sexta-feira, 17 de abril de 2020

Malbec Day: História




Malbec é um nome forte, sua sonoridade chama a atenção de todos, mas de que mesmo se trata? Este nome foi dado a quem primeiro identificou esta uva, um viticultor húngaro chamado Malbek, que ajudou a espalhar a cepa pela Europa.

Comemorado pela primeira vez em 17 de abril de 2011, o Dia Mundial do Malbec, conhecido como “Malbec World Wine” é uma iniciativa global criada pela Wines of Argentina que busca posicionar o Malbec argentino como um dos mais importantes do mundo e comemorar o sucesso da indústria vinícola nacional. Esse evento histórico e cultural que promove, globalmente, contou, na sua primeira edição, com a participação de mais de 72 eventos, em 45 cidades de 36 países diferentes.

Cahors: a pátria mãe

Embora a Malbec tenha conquistado a Argentina foi na França que nasceu. Abrangendo uma região que se estende de Bergerac aos Pirineus (cordilheira que separa a França da Espanha), essa porção de terra, conhecida também como Gasconha, possui a maior diversidade de castas vitivinícolas de todo o território francês. Além da Malbec - mais conhecida por Auxerrois e Côt Noir - encontram-se por lá a Tannat, a Fer Servadou, a Negrette, a Duras, a Petit Manseng, a Gros Manseng, a Mauzac e várias outras. Isso se citarmos apenas as uvas tintas, que representam 80% da produção regional. Os vinhedos se espalham pelas subregiões de Madiran (Tannat principalmente), Tursan, Bergerac, Côtes de Bergerac, Côtes du Marmandais, Monbazillac, Gaillac, Fronton, Cahors e outras menos importantes. Por elas, correm os rios Lot, Cahors, Bergerac, Gaillac, Fronton, Puzat e Marmandais, a maioria deles tributários do estuário do rio Gironda.



Seus vinhedos acompanham o caminho desses rios. Parte do sudoeste francês e bem próxima à Bordeaux, Cahors sofreu forte influência de seu poderoso vizinho em sua dramática história. O vinhedo foi criado pelos romanos e, durante a Idade Média, seu prestígio teve expressivo crescimento. O casamento de Eleanor de Aquitânia com Henrique II, rei da Inglaterra, abriu as portas do grande mercado consumidor inglês, antes dominado pelos vinhos de Bordeaux. No entanto, os poderosos produtores e comerciantes bordaleses, sentindo-se ameaçados, mobilizaram-se para pressionar Londres e conseguiu arrancar do rei da Inglaterra alguns privilégios exorbitantes, o que resultou num duro golpe para os produtores gascões. Além de sofrerem pesada taxação, os vinhos do sudoeste só podiam chegar à capital inglesa depois que toda a produção bordalesa estivesse vendida. Tal regra durou cinco séculos (foi interrompida apenas em três curtos períodos) e o vinho da região sentiu o golpe. Esta conduta só foi abolida em 1776, pelo liberal ministro de finanças de Luís XVI, Jacques Turgot, quando se iniciou um novo ciclo dourado dos fermentados de Cahors. Apesar da Revolução Francesa e das guerras do Império já no século XIX, 75% do vinho da região era exportado e um terço das terras agricultáveis era dedicado à vinha, que cobria a impressionante área de 40 mil hectares. A região enfrentou bem a praga do oídio (de 1852 a 1860) e a superfície plantada subiu ainda mais, chegando a 58 mil ha. Para se ter uma ideia da queda que viria mais tarde, a área do vinhedo de Cahors hoje é de apenas 4.200 ha. Mas o território teve pior sorte ao enfrentar a filoxera no final do século XIX. Como se sabe, todos os vinhedos atacados no mundo tiveram de ser replantados, desta vez, de forma enxertada. Então, as vinhas de Malbec reagiram muito mal a esta nova situação, dando origem a fermentados medíocres, com qualidade muito abaixo da que tinha anteriormente. Apenas no final dos anos 1940, depois de muita pesquisa, chegou-se ao clone 587 da Malbec, que teve muito boa adaptação. Assim se retomou, então, sua marcha ascendente até chegarmos a 1971, quando Cahors é declarada região AOC (Appellation d'Origine Contrôlée, denominação de origem controlada). A região está renascendo.



A chegada da Malbec na Argentina

Mas por que o dia 17 de abril foi escolhido para celebrar a Malbec pelo mundo?

Assim como no Brasil, os primeiros exemplares de vitis vinifera, a uva própria para produção de vinho, chegaram na Argentina no início do século XVI junto com os seus colonizadores. No entanto, foi só em 1551 que o cultivo da uva se espalhou por toda a região. As condições climáticas e o solo dos arredores dos Andes favoreceram muito a agricultura dos vinhedos e, impulsionada pelos monastérios que precisam produzir vinho para a celebração das missas.


Junto com a cultura espanhola desembarcou na Argentina uma forte tradição católica, e a vitivinicultura se beneficiou enormemente de ambas. No século XIX chegou à região uma nova onda de imigrantes europeus que trouxeram em suas bagagens novas cepas estrangeiras e muita tradição na produção de vinhos, como os italianos. Os europeus recém-chegados encontraram em Los Andes e no Vale de Rio Colorado os locais ideais para começar o seu próspero cultivo, e ali se estabeleceram. Entre 1850 e 1880 a produção de vinhos argentinos começou a mudar de forma. Com a integração do país à economia mundial, a chegada da industrialização e a abertura de múltiplas ferrovias cortando a região, o que antes era uma agricultura voltada para a produção de vinhos tomou forma de uma indústria do vinho.


