Lembro-me que quando comecei a degustar vinhos eu iniciei
também um intenso processo de pesquisa para conhecer um pouco mais sobre os
países que são grandes produtores, das regiões emblemáticas e suas cepas
tradicionais. Afinal eu precisava trilhar um caminho para seguir sem sombras,
ter o mundo do vinho esclarecido e descortinado diante dos meus olhos e
sentidos. E claro que nessa viagem eu me deparei com a Itália. A Itália e seus
vinhos maravilhosos, de história rica e ilibada. E uma vez me falaram que o
símbolo da Itália era a casta Sangiovese, era a menina dos olhos da Velha Bota.
Mas inicialmente eu não degustei um vinho dessa casta. Ainda um pouco “inexperiente”
no mundo dos vinhos, não conseguia encontrar nos supermercados um vinho com
essa casta. Mas até que um dia caminhando despretensiosamente pelo supermercado,
encontrei um Sangiovese e mais: da tradicional região da Toscana, que é
praticamente o berço da casta! Fiquei eufórico e pensei em silêncio: Finalmente
vou degustar um Sangiovese! Comprei!
Um vinho surpreendente! Um vinho extremamente versátil e
saboroso! Mas não vou adiantar, pelo menos agora, os detalhes do vinho, mas vou
apresentar o vinho que degustei e gostei da já referida Toscana, da casta
Sangiovese, da Família Cecchi, da safra 2015, um Indicação Geográfica Típica.
Antes eu não posso deixar de falar um pouco da clássica “Sangiovese”.
Sangiovese:
Algumas teorias em torno da origem da casta datam seu cultivo
desde a vinicultura romana, e parte disso se dá por conta do nome dela.
Sangiovese vem do latim “Sanguis Jovis”, ou seja, sangue de Júpiter. Outros
garantem que ela já existia desde a civilização Etrusca, que viveu onde hoje é
a Toscana entre 1.200 e 700 a.C. De qualquer maneira, o primeiro documento
encontrado a respeito da uva é de 1590, na própria Toscana. Seu reconhecimento,
no entanto, só aconteceu depois do século XVIII, quando passou a ser uma das
castas mais plantadas da região, onde encontra condições perfeitas de
crescimento. Foi na Toscana que, em meados do século XIX, o agricultor Clemente
Santi isolou suas vinhas para uma prática pouco comum na época: fabricar vinhos
varietais de Sangiovese, que envelheceriam por um período considerável. Em
1888, seu neto Ferruccio Biondi-Santi, um veterano soldado que lutou ao lado de
Giuseppe Garibaldi, lançou a primeira versão moderna do Brunello di Montalcino,
um vinho que descansou por mais de uma década em barris de madeira. O vinho
agradou tanto os toscanos que, nas primeiras décadas do século XX, já era
aguardado ansiosamente por críticos e consumidores locais. Ao redor de 1950, a
fama do Brunello extrapolou os limites italianos e fez dele um fenômeno
mundial. A guinada final da Sangiovese foi dada nos anos 1960 e 70, quando
aconteceu uma revolução enológica que deu origem aos chamados Supertoscanos.
Nessa época, os vinhos mais importantes da região eram largamente conhecidos,
mas não reconhecidos. Alguns vinicultores acreditavam que as regras de produção
estabelecidas os impediam de fazer um vinho de maior qualidade, utilizando,
além da Sangiovese, uma pequena porcentagem de castas internacionais e técnicas
mais modernas. Eles então se “rebelaram” e passaram a produzir vinhos da
maneira que achavam certo, sem se importar com as regras que lhes garantiam o
selo DOC. O resultado foram vinhos de alta qualidade e preço, que mais tarde
ficaram conhecidos como Supertoscanos. A Sangiovese é cultivada em cerca de 100
mil hectares (o que corresponde a quase 10% de toda a área plantada dos páis) e
contribui com 15% dos vinhedos que resultam em vinhos DOC. Ela é cultivada em
18 regiões, 70 províncias e dá origem a mais de 190 tipos de vinho diferentes. Os
italianos gostam de pensar que a casta é o equivalente italiano à Cabernet
Sauvignon, tanto por seu potencial de envelhecimento quanto pela versatilidade,
uma vez que se dá bem tanto em vinhos varietais quanto em grandes blends. Em
sua casa, na Toscana, em seu estilo mais tradicional, a uva – de cor rubi
intensa e cachos bem carregados – dá origem a vinhos herbáceos e com sabores de
cereja, além de ter acidez alta e taninos marcantes. Por isso, pode envelhecer
por anos, como é o caso dos Brunello di Montalcino.
Agora o vinho!
Na taça o vinho apresenta um vermelho rubi intenso com
reflexos violáceos brilhantes e vivo! Há uma boa quantidade de lágrimas, mas
que logo se dissiparam.
No nariz tem um delicado e elegante toque frutado, lembrando
frutas vermelhas em compota, como cereja e morando, por exemplo. É perceptível
também o toque floral, ampliando ainda mais os aromas.
Na boca se reproduz as impressões olfativas, mostrando-se
frutado, com alguma estrutura, personalidade marcante, mas muito harmonioso,
redondo e fácil de degustar, certamente pelo tempo que evoluiu na garrafa antes
de sair da vinícola, por dois meses. Com uma boa acidez e taninos presentes,
mas sedosos.
Enfim, a minha primeira experiência com um vinho 100% Sangiovese
não poderia ter sido melhor. Um vinho de ótima drincabilidade, de forte
personalidade, mas redondo, fácil de beber, revelando um novo “Sangiovese”,
agradável e saboroso. Harmoniza muito bem com massas ou até mesmo degustando-o
sozinho. Tem 13% de teor alcoólico.
Sobre a Família Cecchi:
Tudo começou em 1893, quando Luigi Cecchi se tornou um provador
profissional de vinhos e entendeu o potencial da vinificação italiana. Foi Cecchi quem iniciou uma jornada que levou
ao que agora pode ser definido como uma mistura perfeita entre inovação e
tradição. É na capacidade de prever o futuro que um dos segredos do sucesso da
Família Cecchi se estabelece; uma espécie de presente entregue de pai para
filho. Todos os passos dados pela vinícola ao longo de sua história foram
precedidos de experimentações cuidadosas e completas, e é o respeito pela
tradição que sempre levou a família a tomar suas decisões diárias.
Mais informações acesse:
Fonte para a pesquisa da história da Sangiovese:
Revista Adega, em: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/sangiovese-uva-icone-da-toscana_11856.html
Degustado em: 2016
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