quarta-feira, 22 de abril de 2020

Nederburg Foundation Pinotage 2015


Esse não foi a minha primeira experiência com a Pinotage. Já havia degustado outros rótulos desta cepa antes do rótulo que falarei agora. O que motivou mais uma compra da Pinotage foi a sua história e, sobretudo, claro, pela sua qualidade, pela sua personalidade. Um vinho que, independente da sua proposta, se mostra maiúsculo, potente e exemplarmente saboroso, com um belo volume de boca. E, como disse, um dos fatores que fez com a Pinotage ganhasse a minha atenção e logo simpatia, foi por ser conhecida como uma, como costumo dizer, uma “casta de laboratório”. Não sei se essa observação é correta, mas, pela sua história, em tese tinha tudo para ser rejeitada, mas hoje é tida como um produto de exportação, um orgulho para os sul africanos, os pais da casta.

O vinho que degustei e gostei vem, como já disse, da África do Sul, da região de Paarl, sub-região da Província da Western Cape, o famoso Nederburg Foundation Pinotage da safra 2015. Mas como degustar vinho, para mim, estimula o aprendizado, não podemos negligenciar a história, já por mim mencionada do Pinotage e como ela surgiu.

Pinotage

A Pinotage foi criada pelo professor de viticultura Abraham Izak Perold da Universidade de Stellenbosch, por volta do ano de 1925. A intenção do professor era unir as qualidades da Pinot Noir, como a sua delicadeza, seus aromas, com a notável produtividade e resistência da Hermitage (Cinsault). Isso porque, a Pinot Noir não resistia muito bem ao clima da África do Sul, ao passo que a Hermitage se desenvolvia muitíssimo bem. O objetivo, portanto, era criar um vinho leve e aromático, como o Pinot Noir, com uvas que crescessem e se desenvolvessem como a Cinsault. Mas o resultado não foi muito próximo do esperado: o vinho elaborado com a nova uva, a Pinotage, era bem escuro, encorpado e com muitos taninos. A uva entrou em evidência a primeira vez, quando em 1959 um vinho produzido com esta cepa foi campeão no Concurso Cape Young Wine Show na Cidade do Cabo. Em 1991, outro vinho produzido somente com Pinotage foi eleito o melhor tinto no Concurso Internacional “Wine & Spirits” em Londres, reforçando a sua imagem de qualidade e a história a gente já sabe. Como curiosidade, o termo “Pinotage” é a combinação dos nomes das duas uvas que lhe deram origem: “pino”, de Pinot Noir, e “tage”, de Hermitage. Fontes: Vinitude clube de vinhos (https://www.clubedosvinhos.com.br/quase-indomavel-pinotage/) e Winer (http://www.winer.com.br/uva-pinotage/).

Sobre a região de Paarl, Western Cape

Paarl está localizada na província de Western Cape, ficando a 60 km da Cidade do Cabo, na África do Sul, sendo hoje uma região produtora dos melhores vinhos daquele país, exportados para o mundo todo.


A região vitivinícola de Paarl é das mais importantes para a produção de vinho na África do Sul, podendo ser considerada como o grande portal para quem quer conhecer os vinhos da região do Cabo. O nome Paarl é derivado de pérola, sendo a designação da Montanha Pérola, uma rocha de granito que se sobrepõe à paisagem, tornando-se brilhante à luz do sol, principalmente em dias de chuva. A história da vitivinicultura na região de Paarl remonta ao século XVII, precisamente em 1680. A produção de vinhos teve início na África do Sul com os franceses, em 1652, com Jan Van Riebeek, o primeiro comandante da guarnição que fundou a Cidade do Cabo. Sua pretensão era produzir vinho para combater o escorbuto que grassava na época entre os marinheiros da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais. Os vinhedos foram se espalhando ao longo do tempo, ocupando a região de Stellembosch, em seguida Constantia, chegando a Paarl em 1680. Fonte: Vinitude clube de vinhos (https://www.clubedosvinhos.com.br/paarl-uma-longa-tradicao-em-vinhos-nobres/).

O vinho:

Na taça tem um vermelho rubi com reflexos violáceos, sendo muito brilhante e bonitos aos olhos. Tem lágrimas abundantes e vibrantes, finas, persistentes, teimando em desenhar as bordas do copo.
No nariz é intenso, muito aromático, sendo frutado, uma explosão de frutas vermelhas frescas, com um toque discreto, mas agradável de especiarias.

Na boca é seco, apesar de ser muito frutado, com médio corpo, apresentando certa estrutura e alguma complexidade, com bom volume de boca, com taninos presentes, mas suaves, com acidez instigante e final de média intensidade, sendo muito agradável.

Um vinho que expressa, em sua plenitude, o verdadeiro Pinotage sul africano, com muita personalidade, aliado a maciez e facilidade de degustação, revelando também equilíbrio, harmonia e versatilidade, sobretudo na harmonização que vai de carnes vermelhas, queijos fortes a massas condimentadas e uma boa pizza de quatro queijos, por exemplo. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Nederburg:

