domingo, 13 de agosto de 2023

Salton Domênico Marselan (78%) e Tannat (22%) 2017

 

Definitivamente os vinhos da Salton fazem parte da minha história de simples e reles enófilo. Sempre costumo falar da Vinícola Miolo, mas a Salton tem o seu pedaço importante em minha vida afetiva e emocional com os vinhos.

Mas não apenas afetivo e emocional, mas também no quesito da qualidade, principalmente. Afinal é o que vale! A afeição e o carinho a um vinho e/ou produtor se constroem com a qualidade e a tipicidade de seus rótulos, afinal.

E faz algum tempo que não aprecio os rótulos da Salton e hoje o retorno às suas degustações será premiada com rótulos, ditos, “premium” da vinícola: a linha “Domênico”, que carrega o nome de seu fundador, então esperemos algo de bom, muito bom nessa nova linha de vinhos da gigante Salton.

Além da linha “Domênico”, que vislumbra novidades na linha “Premium” da Salton, ela também visa privilegiar uma região que está em franca ascendência entre os terroirs brasileiros, a Campanha Gaúcha, tanto que faz questão de carregar seu nome no vinho.

Como falei a linha “Domênico” faz homenagem a Antônio Domênico Salton, imigrante que iniciou a história da empresa há mais de cem anos. Segundo Maurício Salton, presidente da Salton, esta é a primeira “marca-conceito” da Salton e vem sendo trabalhada pelos jovens enólogos da quarta geração da família. O que entusiasma, apesar do caráter “industrial” da vinícola, dado o seu tamanho no mercado, ela mostra que ainda é familiar, enaltecendo o seu passado.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio, como disse, da Campanha Gaúcha e se chama Domênico Campanha, composto pelo inusitado e excelente corte de Marselan (76%) e Tannat (24%) da safra 2017. Para não perder o costume vamos também de histórias, vamos de Campanha Gaúcha.

Campanha Gaúcha

Entre o encontro de rios como Rio Ibicuí e o Rio Quaraí, forma-se o do Rio Uruguai, divisa entre o Brasil, Argentina e Uruguai. Parte da Campanha Gaúcha também recebe corpo hídrico subterrâneo, o Aquífero Guarani representa a segunda maior fonte de água doce subterrânea do planeta, dele estando 157.600 km2 no Rio grande do Sul.

A Campanha Gaúcha se espalha também pelo Uruguai e pela Argentina garante uma cumplicidade com os “hermanos” do outro lado do Rio Uruguai. Os costumes se assemelham e os elementos locais emprestam rusticidade original: o cabo de osso das facas, o couro nos tapetes, a tesoura de tosquia que ganha novas utilidades.

Campanha Gaúcha

No verão, entre os meses de dezembro a fevereiro, os dias ficam com iluminação solar extensa, contendo praticamente 15 horas diárias de insolação, o que colabora para a rápida maturação das uvas e também ajuda a garantir uma elevada concentração de açúcar, fundamental para a produção de vinhos finos de alta qualidade, complexos e intensos.

As condições climáticas são melhores que as da Serra Gaúcha e tem-se avançado na produção de uvas europeias e vinhos de qualidade. Com o bom clima local, o investimento em tecnologia e a vontade das empresas, a região hoje já produz vinhos de grande qualidade que vêm surpreendendo a vinicultura brasileira.

A mais de 150 anos, antes mesmo da abolição da escravatura, a fronteira Oeste do Rio Grande do Sul já produzia vinhos de mesa que eram exportados para os países do Prata (Uruguai, Argentina e Paraguai) e vendidos no Brasil.

A primeira vinícola registrada do Brasil ficava na Campanha Gaúcha. Com paredes de barro e telhado de palha, fundada por José Marimon, a vinícola J. Marimon & Filhos iniciou o plantio de seus vinhedos em 1882, na Quinta do Seival, onde hoje fica o município de Candiota.

E o mais interessante é que, desde o início da elaboração de vinhos na região, os vinhos da Campanha Gaúcha comprovam sua qualidade recebendo medalha de ouro, conforme um artigo de fevereiro de 1923, do extinto jornal Correio do Sul de Bagé.


IP (Indicação de Procedência) da Campanha Gaúcha

Em 2020 a Campanha Gaúcha ganhou reconhecimento de Indicação de Procedência (IP) para seus vinhos. Aprovada pelo Inpi na modalidade de I.P., a designação vem sendo utilizado pelas vinícolas da região a partir do ano de 2020 para os vinhos finos, tranquilos e espumantes, em garrafa.

A Indicação Geográfica (IG) foi o resultado de mais de 5 anos de pesquisa, discussões e estudos de um grupo interdisciplinar coordenados pela Embrapa Uva e Vinhos do Rio Grande do Sul.

