sábado, 19 de março de 2022

DNA Murviedro Bobal 2018

 

Mais uma degustação especial! E digo que essa degustação especial não se configura por ser um rótulo emblemático, caro ou de uma safra antiga e especial, nada disso! É especial pelo simples fato de ser especial para mim. Sim! É isso mesmo! Especial porque o considero como especial. Se for especial para você que está degustando, então considere assim e não por questões inerentes a valores e moda de rótulo.

Começo por ser um produtor que aprecio muito, que aprendi a gostar com algumas degustações surpreendentes, maravilhosas mesmo e com valores muito competitivos e o rótulo de hoje foi especial também, um valor extremamente bom para o meu bolso, muito acessível.

E segue com a casta! Pouco conhecida por aqui no Brasil, mas muito conhecida na Espanha, mais precisamente em uma região que está atingindo certa notoriedade, ganhando relativa credibilidade, inclusive, chamada Utiel-Requena. Então para quem curte ou conhece a região não preciso dizer que a casta emblemática por lá é a Bobal.

Essa será a minha segunda experiência com a Bobal. Já havia degustado o Bobal de SanJuan da safra 2016 e mais do que aprovei. Um vinho expressivo, frutado, macio, encorpado.

Lá em Utiel-Requena a Bobal reina absoluta tendo a arrasa quarteirão Tempranillo como protagonista também. Mas é muito gratificante degustar um Bobal de Utiel-Requena, pois traz fortemente o conceito de terroir, de tipicidade, a expressão de regionalismo de uma região que foge dos conhecidos e manjados Rioja e Ribera del Duero, degusta uma casta pouco conhecida, de um produtor que curtimos e ainda uma região em franco crescimento.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da região espanhola de Utiel-Requena e se chama DNA Murviedro Bobal (100%) da casta 2018. Para não fugir das tradições das resenhas vamos falar da história de Utiel-Requena e da sua casta principal: a Bobal.

Utiel-Requena

A Espanha possui a maior área cultivada de Vitis Vinifera do mundo, embora em volume de produção ocupe somente a terceira posição. Trata-se de um amplo território o qual nos presenteia, ano após ano, com vinhos exuberantes e geralmente de bastante personalidade: o emblemático Jerez fortificado da Andaluzia, tintos de Rioja, Priorat e Ribera Del Duero, brancos de Rueda, entre outros.

É natural que, entre as 13 macrorregiões a qual está dividida, existam sub-regiões as quais permaneçam relativamente ocultas do grande público, mesmo daquele consumidor habitual de vinhos. Algumas preferem manter o “anonimato”, dedicando sua produção ao consumo regional; outras, porém, dedicam esforços incansáveis no sentido de promover seu terroir, suas cepas endêmicas, a tipicidade de seus vinhos e as melhorias em seu processo produtivo. Este é o caso de Utiel-Requena.

Utiel-Requena

Recentemente, foram descobertos registros arqueológicos que comprovam que, desde o século V a.C., era praticada a vitivinicultura na região de Utiel-Requena. Sítios arqueológicos como El Molón, em Camporrobles, Las Pilillas, em Requena e Kelin, em Caudete atestam o passado vinícola da região. Quando do domínio romano sobre a região, estes introduziram novas técnicas de vinificação, propiciando a melhora dos vinhos ali produzidos. Utiel-Requena têm sua história também ligada ao período conhecido como Reconquista: a retomada, a partir do século VIII, do controle europeu dos territórios da Península Ibérica, dominados pelos árabes (mouros) desde o século VI.

Muitas das cidades da região foram fundadas e/ou possuem grande influência islâmica em suas construções, bem como vestígios de fortalezas e construções mouras, como a cidade de Chera, por exemplo. Em 1238, a região cai sob o domínio do reino de Castela. No século seguinte, após conflitos envolvendo este reino e seu vizinho, Aragão, ocorre a união entre a rainha Isabel (Castela) e Fernando (Aragão), conhecidos como os Reis Católicos, e, após a conquista dos demais reinos ibéricos por estes (exceto Portugal), constitui-se o Reino da Espanha.

Utiel-Requena, consequentemente, torna-se domínio espanhol. Durante o século XIX, eclodem na Espanha as Guerras Carlistas, que dividem a população espanhola entre os partidários do absolutismo e do liberalismo; reflexo de outras manifestações do mesmo cunho ocorridas Europa afora. Utiel (absolutista) e Requena (liberal), assim como as demais cidades da região, assumem posições antagônicas, situação somente resolvida com a conclusão da Primeira Guerra Carlista.

Utiel-Requena localiza-se na porção leste do território espanhol, dentro da província de Valencia. Situa-se numa zona de transição entre a costa mediterrânea e os platôs da região da Mancha. Seus vinhedos localizam-se predominantemente entre os rios Turia e Cabriel. A região possui um dos climas mais severos de toda a Espanha. Os verões costumam ser longos e quentes (máximas por vezes de 40 graus), enquanto os invernos são muito frios, com ocorrência frequente de geadas e granizo (mínimas podem chegar a -10 graus).

