Quando falamos de vinhos portugueses nos lembramos,
associamos imediatamente à tradição, a famílias antigas que estão no ramo vitivinícola
há séculos. Mas o vinho que degustei e gostei pertence a uma vinícola que
começou do zero, sem heranças, sem o prolongamento de gerações ou quaisquer
coisas do tipo. Um projeto ousado, moderno que vislumbra novas percepções de propostas
de vinhos, de rótulos arrojados, mas, por outro lado, privilegia o terroir, a
tipicidade do atlântico da emblemática região de Lisboa. Mas isso é papo para o
fim dessa resenha, pois agora eu vou falar de como eu conheci a vinícola.
Estava assistindo ao programa que é transmitido pelo canal Globosat, de nome “Um
brinde ao vinho”, apresentado pela somellier Cecília Aldaz. Foi uma temporada
viajando por Portugal pelas suas mais importantes regiões produtoras de vinho.
E um desses episódios aterrissou na região de Lisboa. Algumas vinícolas foram
apresentadas e a AdegaMãe, situada em uma região chamada em Ventosa, Torres Vedras, foi visitada pelo
programa de TV. O seu representante contou a história da vinícola, ainda jovem,
fundada em 2009, teve a sua primeira safra, há apenas 10 anos, em 2010. Esses
detalhes da história desse produtor me chamaram e muito a atenção. Eu decidi:
preciso comprar um vinho ou vários vinhos dessa vinícola! E eu achei!
O vinho que degustei e gostei veio, como já disse e com
veemência, de uma das minhas regiões lusitanas preferidas, Lisboa, e se chama
Dory, um tinto composto pelas castas Touriga Nacional, Syrah, Tinta Roriz e
Merlot, da safra 2015. Outro detalhe muito interessante e que é bem peculiar
dos vinhos lisboetas: essa interessante mescla de castas autóctones e as
famosas e tradicionais castas francesas. Isso traz certa complexidade e caráter
aos vinhos lisboetas que, mesmo se tratando de vinhos básicos entregam
personalidade que logo falarei também com riqueza de detalhes. Mas antes de entrar
nos detalhes organolépticos do belíssimo e surpreendente Dory, falemos um pouco
da origem desse nome.
Dóri
Ao entrar na vinícola, que é um exuberante projeto de
arquitetura, uma edificação muito bonita e moderna, e foi construída de forma
gravitacional e com acessibilidade em todas as áreas (cadeiras de rodas e
carrinhos de bebê, portanto, são bem-vindos), com equipamentos e tecnologia de
ponta, tem de cara uma embarcação de pesca de bacalhau chamada “Dóri” (pertencente
ao bacalhoeiro NTM Creoula, hoje navio escola da Marinha Portuguesa, e outrora
pertencente à família Bensaúde) que deu nome aos principais rótulos da
vinícola, Dory.
A AdegaMãe tem essa relação com o mar e com a pesca,
produzindo, vinificando seus produtos, seus vinhos com o intuito de harmonizar
com o bacalhau que é uma iguaria típica e tradicional, em todas as suas
propostas, com o povo português.
E agora finalmente o vinho!
Na taça tem um vermelho rubi intenso, quase escuro, com
entornos violáceos, diria em tons granada, muito bonitos e brilhantes,
reluzente aos olhos. Lágrimas com alguma proeminência, finas e que demoravam um
pouco a se dissipar das paredes do copo fazendo lindos desenhos.
No nariz tem uma intensidade aromática maravilhosa que me
remete a frutas vermelhas maduras, como cereja, frutos silvestres e toques de
especiarias, que lembra pimentão. Sem contar com as notas florais, tais como
violetas e leve e discreto amadeirado que, pelo que pude pesquisar a respeito
desse rótulo no site do produtor, o mesmo teve uma breve passagem por barricas
de carvalho por cerca de 4 meses.
Na boca as notas frutadas reaparecem, um vinho de média
estrutura, mas fresco, equilibrado e harmonioso, certamente pelas suas
características atlânticas. Um vinho suculento, de bom volume de boca, com
taninos gulosos, mas polidos e uma boa acidez que se faz com alguma presença,
mas que não é tão evidente assim. Além do toque discreto da madeira.
Um senhor vinho! Um vinho surpreendente que também surpreendeu
pelo preço e aqui vale mais uma história. Estava eu no supermercado e avistei o
Dory tinto meio que negligenciado na gôndola do supermercado mais baixa que tinha
quase próxima ao chão. Como estava atrás de um vinho da AdegaMãe o peguei e,
mesmo que um tanto quanto receoso pela safra, em tese já “antiga” para um vinho
básico, comprei. Quando fui efetuar o pagamento e fiquei sabendo do valor,
pasmem: 10 reais! Não acreditei que um vinho estava tão barato e que entregou
muito, mas muito além do que valeu! Um vinho elegante, fino, de presença
marcante e que harmoniza com carnes grelhadas, massas e queijos mais leves. Tem
13% de teor alcoólico muito bem integrados.
Sobre a AdegaMãe:
A AdegaMãe pertence ao grupo Riberalves, empresa familiar portuguesa, que é a maior produtora de bacalhau do mundo – 30 mil toneladas por ano, o equivalente a 10% de todo o bacalhau pescado no mundo! É uma homenagem da família à sua matriarca, Manuela Alves. Em 2009, investindo na paixão pelo vinho, a família inaugurou a vinícola, que fica próxima da sede da empresa. A vinícola fica em Torres Vedras, que faz parte da CVR Lisboa (Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa), antiga Estremadura, zona com grande influência atlântica, devido à proximidade com o oceano, com solos calcários, terroir propício para a produção de vinhos bastante minerais e com acidez marcante. A AdegaMãe tem um projeto lindíssimo e Diogo, juntamente com Anselmo Mendes, enólogo consultor, entrou desde o começo da concepção da adega, no projeto das vinhas, de forma a definir as melhores variedades para a região, tanto que as vinhas velhas que ali estavam foram arrancadas, pois não eram boas o suficiente para os vinhos que pretendiam fazer. Mas é possível ver a vinha mãe da adega exposta como obra de arte, em uma das paredes da vinícola.
A Norte de Lisboa e a um passo da costa oceânica, a AdegaMãe
potencia um terroir fortemente
influenciado pelas brisas marítimas predominantes, destacando-se pelos seus
vinhos de inspiração atlântica, plenos de carácter, frescos e minerais, premiados
a nível nacional e internacional. Referida pela arquitetura exclusiva, e pela
forma como se harmoniza com a fantástica paisagem envolvente, a AdegaMãe foi
desenhada de raiz para integrar a melhor experiência de visita, assumindo-se
como uma referência no enoturismo da Região de Vinhos de Lisboa.
Mais informações acesse:
Degustado em: 2019
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