A história de Nederburg começou em 1791, quando o imigrante alemão Philippus Wolvaart adquiriu 49 hectares de terra no vale de Paarl. Ele nomeou sua propriedade Nederburgh, em homenagem ao comissário Sebastiaan Cornelis Nederburgh. Mais tarde, o 'h' foi retirado da grafia do nome da fazenda e tornou-se Nederburg como é conhecido hoje. A bela mansão holandesa do Cabo, coberta de palha e empena, que Wolvaart completou em 1800 é hoje um monumento nacional. E sobre a linha “56 Hundred” há uma curiosidade: Essa variedade de vinhos refrescantes, frutados e suave leva o nome ao preço de mil e seiscentos florins que Philippus Wolvaart pagou em 1791 pela fazenda em que deveria nomear Nederburg. Um visionário que reconheceu o potencial vitícola da terra, ele teve a tenacidade de domesticar a propriedade e estabelecer uma fazenda que continua a florescer hoje. Em 1810, vendeu a fazenda para a família Retief, que conservou a propriedade por 70 anos. Em seguida a Nederburg passou por diversos proprietários até ser adquirida, em 1937, por Johann Graue que foi buscar na Alemanha o talentoso enólogo Günter Brözel para comandar a produção. Durante anos, Brözel elevou a reputação da Nederburg a nível mundial. Quem o sucedeu foi o enólogo romeno Razvan Macici, que recebeu inúmeros prêmios ao longo dos anos. Macici aliava a capacidade de criar vinhos exclusivos à habilidade para a elaboração de rótulos acessíveis. A Nederburg é conhecida pela visão vanguardista, sempre valorizando os cuidados no vinhedo e na vinificação para a elaboração de exemplares famosos mundialmente.

Mais informações acesse:

https://www.nederburg.com/

Vinho degustado em 2017.


Coppiere Nero d'avola 2018


Mais um vinho da série “Vinhos baratos que degustei e gostei”! A busca, o garimpo, bem como a “coragem” de degustar vinhos baratos pode trazer o risco da decepção, daquela sensação de que você esperava um pouco mais do rótulo. Mas há quem diga que os emblemáticos e caros rótulos também trazem essa máxima. O fato é que não é só grife e fama da vinícola que confere qualidade ao vinho, esse não é tão somente o fator que pode fazer, ou não, de um vinho especial. Sempre costumo dizer que a questão orgânica influencia e muito na decisão, não é à toa que encontramos algumas análises tão distintas de um mesmo rótulo de vinho, elogiando ou não. Alguém está errado? Não! São reações e percepções diversas que temos do vinho. Por isso que, antes de comparar os rótulos que degusta se informe das propostas que estes oferecem, talvez não sejam dignos de comparação por conta da proposta. Enfim, o rótulo que apresentarei, além de ter sido de um custo x benefício extremamente atrativo (estava, pasmem, na faixa dos R$ 20), me trouxe a novidade da casta que eu nunca havia degustado: Nero d’ Avola! Então, antes de apresentar o meu rótulo, vou apresentar a história da casta tão popular na Itália, mas que, embora encontremos alguns rótulos aqui no Brasil, não é tão popular em nossas terras.

A Nero d’Avola:

A uva tinta Nero D’Avola é a “uva negra da cidade de Avola”, região italiana localizada na costa sudeste da Sicília. Essa uva, também conhecida como Calabrese, é a variedade tinta mais plantada na Sicília. E não é de hoje. Essa é uma história de séculos.


As áreas de cultivo da uva Nero D’Avola podem ser encontradas na Austrália, na Califórnia e nos Estados Unidos, importante região vitivinicola do Novo Mundo, mas a região de maior expressão dessa casta é, sem dúvidas, na região da Sicília, província responsável pela produção de premiados e elogiados vinhos. Mas há uma polêmica envolvendo a origem da uva. Há quem afirme que ela nasceu na Calábria. Há quem sustente que o nome Calabrese não tem essa ligação, tendo derivado, na verdade, da palavra Calavrisi ou Calaurisi, usada para identificar os habitantes de Avola. Há quem afirme, ainda, que ela surgiu na Mesopotâmia. O fato é que Nero d’Avola é considerada uma uva nativa da Itália. Nero d’Avola é intensamente aromática. Quando jovem, o vinho produzido com a Nero d’Avola traz aromas de ameixa, frutas vermelhas, pimenta e cravo. Com o tempo em carvalho, contudo, Nero d’Avola adquire também sabores de chocolate e acentuado aroma de framboesa. Com cor profunda, acentuada acidez, alto teor alcoólico e muitos taninos, esse é um vinho que envelhece bem. Fontes: Tintos & Tantos (http://www.tintosetantos.com/index.php/escolhendo/cepas/670-nero-d-avola) e Mistral (https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/nero-d-avola).

O Vinho que degustei e gostei foi o Coppiere da casta 100% Nero d’Avola, da safra 2018, da região da Sicília, na Itália.

Vamos ao vinho.

Na taça, conforme já esclareceu o histórico da cepa, mostra um vermelho rubi escuro, mas com discretos traços violáceos em seu entorno, com lágrimas finas de média intensidade e que demoravam um pouco a se dissipar das paredes do copo.

No nariz traz intensos aromas de frutas vermelhas, como ameixa, cereja, e toques agradáveis de especiarias, como pimenta e cravo.

Na boca é seco, equilibrado, elegante, com notas frutadas intensas, sem ser enjoativo, com boa acidez, taninos delicados e sedosos, com um final médio, um retrogosto, diria, frutado.

Para a minha primeira experiência com a Nero d’Avola foi extremamente proveitosa e pretendo sim, degustar mais vinhos com essa casta nos seus mais variados estágios de proposta, dada a sua versatilidade. E a proposta deste rótulo da Coppiere é jovem, direto, mas que mostra a personalidade desta uva autóctone da Itália. Apenas para registro, ao desarrolhá-lo, percebi o álcool, no auge dos seus 13%, um tanto quanto alto, em desequilíbrio com o conjunto do vinho, mas, respirando na taça, logo se equilibrou sendo muito fácil de degustar e extremamente versátil também nas harmonizações. É possível fazê-lo com carnes magras e macarrão, a minha opção na degustação.  

