa. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Odjfell Vineyards:

Há mais de 25 anos, o construtor pioneiro norueguês Dan Odfjell descobriu e se apaixonou por um pequeno canto do famoso Vale de Maipo, no Chile. Nascido na cidade chuvosa de Bergen, Noruega, ele não conseguiu resistir à atração do sol do sul de um lugar tão poético. Hoje, a vinha é dirigida por seus filhos Laurence e Dan Jr., que participam ativamente da promoção de vinhos nos mercados internacionais e que também fazem parte do diretório de Odfjell Vineyards S.A. Fundada no espírito explorador da família Odfjell como armadores noruegueses (Daí o nome do vinho “Armador”, em homenagem ao espírito aventureiro da família) e na sua paixão pelo vinho, Odfjell Vineyards procura produzir vinhos de qualidade únicos de forma sustentável. A visão Odfjell Vineyards transforma seu espírito pioneiro em capturar o melhor do Chile em uma garrafa. Acreditamos firmemente na sustentabilidade como um dos nossos princípios e procuramos constantemente entregar vinhos memoráveis ​​de forma a gerar valor para os nossos acionistas, funcionários e parceiros estratégicos.

Projeto biodinâmico e orgânico da Odfjell Vineyards:

Desde o início da Odfjell Vineyards, a visão dos proprietários é trabalhar em harmonia com o meio ambiente. O primeiro passo foi eliminar o uso de produtos químicos. Depois de alguns anos, essa decisão permitiu que eles seguissem em direção ao manejo orgânico e certificassem todas as nossas vinhas pela IMO na Suíça. Mais tarde, em 2009, começaram a explorar as culturas biodinâmicas nas vinhas do sul, para finalmente concluir essa transição com as vinhas de Padre Hurtado. Em 2012, a certificação DEMETER reconheceu 100% de nossas vinhas como biodinâmica.

Práticas ambientais:

Seguindo a missão e os valores, para melhorar a gestão ambiental, eles trabalham constantemente na avaliação e estabelecimento de práticas e procedimentos que melhoram sua gestão, como:

1 - A produção do composto orgânico e biodinâmico em si é feita de vassouras e bagaço misturado com estrume de nossos cavalos fiordes, reduzindo assim o impacto dos resíduos.

2 - Plantação de pasto entre vinhedos para melhorar os níveis de nitrogênio no vinhedo.

3 - Plantio de flores e desenvolvimento de "ilhas ecológicas" para atrair insetos benéficos (predadores naturais) e aumentar a biodiversidade do ecossistema da vinha.

4 - Apicultura com abelhas próprias para contribuir para o equilíbrio natural.

5 - Uso dos Cavalos do Fiorde para trabalhar as vinhas, evitando assim a compactação do solo causada pelas máquinas.

6 - Medição das emissões de CO2 e implementação de um plano proativo para reduzi-las a cada ano.

7 - Incentive o uso de vidro ecológico apenas com a seleção de garrafas leves e, assim, minimize as emissões de CO2 do transporte.

8 - Incentive o uso de papel reciclado em nossas caixas, reduzindo o desmatamento.

9 - Implemente um programa ativo de reciclagem para todos os tipos de resíduos: plásticos, papéis, papelão, vidro e material orgânico.

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Degustado em: 2019


Luigi Cecchi Sangiovese di Toscana 2015


Lembro-me que quando comecei a degustar vinhos eu iniciei também um intenso processo de pesquisa para conhecer um pouco mais sobre os países que são grandes produtores, das regiões emblemáticas e suas cepas tradicionais. Afinal eu precisava trilhar um caminho para seguir sem sombras, ter o mundo do vinho esclarecido e descortinado diante dos meus olhos e sentidos. E claro que nessa viagem eu me deparei com a Itália. A Itália e seus vinhos maravilhosos, de história rica e ilibada. E uma vez me falaram que o símbolo da Itália era a casta Sangiovese, era a menina dos olhos da Velha Bota. Mas inicialmente eu não degustei um vinho dessa casta. Ainda um pouco “inexperiente” no mundo dos vinhos, não conseguia encontrar nos supermercados um vinho com essa casta. Mas até que um dia caminhando despretensiosamente pelo supermercado, encontrei um Sangiovese e mais: da tradicional região da Toscana, que é praticamente o berço da casta! Fiquei eufórico e pensei em silêncio: Finalmente vou degustar um Sangiovese! Comprei!

