Em algumas resenhas atrás eu já expus a minha predileção
pelos vinhos lusitanos da região de Lisboa. Apesar de eu ter tido o meu
primeiro contato com os vinhos portugueses por intermédio do Alentejo, Lisboa
entrou em minha vida pelos rótulos e taças cheias. Sei que sou redundante por
conta disso, mas também não cansarei de dizer que melhor ser redundante do que
omisso e fortalecer o meu amor por esses vinhos influenciados pelo atlântico.
Mas quando busquei referências para me ajudar a construir
essa resenha li alguns comentários, algumas opiniões que, embora respeite e
muito, de que por ser uma região que produz vinhos de volume, em larga escala,
são tidos, segundo essa fonte, como de baixa qualidade, vinhos ruins, além
também de ser produzidos por adegas cooperativas.
Como disse respeito a opinião, mas pelo fato de ser, a meu
ver, produzido em larga escala, não significa sempre que são de baixa
qualidade, são ruins. Mas afinal qual a concepção de ruim?
Não quero entrar aqui no mérito do assunto que requer uma
discussão mais profunda e pormenorizada, mas o ruim no universo do vinho é
relativo. É ruim porque é barato? É ruim porque é um vinho simples? É ruim
porque não passa por barricas de carvalho? É ruim porque é produzido por adegas
cooperativas?
Parecem-me ser comentários perniciosos, carregados de visões
pré-concebidas que dão conta de que sempre seja uma regra! E não é uma regra,
não pode ser entendida como uma regra! Temos que analisar questões como
terroir, proposta do vinho e adequar-se a essas situações e chegar a uma
decisão quanto a sua degustação ou não com base nelas e não em situações
genéricas e logo movidas pelo preconceito.
Confesso que, por vezes, as minhas percepções podem ser
passionais, pelo fato de ser um amante da região de Lisboa, mas precisamos
mudar o nosso foco de percepção de um vinho e não sermos tão passionais, usando
a poesia líquida como status e relacionando-o como qualidade.
Contudo hoje à noite pede um lisboeta até porque, devido a
essa predileção, tenho muitos rótulos e preciso degustar um rótulo da referida
região. Sem mais delongas vamos ao rótulo escolhido. O vinho que degustei e
gostei veio, claro, da região portuguesa de Lisboa e se chama Vale de Lisboa
Premium com aquele blend típico da região com Castelão (50%) e Aragonez (50%)
da safra 2020.
E já que falei em redundância, repetições, faço questão de enaltecer a história de Lisboa e da sua importância para o cenário vitivinícola de Portugal e que merece ser um pouco mais respeitado. Então com vocês: Lisboa.
Lisboa
A costa de Portugal é muito privilegiada para a produção
vitivinícola graças à sua posição em relação ao Oceano Atlântico, à incidência
de ventos, ao solo e ao relevo que constituem o local. Entre as principais
áreas produtoras podemos citar a região dos vinhos de Lisboa, antigamente
conhecida como Estremadura, famosa tanto por tintos encorpados como por brancos
leves e aromáticos.
Tem mais de 30 hectares de cultivo com mais de 9 mil aptas à
produção de Vinho Regional de Lisboa e Vinho com Denominação de Origem
Controlada. O nome passou em 2009 para Lisboa de forma a diferenciar da região
de mesmo nome na Espanha, também produtora de vinhos.
O litoral da IGP Lisboa corre para o sul de Beiras a partir
da capital de Portugal, onde o rio Tejo encontra o Oceano Atlântico. Suas
características geográficas proporcionam certa complexidade à região, pois está
situada climaticamente em zona de transição dos ventos úmidos e estios, com
solo de idades variadas, secos, encostas e maciços montanhosos se contrapõem a
várzeas e terras de aluvião. Ainda sofre influencia direta da capital do país
localizada em um extremo da região. Uma de suas características determinantes é
a grande variedade de solos, como terras de aluvião (sedimentar), calcário
secundário, várzeas e maciços montanhosos, muitas vezes misturados. Cada um
desses terrenos pode proporcionar às uvas características completamente
diferentes.