Sobre a Schenk Wineries:

As vinícolas italianas de Schenk são de longe um dos produtores de vinho mais importantes a nível nacional. Fundada em 1952 em Reggio Emilia e transferida em 1960 para Ora, no sul do Tirol, a sede da primeira vinícola está intimamente ligada à área de produção. Este foi o primeiro passo do projeto "Vinícolas Italianas". Através deste projeto, a empresa, anteriormente dedicada ao engarrafamento de vinho a granel, torna-se produtora antes de tudo com o desenvolvimento de “Marcas da terra”, graças à colaboração com pequenos produtores de alta qualidade localizados nessas regiões, historicamente mais vocacionados para produção de vinho como Tirol do Sul, Toscana, Veneto, Sicília, Piemonte, Apúlia e Abruzzo. Em segundo lugar, através da aquisição das vinícolas “Bacio della Luna” em Vidor - Valdobbiadene (Treviso) e “Lunadoro” em Valiano di Montepulciano (Siena). Um caminho evolutivo começou há muitos anos, com o objetivo de fortalecer os laços com a terra e as tradições. Esses valores, juntamente com as fortes oportunidades oferecidas pelo progresso tecnológico, permitem que as vinícolas italianas da Schenk trabalhem de maneira sustentável.

Mais informações acesse:

http://www.schenkitalia.it/

Vinho degustado em 2019.


Autoritas Chardonnay 2016



Sempre falo, com muita alegria, que, quando investimos em rótulos baratos que entregam além do que valem, traz um sentimento de que acertamos, fomos felizes na escolha, diria que, talvez seja um pouco de pretensão da minha parte, estamos “capacitados” para escolher mitigando os riscos que existem em comprar vinhos com determinadas faixas de preços, sobretudo os mais baratos. Admito também que o conceito de valor, do baixo custo, seja um tanto quanto relativo, afinal o que é barato para mim pode não ser para outra pessoa, levando em consideração também a proposta do vinho que se consome. Mas estou falando de R$ 25,90! Sim, um valor muito atrativo quando falamos de um vinho chileno da famosa vinícola Luis Felipe Edwards, um produtor que definitivamente entrou no meu rol das preferidas. Pronto! Acho que essas credenciais já faz com que o valor seja imbatível.

O vinho que degustei e gostei a que me refiro é o da linha Autoritas da casta Chardonnay, a rainha das castas brancas e que se dá muito bem com as terras produtivas do Chile, esse é da emblemática Valle Central, um DO (Denominação de Origem), da casta 2016.

Antes de falar do vinho, vamos as curiosidades. A palavra “Autoritas” vem do latim auctoritas, que significa prestígio, honra, respeito, autoridade. Esses valores foram o que inspirou a criação desta marca, desenvolvida por Luis Felipe Edwards Family Wines. A crista (brasão) da família, presente em cada garrafa, é o selo que reúne esses valores, passados ​​de geração em geração e expressos em cada copo da Autoritas.



Vamos ao vinho:

Na taça apresenta um amarelo palha com discretos reflexos esverdeados, muito brilhantes.
No nariz é intensamente aromático, com notas generosas de frutas brancas, tropicais e cítricas. Nota-se pêra, abacaxi, lima. Um agradável toque floral, flores brancas, denunciando o frescor e a jovialidade do vinho.

Na boca é leve, fresco, frutado, com acidez baixa, típico da Chardonnay, independente da sua proposta, com um final frutado, saboroso e de média persistência.

O Autoritas Chardonnay é leve, informal, despretensioso, mas que te entrega personalidade e equilíbrio. Versátil harmoniza com frituras, carnes brancas como peixe e até um bom macarrão ao alho e olho, sem aqueles molhos mais picantes. Tem 12,5% de teor alcoólico.  

Sobre a Viña Luis Felipe Edwards:

A Viña Luis Felipe Edwards foi fundada em 1976 pelo empresário Luis Felipe Edwards e sua esposa. Após alguns anos morando na Europa, o casal decidiu retornar ao Chile e, ao conhecer terras do Colchágua, um dos vales chilenos mais conhecidos, se encantou. Ali, aos pés das montanhas andinas, existia uma propriedade com 60 hectares de vinhedos plantados, uma pequena adega e uma fazenda histórica que, pouco tempo depois, foi o marco do início da LFE. De nome Fundo San Jose de Puquillay até então, o produtor, que viria a se tornar uma das maiores vinícolas do Chile anos mais tarde, começou a expandir sua atuação. Após comprar mais 215 hectares de terras no Vale do Colchágua nos anos de 1980, começou a vender vinho a granel, estudar a fundo seus vinhedos e os resultados dos vinhos, e cultivar diferentes frutas para exportação. O ponto de virada na história da Viña Luis Felipe Edwards veio na década de 1990, quando Luis Felipe Edwards viu a expectativa do mercado sobre os vinhos chilenos. Sabendo da alta qualidade dos rótulos que criava, o fundador resolveu renomear a vinícola e passou a usar o seu próprio nome como atestado de qualidade. Após um período de crescimento e modernização, especialmente com o início das vendas do primeiro vinho em 1995, a LFE se tornou um importante exportador de vinho chileno no começo do século XX. A partir de então, o já famoso produtor começou a adquirir terras em outras regiões do país. Na busca incessante por novos terroirs de qualidade, ele encontrou no Vale do Leyda um dos seus maiores tesouros: 134 hectares de videiras plantadas em altitude extrema, a mais de 900 metros acima do nível do mar.