Um vinho surpreendente! Um vinho extremamente versátil e saboroso! Mas não vou adiantar, pelo menos agora, os detalhes do vinho, mas vou apresentar o vinho que degustei e gostei da já referida Toscana, da casta Sangiovese, da Família Cecchi, da safra 2015, um Indicação Geográfica Típica. Antes eu não posso deixar de falar um pouco da clássica “Sangiovese”.

Sangiovese:

Algumas teorias em torno da origem da casta datam seu cultivo desde a vinicultura romana, e parte disso se dá por conta do nome dela. Sangiovese vem do latim “Sanguis Jovis”, ou seja, sangue de Júpiter. Outros garantem que ela já existia desde a civilização Etrusca, que viveu onde hoje é a Toscana entre 1.200 e 700 a.C. De qualquer maneira, o primeiro documento encontrado a respeito da uva é de 1590, na própria Toscana. Seu reconhecimento, no entanto, só aconteceu depois do século XVIII, quando passou a ser uma das castas mais plantadas da região, onde encontra condições perfeitas de crescimento. Foi na Toscana que, em meados do século XIX, o agricultor Clemente Santi isolou suas vinhas para uma prática pouco comum na época: fabricar vinhos varietais de Sangiovese, que envelheceriam por um período considerável. Em 1888, seu neto Ferruccio Biondi-Santi, um veterano soldado que lutou ao lado de Giuseppe Garibaldi, lançou a primeira versão moderna do Brunello di Montalcino, um vinho que descansou por mais de uma década em barris de madeira. O vinho agradou tanto os toscanos que, nas primeiras décadas do século XX, já era aguardado ansiosamente por críticos e consumidores locais. Ao redor de 1950, a fama do Brunello extrapolou os limites italianos e fez dele um fenômeno mundial. A guinada final da Sangiovese foi dada nos anos 1960 e 70, quando aconteceu uma revolução enológica que deu origem aos chamados Supertoscanos. Nessa época, os vinhos mais importantes da região eram largamente conhecidos, mas não reconhecidos. Alguns vinicultores acreditavam que as regras de produção estabelecidas os impediam de fazer um vinho de maior qualidade, utilizando, além da Sangiovese, uma pequena porcentagem de castas internacionais e técnicas mais modernas. Eles então se “rebelaram” e passaram a produzir vinhos da maneira que achavam certo, sem se importar com as regras que lhes garantiam o selo DOC. O resultado foram vinhos de alta qualidade e preço, que mais tarde ficaram conhecidos como Supertoscanos. A Sangiovese é cultivada em cerca de 100 mil hectares (o que corresponde a quase 10% de toda a área plantada dos páis) e contribui com 15% dos vinhedos que resultam em vinhos DOC. Ela é cultivada em 18 regiões, 70 províncias e dá origem a mais de 190 tipos de vinho diferentes. Os italianos gostam de pensar que a casta é o equivalente italiano à Cabernet Sauvignon, tanto por seu potencial de envelhecimento quanto pela versatilidade, uma vez que se dá bem tanto em vinhos varietais quanto em grandes blends. Em sua casa, na Toscana, em seu estilo mais tradicional, a uva – de cor rubi intensa e cachos bem carregados – dá origem a vinhos herbáceos e com sabores de cereja, além de ter acidez alta e taninos marcantes. Por isso, pode envelhecer por anos, como é o caso dos Brunello di Montalcino.

Agora o vinho!

