quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Marquês de Casa Concha Carmènére 2011


Já ouviu alguém dizer que o vinho é emblemático, icônico? Emblemático pelo seu terroir e proposta e icônico pela sua história e simbiose com a cultura de onde foi produzido. Esse sim é o vinho arrebatador! Aquele que te deixa nas nuvens! Quem é enófilo entenderá perfeitamente o que estou textualizando aqui e agora. E quando você degusta um vinho com essas características aliado à castas importantes de uma região, de um país. Sempre quis unir essas possibilidades e convenhamos que não é uma tarefa fácil escolher um rótulo assim, escolher um vinho nunca é uma tarefa fácil, sobretudo quando se faz no escuro, sem minimamente saber o que quer para o momento ou criar um vínculo com um estilo, uma proposta de vinho, levando em conta fatores como região, safras, castas, é claro, corpo, entre outros fatores. Eu queria, alguns anos atrás e lembro-me bem disso, mesmo tendo passado alguns anos, degustar um Carménère chileno com potência, robustez, estrutura e complexidade. Antes desse rótulo que logo direi qual é, já havia degustado alguns vinhos dessa casta, com outras propostas, dos mais básicos aos intermediários e as experiências foram gratificantes e até surpreendentes para alguns rótulos, mas eu precisava de um vinho icônico e emblemático e eis que surgiu um, embora o mesmo leve 5% de Cabernet Sauvignon, mas ainda assim tinha a magnânima presença dela, da Carménère.

Então o vinho que degustei e gostei é da gigante Concha Y Toro, do Chile, do Vale do Cachapoal, em uma região, com DO (Denominação de Origem) chamada Peumo, tida como a casa do Carménère, e se chama nada mais nada menos que Marques de Casa Concha, com 95% Carménère e 5% Cabernet Sauvignon, da safra 2011. Antes de falar sobre o vinho, como de costume, falemos sobre a região de Peumo.

Peumo, Vale do Cachapoal

É no Vale del Cachapoal, especialmente na região de Peumo, que a Carménère encontra condições ideais para prosperar e mostrar todo seu potencial. Essa condição ideal para o cultivo da Carménère está relacionada diretamente ao solo de argila profundo – por volta de 1,5 metros – e fértil encontrado na zona de Peumo, bem como à ausência de chuvas até o período da colheita, aos dias ensolarados e à grande amplitude térmica – diferença entre as temperaturas mínimas e máximas de um mesmo dia – que chega a atingir picos de 18oC. A comuna de Peumo, localizada por volta de 100 quilômetros ao sul de Santiago, está inserida na parte norte do Vale del Cachapoal, mais precisamente às margens do rio que leva o mesmo nome. Foi nesse lugar de paisagens bucólicas e de próspera produção agrícola que a Carménère encontrou as condições climáticas e de solo desejadas para se desenvolver plenamente e se tornar uma das uvas emblemáticas do Chile.

Vale do Cachapoal

Tais fatores são primordiais para que a Carménère atinja sua plena maturação, tanto fenológica quanto da própria fruta. De fato, por ser uma uva de maturação muito tardia – mais longa, por exemplo, que a Cabernet Sauvignon – ela necessita de solos que retenham a umidade de forma constante durante todo período de amadurecimento, bem como de dias secos, ensolarados, naturalmente frescos e mais úmidos, oriundos da considerável amplitude térmica, e ao relevo de baixa altitude (170 m) da zona de Peumo. Ou seja, essa uva, devido à maturação longa e tardia, tem nos solos férteis da região a possibilidade de manter as condições ideais para desenvolver seu pleno potencial. Além disso, o relevo do Vale del Cachapoal, principalmente na zona Peumo – onde as cadeias de montanhas se estendem de leste a oeste e o rio Cachapoal corre para o mesmo lado –, possibilita uma orientação de plantio dos vinhedos de norte para sul, propiciando uma insolação constante durante todo o dia, o que contribui, também, de forma decisiva para a maturação gradual e constante da uva. De modo geral, pode-se concluir que as condições da zona de Peumo são desejadas e necessárias para se cultivar quaisquer uvas, porém os resultados obtidos com a Carménère mostram que essa zona é das melhores, senão a melhor para o seu plantio em todo Chile.

