Esse não foi a minha primeira experiência com a Pinotage. Já
havia degustado outros rótulos desta cepa antes do rótulo que falarei agora. O
que motivou mais uma compra da Pinotage foi a sua história e, sobretudo, claro,
pela sua qualidade, pela sua personalidade. Um vinho que, independente da sua
proposta, se mostra maiúsculo, potente e exemplarmente saboroso, com um belo
volume de boca. E, como disse, um dos fatores que fez com a Pinotage ganhasse a
minha atenção e logo simpatia, foi por ser conhecida como uma, como costumo
dizer, uma “casta de laboratório”. Não sei se essa observação é correta, mas,
pela sua história, em tese tinha tudo para ser rejeitada, mas hoje é tida como
um produto de exportação, um orgulho para os sul africanos, os pais da casta.
O vinho que degustei e gostei vem, como já disse, da África
do Sul, da região de Paarl, sub-região da Província da Western Cape, o famoso
Nederburg Foundation Pinotage da safra 2015. Mas como degustar vinho, para mim,
estimula o aprendizado, não podemos negligenciar a história, já por mim
mencionada do Pinotage e como ela surgiu.
Pinotage
A Pinotage foi criada pelo professor de viticultura Abraham
Izak Perold da Universidade de Stellenbosch, por volta do ano de 1925. A
intenção do professor era unir as qualidades da Pinot Noir, como a sua
delicadeza, seus aromas, com a notável produtividade e resistência da Hermitage
(Cinsault). Isso porque, a Pinot Noir não resistia muito bem ao clima da África
do Sul, ao passo que a Hermitage se desenvolvia muitíssimo bem. O objetivo,
portanto, era criar um vinho leve e aromático, como o Pinot Noir, com uvas que
crescessem e se desenvolvessem como a Cinsault. Mas o resultado não foi muito
próximo do esperado: o vinho elaborado com a nova uva, a Pinotage, era bem
escuro, encorpado e com muitos taninos. A uva entrou em evidência a primeira
vez, quando em 1959 um vinho produzido com esta cepa foi campeão no Concurso
Cape Young Wine Show na Cidade do Cabo. Em 1991, outro vinho produzido somente
com Pinotage foi eleito o melhor tinto no Concurso Internacional “Wine &
Spirits” em Londres, reforçando a sua imagem de qualidade e a história a gente
já sabe. Como curiosidade, o termo “Pinotage” é a combinação dos nomes das duas
uvas que lhe deram origem: “pino”, de Pinot Noir, e “tage”, de Hermitage.
Fontes: Vinitude clube de vinhos (https://www.clubedosvinhos.com.br/quase-indomavel-pinotage/)
e Winer (http://www.winer.com.br/uva-pinotage/).
Sobre a região de Paarl, Western Cape
Paarl está localizada na província de Western Cape, ficando a
60 km da Cidade do Cabo, na África do Sul, sendo hoje uma região produtora dos
melhores vinhos daquele país, exportados para o mundo todo.
A região vitivinícola de Paarl é das mais importantes para a
produção de vinho na África do Sul, podendo ser considerada como o grande
portal para quem quer conhecer os vinhos da região do Cabo. O nome Paarl é
derivado de pérola, sendo a designação da Montanha Pérola, uma rocha de granito
que se sobrepõe à paisagem, tornando-se brilhante à luz do sol, principalmente
em dias de chuva. A história da vitivinicultura na região de Paarl remonta ao
século XVII, precisamente em 1680. A produção de vinhos teve início na África
do Sul com os franceses, em 1652, com Jan Van Riebeek, o primeiro comandante da
guarnição que fundou a Cidade do Cabo. Sua pretensão era produzir vinho para
combater o escorbuto que grassava na época entre os marinheiros da Companhia
Holandesa das Índias Ocidentais. Os vinhedos foram se espalhando ao longo do
tempo, ocupando a região de Stellembosch, em seguida Constantia, chegando a
Paarl em 1680. Fonte: Vinitude clube de vinhos (https://www.clubedosvinhos.com.br/paarl-uma-longa-tradicao-em-vinhos-nobres/).
O vinho:
Na taça tem um vermelho rubi com reflexos violáceos, sendo
muito brilhante e bonitos aos olhos. Tem lágrimas abundantes e vibrantes,
finas, persistentes, teimando em desenhar as bordas do copo.
No nariz é intenso, muito aromático, sendo frutado, uma
explosão de frutas vermelhas frescas, com um toque discreto, mas agradável de
especiarias.
Na boca é seco, apesar de ser muito frutado, com médio corpo,
apresentando certa estrutura e alguma complexidade, com bom volume de boca, com
taninos presentes, mas suaves, com acidez instigante e final de média
intensidade, sendo muito agradável.
Um vinho que expressa, em sua plenitude, o verdadeiro
Pinotage sul africano, com muita personalidade, aliado a maciez e facilidade de
degustação, revelando também equilíbrio, harmonia e versatilidade, sobretudo na
harmonização que vai de carnes vermelhas, queijos fortes a massas condimentadas
e uma boa pizza de quatro queijos, por exemplo. Tem 13,5% de teor alcoólico.
Sobre a Nederburg:
A história de Nederburg começou em 1791, quando o imigrante
alemão Philippus Wolvaart adquiriu 49 hectares de terra no vale de Paarl. Ele
nomeou sua propriedade Nederburgh, em homenagem ao comissário Sebastiaan
Cornelis Nederburgh. Mais tarde, o 'h' foi retirado da grafia do nome da
fazenda e tornou-se Nederburg como é conhecido hoje. A bela mansão holandesa do
Cabo, coberta de palha e empena, que Wolvaart completou em 1800 é hoje um
monumento nacional. E sobre a linha “56 Hundred” há uma curiosidade: Essa variedade
de vinhos refrescantes, frutados e suave leva o nome ao preço de mil e
seiscentos florins que Philippus Wolvaart pagou em 1791 pela fazenda em que
deveria nomear Nederburg. Um visionário que reconheceu o potencial vitícola da
terra, ele teve a tenacidade de domesticar a propriedade e estabelecer uma
fazenda que continua a florescer hoje. Em 1810, vendeu a fazenda para a família
Retief, que conservou a propriedade por 70 anos. Em seguida a Nederburg passou
por diversos proprietários até ser adquirida, em 1937, por Johann Graue que foi
buscar na Alemanha o talentoso enólogo Günter Brözel para comandar a produção.
Durante anos, Brözel elevou a reputação da Nederburg a nível mundial. Quem o
sucedeu foi o enólogo romeno Razvan Macici, que recebeu inúmeros prêmios ao
longo dos anos. Macici aliava a capacidade de criar vinhos exclusivos à
habilidade para a elaboração de rótulos acessíveis. A Nederburg é conhecida
pela visão vanguardista, sempre valorizando os cuidados no vinhedo e na vinificação
para a elaboração de exemplares famosos mundialmente.
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