Reza a máxima de que quando gostamos de algo, desejamos
sempre repetir e não se enganem, no universo dos vinhos não é diferente! Sempre
temos aqueles rótulos que nos permitiu uma grande experiência sensorial que
queremos repetir, degustando safra por safra etc.
E o rótulo de hoje é especial cujo produtor eu não conhecia e
descobri em um evento realizado por uma loja de vinhos da minha cidade,
Niterói. Na realidade eu não conhecia o produtor, mas conheço o enólogo que
participou do projeto de concepção dos rótulos: Anselmo Mendes, português
conhecido como “O Rei do Alvarinho”.
Tendo essa alcunha já tem dimensão da importância desse
projeto que envolve a Vinícola Hermann que vem explorando uma região emergente
no Rio Grande do Sul chamada Serra do Sudeste.
Uma soma de fatores mais do que interessante e atraente que,
além do vinho propriamente dito, foram preponderantes para uma nova aquisição
deste vinho que já degustei e gostei. Falo do Matiz Plural com um inusitado
blend de Aragonez, Cabernet Sauvignon, Merlot, Touriga Nacional e Cabernet
Franc da safra 2013.
Como disse eu já degustei o mesmo vinho, da mesma safra, há
cerca de um ano atrás, cuja resenha pode ser lida aqui e estava maravilhoso,
com nove anos de vida, mas pleno, vivo e que certamente poderia descansar por
mais alguns anos em garrafa na escuridão da adega.
E a intenção, após a compra desta segunda garrafa, era guarda-lo por mais alguns anos, talvez cinco anos, mas simplesmente a ansiedade falou, praticamente gritou mais alto e o abri com uma década de garrafa, o que também está interessante.
O vinho se mostra também vivo e intenso no nariz e no
paladar. Mas não falarei, pelo menos por enquanto, do vinho, mas sim da região
da Serra do Sudeste que definitivamente vem ganhando credibilidade entre os
especialistas do vinho e enófilos espalhados pelo Brasil.
Serra do Sudeste
Nossa mais famosa região vinícola é, sem dúvida alguma, a
Serra Gaúcha, da qual faz parte a primeira área de Indicação de Procedência
brasileira, o Vale dos Vinhedos. De dentro para fora, sabemos que o Vale está
chegando ao seu limite de plantio.
Como área de procedência certificada, as regras que controlam
sua existência são rígidas e hoje sobram poucas terras de qualidade às
vinícolas para que plantem suas uvas. Ele não deixa de ser, no entanto, o polo
para onde convergem as atrações turísticas e as grandes instalações produtoras
das vinícolas, incluindo suas adegas.
Os outros municípios que compõem a região da Serra Gaúcha vêm se desenvolvendo com constância como Garibaldi, Flores da Cunha e Farroupilha. Mas algumas novidades interessantes estão aparecendo em cidades a noroeste de Bento Gonçalves, como Guaporé, na linha Pinheiro Machado e Casca, na direção de Passo Fundo.
Mas tem uma região que, apesar de ter sido descoberta na
década de 1970, pode-se considerar que se trata de uma região nova, pois
somente a partir dos anos 2000, com investimentos feitos pelas vinícolas da
Serra Gaúcha, que o potencial dela foi, de fato, explorado. Essa região é a
Serra do Sudeste.
Ela forma uma espécie de ferradura virada para o mar, ligando
os municípios de Encruzilhada do Sul e Pinheiro Machado, separados ao meio pelo
rio Camaquã, que deságua na Lagoa dos Patos.
Essa região faz divisa com outra importante área vinícola
brasileira, a Campanha Gaúcha, dividida entre Campanha Meridional (que começa
na cidade de Candiota) e Campanha Oriental, que segue a linha da fronteira com
o Uruguai.
A Serra do Sudeste tem colinas suaves, que facilitam o
plantio e a mecanização, tornando-a um terroir mais simples de trabalhar.
Aliadas a isso, estão as condições climáticas, mais favoráveis do que no Vale
dos Vinhedos.
Essa região tem o menor índice de chuvas do Estado do Rio
Grande do Sul, além de noites frias mesmo no verão, justamente a época da
maturação das uvas. Essas condições naturais, além de um solo mais pobre e de
origem granítica, ajudam a ter maior concentração de cor, estrutura e potencial
de envelhecimento dos vinhos.
O Instituto de Pesquisa Agrícola do Rio Grande do Sul mapeou
pela primeira vez esta área nos anos 1970, mas é no começo da década de 2000
que as primeiras vinícolas de certa importância começam a plantar vinhedos por
aqui, entre os municípios de Encruzilhada do Sul, o principal, Pinheiro Machado
e Candiota (mesmo próxima de Bagé Candiota é considerada pelo IBGE como
pertencente à Serra do Sudeste e não à Campanha, embora haja controvérsias).