Mais informações acesse:

https://www.lfewines.com/

Vinho degustado em 2017.


sábado, 18 de abril de 2020

Malma Malbec 2013



Quando você vai degustar um vinho argentino, um bom vinho dos Hermanos vem a sua mente os grandes vinhos da região emblemática de Mendoza, afinal, é a região que a Argentina vende ao mundo, são os vinhos exportados, a maior região vinífera daquele país. O que dizer dos Malbecs amadeirados, estruturados, macios e famosos? Mas graças a esse rótulo que, confesso descobri bem depois da compra, há outras regiões importantes e que parece produzir grandes vinhos, pois este rótulo me surpreendeu pela estrutura, complexidade, aliado ao frescor, equilíbrio, a fruta tão característica da Malbec argentina. Falo de um lugar chamado San Patricio del Chañar, que fica na Província de Neuquén, na Patagônia argentina. E, antes de falar do vinho, de apresenta-lo, cabe apresentar também um pouco dessa região, pouco comentada da Argentina.

Neuquén, a Patagônia argentina



A região da Patagônia, no sul da Argentina, foi habitada a milhões de anos por grandes Dinossauros. Nos últimos anos grandes achados paleontológicos estão sendo realizados, como pegadas petrificadas e esqueletos quase completos de dinossauros. Os vinhos da Patagônia estão em evolução e grandes projetos estão em desenvolvimento nesta região para a produção de vinhos de alta qualidade. Neuquén, sub-região da Patagônia, limita-se ao norte com a província de Mendoza, a leste com La Pampa e Rio Negro, ao sul com Rio Negro e a oeste faz fronteira com o Chile, separada pela Cordilheira dos Andes. A produção de vinhos está concentrada nos arredores de San Patricio del Chañar e na cidade de Añelo. O clima seco, os ventos moderados e a grande amplitude térmica proporcionam ótimas condições de sanidade nos vinhedos e excelentes níveis de acidez aos vinhos.

Vamos ao vinho:

O vinho que degustei e gostei foi o Malma Malbec, da Bodega Malma, da safra 2013, da região de Neuquén, na Patagônia argentina.

Na taça conta com um vermelho rubi intenso, quase negro, arroxeado, com lágrimas em abundância e que teimam em se dissipar, desenhando as paredes do copo.

No nariz remetem a frutos vermelhos como framboesa e ameixa, um toque discreto de especiarias, mas que denunciam muita frescura, típico da Malbec produzida na Argentina.

Na boca é intenso, estruturado e muito frutado com toques sutis da baunilha graças aos 9 meses de passagem por barricas de carvalho, cerca de 20% do vinho, enquanto os outros 80% estagiaram, também por 9 meses, em tanques de aço inox. Tem taninos robustos, presentes, mas sedosos, amansados pela madeira, com boa acidez e um retrogosto frutado e longo.

Um vinho surpreendente, saboroso, harmonioso, equilibrado, que, apesar de não ser de Mendoza, expressa fielmente a “marca” de ser um Malbec argentino. Espero degustar mais e mais vinhos dessa região para conhecer ainda mais essa região ainda pouco badalada da Argentina. Tem 14,5% de teor alcoólico. Para finalizar o termo que consta no rótulo “finca La Papay”, consiste na primeira geração de Malma, que homenageia a uma mulher visionária que, no começo do século XX escolheu essas terras patagônicas para concretizar seus sonhos de família e prosperidade.

Sobre o termo “Malma” que dá nome ao vinho e a vinícola:

O nome da vinícola, no dialeto Mapundungun (Mapuches), significa “orgulho” e é exatamente o que desperta nas pessoas que trabalham para obter vinhos de classe mundial. Por curiosidade: Os índios mapuches, do Chile e Argentina, foram os únicos, entre os povos nativos da América, a vencer militarmente os conquistadores espanhóis, no século XVI. Com táticas inéditas de guerrilha, sua resistência durou nada menos que 300 anos. Foram os criadores dos primeiros sindicatos de trabalhadores chilenos e hoje — apesar de espremidos no sul daquele país e numa pequena área da Argentina, situados nas regiões Chubut, Neuquén e Rio Negro — ainda lutam bravamente.

Sobre a Bodega Malma:

A Bodega Malma nasceu no coração da região vinícola de San Patricio del Chañar, na província de Neuquén, na Patagônia Argentina. Focado desde a origem na produção de vinhos sofisticados para exportar para os mercados mais exigentes do mundo, conta com o conselho do prestigiado Roberto de la Mota. A adega introduziu seus vinhos no mercado no ano 2004 e continua exportando seus produtos para o mundo desde esse momento. Seus 167 hectares de vinhedos cercam o edifício elegante e moderno que combina com a cerca e abriga a vinícola e o restaurante, onde se podem saborear os pratos do chef Pablo Buzzo, conhecido por suas raízes locais e pelo uso de matérias-primas da Patagônia. A localização da vinícola é em grande parte a chave para a qualidade de seus vinhos. No 39º sul, as condições climáticas são ideais para uma maturação lenta das uvas, permitindo um equilíbrio ideal entre açúcar e acidez, enquanto a exposição ao sol e os ventos que mantêm os frutos pequenos permitem obter vinhos de grande cor e estrutura. A vinícola pertence às famílias Viola e Eurnekian, comprometidas em obter excelentes vinhos das mãos do enólogo Sergio Pomar e da equipe agronômica com mais experiência em viticultura na região e, o mais importante, apaixonada pelo terroir da Patagônia.