Esta região possui boas condições para produzir vinhos de
qualidade, todavia há cerca de quinze anos atrás a região de Lisboa era
essencialmente conhecida por produzir vinho em elevada quantidade e de pouca
qualidade. Assim, iniciou-se um processo de reestruturação nas vinhas e adegas.
Provavelmente a reestruturação mais importante realizou-se nas vinhas, uma vez
que as novas castas plantadas foram escolhidas em função da sua produção em
qualidade e não em quantidade. Hoje, os vinhos da Região de Lisboa são
conhecidos pela sua boa relação qualidade/preço.
A região concentrou-se na plantação das mais nobres castas
portuguesas e estrangeiras e em 1993 foi criada a categoria “Vinho Regional da
Estremadura”, hoje "Vinho Regional Lisboa". A nova categoria
incentivou os produtores a estudar as potencialidades de diferentes castas e,
neste momento, a maior parte dos vinhos produzidos na região de Lisboa são
regionais (a lei de vinhos DOC é muito restritiva na utilização de castas).
Entre as principais uvas cultivadas podemos citar as brancas
Arinto, Fernão Pires (ambas naturais de Portugal) e Malvasia, e as tintas,
Alicante Bouschet, Castelão, Touriga Nacional e Aragonez (como é chamada a
Tempranillo na região).
Acredita-se que a elaboração de vinhos seja uma atividade
desde o século 12, quando os monges da Ordem de Cister se estabeleceram na
região. Uma de suas principais funções era justamente a produção da bebida para
a celebração de missas.
A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de
Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa),
Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e
Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).
A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de
Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa), Alenquer,
Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e Encostas
d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).
As regiões de Colares, Carcavelos e Bucelas outrora muito
importantes, hoje têm praticamente um interesse histórico. A proximidade da
capital e a necessidade de urbanizar terrenos quase levou à extinção das vinhas
nestas Denominações de Origem.
A Denominação de Origem de Bucelas apenas produz vinhos
brancos e foi demarcada em 1911. Os seus vinhos, essencialmente elaborados a
partir da casta Arinto, foram muito apreciados no estrangeiro, especialmente
pela corte inglesa. Os vinhos brancos de Bucelas apresentam acidez equilibrada,
aromas florais e são capazes de conservar as suas qualidades durante anos.
Colares é uma Denominação de Origem que se situa na zona sul
da região de Lisboa. É muito próxima do mar e as suas vinhas são instaladas em
solos calcários ou assentes em areia. Os vinhos são essencialmente elaborados a
partir da casta Ramisco, todavia a produção desta região raramente atinge as 10
mil garrafas.
A zona central da região de Lisboa (Óbidos, Arruda, Torres
Vedras e Alenquer) recebeu a maioria dos investimentos na região: procedeu-se à
modernização das vinhas e apostou-se na plantação de novas castas. Hoje em dia,
os melhores vinhos DOC desta zona provêm de castas tintas como por exemplo, a
casta Castelão, a Aragonez (Tinta Roriz), a Touriga Nacional, a Tinta Miúda e a
Trincadeira que por vezes são lotadas com a Alicante Bouschet, a Touriga
Franca, a Cabernet Sauvignon e a Syrah, entre outras. Os vinhos brancos são
normalmente elaborados com as castas Arinto, Fernão Pires, Seara-Nova e Vital,
apesar da Chardonnay também ser cultivada em algumas zonas.
A região de Alenquer produz alguns dos mais prestigiados
vinhos DOC da região de Lisboa (tintos e brancos). Nesta zona as vinhas são
protegidas dos ventos atlânticos, favorecendo a maturação das uvas e a produção
de vinhos mais concentrados. Noutras zonas da região de Lisboa, os vinhos
tintos são aromáticos, elegantes, ricos em taninos e capazes de envelhecer
alguns anos em garrafa. Os vinhos brancos caracterizam-se pela sua frescura e
carácter citrino.