Além disso, os vinhos devem ser elaborados a partir das 36 variedades de vitis viníferas permitidas pelo regulamento, plantados em sistema de condução em espaldeira e respeitando os limites máximos de produtividade por hectare e os padrões de qualidade das frutas que seguirão para a vinificação. Finalmente, os vinhos precisam ser avaliados e aprovados sensorialmente às cegas por uma comissão de especialistas.

Esta é uma delimitação localizada no bioma Pampa do estado do Rio Grande do Sul, região vitivinícola que começou a se fortalecer na década de 1980, ganhando novo impulso nos anos 2000, com o crescimento do número de produtores de uva e de vinho, expandindo a atividade para diversos municípios da região.

A área geográfica delimitada totaliza 44.365 km2. A IP abrange, em todo ou em parte, 14 municípios da região: Aceguá, Alegrete, Bagé, Barra do Quaraí, Candiota, Dom Pedrito, Hulha Negra, Itaqui, Lavras do Sul, Maçambará, Quaraí, Rosário do Sul, Santana do Livramento e Uruguaiana.

A Campanha Gaúcha está situada entre os paralelos 29º e 31º Sul e trata-se de uma zona ensolarada, com as temperaturas mais elevadas e o menor volume de chuvas entre as regiões produtoras do Sul do Brasil.

Ao mesmo tempo, as parreiras – predominantemente plantadas em sistema de espaldeira – foram estabelecidas em grandes extensões de planície (altitude entre 100 e 360 m.) com encostas de baixa declividade, o que favorece a mecanização das colheitas, reduz os custos e potencializa a escala produtiva. Uma característica importante é o solo basáltico e arenoso, com boa drenagem, que somada aos outros fatores propicia a ótima qualidade das uvas.

Esta foi uma conquista para a região, que pode refletir em uma garantia da qualidade de seus produtos. Fica a torcida para que, após muito tempo de consistência de qualidade e de uma real identificação da tipicidade, a Campanha Gaúcha possa ter o reconhecimento de uma Denominação de Origem (DO). Leia aqui na íntegra o regulamento de uso da IP da Campanha Gaúcha.

Na taça revela um lindo e brilhante rubi com entornos violáceos, com uma bela profusão de lágrimas finas e lentas que desenham as bordas do copo.

No nariz traz um aroma exuberante de frutas frescas, de frutas vermelhas com destaque para morangos, amoras, framboesas e groselhas, além de um floral, de violeta que corrobora a sua condição de frescor mesmo que aos seis anos de garrafa. Tem sutis notas de baunilha, especiarias e carvalho graças aos 21 meses em barricas de carvalho que o Tannat passou.

Na boca é extremamente elegante, seco, macio, redondo, mas com alguma estrutura e complexidade, tudo isso envolto em notas frutadas evidentes, quase que em compota, a fruta tem protagonismo como no olfativo. A madeira protagoniza trazendo a baunilha, o mentolado, o couro, com taninos bem sedosos, mas vivazes, bem como a sua acidez que, embora correta, equilibrada, é salivante, com um final guloso e persistente.

Não é apenas uma nomenclatura, algo que designa qualidade que fomenta interesses ou dita regras de etiqueta social, mas a tipicidade, a qualidade de um rótulo que expressa fielmente o terroir da Campanha Gaúcha e toda a sua ascendência, o prestígio de uma região. Definitivamente trata-se de um belíssimo vinho! Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Salton:

Antônio Domênico Salton veio para o Brasil em 1878 e junto com seus filhos fundou em 1910 a vinícola que é reconhecida por ser a maior produtora brasileira de espumantes e top 3 entre as produtoras de vinho no Brasil!

Nos anos 1980 o forte da empresa era a produção e venda de conhaque. O vinho deixava a desejar e para mudar essa realidade foi contratado o enólogo Lucindo Copat, um dos fundadores da Vinícola Aurora. Novos equipamentos foram comprados e a produção foi modernizada.

Outro marco foi a criação em 1995 do projeto que resultaria em 2002 no Salton Talento e na nova unidade no distrito de Tuiuty, que trouxe tecnologia de ponta para a empresa. No ano de 2019 a empresa inaugurou a bela Enoteca Salton na capital paulista. Local que mais do que pronto para a compra de vinhos, serve como um ponto para degustar os sabores que a Salton tem.

Na extensa lista de conquistas destes mais de 100 anos de história comemora o fato de ser familiar e 100% brasileira. Com a terceira geração à frente da empresa, tanto na Unidade em Bento Gonçalves quanto em São Paulo, revela em seus quadros a quarta geração Salton, que promete o mesmo empenho e dedicação com que a empresa foi comandada até agora.










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