Atualmente estou garimpando, buscando castas menos conhecidas
no Brasil, aquelas pouco mencionadas e cuja oferta de rótulos é limitada. Até
mesmo aquelas raras nos seus países de origem estão valendo! Acredito que é
salutar para nós, simples enófilos mortais, diversificar, buscar novas
experiências e sensações e sair um pouco daquelas “cartas marcadas”, aquelas
óbvias que enchem as gôndolas dos supermercados e das lojas especializadas de
opções, como as castas Cabernet Sauvignon, Merlot, Malbec, Pinot Noir entre
outras medalhonas. Evidente que as referidas castas são imprescindíveis para um
bom e digno degustador, não pode faltar na adega, mas, como disse,
diversificar, garimpar, não só castas pouco usuais e menos conhecidas, mas
novas regiões e novos terriors, também é interessante e também não podemos
negligenciar que é um “tapa” para a nossa cultura, afinal, novas castas e
regiões suscitará, claro, para quem se interessa, a pessoa pesquisar, conhecer
um pouco mais sobre as tais regiões, logo terão a grata oportunidade de ter o
mínimo contato com a identidade cultural do país produtor. A casta que
degustarei e que versará nesta humilde resenha é extremamente popular em terras
italianas, contudo no Brasil ainda não tem um alcance tão grande nas taças da
maioria dos brasileiros aficionados pela nobre bebida de Baco e Dionísio. Falo
da Negroamaro.
O vinho que degustei e gostei vem da emblemática região de
Puglia ou Apúlia, onde a Negroamaro, a casta do rótulo de hoje, é amplamente
cultivada, e se chama Contessa Carola, um IGT (Indicação Geográfica Típica) da
safra 2018. Antes de falar um pouco, é claro, da história da Negroamaro, convém
falar rapidamente do conceito do IGT. Trata-se de uma classificação de
qualidade italiana que significa vinho típico da região, um vinho que expressa
com fidelidade às características da terra, da região, o que costumamos chamar
de terroir. Ah esse será meu segundo rótulo da casta Negroamaro, o primeiro foi o Luccarelli Negroamaro 2014!
Negroamaro
A uva tinta Negroamaro tem acidez moderada e coloração densa. Seu nome é a união de “black”, que em inglês significa “preto” e de “amaro”, que em italiano quer dizer “amargo”. Mas há, em torno do seu nome, algumas divergências e vários conceitos sobre o significado da casta surgem. Apesar de “amaro” significar amargo em italiano, não parece ser esta a tradução correta para a uva em questão. A melhor interpretação nos leva a dois idiomas, Latim e Grego antigo. Do primeiro reconhecemos ‘Negro’ e do segundo vem a termo ‘maru’ que também significa negro: Negro maru = Negro amaro = negro negro ou, numa interpretação moderna, negro intenso. Maru tem a mesma raiz fonética de Merum, um vinho trazido para a Puglia por colonos que ali se estabeleceram antes dos gregos, no século VII AC. Na literatura clássica encontramos algumas referências a ‘mera tarantina’, por autores romanos, o que nos leva a crer que a Negroamaro poderia ser a uva usada no Merum.
Antigamente, a Negroamaro era utilizada para dar cor aos
vinhos produzidos no norte da Itália, hoje, essa uva origina vinhos tintos
profundos, intensos e de coloração arroxeada. Nativa da Península Salentida, a
tinta Negroamaro é amplamente cultivada na região da Puglia, importante área
vinícola italiana. A fim de garantir maior complexidade de aroma e paladar aos
vinhos, a uva Negroamaro é frequentemente utilizada em blend com as uvas
Malvasia, Nera, Montepulciano e Sangiovese.
O clima quente, com médias anuais elevadas, favorece o
cultivo da uva Negroamaro, garantindo à fruta excelente grau de maturação.
Adaptando-se facilmente à escassez de chuvas – comum em locais de clima
mediterrâneo – a Negroamaro pode ser encontrada também em vinhedos dos Estados
Unidos e Austrália, em regiões que apresentam condições climáticas similares às
da região da Puglia. Produz vinhos de cor escura muito profunda, com taninos
que variam de médios a intensos. Medianamente aromática, tem sabores marcantes
de frutas negras com notas de canela, cravo e outros temperos secos. A
principal região produtora é a planície de Salento, destacando-se a vila de
Salice (DOC Salice Salentino) com seus tintos e rosados.