A maior Denominação de Origem da região, Encostas d’Aire, foi
a última a sofrer as consequências da modernização. Apostou-se na plantação de
novas castas como a Baga ou Castelão e castas brancas como Arinto, Malvasia,
Fernão Pires, que partilham as terras com outras castas portuguesas e
internacionais, como por exemplo, a Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Aragonez,
Touriga Nacional ou Trincadeira. O perfil dos vinhos começou a alterar-se:
ganharam mais cor, corpo e intensidade.
Agora o vinho!
Na taça revela um vermelho rubi intenso, escuro, com tons
arroxeados, creditado pela Aragonez, com lágrimas finas e em média intensidade.
No nariz traz aromas de frutas vermelhas, graças a Castelão, e
em compota e que se destacam as cerejas, amoras, framboesas e groselhas, além de
um discreto, mas elegante floral que traz uma sensação de frescor.
Na boca é leve, com o protagonismo da fruta como no aspecto
olfativo, com um curioso e interessante volume de boca, mas macio e fácil de
degustar, com taninos domados, um pouco alcoólico, mas sem comprometer o
conjunto do vinho, e uma boa acidez que corrobora o frescor. Tem um final
prolongado e harmonioso.
Sempre quando vou degustar um vinho da Região de Lisboa e me
vejo, me sinto feliz. E essa felicidade já começa nos preparativos, quando me
vejo, me pego com a garrafa nas mãos olhando-a, vendo todas as suas nuances, as
suas informações e se materializa na taça, na degustação. Podem não ser vinhos
complexos, estruturados ou caros, primeiramente pelo fato de que essa é a proposta
dos vinhos lisboetas, vinhos solares, frutados, banhados pelo oceano, pelo sol.
A história acima mencionada nesta resenha corrobora tais fatos. E por serem
solares e descompromissados, os produtores atentos e preocupados com o terroir
de Lisboa, intervém o menos possível no processo de vinificação. Adoro os
vinhos que leva a Castelão, a Aragonez, são vinhos que expressam a sua verdade,
a sua tipicidade. Assim o é este rótulo: o Vale de Lisboa Preimum basicamente é
um vinho frutado, vivaz, fácil de degustar e apropriados para momentos
informais e de conversas com fraternais amigos e temos de considerar o corte, o
blend bem dividido entre as castas Castelão e Aragonez como determinante para
identificar as características das referidas cepas. Tem 13% de teor alcoólico.
Sobre a Encostas de Alqueva:
Localizada em plena Região Demarcada do Alentejo, a empresa
Encostas do Alqueva, surge associada à Cooperativa Agrícola de Granja e à
Amareleza Vinhos, reconhecidas produtoras de vinhos de qualidade.
À Encostas do Alqueva cabe a missão do desenvolvimento,
gestão estratégica das marcas e comercialização das mesmas. Nesse contexto
tracejou um rumo, pensado e estruturado, para levar os produtos de qualidade
produzidos nesta região até ao mercado.
A Adega Cooperativa da Granja, com 70 anos de história
(1952-2022), há muito que é reconhecida pelos seus excelentes vinhos.
Em 1989 atingiu o seu expoente máximo com um vinho “Campeão
do Mundo” num concurso em Ljubljana na ex República na Jugoslávia.
Desde 2007 que se iniciou uma nova fase na vida desta adega. Forte
investimento na modernização da linha de produção, nova equipe de enologia e
recuperação das melhores tradições da região, tanto ao nível das castas como do
estilo dos seus vinhos.
Mais informações acesse:
https://www.encostasdealqueva.pt/
Referências:
“Blog Divvino”: https://www.divvino.com.br/blog/vinho-lisboa/
“Olhar Turístico”: https://www.olharturistico.com.br/regiao-dos-vinhos-de-lisboa/
“Belle Cave”:
https://www.bellecave.com.br/vinhos-de-lisboa-saiba-mais-sobre-essa-regiao-produtora
“Infovini”: http://www.infovini.com/pagina.php?codNode=3901
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