sexta-feira, 4 de março de 2022

Vale de Lisboa Premium 2020

 

Em algumas resenhas atrás eu já expus a minha predileção pelos vinhos lusitanos da região de Lisboa. Apesar de eu ter tido o meu primeiro contato com os vinhos portugueses por intermédio do Alentejo, Lisboa entrou em minha vida pelos rótulos e taças cheias. Sei que sou redundante por conta disso, mas também não cansarei de dizer que melhor ser redundante do que omisso e fortalecer o meu amor por esses vinhos influenciados pelo atlântico.

Mas quando busquei referências para me ajudar a construir essa resenha li alguns comentários, algumas opiniões que, embora respeite e muito, de que por ser uma região que produz vinhos de volume, em larga escala, são tidos, segundo essa fonte, como de baixa qualidade, vinhos ruins, além também de ser produzidos por adegas cooperativas.

Como disse respeito a opinião, mas pelo fato de ser, a meu ver, produzido em larga escala, não significa sempre que são de baixa qualidade, são ruins. Mas afinal qual a concepção de ruim?

Não quero entrar aqui no mérito do assunto que requer uma discussão mais profunda e pormenorizada, mas o ruim no universo do vinho é relativo. É ruim porque é barato? É ruim porque é um vinho simples? É ruim porque não passa por barricas de carvalho? É ruim porque é produzido por adegas cooperativas?

Parecem-me ser comentários perniciosos, carregados de visões pré-concebidas que dão conta de que sempre seja uma regra! E não é uma regra, não pode ser entendida como uma regra! Temos que analisar questões como terroir, proposta do vinho e adequar-se a essas situações e chegar a uma decisão quanto a sua degustação ou não com base nelas e não em situações genéricas e logo movidas pelo preconceito.

Confesso que, por vezes, as minhas percepções podem ser passionais, pelo fato de ser um amante da região de Lisboa, mas precisamos mudar o nosso foco de percepção de um vinho e não sermos tão passionais, usando a poesia líquida como status e relacionando-o como qualidade.

Contudo hoje à noite pede um lisboeta até porque, devido a essa predileção, tenho muitos rótulos e preciso degustar um rótulo da referida região. Sem mais delongas vamos ao rótulo escolhido. O vinho que degustei e gostei veio, claro, da região portuguesa de Lisboa e se chama Vale de Lisboa Premium com aquele blend típico da região com Castelão (50%) e Aragonez (50%) da safra 2020.

E já que falei em redundância, repetições, faço questão de enaltecer a história de Lisboa e da sua importância para o cenário vitivinícola de Portugal e que merece ser um pouco mais respeitado. Então com vocês: Lisboa.

Lisboa

A costa de Portugal é muito privilegiada para a produção vitivinícola graças à sua posição em relação ao Oceano Atlântico, à incidência de ventos, ao solo e ao relevo que constituem o local. Entre as principais áreas produtoras podemos citar a região dos vinhos de Lisboa, antigamente conhecida como Estremadura, famosa tanto por tintos encorpados como por brancos leves e aromáticos.

Tem mais de 30 hectares de cultivo com mais de 9 mil aptas à produção de Vinho Regional de Lisboa e Vinho com Denominação de Origem Controlada. O nome passou em 2009 para Lisboa de forma a diferenciar da região de mesmo nome na Espanha, também produtora de vinhos.

O litoral da IGP Lisboa corre para o sul de Beiras a partir da capital de Portugal, onde o rio Tejo encontra o Oceano Atlântico. Suas características geográficas proporcionam certa complexidade à região, pois está situada climaticamente em zona de transição dos ventos úmidos e estios, com solo de idades variadas, secos, encostas e maciços montanhosos se contrapõem a várzeas e terras de aluvião. Ainda sofre influencia direta da capital do país localizada em um extremo da região. Uma de suas características determinantes é a grande variedade de solos, como terras de aluvião (sedimentar), calcário secundário, várzeas e maciços montanhosos, muitas vezes misturados. Cada um desses terrenos pode proporcionar às uvas características completamente diferentes.

