quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Dory tinto 2015

 

Quando falamos de vinhos portugueses nos lembramos, associamos imediatamente à tradição, a famílias antigas que estão no ramo vitivinícola há séculos. Mas o vinho que degustei e gostei pertence a uma vinícola que começou do zero, sem heranças, sem o prolongamento de gerações ou quaisquer coisas do tipo. Um projeto ousado, moderno que vislumbra novas percepções de propostas de vinhos, de rótulos arrojados, mas, por outro lado, privilegia o terroir, a tipicidade do atlântico da emblemática região de Lisboa. Mas isso é papo para o fim dessa resenha, pois agora eu vou falar de como eu conheci a vinícola. Estava assistindo ao programa que é transmitido pelo canal Globosat, de nome “Um brinde ao vinho”, apresentado pela somellier Cecília Aldaz. Foi uma temporada viajando por Portugal pelas suas mais importantes regiões produtoras de vinho. E um desses episódios aterrissou na região de Lisboa. Algumas vinícolas foram apresentadas e a AdegaMãe, situada em uma região chamada  em Ventosa, Torres Vedras, foi visitada pelo programa de TV. O seu representante contou a história da vinícola, ainda jovem, fundada em 2009, teve a sua primeira safra, há apenas 10 anos, em 2010. Esses detalhes da história desse produtor me chamaram e muito a atenção. Eu decidi: preciso comprar um vinho ou vários vinhos dessa vinícola! E eu achei!

O vinho que degustei e gostei veio, como já disse e com veemência, de uma das minhas regiões lusitanas preferidas, Lisboa, e se chama Dory, um tinto composto pelas castas Touriga Nacional, Syrah, Tinta Roriz e Merlot, da safra 2015. Outro detalhe muito interessante e que é bem peculiar dos vinhos lisboetas: essa interessante mescla de castas autóctones e as famosas e tradicionais castas francesas. Isso traz certa complexidade e caráter aos vinhos lisboetas que, mesmo se tratando de vinhos básicos entregam personalidade que logo falarei também com riqueza de detalhes. Mas antes de entrar nos detalhes organolépticos do belíssimo e surpreendente Dory, falemos um pouco da origem desse nome.

Dóri

Ao entrar na vinícola, que é um exuberante projeto de arquitetura, uma edificação muito bonita e moderna, e foi construída de forma gravitacional e com acessibilidade em todas as áreas (cadeiras de rodas e carrinhos de bebê, portanto, são bem-vindos), com equipamentos e tecnologia de ponta, tem de cara uma embarcação de pesca de bacalhau chamada “Dóri” (pertencente ao bacalhoeiro NTM Creoula, hoje navio escola da Marinha Portuguesa, e outrora pertencente à família Bensaúde) que deu nome aos principais rótulos da vinícola, Dory. 

Dóri

A AdegaMãe tem essa relação com o mar e com a pesca, produzindo, vinificando seus produtos, seus vinhos com o intuito de harmonizar com o bacalhau que é uma iguaria típica e tradicional, em todas as suas propostas, com o povo português.

E agora finalmente o vinho!

Na taça tem um vermelho rubi intenso, quase escuro, com entornos violáceos, diria em tons granada, muito bonitos e brilhantes, reluzente aos olhos. Lágrimas com alguma proeminência, finas e que demoravam um pouco a se dissipar das paredes do copo fazendo lindos desenhos.

No nariz tem uma intensidade aromática maravilhosa que me remete a frutas vermelhas maduras, como cereja, frutos silvestres e toques de especiarias, que lembra pimentão. Sem contar com as notas florais, tais como violetas e leve e discreto amadeirado que, pelo que pude pesquisar a respeito desse rótulo no site do produtor, o mesmo teve uma breve passagem por barricas de carvalho por cerca de 4 meses.

Na boca as notas frutadas reaparecem, um vinho de média estrutura, mas fresco, equilibrado e harmonioso, certamente pelas suas características atlânticas. Um vinho suculento, de bom volume de boca, com taninos gulosos, mas polidos e uma boa acidez que se faz com alguma presença, mas que não é tão evidente assim. Além do toque discreto da madeira.

Um senhor vinho! Um vinho surpreendente que também surpreendeu pelo preço e aqui vale mais uma história. Estava eu no supermercado e avistei o Dory tinto meio que negligenciado na gôndola do supermercado mais baixa que tinha quase próxima ao chão. Como estava atrás de um vinho da AdegaMãe o peguei e, mesmo que um tanto quanto receoso pela safra, em tese já “antiga” para um vinho básico, comprei. Quando fui efetuar o pagamento e fiquei sabendo do valor, pasmem: 10 reais! Não acreditei que um vinho estava tão barato e que entregou muito, mas muito além do que valeu! Um vinho elegante, fino, de presença marcante e que harmoniza com carnes grelhadas, massas e queijos mais leves. Tem 13% de teor alcoólico muito bem integrados.

Sobre a AdegaMãe:

A AdegaMãe pertence ao grupo Riberalves, empresa familiar portuguesa, que é a maior produtora de bacalhau do mundo – 30 mil toneladas por ano, o equivalente a 10% de todo o bacalhau pescado no mundo! É uma homenagem da família à sua matriarca, Manuela AlvesEm 2009, investindo na paixão pelo vinho, a família inaugurou a vinícola, que fica próxima da sede da empresa.  A vinícola fica em Torres Vedras, que faz parte da CVR Lisboa (Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa), antiga Estremadura, zona com grande influência atlântica, devido à proximidade com o oceano, com solos calcários, terroir propício para a produção de vinhos bastante minerais e com acidez marcante. A AdegaMãe tem um projeto lindíssimo e Diogo, juntamente com Anselmo Mendes, enólogo consultor, entrou desde o começo da concepção da adega, no projeto das vinhas, de forma a definir as melhores variedades para a região, tanto que as vinhas velhas que ali estavam foram arrancadas, pois não eram boas o suficiente para os vinhos que pretendiam fazer. Mas é possível ver a vinha mãe da adega exposta como obra de arte, em uma das paredes da vinícola.

A Norte de Lisboa e a um passo da costa oceânica, a AdegaMãe potencia um terroir  fortemente influenciado pelas brisas marítimas predominantes, destacando-se pelos seus vinhos de inspiração atlântica, plenos de carácter, frescos e minerais, premiados a nível nacional e internacional. Referida pela arquitetura exclusiva, e pela forma como se harmoniza com a fantástica paisagem envolvente, a AdegaMãe foi desenhada de raiz para integrar a melhor experiência de visita, assumindo-se como uma referência no enoturismo da Região de Vinhos de Lisboa.

Mais informações acesse:

https://adegamae.pt/



Degustado em: 2019





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