E agora o vinho!
Na taça tem um belo vermelho rubi intenso, com reflexos
violáceos com abundância de lágrimas, mas que logo se dissipam das paredes do copo.
No nariz tem uma explosão de aromas frutados, frutas
vermelhas maduras, lembrando amoras, cerejas e ameixas pretas e toques florais
agradáveis.
Na boca é elegante, equilibrado, harmonioso, de corpo leve
para médio, repetem-se as impressões olfativas o quesito frutado, frutas
vermelhas em compota, fazendo do vinho saboroso. Um rótulo com alguma personalidade,
mas macio, redondo, com uma acidez moderada, que o torna fresco e jovem, com
taninos sedosos e polidos e um retrogosto bem interessante, um final frutado e
persistente.
Um vinho muito bom, a Negroamaro é simplesmente incrível! E o
melhor vem também com o custo, um excelente custo X benefício, com um rótulo
que valeu o investimento de R$ 22,90! Sim, isso mesmo que você leu! Um vinho
básico sim, mas que valeu cada centavo investido, um vinho que costumamos dizer
que entregou muito mais do que valeu. Um vinho de tipicidade, que expressa as
características mais fiéis desta belíssima cepa, graças também a curta passagem por tanques de aços inox. Viva a Itália com os
seus vinhos emblemáticos de castas e regiões ímpares! Tem 12,5% de teor
alcoólico.
Sobre a Contri Spumanti S.p.A:
A história da empresa Contri Spumanti SpA está intimamente
ligada à do seu fundador: Luciano Contri , nascido em 1938, natural de Cazzano
di Tramigna. Aos quinze anos, enquanto Luciano se preparava para iniciar seus
estudos de especialização enológica, a família sofreu grandes dificuldades
devido a uma grave doença que atingiu seu pai Luigi e o obrigou a ficar dois
anos longe de casa. Foi o fundador da empresa da família, com mais de 90 anos,
o avô Domenico (apelidado de PACENA na aldeia, hoje uma das marcas da empresa)
quem apoiou Luciano nesse período. A sua própria experiência e sabedoria,
combinadas com a vontade e o espírito de sacrifício do sobrinho, foram capazes
de compensar a ausência de Luigi. Temperado pelo sacrifício diário e seguro dos
ensinamentos recebidos, atingiu a maioridade em 1959 e deu à luz a empresa
individual Luciano Contri , que em 1980 será transformada em Contri Spumanti
SpA , dando início à produção de espumantes e espumantes. Hoje as rédeas da
empresa estão nas mãos de Paolo Contri , que dá continuidade à política de seu
pai de manter a Contri Spumanti SpA uma empresa de ponta e líder no setor. Tecnologia
de ponta e automação de processos garantem a eficiência do ciclo produtivo e a
minimização dos custos de produção. Adaptação aos requisitos dos sistemas de
qualidade mais conhecidos, desde o planejamento, passando pela produção, até a
logística. Renovação constante dos sites de produção, expansão e automação das
áreas de logística. Capacidade de responder e se adaptar às necessidades em
constante mudança do mercado com novos tipos de produtos, novos formatos e
embalagens personalizadas. Tudo isso tem permitido a consolidação da empresa ao
longo dos anos e sua constante ascensão no mercado local e nos principais
mercados externos. Resultados confirmados pelos inúmeros prémios e galardões
obtidos nos mais conceituados concursos internacionais de vinhos. A sede da Contri
Spumanti SpA está localizada em Cazzano di Tramigna, onde se encontram os
escritórios, a histórica fábrica e o centro de logística. As atividades
comerciais e administrativas, o controle de qualidade e a organização da
produção são realizados e coordenados pela matriz. A atividade de produção em
sentido estrito é abrangida por tipo de produto entre duas fábricas.
Mais informações acesse:
https://www.contrispumanti.com/it
Fontes de pesquisa para a história da casta Negroamaro:
Portal “Mistral”, em: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/negroamaro
Portal “O Boletim do Vinho”, em: http://oboletimdovinho.com.br/2012/12/14/uvas-da-puglia-negroamaro-e-primitivo-i/
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