Mais informações acesse:

http://www.bodegamalma.com/pt-br/

Vinho degustado em 2015.






sexta-feira, 17 de abril de 2020

Malbec Day: História




Malbec é um nome forte, sua sonoridade chama a atenção de todos, mas de que mesmo se trata? Este nome foi dado a quem primeiro identificou esta uva, um viticultor húngaro chamado Malbek, que ajudou a espalhar a cepa pela Europa.

Comemorado pela primeira vez em 17 de abril de 2011, o Dia Mundial do Malbec, conhecido como “Malbec World Wine” é uma iniciativa global criada pela Wines of Argentina que busca posicionar o Malbec argentino como um dos mais importantes do mundo e comemorar o sucesso da indústria vinícola nacional. Esse evento histórico e cultural que promove, globalmente, contou, na sua primeira edição, com a participação de mais de 72 eventos, em 45 cidades de 36 países diferentes.

Cahors: a pátria mãe

Embora a Malbec tenha conquistado a Argentina foi na França que nasceu. Abrangendo uma região que se estende de Bergerac aos Pirineus (cordilheira que separa a França da Espanha), essa porção de terra, conhecida também como Gasconha, possui a maior diversidade de castas vitivinícolas de todo o território francês. Além da Malbec - mais conhecida por Auxerrois e Côt Noir - encontram-se por lá a Tannat, a Fer Servadou, a Negrette, a Duras, a Petit Manseng, a Gros Manseng, a Mauzac e várias outras. Isso se citarmos apenas as uvas tintas, que representam 80% da produção regional. Os vinhedos se espalham pelas subregiões de Madiran (Tannat principalmente), Tursan, Bergerac, Côtes de Bergerac, Côtes du Marmandais, Monbazillac, Gaillac, Fronton, Cahors e outras menos importantes. Por elas, correm os rios Lot, Cahors, Bergerac, Gaillac, Fronton, Puzat e Marmandais, a maioria deles tributários do estuário do rio Gironda.



Seus vinhedos acompanham o caminho desses rios. Parte do sudoeste francês e bem próxima à Bordeaux, Cahors sofreu forte influência de seu poderoso vizinho em sua dramática história. O vinhedo foi criado pelos romanos e, durante a Idade Média, seu prestígio teve expressivo crescimento. O casamento de Eleanor de Aquitânia com Henrique II, rei da Inglaterra, abriu as portas do grande mercado consumidor inglês, antes dominado pelos vinhos de Bordeaux. No entanto, os poderosos produtores e comerciantes bordaleses, sentindo-se ameaçados, mobilizaram-se para pressionar Londres e conseguiu arrancar do rei da Inglaterra alguns privilégios exorbitantes, o que resultou num duro golpe para os produtores gascões. Além de sofrerem pesada taxação, os vinhos do sudoeste só podiam chegar à capital inglesa depois que toda a produção bordalesa estivesse vendida. Tal regra durou cinco séculos (foi interrompida apenas em três curtos períodos) e o vinho da região sentiu o golpe. Esta conduta só foi abolida em 1776, pelo liberal ministro de finanças de Luís XVI, Jacques Turgot, quando se iniciou um novo ciclo dourado dos fermentados de Cahors. Apesar da Revolução Francesa e das guerras do Império já no século XIX, 75% do vinho da região era exportado e um terço das terras agricultáveis era dedicado à vinha, que cobria a impressionante área de 40 mil hectares. A região enfrentou bem a praga do oídio (de 1852 a 1860) e a superfície plantada subiu ainda mais, chegando a 58 mil ha. Para se ter uma ideia da queda que viria mais tarde, a área do vinhedo de Cahors hoje é de apenas 4.200 ha. Mas o território teve pior sorte ao enfrentar a filoxera no final do século XIX. Como se sabe, todos os vinhedos atacados no mundo tiveram de ser replantados, desta vez, de forma enxertada. Então, as vinhas de Malbec reagiram muito mal a esta nova situação, dando origem a fermentados medíocres, com qualidade muito abaixo da que tinha anteriormente. Apenas no final dos anos 1940, depois de muita pesquisa, chegou-se ao clone 587 da Malbec, que teve muito boa adaptação. Assim se retomou, então, sua marcha ascendente até chegarmos a 1971, quando Cahors é declarada região AOC (Appellation d'Origine Contrôlée, denominação de origem controlada). A região está renascendo.



A chegada da Malbec na Argentina

Mas por que o dia 17 de abril foi escolhido para celebrar a Malbec pelo mundo?

Assim como no Brasil, os primeiros exemplares de vitis vinifera, a uva própria para produção de vinho, chegaram na Argentina no início do século XVI junto com os seus colonizadores. No entanto, foi só em 1551 que o cultivo da uva se espalhou por toda a região. As condições climáticas e o solo dos arredores dos Andes favoreceram muito a agricultura dos vinhedos e, impulsionada pelos monastérios que precisam produzir vinho para a celebração das missas.


Junto com a cultura espanhola desembarcou na Argentina uma forte tradição católica, e a vitivinicultura se beneficiou enormemente de ambas. No século XIX chegou à região uma nova onda de imigrantes europeus que trouxeram em suas bagagens novas cepas estrangeiras e muita tradição na produção de vinhos, como os italianos. Os europeus recém-chegados encontraram em Los Andes e no Vale de Rio Colorado os locais ideais para começar o seu próspero cultivo, e ali se estabeleceram. Entre 1850 e 1880 a produção de vinhos argentinos começou a mudar de forma. Com a integração do país à economia mundial, a chegada da industrialização e a abertura de múltiplas ferrovias cortando a região, o que antes era uma agricultura voltada para a produção de vinhos tomou forma de uma indústria do vinho.


