Já ouviu alguém dizer que o vinho é emblemático, icônico?
Emblemático pelo seu terroir e proposta e icônico pela sua história e simbiose
com a cultura de onde foi produzido. Esse sim é o vinho arrebatador! Aquele que
te deixa nas nuvens! Quem é enófilo entenderá perfeitamente o que estou
textualizando aqui e agora. E quando você degusta um vinho com essas
características aliado à castas importantes de uma região, de um país. Sempre quis
unir essas possibilidades e convenhamos que não é uma tarefa fácil escolher um
rótulo assim, escolher um vinho nunca é uma tarefa fácil, sobretudo quando se faz
no escuro, sem minimamente saber o que quer para o momento ou criar um vínculo
com um estilo, uma proposta de vinho, levando em conta fatores como região,
safras, castas, é claro, corpo, entre outros fatores. Eu queria, alguns anos
atrás e lembro-me bem disso, mesmo tendo passado alguns anos, degustar um
Carménère chileno com potência, robustez, estrutura e complexidade. Antes desse
rótulo que logo direi qual é, já havia degustado alguns vinhos dessa casta, com
outras propostas, dos mais básicos aos intermediários e as experiências foram
gratificantes e até surpreendentes para alguns rótulos, mas eu precisava de um
vinho icônico e emblemático e eis que surgiu um, embora o mesmo leve 5% de
Cabernet Sauvignon, mas ainda assim tinha a magnânima presença dela, da
Carménère.
Então o vinho que degustei e gostei é da gigante Concha Y
Toro, do Chile, do Vale do Cachapoal, em uma região, com DO (Denominação de
Origem) chamada Peumo, tida como a casa do Carménère, e se chama nada mais nada
menos que Marques de Casa Concha, com 95% Carménère e 5% Cabernet Sauvignon, da
safra 2011. Antes de falar sobre o vinho, como de costume, falemos sobre a
região de Peumo.
Peumo, Vale do Cachapoal
É no Vale del Cachapoal, especialmente na região de Peumo,
que a Carménère encontra condições ideais para prosperar e mostrar todo seu
potencial. Essa condição ideal para o cultivo da Carménère está relacionada
diretamente ao solo de argila profundo – por volta de 1,5 metros – e fértil
encontrado na zona de Peumo, bem como à ausência de chuvas até o período da
colheita, aos dias ensolarados e à grande amplitude térmica – diferença entre
as temperaturas mínimas e máximas de um mesmo dia – que chega a atingir picos
de 18oC. A comuna de Peumo, localizada por volta de 100 quilômetros ao sul de
Santiago, está inserida na parte norte do Vale del Cachapoal, mais precisamente
às margens do rio que leva o mesmo nome. Foi nesse lugar de paisagens bucólicas
e de próspera produção agrícola que a Carménère encontrou as condições
climáticas e de solo desejadas para se desenvolver plenamente e se tornar uma
das uvas emblemáticas do Chile.
Vale do Cachapoal
Tais fatores são primordiais para que a Carménère atinja sua
plena maturação, tanto fenológica quanto da própria fruta. De fato, por ser uma
uva de maturação muito tardia – mais longa, por exemplo, que a Cabernet
Sauvignon – ela necessita de solos que retenham a umidade de forma constante
durante todo período de amadurecimento, bem como de dias secos, ensolarados,
naturalmente frescos e mais úmidos, oriundos da considerável amplitude térmica,
e ao relevo de baixa altitude (170 m) da zona de Peumo. Ou seja, essa uva,
devido à maturação longa e tardia, tem nos solos férteis da região a
possibilidade de manter as condições ideais para desenvolver seu pleno
potencial. Além disso, o relevo do Vale del Cachapoal, principalmente na zona
Peumo – onde as cadeias de montanhas se estendem de leste a oeste e o rio
Cachapoal corre para o mesmo lado –, possibilita uma orientação de plantio dos
vinhedos de norte para sul, propiciando uma insolação constante durante todo o
dia, o que contribui, também, de forma decisiva para a maturação gradual e
constante da uva. De modo geral, pode-se concluir que as condições da zona de
Peumo são desejadas e necessárias para se cultivar quaisquer uvas, porém os
resultados obtidos com a Carménère mostram que essa zona é das melhores, senão
a melhor para o seu plantio em todo Chile.