Na taça o vinho apresenta um vermelho rubi intenso com reflexos violáceos brilhantes e vivo! Há uma boa quantidade de lágrimas, mas que logo se dissiparam.

No nariz tem um delicado e elegante toque frutado, lembrando frutas vermelhas em compota, como cereja e morando, por exemplo. É perceptível também o toque floral, ampliando ainda mais os aromas.

Na boca se reproduz as impressões olfativas, mostrando-se frutado, com alguma estrutura, personalidade marcante, mas muito harmonioso, redondo e fácil de degustar, certamente pelo tempo que evoluiu na garrafa antes de sair da vinícola, por dois meses. Com uma boa acidez e taninos presentes, mas sedosos.

Enfim, a minha primeira experiência com um vinho 100% Sangiovese não poderia ter sido melhor. Um vinho de ótima drincabilidade, de forte personalidade, mas redondo, fácil de beber, revelando um novo “Sangiovese”, agradável e saboroso. Harmoniza muito bem com massas ou até mesmo degustando-o sozinho. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Família Cecchi:

Tudo começou em 1893, quando Luigi Cecchi se tornou um provador profissional de vinhos e entendeu o potencial da vinificação italiana.  Foi Cecchi quem iniciou uma jornada que levou ao que agora pode ser definido como uma mistura perfeita entre inovação e tradição. É na capacidade de prever o futuro que um dos segredos do sucesso da Família Cecchi se estabelece; uma espécie de presente entregue de pai para filho. Todos os passos dados pela vinícola ao longo de sua história foram precedidos de experimentações cuidadosas e completas, e é o respeito pela tradição que sempre levou a família a tomar suas decisões diárias.

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Fonte para a pesquisa da história da Sangiovese:


Degustado em: 2016



segunda-feira, 29 de junho de 2020

Viña Brava Parellada e Garnacha Blanca 2014


Estava eu em uma das minhas inúmeras incursões aos supermercados para garimpar algum vinho interessante cujo preço não impacte tanto no bolso já combalido. Na realidade estava querendo alguma novidade também em termos de proposta de vinho. Algo novo e diferente em meu simples e humilde currículo de enófilo, talvez uma casta pouco conhecida, uma região pouco comentada, um vinho que me entregasse algo pouco usual tão comum nos supermercados. E, olhando um pouco mais de detalhe achei, jogado na parte mais baixa da gôndola, entregue a própria sorte, um vinho empoeirado, com um preço até atrativo, em torno dos seus R$ 19,00 e, nesse quesito já me chamou a atenção. Tomei o mesmo em minha mãos e olhando um pouco mais percebi que era de uma vinícola tradicional da Espanha, de uma região que nunca havia degustado um vinho sequer e duas castas que nunca tinha ouvido falar. Pronto! Era tudo o que eu precisava! Atendia as minhas necessidades de momento! Levei!

Não demorei muito para abri-lo e quando o desarrolhei fiquei preocupado, receoso, afinal, a safra era um tanto quanto “antiga” para um vinho, 2014, talvez se justificasse o preço por esse motivo, mas quando o servi na taça e levei à boca me surpreendi de uma forma que jamais esperaria! Fantástico vinho, incrível rótulo! O vinho que degustei e gostei veio, como disse da Espanha, da região da Catalunha, e se chama Viña Brava um corte das castas Parellada e Garnacha Blanca. Mas antes de falar entusiasticamente do vinho, falarei um pouco dessas castas “novas” para mim, bem como da região da Catalunha.