Lisboa

Esta região possui boas condições para produzir vinhos de qualidade, todavia há cerca de quinze anos atrás a região de Lisboa era essencialmente conhecida por produzir vinho em elevada quantidade e de pouca qualidade. Assim, iniciou-se um processo de reestruturação nas vinhas e adegas. Provavelmente a reestruturação mais importante realizou-se nas vinhas, uma vez que as novas castas plantadas foram escolhidas em função da sua produção em qualidade e não em quantidade. Hoje, os vinhos da Região de Lisboa são conhecidos pela sua boa relação qualidade/preço.

A região concentrou-se na plantação das mais nobres castas portuguesas e estrangeiras e em 1993 foi criada a categoria “Vinho Regional da Estremadura”, hoje "Vinho Regional Lisboa". A nova categoria incentivou os produtores a estudar as potencialidades de diferentes castas e, neste momento, a maior parte dos vinhos produzidos na região de Lisboa são regionais (a lei de vinhos DOC é muito restritiva na utilização de castas).

Entre as principais uvas cultivadas podemos citar as brancas Arinto, Fernão Pires (ambas naturais de Portugal) e Malvasia, e as tintas, Alicante Bouschet, Castelão, Touriga Nacional e Aragonez (como é chamada a Tempranillo na região).

Acredita-se que a elaboração de vinhos seja uma atividade desde o século 12, quando os monges da Ordem de Cister se estabeleceram na região. Uma de suas principais funções era justamente a produção da bebida para a celebração de missas.

A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa), Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).

A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa), Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).

As regiões de Colares, Carcavelos e Bucelas outrora muito importantes, hoje têm praticamente um interesse histórico. A proximidade da capital e a necessidade de urbanizar terrenos quase levou à extinção das vinhas nestas Denominações de Origem.

A Denominação de Origem de Bucelas apenas produz vinhos brancos e foi demarcada em 1911. Os seus vinhos, essencialmente elaborados a partir da casta Arinto, foram muito apreciados no estrangeiro, especialmente pela corte inglesa. Os vinhos brancos de Bucelas apresentam acidez equilibrada, aromas florais e são capazes de conservar as suas qualidades durante anos.

Colares é uma Denominação de Origem que se situa na zona sul da região de Lisboa. É muito próxima do mar e as suas vinhas são instaladas em solos calcários ou assentes em areia. Os vinhos são essencialmente elaborados a partir da casta Ramisco, todavia a produção desta região raramente atinge as 10 mil garrafas.

A zona central da região de Lisboa (Óbidos, Arruda, Torres Vedras e Alenquer) recebeu a maioria dos investimentos na região: procedeu-se à modernização das vinhas e apostou-se na plantação de novas castas. Hoje em dia, os melhores vinhos DOC desta zona provêm de castas tintas como por exemplo, a casta Castelão, a Aragonez (Tinta Roriz), a Touriga Nacional, a Tinta Miúda e a Trincadeira que por vezes são lotadas com a Alicante Bouschet, a Touriga Franca, a Cabernet Sauvignon e a Syrah, entre outras. Os vinhos brancos são normalmente elaborados com as castas Arinto, Fernão Pires, Seara-Nova e Vital, apesar da Chardonnay também ser cultivada em algumas zonas.

A região de Alenquer produz alguns dos mais prestigiados vinhos DOC da região de Lisboa (tintos e brancos). Nesta zona as vinhas são protegidas dos ventos atlânticos, favorecendo a maturação das uvas e a produção de vinhos mais concentrados. Noutras zonas da região de Lisboa, os vinhos tintos são aromáticos, elegantes, ricos em taninos e capazes de envelhecer alguns anos em garrafa. Os vinhos brancos caracterizam-se pela sua frescura e carácter citrino.

