segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Hill & Dale Merlot 2018

 

Não me canso de dizer, de exaltar as minhas predileções pela Merlot. Vai além, confesso, de uma simples predileção, mas algo afetivo que, de uma certa forma, fomenta a preferência. Não consigo esquecer a Merlot porque foi principalmente ela que me iniciou no universo dos vinhos finos, das castas vitis viníferas.

Então trata-se de uma reverência, trata-se de algo verdadeiramente afetivo! Mas é claro que a casta tem os seus predicados. A Merlot consegue agradar a todos os paladares e exigências e abrange os iniciantes e mais tarimbados no mundo do vinho.

Ela, a Merlot, é capaz de unir a todos os enófilos, a todas as propostas de vinhos, de maneira indistinta, sem preconceitos ou coisa que o valha. Por isso que nunca faltará um bom Merlot na adega. Seria, sem medo de dizer, uma temeridade não ter um Merlot na adega, independente de país, de terroir.

E por mais que ela esteja em minha enófila vida há alguns anos, desde os primórdios, diria, a Merlot ainda é capaz de proporcionar algumas gratas e impactantes novidades, exatamente pelo terroir, no que tange às novidades de regiões. É sabido que a Merlot é facilmente cultivável em várias regiões no planeta, inclusive no Brasil, onde, a mer ver, vem ganhando destaque, o que favorece, e muito, a possibilidade de desbravar “novos” Merlots de outras regiões.

E graças a um clube de vinhos a qual fazia parte, há alguns anos atrás, eu tive o prazer de “conhecer” um Merlot sul africano. Talvez eu esteja sendo um tanto quanto desinformado, mas nunca pensei encontrar ou sequer degustar um Merlot da terra de Mandela. A conhecemos pela sua emblemática cepa, a Pinotage, mas não esperava um varietal de Merlot.

Bem a Merlot sempre apareceu em alguns blends de rótulos sul africanos que degustei, pelo menos em grande parte, mas nunca reinando absoluta, então foi o ápice quando recebi, justamente de um clube de vinhos essencial, um rótulo desses. Digo justamente de um clube de vinhos, devido a alguns questionamentos quanto ao mesmo e a sua credibilidade.

O rótulo descansou por algum tempo, esperando ser degustado e com a compra de outro rótulo que encontrei de Merlot sul africano, decidi degustar o que eu já tinha adegado. E lá vamos nós! Estou pronto para reviver momentos sublimes com a casta que me “trouxe ao mundo”, enofilamente falando.

O vinho que degustei e gostei veio da tradição região vinícola sul africana Stellenbosch e se chama Hill & Dale Merlot da safra 2018. E antes de falar do vinho, e estou ansioso para isso, falemos um pouco da importância de Stellenbosch para a história do vinho na África do Sul.

Stellenbosch

Stellenbosch, a segunda cidade mais antiga da África do Sul, encontra-se a menos de 45 minutos da Cidade do Cabo. A região é rodeada pelas majestosas montanhas Stellenbosch, vinhedos e pomares, criando um dos cenários mais pitorescos da África do Sul. Seu nome e existência se devem ao antigo governador do Cabo, Simon van der Stel, que estabeleceu um povoado à beira do rio Eerste em 1679, fazendo dela a segunda cidade mais antiga da África do Sul.

Está situada a cerca de 50 km da Cidade do Cabo, e no ano 2000 contava com cerca de 90 mil residentes com habitação formal, portanto sem contar estudantes e outras pessoas com habitação informal. A cidade, historicamente preservada, abriga um dos mais bonitos exemplos do estilo holandês do Cabo, Georgiano e Vitoriano de arquitetura. Desfrutando de um ambiente exuberante, as ruas de Stellenbosch são repletas de restaurantes, bistrôs, cafés e monumentos que transmitem o orgulho do passado histórico importante da região.

Hoje, é uma linda cidade caracterizada por ruas ladeadas de carvalhos e casas brancas, muitas das quais de origem Cape Dutch (cabo-holandesa), e fica entre a suntuosa montanha Simonsberg e a mais modesta Papegaaiberg (“Montanha do Papagaio”).

Juntamente com Paarl e Franschhoek, Stellenbosch forma a mundialmente conhecida e renomada região vinícola de Cape Winelands. Stellenbosch possui a rota de vinho mais antiga do país e é conhecida por produzir alguns dos melhores vinhos do mundo em fazendas como Spier, Fairview, Tokara, Delaire Graff, Waterford, Rustenerg e muitas outras.

Os tours na região satisfazem os visitantes com experiências únicas como visitas às caves originais de armazenamento (onde os primeiros agricultores do Cabo experimentavam os primeiros vinhos produzidos na região). Stellenbosch também proporciona outras atrações que agradam todas as idades, como caminhadas, cavalgadas, pescaria, passeios de balão e de helicóptero, e colheita de morangos.