Em grande parte, se trata de uma região vitícola, geralmente
as uvas aqui colhidas são conduzidas nas instalações das vinícolas na Serra
Gaúcha e lá transformadas em vinho, esta região ainda não possui, e nem
pleiteia em curto prazo, o reconhecimento a Denominação de Origem Controlada,
quando, e se, isso ocorrer o vinho deverá ser produzido por aqui, já que este é
um fator crucial na lei das denominações de origem.
As castas internacionais dominam a viticultura na Serra do
Sudeste, tintas e brancas que na Serra Gaúcha podem representar um desafio pelo
clima úmido, aqui prosperam com mais facilidade, o índice pluviométrico é
alinhado com o estado do Rio Grande do Sul, chove um pouco menos que no Vale
dos Vinhedos, mas o que mais importa é que as chuvas são mais bem distribuídas
ao longo do ano, raramente coincidindo com o período da colheita das variedades
tardias.
A característica dos vinhos daqui é o bom nível de aromas, a
sapidez pronunciada por conta da presença do calcário e o perfil gastronômico,
boa acidez, taninos enxutos nos tintos e presença mineral nos brancos. Uvas
mais cultivadas na região são: Malbec, Cabernet Franc, Merlot, Gewurztraminer,
Sauvignon Blanc e Malvasia.
Se é verdade que a Serra do Sudeste não possui o panorama
encantador da Serra Gaúcha, é também verdade que seus vinhos representam um
patrimônio da vitivinicultura brasileira que merece ser descoberto, e sem
demora.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um rubi intenso, com o atijolado, o granada em
evidência, denunciando uma década de vida, com uma boa profusão de lágrimas,
finas e lentas.
No nariz traz aromas expressivos e complexos de frutas
vermelhas e negras maduras, sentindo ainda as evidentes, mas integradas notas
amadeiradas, graças aos longos quinze meses em barricas de carvalho, com toques
de baunilha, caramelo, couro, tabaco, defumado e um latente defumado
extremamente agradável.
Na boca é elegante, redondo e macio, afinal o tempo lhe
permitiu essa condição, mas que goza de boa complexidade. Replicam-se as notas
frutadas, como no aspecto olfativo, bem como protagoniza o amadeirado, mas
muito bem integrado ao conjunto do vinho, conferindo-lhe a tal complexidade,
bem como a tosta, o café torrado e a terra molhada. Os taninos, devido ao
tempo, estão com uma textura sedosa, com baixa acidez e um final longo e
persistente.
Um vinho que mesmo com os seus 10 anos de vida ainda estava
pleno, vivo e intenso e que poderia evoluir mais e mais. Uma região nova que
sem dúvida poderá nos brindar com muita tipicidade, expressividade e qualidade
com os seus rótulos. Sim os vinhos brasileiros têm potencial de guarda, têm
complexidade, têm relevância e têm a cara do vinho brasileiro, sem cópias e
comparações com o Velho Mundo. O Matiz representa a elegância, a complexidade,
o arrojo que todo vinho com a sua proposta pode entregar. Foi ótimo repeti-lo
sem cair na temível zona de conforto. Tem 13% de teor alcoólico.
Sobre a Vinícola Hermann:
A família Hermann trouxe todo o seu know-how de profundos
conhecedores de diversas regiões vinícolas do mundo para a esfera da produção
de vinhos, apostando no potencial dos melhores terroirs da região sul do
Brasil.
Proprietários de uma das maiores importadoras de vinhos de
alta qualidade do país, a Decanter, compraram em 2009 um vinhedo de grande
vocação em Pinheiro Machado, na Serra do Sudeste no Rio Grande do Sul, plantado
com mudas de alta qualidade por um dos viveiros líderes de Portugal.
A assessoria enológica de um dos mais brilhantes enólogos de
Portugal, o renomado “rei do Alvarinho” Anselmo Mendes - “Enólogo do Ano” pela
Revista de Vinhos de Portugal em 1997 - ao lado do talentoso enólogo Átila
Zavarizze, garante a excelência na transformação das uvas promissoras em
grandes vinhos brasileiros, com caráter e tipicidade.
Mais informações acesse:
http://www.vinicolahermann.com.br/
Referências:
“Marco Ferrari Sommelier”: https://www.marcoferrarisommelier.com.br/blog.php?BlogId=33
“Cave BR”: https://www.cavebr.com.br/serra-do-sudeste-1
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-nova-fronteira-sul_8619.html
“intelivino”: https://intelivino.com.br/serra-do-sudeste
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