Em 1853 foi criada a Quinta Normal de Agricultura de Mendoza, a primeira escola de agricultura do país, por meio da qual novas técnicas de cultivo de vinhedos foram implementados na região, como o uso de máquinas e modernas metodologias científicas. O seu fundador foi, claro, um francês, chamado Michel Aimé Pouget, conhecido também por Miguel Amado Pouget.

Michel Pouget: o homem por trás da Malbec argentina

Michel Aimé Pouget ou Miguel Amado Pouget nasceu na França em 1821. O engenheiro agrônomo emigrou primeiro para o Chile e depois para Mendoza, na Argentina.

No Chile trabalhou em Villuco, na propriedade de José Patricio Larraín Gandarillas, que apresentou todas as notícias europeias e americanas em questões agrícolas em sua terra natal. Sua fazenda chamada Peñaflor era um verdadeiro livro de amostra aplicado ao trabalho da terra. Já em 1844, ele teve a glória de trazer de Milão (Itália), vinte e cinco colmeias, das quais apenas duas chegaram com abelhas. Este estabelecimento escasso foi a base da apicultura chilena e depois da Mendocina. Gandarillas contratou os serviços do especialista apicultor D. Carlos Bianchi para restaurar seu apiário punido e colocar o sábio agricultor Miguel Amado Pouget à frente de suas plantações. Pouget realizou milagres nas propriedades de Larraín Gandarillas, Santiago do Chile e Villuco. Ele fez extensas plantações de acordo com os mais recentes avanços da ciência francesa e introduziu inúmeras variedades em horticultura, jardinagem e arboricultura.


Em 1852, o presidente da Argentina à época, Domingo Faustino Sarmiento se estabeleceu em Mendoza e propôs ao governador Pedro Pascual Segura a contratação do engenheiro agrônomo francês Michel Aimé Pouget. Ele próprio aceitou a proposta e se estabeleceu em Mendoza, em 1853. Modelada na França, a iniciativa propunha a adição de novas variedades de uvas como um meio de melhorar a indústria vinícola nacional. Em 17 de abril de 1853, com o apoio do governador de Mendoza, foi apresentado um projeto ao Legislativo Provincial, com o objetivo de estabelecer uma Escola Agrícola e Quinta Normal. Este projeto foi aprovado pela Câmara dos Deputados em 6 de setembro do mesmo ano. Portanto, Pouget plantou em Mendoza com Justo Castro inúmeras variedades de uvas originárias de seu país de origem: entre elas estava o Malbec, uma variedade que os antigos viticultores gostaram muito pelo seu alto rendimento, sua saúde, e a boa cor de seus vinhos e o Cabernet Sauvignon, Merlot, Semillon, Sauvignon Blanc, Chardonnay, Riesling e outros.

No final do século XIX, com a ajuda de imigrantes italianos e franceses, a indústria do vinho cresceu exponencialmente e, com ela, a Malbec, que rapidamente se adaptou aos vários terroirs e se desenvolveu com resultados ainda melhores do que em sua região de origem. Assim, com o tempo e com muito trabalho, surgiu como a principal uva da Argentina.

A consolidação da Malbec e da indústria vitivinícola da Argentina

Para se ter uma ideia do crescimento da produção de vinho argentino nessa época, em 1873 o país contava com apenas 2.000 hectares de vinhedos, enquanto em 1990 a área cultivada chegou a 210.371 hectares. O sucesso exponencial da cepa aconteceu também após o início da década de 1990, sendo que em um período de 20 anos, até 2009, suas áreas de cultivo cresceram 173%, passando de 10 mil hectares para 28 mil hectares (hoje já são 33 mil). Do total, 26 mil hectares marcam presença em Mendoza, principal região vitivinícola do país, seguido por San Juan (1,9 mil hectares), Salta (702 hectares), Neuquén (587 hectares), La Rioja (523 hectares) e outras. Presente em praticamente todo o país, a uva emblemática da Argentina produz vinhos de diferentes estilos e com características que variam a cada terroir. Via de regra, pode esperar aromas de ameixas maduras e o frescor de folhas de menta de um típico exemplar. A Malbec também é famosa por seus vinhos encorpados, repletos de taninos potentes (usualmente amaciados pelo estágio em carvalho).

A região de Luján de Cuyo foi a primeira a ter uma denominação de origem controlada (DOC) nas Américas para a casta Malbec. Embora vigore há décadas a denominação de origem foi reconhecida oficialmente em 2005. Os vinhos produzidos sob esse rótulo são elaborados com Malbec, e procedentes da zona de Luján de Cuyo, na província de Mendoza. De cor muito intensa e escura, vermelho cereja, o Malbec Luján de Cuyo pode chegar a parecer quase preto, e tem aromas de frutas negras e de especiarias doces, com forte expressão mineral. Como o conceito de denominação de origem não é tão forte na produção de vinhos do Novo Mundo, onde o que costuma dominar é o conceito de classificação de vinhos conforme a composição, e não conforme o terroir, ainda são poucas as vinícolas que produzem vinhos rotulados como Malbec Luján de Cuyo.

O dia 17 de abril é, para Vinhos da Argentina, não apenas um símbolo da transformação da indústria vinícola argentina, mas também o ponto de partida para o desenvolvimento desta uva, um emblema para o nosso país em todo o mundo.




Fontes:

Site Wines of Argentina, em:


Site El Malbec, em:


Site Vinos y Vides, em:


Sites Mulheres Empreendedoras, em:


Site Tintos & Tantos, em:



Site Grand Cru, em:


Site Revista Adega, em:










quarta-feira, 15 de abril de 2020

Qual a diferença entre blend e varietal?