E agora o vinho!
Na taça tem um vermelho rubi muito escuro e profundo, mas
brilhante e muito bonito. As lágrimas, finas e abundantes, já anunciam a
potência e complexidade do vinho que teimavam em sumir, desenhando as paredes
do copo.
No nariz traz notas intensas e agradáveis de frutas vermelhas
maduras, como ameixa, especiarias, aquele típico toque de “carpete” da
Carménère, com toquees generosos de tabaco e baunilha.
Na boca é estruturado, intenso, com um bom volume de boca,
mas redondo, harmonioso e diria até fácil de degustar, com taninos de textura
firme e presente, mas amaciados e uma boa acidez, com um toque amadeirado, mas
bem integrado ao conjunto do vinho e um chocolate amargo delicioso, graças aos
12 meses de passagem por barricas de carvalho. Final frutado e persistente.
O Marques de Casa concha, icônico e emblemático vinho da
tradicional Concha Y Toro, realizou meu sonho de degustar um legítimo
Carménère, da região onde a cepa se dá bem, tem tipicidade, o terroir se
deleitando em minha boca de uma forma intensa e visceral. Um vinho que, como se
costuma dizer por aí, é digno de se degustar de joelhos, reverenciando e
celebrando o que há de melhor na cultura vitícola chilena. Harmoniza muito bem
com carnes corpulentas, massas e pizzas. Tem 14,7% de teor alcoólico muito bem
integrado.
Sobre o Marques de Casa Concha
Em 1718 o Rei Filipe V de Espanha concedeu o nobre título
“Marques de Casa Concha” a José de Santiago Concha y Salvatierra pelo seu
meritório trabalho como Governador do Chile e Cavaleiro de Calatrava. Nasce o
fundador da vinícola, Don Melchor de Santiago Concha y Toro, o sétimo Marques
de Casa Concha.
Don Melchior de Santiago Concha y Toro
Em homenagem ao título hereditário e refletindo tais valores
nobres e tradicionais, um Cabernet Sauvignon de 1972 de Puente Alto foi lançado
em 1976. Carregava o distinto rótulo Marques de Casa Concha e era o principal
vinho da Viña Concha y Toro na época. Em 1990 os avanços no vinhedo, nas
práticas de produção de vinho e nos melhores equipamentos levaram a uma melhora
na qualidade do vinho e tornaram o rótulo Marques de Casa Concha procurado em
todo o mundo. Marques de Casa Concha é a linha de vinhos chilena que abrange a
completa diversidade do Chile, com vinhedos onde a complexa relação entre as
condições naturais, a planificação do vinhedo, e os anos que as parreiras demoraram
a crescer, proporcionam um caráter único para a linha inteira.
Sobre a Concha Y Toro
Em 1883 Don Melchior Concha y Toro, importante político e
empresário chileno, funda a Viña Concha y Toro. A empresa se torna uma empresa
pública limitada e expande se nome comercial para a produção geral de vinho,
isso em 1922. Em 1933 começam a ser negociadas na Bolsa de Valores e a primeira
exportação é feita. No ano de 1957 se estabelece as bases produtivas para a
expansão da vinícola, com a produção do vinho Casillero del Diablo, em 1966,
onde começaram a investir em vinhos mais complexos, lançando em 1987, o seu
principal rótulo, “Don Melchior”, homenageando o seu fundador. A década de 1990
veio com as criações de várias vinícolas nos principais países produtores de
vinhos da América Latina, tais como Cono Sur, no Chile, Trivento, na Argentina entre
outras.
Mais informações acesse:
Fonte de pesquisa para a Região de Peumo:
Revista Adega, em: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-casa-da-carmenere_2493.html
Degustado em: 2016
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