No entanto, as vinhas encontram-se adaptadas a tais rigores e oscilações e, como atenuante, sopra do Mar Mediterrâneo o Solano, vento frio que ajuda a suavizar o efeito dos quentes verões da região. O solo possui cor escura, de natureza calcária e pobre em matéria orgânica. Utiel-Requena é uma DOP (Denominación de Origen Protegida – Denominação de Origem Protegida) pertencente a Comunidade Valenciana, a qual possui certa autonomia em relação ao governo central espanhol. Não possui sub-regiões.

Bobal

As primeiras notícias da Bobal datam do século XIV. Da costa de Valência, esta uva estabeleceu-se com sucesso em outras regiões do interior da Espanha. Lugares como Utiel-Requena, Ribera e Manchuela, todas Denominação de Origem Controlada, tem a Bobal como uma das suas principais variedades, chegando seu cultivo ser quase que majoritário.

A Bobal é pouco cultivada fora da Espanha, há plantações dela nas regiões de Languedoc-Roussillon, no sul da França, e da Sardenha, na Itália. Dentro dessas regiões é também conhecida por requena, espagnol, benicarlo, provechón, valenciana, carignan d’espagne, balau, requenera, requeno, valenciana tinta ou bobos. Seu nome é derivado da palavra latina Bovale, que significa touro, e refere-se à semelhança que os seus cachos têm com a cabeça de um touro.

Bobal

É uma uva de porte médio para grande, com bagos redondos e cheios de sumo; além disso, apresentam quantidade razoável de taninos e sabores de chocolate e frutos secos. Seus cachos, por sua vez, são muito grandes, bem compactados e pesados.

Dá-se muito bem com climas mediterrâneos. Elabora diferentes tipos de vinhos, com especial destaque para os vinhos rosés, sempre jovens, com muita cor e com boa acidez; a Bobal ainda é responsável pelos aromas frutados destas bebidas. Os tintos desta uva são pouco alcoólicos, mas muito saborosos, vinhos de coloração cereja escura profunda e boa estrutura de taninos.

Por sua versatilidade e acidez adequada, a Bobal pode ainda ser ainda utilizada para produzir espumantes. As peles grossas de Bobal têm uma elevada quantidade de uma substância que dá cor intensa aos vinhos, bem como presenteia a bebida com uma presença importante de taninos finos, esse é um dos motivos que tem dado a esta uva um destaque especial na produção espanhola, principalmente na região de Manchuela, cujo status de Denominação de Origem deu respaldo ao cultivo da Bobal e aos os vinhos elaborados com ela frente ao mercado interno e externo.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, brilhantes e com reflexos violáceos com uma profusão de lágrimas finas e que desenham o bojo.

No nariz traz alguma complexidade, com notas intensas de frutas vermelhas maduras onde se destacam cerejas, ameixas e framboesa, além de um toque floral envolvente e que entrega um frescor.

Na boca é saboroso, seco, tem médio corpo, porém macio, equilibrado e fácil de degustar, com o protagonismo da fruta como no aspecto violáceo, tem volume de boca, alcoólico, mas que não incomoda, sendo bem integrado ao conjunto do vinho, tem taninos presentes, mas domados, uma picância instigante, uma boa acidez e toque inusitado de chocolate meio amargo, apesar de não passar por barricas de carvalho. Tem final prolongado.

DNA traz identidade, origem, características! E é assim com o DNA Murviedro e a todos os rótulos dessa linha da Murviedro: vinhos de expressividade, que elevam o conceito de terroir e é assim também quando falamos de Utiel-Requena e a sua emblemática Bobal. E, além da minha segunda experiência com a Bobal, também foi a minha segunda experiência com a linha “DNA” da Murviedro com o DNA Murviedro Gran Astro Tempranillo Crianza 2015. O DNA Murviedro Bobal traz corpo, personalidade, mas maciez, um aveludado que é entregue graças as notas frutadas, com taninos domados e acidez agradável. Um vinho oriundo de vinhas velhas de baixo rendimento o que corrobora, reforça as suas características. Um belo vinhos simples e especial. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Bodega Murviedro:

Bodegas Murviedro foi fundada em Valência em 1927, a princípio como filial espanhola do Grupo Swiss Schenk, que cresceu e se tornou uma das vinícolas mais importantes da região.

A Schenk España decide então, em 1931, concentrar as suas atividades na adega de Valência, o que, localizado junto ao porto, significou o início de um dos principais pilares da marca: a exportação.

Posteriormente, já em 2002, a empresa aproveita ao máximo as comemorações do 75º aniversário ao mudar seu nome para ‘Bodegas Murviedro’ em homenagem ao seu vinho Cavas Murviedro, uma das marcas de vinho mais emblemáticas da Comunidade Valenciana, o que fez de Murviedro uma das vinícolas mais renomadas.

A vinícola, desde que começou as suas atividade, sempre teve acesso a uma ampla variedade de castas indígenas e internacionais e produzem um amplo portfólio de estilos de vinho.

A filosofia da empresa baseia-se na combinação de modernas técnicas de vinificação com uvas de vinhas tradicionais para atender aos mais altos padrões internacionais de qualidade, mantendo seu caráter espanhol assim como a originalidade.

Mais informações acesse:

https://murviedro.es/

Referências:

Site “Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/os-prazeres-da-uva-bobal/

Blog “O Mundo e o Vinho”: http://omundoeovinho.blogspot.com/2015/11/utiel-requena.html

 

 






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