Parellada

A uva Parellada, nativa da Catalunha, é cultivada exclusivamente em sua região de origem e participa da composição do prestigiado vinho espumante Cava. Conhecida também como Montonec ou Montonega, essa variedade de uva é cultivada nas montanhas do Alto Penedès, a 600 metros acima do nível do mar. A Parellada atinge o ápice qualitativo quando cultivada em grandes altitudes, onde as baixas temperaturas favorecem sua acidez natural e necessita de um período maior de tempo para desenvolver todos os seus compostos aromáticos. Essa variedade é utilizada, principalmente, na fabricação de alguns dos melhores espumantes espanhóis, o Cava, ao lado das uvas Xarel-lo e Macabeo. A Parellada, considerada a uva mais elegante e refinada entre as três variedades, é responsável por adicionar acidez e frescor aos exemplares. Os vinhos elaborados a partir da uva Parellada apresentam aromas florais e cítricos, além de serem exemplares extremamente delicados, ricos em acidez, aromáticos, com coloração brilhante e contam com a presença de um baixo teor alcoólico.

Garnacha Blanca

Nativa do norte da Espanha, a Grenache Blanc é mais conhecida por fazer parte da composição de excelentes vinhos brancos franceses, em especial, o tradicional vinho Chateauneuf-du-Pape. Conhecida como Garnacha Branca na Espanha, ela é uma variante branca da casta Grenache Noir e já foi uma das castas mais importantes da França, até perder o posto de quarta uva mais plantada no país para a Sauvignon Blanc (atrás da Ugni Blanc, Chardonnay e Sémillon). Essa variedade dá origem a vinhos com coloração dourada e está sendo cada vez mais utilizada na elaboração de excelentes varietais, no entanto, encontramos a Grenache Blanc com maior facilidade em blends, por ser uma uva extremamente aromática, exibindo aromas frutados de maçã verde e melão e adicionando características típicas do ambiente em que foi cultivada ao resultado final de qualquer vinho.

Catalunha

A região da Catalunha, no norte da Espanha, é a área vinícola com maior número de DOs (Denominação de Origem) do país. Entre as mais importantes encontram-se Costers del Segre, Montsant e Penedès, além da reputada DOC Priorato, a segunda mais reconhecida na Espanha. Lar do famoso espumante espanhol Cava, a região da Catalunha possui solos chamados de 'licorella' e apresenta um baixo índice pluviométrico, fazendo com que as videiras apresentem baixa produtividade e as uvas tornem-se muito concentradas. Consequentemente, os vinhos elaborados na região possuem coloração tinta profunda, excelente textura e taninos finos.

Catalunha

É em Penedès Central, na região espanhola de Sant Saurndí d’Anoia, que ocorre a elaboração do famoso Cava, vinho espumante produzido pelo método tradicional com, no mínimo, nove meses de contato com as leveduras. Diferentes uvas podem integrar a composição do vinho Cava, classificando os exemplares entre os estilos branco ou rosado, que também variam em nível de doçura. Apesar de utilizarem-se métodos de produção similares, o sabor encontrado no Cava é diferente do Champagne, principalmente pela distinção das uvas utilizadas: enquanto um é produzido a partir das uvas Pinot Meunier, Chardonnay e Pinot Noir, o Cava é elaborado com as castas Parellada, Macabeo e Xarel-lo. Já a região do Priorato é conhecida por ter recebido o título máximo de denominação espanhola, elaborando vinhos com castas autóctones cultivadas na Catalunha. Outra região vinícola importante é Montsant, lar de alguns dos melhores e mais renomados produtores da Espanha e a denominação de origem mais nova da Catalunha, regulamentada somente em 2001.

E finalmente o vinho!

Na taça apresenta um amarelo com reflexos dourados, vivo e brilhante com pouca incidência de lágrimas.

No nariz, apesar da safra “antiga” para um vinho branco com essa proposta, ainda estava pleno e vivo, apresentando frescor e muito frutado, com notas de abacaxi, maça verde e pera.

Na boca é muito fresco, com notas joviais e muita elegância, se mostrando redondo e equilibrado, reproduzindo a fruta com evidência para maçã verde e abacaxi, com acidez correta e um final longo e persistente.

Um vinhaço muito bem produzido e mostrando a relevância tradicional da Família Torres na Espanha. Harmoniza muito bem com carne branca, peixes e frituras ou simplesmente sozinho. Um vinho descontraído, informal e ainda muito jovem. Acho que o degustei no tempo certo. Tem 11,5% de teor alcoólico.

