Definitivamente a Malbec na Argentina é a casta tinta mais
emblemática. Embora não seja uma “filha” natural, biológica, foi adotada e lá
se perpetuou e até hoje a história se escreve a cada dia com rótulos
emblemáticos. Mas não se enganem caros leitores, há espaço para as cepas
brancas e uma, em especial, certamente ganhou notoriedade na terra dos Hermanos
e também na minha mesa e no meu paladar: a Torrontés. Oriunda da Espanha, a
Torrontés, foi amplamente cultivada na região da Galícia ganhou o terroir
argentino ganhando lá a fama que hoje é cultivada pelos mais entusiasmados
enófilos a começar por mim. A casta começou a ganhar destaque no início da
década de 1970. Mas há indícios de que ela chegou na Argentina muitos anos
antes. Algumas fontes citam que foi em 1500 com as missões jesuítas, outras
relatam que foi em 1800 com os conquistadores espanhóis, mas a data exata é uma
incógnita. O nome Torrontés é utilizado como uma referência para um grupo de
uvas brancas, entre as mais conhecidas estão a Torrontés Riojano, a Torrontés
Sanjuanino e a Torrontés Mendocino. Mas muitas vezes, apesar da diversidade,
encontramos apenas o nome “Torrontés” nos rótulos dos vinhos. Bem, diante dessa
ficha técnica da história da Torrontés, eu também tenho a minha história com
essa incrível casta branca. Foi com a Torrontés que eu entendi e assimilei o
conceito mais pleno de que uma casta branca pode ter personalidade, leve,
fresca e com uma bela acidez. Ah a acidez, definitivamente tem tudo a ver com
as cepas brancas, pois ela traz a jovialidade e o frescor de que esperamos
destas. E a descobri graças as minhas pesquisas, as minhas inquietações e
avidez por aprender e conhecer sobre a bebida de que amo tanto: o vinho.
Pensei: Será que só existe a Malbec na Argentina? E pesquisei e vi e li muitas
referências sobre essa casta: a Torrontés. Descobri alguns rótulos, me enamorei
pela cepa e agora sigo nas minhas degustações com essa casta que não falta na
minha adega.
E um vinho, claro, da casta Torrontés, me chamou muito a atenção,
um vinho que definitivamente eu degustei e gostei e veio da emblemática região
argentina Mendoza, e da tradicional Bodega Norton e se chama Lo Tengo, da safra
2012. Um vinho que, já no rótulo, enaltece a cultura da Argentina: o tango.
Essas ligações e sinergias com a cultura se reflete fortemente com a
vitivinicultura também, isso o argentino faz e muito bem. A Torrontés virou um “produto”
que exporta os vinhos argentinos para o mundo, juntamente com a Malbec.
Então vamos ao vinho!
Na taça apresenta um lindo e brilhante amarelo dourado com
reflexos esverdeados.
No nariz o destaque fica para as notas frutadas, frutas
cítricas também é evidente, notas de limão, de abacaxi, damasco, pera e outro
quesito que faz da Torrontés maravilhosa é o toque floral, flores brancas fazem
desse vinho agradavelmente aromático e delicado.
Na boca é redondo, elegante, com uma personalidade marcante,
com a reprodução das frutas brancas amplamente percebidas no aspecto olfativo,
mostrando um equilíbrio entre ela, a fruta e a acidez que está em evidência,
mas que não agride ou incomoda, revelando todo o seu frescor e jovialidade.
Um vinho que personifica com fidelidade a casta, que entrega
com qualidade as características mais marcantes da Torrontés: personalidade,
frescor, leveza, sabor. Essa simbiose faz da casta uma das mais importantes,
versáteis e emblemáticas entre as cepas brancas catalogadas no mundo do vinho. São
tão versáteis que podem ser degustadas sem acompanhamento, de forma
descontraída, mas com comidas leves e até massas. Tem 13% de teor alcoólico.
Sobre a Bodega Norton:
Em 1895 o engenheiro Edmund James Palmer Norton chega à Argentina para ajudar na construção de uma ferrovia através dos Andes e se apaixona pelo terroir de Mendoza. Fazendo uma mudança drástica em sua vida, ele decide fundar sua própria vinha em Luján de Cuyo com vinhas importadas da França. Em 1919 começam as obras da adega que conhecemos hoje. Em 1951 os vinhos tintos e brancos finos de Norton são aclamados nacionalmente.
Em 1989 o empresário austríaco Gernot Langes-Swarovski se
maravilha com a beleza de Mendoza e vê potencial no desenvolvimento dos vinhos
argentinos. Ele decide comprar a Bodega Norton, a única vinícola tradicional da
região cercada por vinhedos próprios. Sob a direção de Michael Halstrick, filho
de Gernot Langes-Swarovski, começa uma nova era na vinha, com investimentos e
expansão, tornando a Bodega Norton uma das primeiras a desenvolver um mercado
de exportação. Em 1994 a Bodega Norton passa a ser sinônimo de Malbec argentino
e é reconhecida com a classificação DOC (denominação de origem controlada). O
renomado enólogo Jorge Riccitelli apresenta o Malbec Norton DOC ao mercado. Em
2000 a Bodega Norton torna-se uma das primeiras vinícolas do país a produzir
espumante branco com sua linha Norton Sparkling. Em 2014 Norton lança sua linha
Single Vineyard de vinhos de alto padrão chamada LOTE, um conceito inovador que
permite ao consumidor desfrutar dos diversos terroirs de cada propriedade. A Bodega
Norton se torna uma das vinícolas de exportação mais importantes da Argentina,
exportando vinhos de alta qualidade para mais de 60 países. Em 2017 procurando
uma forma de refletir melhor os vinhos de qualidade e profissionalismo que a
Bodega Norton representa, sem falar na sua equipe de trabalhadores com espírito
familiar, a vinícola leva sua marca para um novo rumo. Uma reforma para
celebrar uma longa história como pioneiro do vinho argentino. A frase
manuscrita "Signature Winemaking" denota a qualidade e a herança da
Bodega Norton, inspirada pelo próprio Edmund Norton e continuada por mais de
125 anos.