A maior Denominação de Origem da região, Encostas d’Aire, foi a última a sofrer as consequências da modernização. Apostou-se na plantação de novas castas como a Baga ou Castelão e castas brancas como Arinto, Malvasia, Fernão Pires, que partilham as terras com outras castas portuguesas e internacionais, como por exemplo, a Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Aragonez, Touriga Nacional ou Trincadeira. O perfil dos vinhos começou a alterar-se: ganharam mais cor, corpo e intensidade.

Agora o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, escuro, com tons arroxeados, creditado pela Aragonez, com lágrimas finas e em média intensidade.

No nariz traz aromas de frutas vermelhas, graças a Castelão, e em compota e que se destacam as cerejas, amoras, framboesas e groselhas, além de um discreto, mas elegante floral que traz uma sensação de frescor.

Na boca é leve, com o protagonismo da fruta como no aspecto olfativo, com um curioso e interessante volume de boca, mas macio e fácil de degustar, com taninos domados, um pouco alcoólico, mas sem comprometer o conjunto do vinho, e uma boa acidez que corrobora o frescor. Tem um final prolongado e harmonioso.

Sempre quando vou degustar um vinho da Região de Lisboa e me vejo, me sinto feliz. E essa felicidade já começa nos preparativos, quando me vejo, me pego com a garrafa nas mãos olhando-a, vendo todas as suas nuances, as suas informações e se materializa na taça, na degustação. Podem não ser vinhos complexos, estruturados ou caros, primeiramente pelo fato de que essa é a proposta dos vinhos lisboetas, vinhos solares, frutados, banhados pelo oceano, pelo sol. A história acima mencionada nesta resenha corrobora tais fatos. E por serem solares e descompromissados, os produtores atentos e preocupados com o terroir de Lisboa, intervém o menos possível no processo de vinificação. Adoro os vinhos que leva a Castelão, a Aragonez, são vinhos que expressam a sua verdade, a sua tipicidade. Assim o é este rótulo: o Vale de Lisboa Preimum basicamente é um vinho frutado, vivaz, fácil de degustar e apropriados para momentos informais e de conversas com fraternais amigos e temos de considerar o corte, o blend bem dividido entre as castas Castelão e Aragonez como determinante para identificar as características das referidas cepas. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Encostas de Alqueva:

Localizada em plena Região Demarcada do Alentejo, a empresa Encostas do Alqueva, surge associada à Cooperativa Agrícola de Granja e à Amareleza Vinhos, reconhecidas produtoras de vinhos de qualidade.

À Encostas do Alqueva cabe a missão do desenvolvimento, gestão estratégica das marcas e co­mercialização das mesmas. Nesse contexto tracejou um rumo, pensado e estruturado, para levar os produtos de qualidade produzidos nesta região até ao mercado.

A Adega Cooperativa da Granja, com 70 anos de história (1952-2022), há muito que é reconhecida pelos seus excelentes vinhos.

Em 1989 atingiu o seu expoente máximo com um vinho “Campeão do Mundo” num concurso em Ljubljana na ex República na Jugoslávia.

Desde 2007 que se iniciou uma nova fase na vida desta adega. Forte investimento na modernização da linha de produção, nova equipe de enologia e recuperação das melhores tradições da região, tanto ao nível das castas como do estilo dos seus vinhos.

Mais informações acesse:

https://www.encostasdealqueva.pt/

Referências:

“Blog Divvino”: https://www.divvino.com.br/blog/vinho-lisboa/

“Olhar Turístico”: https://www.olharturistico.com.br/regiao-dos-vinhos-de-lisboa/

“Belle Cave”: https://www.bellecave.com.br/vinhos-de-lisboa-saiba-mais-sobre-essa-regiao-produtora

“Infovini”: http://www.infovini.com/pagina.php?codNode=3901

 

 

 

 








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