Sobre a Familia Torres:

Falar da vinícola Torres é falar de um império que impõe respeito no mundo dos vinhos. Com mais de 1.300 hectares de território plantado, a Torres é hoje a maior vinícola da Espanha. Sua reputação lhe conferiu inúmeras premiações, como a de melhor vinícola européia do ano, promovida pela revista “Wine Enthusiast” em 2006. A Família Torres administra também a Miguel Torres no Chile e a Marimar Estate nos Estados Unidos. Fundada em 1870, em Penedés, a nordeste da Espanha, a vinícola Torres nasceu de uma parceria entre dois irmãos de uma família que desde o século XVII cultivava vinhas, mas sem apelo comercial. Jaime Torres era o irmão que dominava o comércio com as Américas, enquanto Miguel Torres dominava a produção de vinhos. Juntos começaram o negócio familiar focados no mercado externo, vendendo seus vinhos em barris, sem imaginar a dimensão que a Torres tomaria. A vinícola logo começou a ganhar visibilidade e recebeu ilustres visitas em sua sede, como a do rei Afonso XIII em 1904. Poucos anos depois, já na segunda geração da família, nasceu a primeira marca da Família Torres: a Coronas, marca que deu fama mundial à vinícola e que é reconhecida até os dias de hoje. Essa mesma geração foi também responsável pelo início da produção de brandies, o vinho fortificado da Torres. Tamanha fora sua aceitação e sucesso no mercado externo que tornou a Torres a maior exportadora de brandy do país. Os negócios iam bem, até que veio a guerra civil espanhola e em 1939 a vinícola foi parcialmente destruída por um bombardeio. Ao fim da guerra, iniciou-se a reconstrução da vinícola e os vinhos passaram a ser vendidos pela primeira vez em garrafas. Nos anos seguintes, nasceram marcas como Sangre de Toro, produto de entrada da Torres produzido a partir de Garnacha e Cariñena, e Viña Sol, feito a partir das castas Parellada e Garnacha Blanca com uma proposta de frescor. Próximo ao centenário, a vinícola aderiu à vitivinicultura moderna, começou a cultivar variedades estrangeiras, como a Cabernet Sauvignon e a Chardonnay e a utilizar tanques de inox para a fermentação. Em 1979, a Torres expandiu seus negócios para outros territórios. Nasceu a Miguel Torres no Chile e alguns anos depois, a Marimar Estates em Sonoma, nos Estados Unidos. Seus vinhos traduzem a tradição e o conhecimento da família aliados à riqueza do terroir dessas regiões. Na Espanha, a Torres ampliou seu negócio para outras terras e está hoje em regiões como Ribera Del Duero, Rioja, Jumilla, Toro, Rueda, Priorato e Penedés, produzindo uma variedade de castas autóctones, como Tempranillo, Monastrell, Garnacha e Cariñena e castas internacionais, como Syrah, Merlot, Sauvignon Blanc e Riesling. Sua produção chega a atingir mais de 40 milhões de litros por ano e seus vinhos estão presentes em mais de 140 países. Reputação deste império que é a vinícola Torres a tornou um ponto turístico muito procurado por amantes do vinho de diversos países, chegando a receber mais de 130.000 visitantes por ano somente na sede de Penedés. Se você estiver na Espanha e tiver a oportunidade de visitar, vale gastar algumas horas desfrutando de seus vinhos, ampliando seu conhecimento sobre esta marca histórica e apreciando a natureza incrível no entorno de suas sedes. São três os locais que permitem visitação: a sede de Penedés (Parcs Del Penedés), principal local de visitação, a vinícola de El Lloar no Priorato e o Castelo de Milmanda, em Conca de Barberà.
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Fontes pesquisadas sobre as castas e a região:

Mistral, em:


Degustado em: 2019