Falei, por muitas vezes, até de forma, confesso, demasiada
que sou um incondicional fã da casta Pinot Grigio. Além de ter predicados que
muito me atrai ela, por esses mesmos predicados, ou diria, características, tem
tudo a ver com o clima tropical brasileiro.
É aquela famosa frase que costumamos dizer: “É um vinho para
piscina”! Mas não precisa ser necessariamente para piscina, mas para uma praia.
Uma praia? Sim para a praia! Se podem levar, no isopor, cerveja, por que não
levar a sua garrafa de Pinot Grigio?
E eu lembro como se fora ontem, o meu primeiro contato com a
cepa. Em um dia de calor, um verão daqueles! Tinha uma confraternização com
amigos do trabalho em um restaurante famoso em minha cidade, queria pedir algo
que não fosse cerveja, mas o meu bom e velho vinho.
Tomei em minhas mãos o cardápio e de imediato eu não consegui
achar nenhum rótulo interessante. Decidi olhar novamente, agora com a atenção
redobrada, quem sabe apareça algum que chame a atenção.
E vi um branco, brasileiro, de uma casta estranha para mim,
trazia o “Pinot” no nome e lembrei da tinta Pinot Noir, que já conhecia e muito
gostava, mas trazia outro nome: “Grigio” e era uma casta branca.
Pensei: Calor intenso, o desejo único de degustar um vinho,
então vamos de branco dessa, até então nova casta Pinot Grigio. A única coisa
que eu conhecia era o produtor que sempre esteve comigo em minhas degustações:
Miolo. Então deve ser bom.
Degustei e gostei verdadeiramente e o dia quente ajudou,
complementou o meu momento tão particularmente singular naquele dia. Estava
delicioso. Era frutado, leve, fresco, acidez gostosa.
Saí daquele restaurante com o desejo quase que incontrolável
de degustar novamente um vinho da casta Pinot Grigio e ao longo do tempo fui
tendo algumas experiências, diria únicas, com rótulos dessa casta.
Degustei rótulos do Vêneto, da Sicília, ambas regiões
emblemáticas italianas, da África do Sul também, alguns poucos do Brasil e
também do Chile e a valores bem competitivos! Claro que os vinhos estão
inflacionando e está cada vez mais difícil encontrar vinhos com valores justos,
além dos tributos também, mas, tentando consegue encontrar alguns vinhos dessa
casta a preços atraentes.
E hoje eu retornarei ao Chile, mais precisamente ao Vale
Central, para degustar mais um Pinot Grigio. Tenho degustado alguns deste país
e tem me surpreendido por demais da conta e vale lembrar um, da gigante Luis
Felipe Edwards, que degustei e gostei que se chama Alto Los Romeros 2018 que,
pasmem, custou, à época, R$18,90!
E o de hoje também é da Luis Felipe Edwards, de uma linha que
eu verdadeiramente adoro: Autoritas! Então sem mais delongas vamos às
apresentações! O vinho que degustei e gostei veio do Vale Central, Chile, e se
chama Autoritas da casta Pinot Grigio da safra 2020. Antes de falar do vinho,
falemos um pouco da região chilena e da cepa tão querida.
Valle Central: o centro vitivinícola
do Chile
Valle Central, ou Central Valley como é conhecida, é uma
região vinícola do Chile, estando entre uma das mais importantes áreas
produtoras de vinho de toda a América do Sul, em termos de volume.
Além disso, o Central Valley é uma das regiões que mais se
destaca com relação a extensão, indo desde o Vale do Maipo até o final do Vale
do Maule. Uma ampla variedade de vinhos é produzida na região, elaborados a
partir de uvas cultivadas em diferentes terrenos. Tal exemplar vão desde vinhos
finos e elegantes, como os produzidos em Bordeaux, até os vinhedos mais velhos
e estabelecidos em Maule. A região do Valle Central é também lar de diversas
variedades de uvas, porém, as plantações são ocupadas pelas castas Cabernet
Sauvignon, Sauvignon Blanc, Merlot, Chardonnay e Syrah.
A uva ícone do Chile, a Carmenère, também é importante na
região, assim como a Malbec é referência em Mendoza, do outro lado dos Andes.