Durante séculos da história da produção de vinhos poucas pessoas sabiam quais as variedades de uvas havia na bebida que estavam consumindo. Nomes como Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Merlot, Sauvignon Blanc só ficaram "famosos" nos rótulos do mundo todo quando os produtores de fora da Europa, especialmente os norte-americanos, resolveram estampar os nomes das principais castas europeias em seus vinhos.

Antes desse fenômeno ocorrer, por volta de meados do século passado, os produtores raramente colocavam os nomes das variedades em seus produtos, optando sempre pelo nome das regiões DOC (Denominações de Origem Controlada) junto ao nome da propriedade, como, por exemplo: Joseph Drouhin Chablis. Ou seja, um Chablis - produto que representa uma região da Borgonha onde os vinhos brancos são feitos somente com uvas Chardonnay - do vinhateiro Joseph Drouhin. Então, o que indicava a casta com a qual o vinho era feito era o nome da região.

Modernamente, em uma jogada de marketing, os produtores do Novo Mundo passaram a colocar as variedades nos rótulos, para mostrar aos consumidores que seus vinhos eram feitos com as tradicionais e nobres uvas europeias e, assim, também para dar uma pista do estilo que seus vinhos teriam. Os consumidores passaram então a identificar-se com o estilo de cada uva e a apresentação das castas ganhou espaço no mundo inteiro.

Varietais e Blends

No entanto, vinhos monovarietais (ou varietais, feitos, teoricamente, com apenas uma casta) e blends (ou também ditos de corte, ou assemblage, ou assemblagem) não são novidade. Duas das principais regiões produtoras de vinho no mundo são os melhores exemplos dessas tradições. Os renomados tintos de Bordeaux sempre foram feitos com cortes. Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc e Petit Verdot são quatro das principais castas usadas nos blends feitos na região. Durante séculos de savoir-faire, os produtores daquela região aprenderam a misturar quantidades exatas de cada variedade para produzir seus vinhos safra após safra. Já os vinhateiros da Borgonha, outra clássica zona vitivinicultora francesa, sempre fizeram seus tintos com uma única casta tinta, a Pinot Noir, defendendo que ela seria delicada e sutil demais para se misturar com as outras. Nos vinhos de corte, a mistura das uvas é pensada pelo enólogo para que ele obtenha o melhor de cada uma das variedades.

Varietal 100% ou Blends aleatórios?

Quem pensa que vinhos varietais são sempre 100% feitos de uma única casta está enganado. A legislação de cada país, e de cada região, determina a porcentagem mínima necessária para que um vinho possa ostentar no rótulo o nome de uma casta como sendo um monovarietal. No Chile e na Nova Zelândia, por exemplo, é preciso que 75% do vinho tenha uma única casta para que seja considerado varietal. Ou seja, o enólogo pode "completar" o vinho com outros tipos de uva caso considere necessário. Por que ele faria isso? Para, por exemplo, emprestar ao seu vinho maior acidez, ou então dar mais estrutura e corpo através do acréscimo de outra variedade. Porém, apesar de permitido, as percentagens de outras cepas costumam ser bem menores que 25%.

No Brasil, para que um vinho traga o nome de apenas uma uva estampado no rótulo precisa ter ao menos 75% dessa variedade na sua composição.

E os blends? Seriam eles feitos aleatoriamente, juntando algumas castas e pronto? Nada disso. Em Châteauneuf-du-Pape, região vitivinícola francesa localizada no vale do Rhône, no sudeste da França, 13 variedades de uva são permitidas para compor seus vinhos e cada enólogo usa as que acredita mais interessantes (ou melhores) em uma determinada safra. Ele escolhe as proporções de cada uva baseado no estilo que pretende obter, contrabalançando pontos fracos de uma com os fortes de outra e criando algo harmonioso e maior do que a soma das partes. Essa mistura geralmente é feita pouco antes de o vinho ser engarrafado. Contudo, há casos, como nos Vinhos do Porto, em que diferentes uvas são prensadas juntas, formando um único caldo que depois será fermentado. Vinhos varietais nem sempre são feitos 100% de uma única uva.

O que é melhor?

Os defensores dos vinhos varietais advogam que somente os monocastas representam a verdadeira essência do terroir, ou seja, o gosto real da terra, do clima e todas as nuances da qual depende uma região produtora. Já os fãs dos blends defendem a arte milenar que está por trás da técnica de misturar diferentes castas e obter um vinho da máxima qualidade. O que é melhor? Aí depende de você, pois há vinhos maravilhosos feitos com apenas uma uva e também com diversas. Bom mesmo é provar para descobrir o que há de mais interessante por aí.

Safras

Repare que boa parte dos vinhos de corte possuem proporções diferentes de cada uva ano a ano. Por que isso? Porque a cada safra em uma determinada região, um ou mais tipos de uva se dão melhor do que outros, ou então ganham características levemente diferentes de anos anteriores, devido aos efeitos do clima. Assim, um grande produtor, que sempre busca a constância em seus vinhos, vai procurar compensar essas diferenças reajustando as proporções de cada variedade. Em alguns casos, como em Champagne, por exemplo, ele não apenas pode mudar as porcentagens de cada uva (Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier são as três castas permitidas) como também usar vinhos base de outras safras para chegar ao estilo que pretende.




