Durante séculos da história da produção de vinhos poucas
pessoas sabiam quais as variedades de uvas havia na bebida que estavam
consumindo. Nomes como Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Merlot, Sauvignon Blanc
só ficaram "famosos" nos rótulos do mundo todo quando os produtores
de fora da Europa, especialmente os norte-americanos, resolveram estampar os
nomes das principais castas europeias em seus vinhos.
Antes desse fenômeno ocorrer, por volta de meados do século
passado, os produtores raramente colocavam os nomes das variedades em seus
produtos, optando sempre pelo nome das regiões DOC (Denominações de Origem
Controlada) junto ao nome da propriedade, como, por exemplo: Joseph Drouhin
Chablis. Ou seja, um Chablis - produto que representa uma região da Borgonha
onde os vinhos brancos são feitos somente com uvas Chardonnay - do vinhateiro
Joseph Drouhin. Então, o que indicava a casta com a qual o vinho era feito era
o nome da região.
Modernamente, em uma jogada de marketing, os produtores do
Novo Mundo passaram a colocar as variedades nos rótulos, para mostrar aos
consumidores que seus vinhos eram feitos com as tradicionais e nobres uvas
europeias e, assim, também para dar uma pista do estilo que seus vinhos teriam.
Os consumidores passaram então a identificar-se com o estilo de cada uva e a
apresentação das castas ganhou espaço no mundo inteiro.
Varietais e Blends
No entanto, vinhos monovarietais (ou varietais, feitos,
teoricamente, com apenas uma casta) e blends (ou também ditos de corte, ou
assemblage, ou assemblagem) não são novidade. Duas das principais regiões
produtoras de vinho no mundo são os melhores exemplos dessas tradições. Os
renomados tintos de Bordeaux sempre foram feitos com cortes. Cabernet
Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc e Petit Verdot são quatro das principais
castas usadas nos blends feitos na região. Durante séculos de savoir-faire, os
produtores daquela região aprenderam a misturar quantidades exatas de cada
variedade para produzir seus vinhos safra após safra. Já os vinhateiros da
Borgonha, outra clássica zona vitivinicultora francesa, sempre fizeram seus
tintos com uma única casta tinta, a Pinot Noir, defendendo que ela seria delicada
e sutil demais para se misturar com as outras. Nos vinhos de corte, a mistura
das uvas é pensada pelo enólogo para que ele obtenha o melhor de cada uma das
variedades.
Varietal 100% ou Blends
aleatórios?
Quem pensa que vinhos varietais são sempre 100% feitos de uma
única casta está enganado. A legislação de cada país, e de cada região,
determina a porcentagem mínima necessária para que um vinho possa ostentar no
rótulo o nome de uma casta como sendo um monovarietal. No Chile e na Nova
Zelândia, por exemplo, é preciso que 75% do vinho tenha uma única casta para
que seja considerado varietal. Ou seja, o enólogo pode "completar" o
vinho com outros tipos de uva caso considere necessário. Por que ele faria
isso? Para, por exemplo, emprestar ao seu vinho maior acidez, ou então dar mais
estrutura e corpo através do acréscimo de outra variedade. Porém, apesar de
permitido, as percentagens de outras cepas costumam ser bem menores que 25%.
No Brasil, para que um vinho traga o nome de apenas uma uva
estampado no rótulo precisa ter ao menos 75% dessa variedade na sua composição.
E os blends? Seriam eles feitos aleatoriamente, juntando
algumas castas e pronto? Nada disso. Em Châteauneuf-du-Pape, região
vitivinícola francesa localizada no vale do Rhône, no sudeste da França, 13
variedades de uva são permitidas para compor seus vinhos e cada enólogo usa as
que acredita mais interessantes (ou melhores) em uma determinada safra. Ele
escolhe as proporções de cada uva baseado no estilo que pretende obter,
contrabalançando pontos fracos de uma com os fortes de outra e criando algo
harmonioso e maior do que a soma das partes. Essa mistura geralmente é feita
pouco antes de o vinho ser engarrafado. Contudo, há casos, como nos Vinhos do
Porto, em que diferentes uvas são prensadas juntas, formando um único caldo que
depois será fermentado. Vinhos varietais nem sempre são feitos 100% de uma
única uva.
O que é melhor?
Os defensores dos vinhos varietais advogam que somente os
monocastas representam a verdadeira essência do terroir, ou seja, o gosto real
da terra, do clima e todas as nuances da qual depende uma região produtora. Já
os fãs dos blends defendem a arte milenar que está por trás da técnica de
misturar diferentes castas e obter um vinho da máxima qualidade. O que é
melhor? Aí depende de você, pois há vinhos maravilhosos feitos com apenas uma
uva e também com diversas. Bom mesmo é provar para descobrir o que há de mais
interessante por aí.
Safras
Repare que boa parte dos vinhos de corte possuem proporções
diferentes de cada uva ano a ano. Por que isso? Porque a cada safra em uma
determinada região, um ou mais tipos de uva se dão melhor do que outros, ou
então ganham características levemente diferentes de anos anteriores, devido
aos efeitos do clima. Assim, um grande produtor, que sempre busca a constância
em seus vinhos, vai procurar compensar essas diferenças reajustando as
proporções de cada variedade. Em alguns casos, como em Champagne, por exemplo,
ele não apenas pode mudar as porcentagens de cada uva (Chardonnay, Pinot Noir e
Pinot Meunier são as três castas permitidas) como também usar vinhos base de
outras safras para chegar ao estilo que pretende.
Fontes: Revista Adega, em: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/entenda-melhor-as-classificacoes-blend-e-varietal_3062.html
Blog da Casa Valduga, em: https://blog.famigliavalduga.com.br/vinho-varietal-tudo-que-voce-precisa-saber-sobre-essa-classificacao/
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