Em 1853 foi criada a Quinta Normal de Agricultura de Mendoza, a primeira escola de agricultura do país, por meio da qual novas técnicas de cultivo de vinhedos foram implementados na região, como o uso de máquinas e modernas metodologias científicas. O seu fundador foi, claro, um francês, chamado Michel Aimé Pouget, conhecido também por Miguel Amado Pouget.

Michel Pouget: o homem por trás da Malbec argentina

Michel Aimé Pouget ou Miguel Amado Pouget nasceu na França em 1821. O engenheiro agrônomo emigrou primeiro para o Chile e depois para Mendoza, na Argentina.

No Chile trabalhou em Villuco, na propriedade de José Patricio Larraín Gandarillas, que apresentou todas as notícias europeias e americanas em questões agrícolas em sua terra natal. Sua fazenda chamada Peñaflor era um verdadeiro livro de amostra aplicado ao trabalho da terra. Já em 1844, ele teve a glória de trazer de Milão (Itália), vinte e cinco colmeias, das quais apenas duas chegaram com abelhas. Este estabelecimento escasso foi a base da apicultura chilena e depois da Mendocina. Gandarillas contratou os serviços do especialista apicultor D. Carlos Bianchi para restaurar seu apiário punido e colocar o sábio agricultor Miguel Amado Pouget à frente de suas plantações. Pouget realizou milagres nas propriedades de Larraín Gandarillas, Santiago do Chile e Villuco. Ele fez extensas plantações de acordo com os mais recentes avanços da ciência francesa e introduziu inúmeras variedades em horticultura, jardinagem e arboricultura.


Em 1852, o presidente da Argentina à época, Domingo Faustino Sarmiento se estabeleceu em Mendoza e propôs ao governador Pedro Pascual Segura a contratação do engenheiro agrônomo francês Michel Aimé Pouget. Ele próprio aceitou a proposta e se estabeleceu em Mendoza, em 1853. Modelada na França, a iniciativa propunha a adição de novas variedades de uvas como um meio de melhorar a indústria vinícola nacional. Em 17 de abril de 1853, com o apoio do governador de Mendoza, foi apresentado um projeto ao Legislativo Provincial, com o objetivo de estabelecer uma Escola Agrícola e Quinta Normal. Este projeto foi aprovado pela Câmara dos Deputados em 6 de setembro do mesmo ano. Portanto, Pouget plantou em Mendoza com Justo Castro inúmeras variedades de uvas originárias de seu país de origem: entre elas estava o Malbec, uma variedade que os antigos viticultores gostaram muito pelo seu alto rendimento, sua saúde, e a boa cor de seus vinhos e o Cabernet Sauvignon, Merlot, Semillon, Sauvignon Blanc, Chardonnay, Riesling e outros.

No final do século XIX, com a ajuda de imigrantes italianos e franceses, a indústria do vinho cresceu exponencialmente e, com ela, a Malbec, que rapidamente se adaptou aos vários terroirs e se desenvolveu com resultados ainda melhores do que em sua região de origem. Assim, com o tempo e com muito trabalho, surgiu como a principal uva da Argentina.

A consolidação da Malbec e da indústria vitivinícola da Argentina

Para se ter uma ideia do crescimento da produção de vinho argentino nessa época, em 1873 o país contava com apenas 2.000 hectares de vinhedos, enquanto em 1990 a área cultivada chegou a 210.371 hectares. O sucesso exponencial da cepa aconteceu também após o início da década de 1990, sendo que em um período de 20 anos, até 2009, suas áreas de cultivo cresceram 173%, passando de 10 mil hectares para 28 mil hectares (hoje já são 33 mil). Do total, 26 mil hectares marcam presença em Mendoza, principal região vitivinícola do país, seguido por San Juan (1,9 mil hectares), Salta (702 hectares), Neuquén (587 hectares), La Rioja (523 hectares) e outras. Presente em praticamente todo o país, a uva emblemática da Argentina produz vinhos de diferentes estilos e com características que variam a cada terroir. Via de regra, pode esperar aromas de ameixas maduras e o frescor de folhas de menta de um típico exemplar. A Malbec também é famosa por seus vinhos encorpados, repletos de taninos potentes (usualmente amaciados pelo estágio em carvalho).

A região de Luján de Cuyo foi a primeira a ter uma denominação de origem controlada (DOC) nas Américas para a casta Malbec. Embora vigore há décadas a denominação de origem foi reconhecida oficialmente em 2005. Os vinhos produzidos sob esse rótulo são elaborados com Malbec, e procedentes da zona de Luján de Cuyo, na província de Mendoza. De cor muito intensa e escura, vermelho cereja, o Malbec Luján de Cuyo pode chegar a parecer quase preto, e tem aromas de frutas negras e de especiarias doces, com forte expressão mineral. Como o conceito de denominação de origem não é tão forte na produção de vinhos do Novo Mundo, onde o que costuma dominar é o conceito de classificação de vinhos conforme a composição, e não conforme o terroir, ainda são poucas as vinícolas que produzem vinhos rotulados como Malbec Luján de Cuyo.

O dia 17 de abril é, para Vinhos da Argentina, não apenas um símbolo da transformação da indústria vinícola argentina, mas também o ponto de partida para o desenvolvimento desta uva, um emblema para o nosso país em todo o mundo.




Fontes:

Site Wines of Argentina, em:


Site El Malbec, em:


Site Vinos y Vides, em:


Sites Mulheres Empreendedoras, em:


Site Tintos & Tantos, em:



Site Grand Cru, em:


Site Revista Adega, em:










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