Logo que chegaram os primeiros colonos, particularmente os Huguenotes franceses, teve início a cultura da vinha nos vales férteis em torno de Stellenbosch, que rapidamente se tornou o centro da indústria vinícola sul-africana. Até há pouco tempo, a concentração de riqueza trazida por esta indústria fez com que a área tivesse um elevado coeficiente de Gini, embora esta situação esteja a mudar.

Stellenbosch possui uma rica história vinícola e é lar de alguns dos vinhos mais famosos do país. Além disso, a uva Cabernet Sauvignon é a variedade mais cultivada na região, utilizada muitas vezes ao lado da casta Merlot.

Situada a apenas 40 quilômetros ao leste da Cidade do Cabo, Stellenbosch é separada pelas montanhas de Simonsberg e Paarl. Seus vinhedos cobrem as colinas da região sul-africana que vão desde Helderber, no sul, até as inclinações mais baixas de Simonsberg, no norte. Este terreno proporciona uma grande variação nos estilos de vinho produzidos, bem como microclimas ideais para o cultivo de inúmeras variedades encontradas entre as colinas e os vales de Stellenbosch.

Stellenbosch

Os solos da região são compostos predominantemente de arenito e granito, onde é possível encontrar também um alto teor de argila, responsável por garantir uma melhor retenção da água. O clima de Stellenbosch é quente e seco, embora receba uma influência marítima do sul, proveniente de False Bay. A refrescante brisa que as vinhas recebem à tarde e a incidência solar pela manhã possibilita que as uvas concentrem melhor seus aromas e sabores, dando origem a vinhos com características únicas e peculiares.

Em decorrência dessa variação de terroir, Stellenbosch é dividida em inúmeras áreas produtoras de vinho diferentes, entre elas, Bonghoek, Papegaaiberg, Devon Valley e Polkadraai Hills. Além disso, a região sul-africana é o segundo assentamento mais antigo do país, ficando atrás apenas de Cape Town. As principais variedades cultivadas em Stellenbosch são as uvas Cabernet Sauvignon, Chenin Blanc, Sauvignon Blanc e Shiraz. Além disso, a fama da região se deve também por ser o berço da casta Pinotage, resultado de um cruzamento das uvas Cinsaut e Pinot Noir em 1924.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi brilhante, intenso, escuro, profundo, com lágrimas grossas, lentas e em profusão que desenham o bojo do copo.

No nariz explodem em aromas de frutas negras maduras, tais como ameixas, cerejas pretas, que traz uma gostosa e agradável sensação adocicada, com a rusticidade do couro, do herbáceo e as notas amadeiradas que entregam torrefação e o café, graças aos 11 meses em barricas de carvalho que 50% do lote do vinho estagiou.

Na boca é complexo, tem médio corpo, a marcante personalidade é evidente, mas, por outro lado, o aveludado e a elegância equilibram graças a característica da Merlot. As frutas pretas também protagonizam, como no aspecto olfativo, dando ao vinho frescor e vivacidade. As notas amadeiradas têm destaque, também garantindo o toque de baunilha, de terra molhada. Tem taninos presentes e acidez média, com um final longo e persistente.

Mesmo a Merlot sendo a minha longa e fiel companheira por longos anos em minha agradável caminhada no universo dos vinhos, ainda é capaz de me surpreender, de trazer novidades gratas, positivas para as minhas sensações, aos meus sentidos. E o Hill & Dale definitivamente me trouxe todas as características essenciais da Merlot, personalidade e elegância, mas o frescor, graças as notas frutadas, e a estrutura, garantida pela sua complexidade, muito típico das terras sul africanas. Um vinho que ficará guardado para todo sempre em minha lembrança que, espero muito em breve, me aventurar, quem sabe, em uma nova safra! Belo produtor, belo Merlot. Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Hill & Dale:

A história da Hill & Dale Wines remonta a 2001, quando os primeiros vinhos Hill & Dale foram feitos e introduzidos no mercado em 2003.

É o delicado equilíbrio entre a paixão da equipe e a obtenção das melhores uvas da emblemática região de Stellenbosch que permitem que seus vinhos sejam modernos e despretensiosos, mas clássicos e autênticos.

Mais informações acesse:

https://www.hillanddale.co.za/#!/up

Referências:

“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/regiao/stellenbosch#:~:text=Situada%20na%20%C3%A1rea%20costeira%20do,ao%20lado%20da%20casta%20Merlot.

“Portal South Africa”: https://www.southafrica.net/br/pt/travel/article/stellenbosch-uma-das-joias-da-regi%C3%A3o-vin%C3%ADcola

“Wikipedia”: em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Stellenbosch

“Safari 365”: https://www.safari365.com/pt/travel-destinations/south-africa/cape-winelands/stellenbosch






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