E agora o vinho!

Na taça tem um vermelho rubi muito escuro e profundo, mas brilhante e muito bonito. As lágrimas, finas e abundantes, já anunciam a potência e complexidade do vinho que teimavam em sumir, desenhando as paredes do copo.

No nariz traz notas intensas e agradáveis de frutas vermelhas maduras, como ameixa, especiarias, aquele típico toque de “carpete” da Carménère, com toquees generosos de tabaco e baunilha.

Na boca é estruturado, intenso, com um bom volume de boca, mas redondo, harmonioso e diria até fácil de degustar, com taninos de textura firme e presente, mas amaciados e uma boa acidez, com um toque amadeirado, mas bem integrado ao conjunto do vinho e um chocolate amargo delicioso, graças aos 12 meses de passagem por barricas de carvalho. Final frutado e persistente.

O Marques de Casa concha, icônico e emblemático vinho da tradicional Concha Y Toro, realizou meu sonho de degustar um legítimo Carménère, da região onde a cepa se dá bem, tem tipicidade, o terroir se deleitando em minha boca de uma forma intensa e visceral. Um vinho que, como se costuma dizer por aí, é digno de se degustar de joelhos, reverenciando e celebrando o que há de melhor na cultura vitícola chilena. Harmoniza muito bem com carnes corpulentas, massas e pizzas. Tem 14,7% de teor alcoólico muito bem integrado.

Sobre o Marques de Casa Concha

Em 1718 o Rei Filipe V de Espanha concedeu o nobre título “Marques de Casa Concha” a José de Santiago Concha y Salvatierra pelo seu meritório trabalho como Governador do Chile e Cavaleiro de Calatrava. Nasce o fundador da vinícola, Don Melchor de Santiago Concha y Toro, o sétimo Marques de Casa Concha.

Don Melchior de Santiago Concha y Toro

Em homenagem ao título hereditário e refletindo tais valores nobres e tradicionais, um Cabernet Sauvignon de 1972 de Puente Alto foi lançado em 1976. Carregava o distinto rótulo Marques de Casa Concha e era o principal vinho da Viña Concha y Toro na época. Em 1990 os avanços no vinhedo, nas práticas de produção de vinho e nos melhores equipamentos levaram a uma melhora na qualidade do vinho e tornaram o rótulo Marques de Casa Concha procurado em todo o mundo. Marques de Casa Concha é a linha de vinhos chilena que abrange a completa diversidade do Chile, com vinhedos onde a complexa relação entre as condições naturais, a planificação do vinhedo, e os anos que as parreiras demoraram a crescer, proporcionam um caráter único para a linha inteira.

Sobre a Concha Y Toro

Em 1883 Don Melchior Concha y Toro, importante político e empresário chileno, funda a Viña Concha y Toro. A empresa se torna uma empresa pública limitada e expande se nome comercial para a produção geral de vinho, isso em 1922. Em 1933 começam a ser negociadas na Bolsa de Valores e a primeira exportação é feita. No ano de 1957 se estabelece as bases produtivas para a expansão da vinícola, com a produção do vinho Casillero del Diablo, em 1966, onde começaram a investir em vinhos mais complexos, lançando em 1987, o seu principal rótulo, “Don Melchior”, homenageando o seu fundador. A década de 1990 veio com as criações de várias vinícolas nos principais países produtores de vinhos da América Latina, tais como Cono Sur, no Chile, Trivento, na Argentina entre outras.

Mais informações acesse:



Fonte de pesquisa para a Região de Peumo:


Degustado em: 2016



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