120 Reserva Especial Sauvignon Blanc 2016


Sabe aquele vinho que encontramos no fundo da gôndola, empoeirado, sem destaque algum no supermercado que, por uma ordem do instinto, um chamamento do coração, pegamos e, quando degustamos nos arrebata em uma surpresa agradável? Pois é, uma das grandes alegrias de um humilde enófilo é investir em vinhos subestimados, geralmente baratos, e ter um retorno espetacular e improvável. Isso corrobora uma máxima, diria, de que vinho barato não deve ser encarado como um vinho ruim, mas apenas uma proposta diante de tantas que temos no universo infindável de vinhos.

O vinho que degustei e gostei veio do Chile, da região do Valle Central, o 120, reserva especial, tradicional linha de rótulos da igualmente tradicional Viña Santa Rita, da casta Sauvignon Blanc, ou melhor, segundo o site do produtor, conta com um corte de 98% de Sauvignon Blanc e apenas 2% de Semillón. Mas de acordo com uma legislação chilena, as castas que compõe um baixo percentual na composição do blend ou corte do vinho, não é informada nos seus rótulos. Para mais informações leia: Qual a diferença entre blend e varietal?

Na taça conta com um amarelo palha com reflexos esverdeados e brilhantes.

No nariz aromas intensos de frutas brancas frescas como abacaxi, melão, maçã verde e pêra, com um agradável toque floral que já denuncia um frescor e leveza.

Na boca se confirma as impressões olfativas com uma acidez agradável, e um agradável final frutado de média intensidade.

A linha 120, como diz no site da vinícola, entrega, com maestria, a simplicidade, a nobreza de entregar o vinho na sua expressão mais genuína, sobretudo no tocante as características da cepa, um vinho leve, fresco, para ser degustado jovem, de forma despretensiosa, desfrutando com amigos e harmonizando com comidas leves como frituras, carnes brancas e massas leves, sem condimentos fortes. Um vinho sensacionalmente surpreendente. Não posso dizer categoricamente isso, mas essa safra, 2016, deve ter sido muito especial, o vinho estava soberbo, muito equilibrado e harmonioso, talvez a sinergia entre o clima e a mão humana foi determinante para esse belo vinho. Tem 12% de teor alcoólico.

A história do rótulo “120”:

Em 1814, um grupo de soldados do movimento de independência, após a Batalha de Rancágua, procurou abrigo e refúgio na Hacienda de Paine que era uma propriedade agrícola que remonta antes mesmo da efetiva fundação da Viña Santa Rita, em 1880. Paula Jaraquemada, proprietária e defensora do movimento e ciente da proximidade dos espanhóis, protegeu os 120 soldados no porão da sede da fazenda, salvando suas vidas. Não à toa, uma das principais linhas da Santa Rita é o rótulo 120, em alusão aos soldados. Na ilustração abaixo, do início do século XIX, mostra Paula Jaraquemada sendo interrogada por soldados da Coroa Espanhola, em busca dos 120 soldados pró-independência.



A independência do Chile foi obtida em 1818, e a “Hacienda” viveu dias tranquilos a partir de então. Os anos se passaram e, em paralelo, no ano de 1880, o empresário chileno Domingos Fernández Concha fundara a Viña Santa Rita.

Sobre a Viña Santa Rita:

A Vinícola Santa Rita foi fundada em 1880 por Domingo Fernández Concha, destacado empresário e homem público da época. Dom Domingo introduziu finas cepas francesas nos privilegiados solos do Vale do Maipo e incorporou maquinaria especializada, o que somado à contratação de enólogos da mesma nacionalidade lhe permitiu produzir vinhos com técnicas e resultados muito superiores aos tradicionalmente obtidos no Chile, mudando a forma de elaborar vinhos em nosso país. Desde o final do século XIX e até meados do decênio de 1970, a vinícola funcionou sob o controle da família García Huidobro, iniciando com Dom Vicente García Huidobro, genro de Dom Domingo Fernández Concha, quem continuou com o legado e ideais do fundador.  No ano de 1980 o Grupo Claro e a empresa Owens Illinois, principal produtora de embalagens de vidro do mundo, adquirem parte do patrimônio da Vinícola Santa Rita. A chegada do Grupo Claro significou um forte impulso para a empresa. Na área produtiva foram introduzidos significativos avanços tecnológicos e técnicas de elaboração de vinhos desconhecidos até então no Chile. Da mesma forma, foi fortemente impulsionada a criação de novas linhas de vinhos; no ano de 1982 inicia-se a linha 120 e em 1985 começa a exportação de vinhos chilenos para distintos mercados do mundo. O crescimento da Santa Rita ocorreu também a partir da aquisição de marcas de prestígio no mercado como Carmen, em 1987. Em 1988, o Grupo Claro assume a propriedade total da Vinícola Santa Rita. Inicia-se um período de grande expansão da vinícola, transformando-se em sociedade anônima aberta em 1990. Seu crescimento se baseou no forte impulso às exportações e na excelente reputação de seus vinhos, os quais obtiveram importantes prêmios. Na década de 90 se iniciou investimentos significativos em todos os processos. Em todos os processos, destacando-se a área enológica, na qual foram incorporados novos equipamentos, tanques de aço inoxidável e barris de carvalho francês e americano. Na área agrícola consolidou-se a aquisição e plantação de mais de 1000 hectares nos mais importantes vales da vitivinicultura chilena: Maipo, Colchagua e Casablanca. Os mais de 135 anos nos quais a Vinícola Santa Rita tem trabalhado na elaboração de vinhos lhe propiciaram acumular uma vasta experiência, que sem dúvida repercute na qualidade de seus produtos, qualidade esta mantida inalterável com o passar do tempo e que seguirá surpreendendo consumidores em cada canto do mundo.

Mais informações acesse:

https://www.santarita.com/pt/

Vinho degustado em 2017.