As áreas mais frias do Central Valley estão ganhando cada vez mais destaque
perante o mundo dos vinhos, onde são cultivadas as uvas Riesling, Viognier e
até mesmo a casta Gewürztraminer. O Central Valley é dividido em quatro
sub-regiões vinícolas, de norte a sul, cada qual com características e
diferenças marcantes.
O Maipo é a sub-região mais histórica do país, onde as vinhas
são cultivadas desde o século XVI, abrigando as videiras mais antigas
existentes na região. O Rapel Valley é lar das tradicionais sub-regiões
Cachapoal e Colchagua, enquanto Maule Valley é uma das sub-regiões vinícolas
mais prolíferas de toda a América do Sul. Por fim, a última sub-região Curico
Valley foi a pioneira no cultivo vinícola na década de 1970, onde Miguel Torres
deu início a vinicultura moderna.
A Cabernet Sauvignon pode ser cultivada com sucesso tanto no
Vale do Maipo quanto no Vale de Rapel, cada um por um motivo diferente. No Vale
de Rapel, a presença de um solo rochoso e com baixa atividade freática (pouca
disponibilidade hídrica) aliado à alta taxa de amplitude térmica (diferença
entre a maior e a menor temperatura nessa área em um dia) vai favorecer o grau
de maturação da Cabernet Sauvignon, aprofundando seu sabor.
Essa parte do vale, portanto, produz uvas com um sabor mais
profundo e maduro. Já a Cabernet Sauvignon que é cultivada no vale do Maipo (de
onde provém mais da metade da produção dessa cepa) conta com a influência
direta do Rio Maipo. Onde as águas do rio servem para regular a temperatura e
fornecer a irrigação dos vinhedos. E para não deixar de destacar a área a
sotavento da Cordilheira da Costa, o Vale do Curicó possui um clima quente e
úmido, já que todo o ar frio é impedido de passar pela barreira natural da
montanha.
Quem se beneficia com isso é a produção de Carménère, que por
tamanha perfeição em seu desabrochamento são conhecidos por todo o mundo, não
sendo surpresa o fato de que somente desse Vale derivem vinhos para mais de 70
países ao redor do mundo. Em outras palavras, o Vale Central se constitui como
uma mina de ouro de cepas premiadas e irrigadas com tradição centenária.
O Vale Central é uma área plana, localizada na Cordilheira
Litoral e Los Andes, caracterizada por seus interessantes solos de argila,
marga, silte e areia, que oferece ao produtor uma extraordinária variedade de
terroirs. Excepcionalmente adequada para a viticultura, o clima da região é
mediterrâneo e se traduz em dias de sol, sem nuvens, em um ambiente seco.
A coluna de 1400 km de vinhas é resfriada devido à influência
gelada da corrente de Humboldt, que se origina na Antártida e penetra no
interior de muito mais frio do que em águas da Califórnia. Outra importante
influência refrescante é a descida noturna do ar frio dos Andes.
Pinot Grigio
Se você nunca ouviu falar na uva Pinot Grigio, talvez já
tenha degustado um vinho produzido com a Pinot Gris. É possível encontrar a
casta sendo chamada pelos dois nomes diferentes, a depender da origem do vinho,
podendo ser italiano ou francês, respectivamente. A diferença na forma como
chamamos a uva passa pelo próprio significado das duas palavras: o nome Grigio
significa cinza em italiano e Gris, cinza em francês – sendo referência à cor
da casca da fruta. A coloração da uva é um resultado natural do cruzamento entre
a Pinot Noir e a Pinot Blanc.
A Pinot Grigio surgiu na região da Borgonha, contudo foi em
outra região francesa que ela ganhou um lar e ganhou notoriedade também, a
Alsácia. Onde era conhecida por outro nome famoso, Tokay, mas que causava muita
confusão. Tokay é um termo utilizado para os vinhos mais famosos (e caros) da
Hungria, os longevos Tokaji, que nada tem a ver com a Pinot Grigio.
A origem da Pinot Grigio foi descoberta a poucas décadas,
onde constatou-se ser um cruzamento genético natural entre a Pinot Noir e a
Pinot Blanc. Embora seja de origem francesa, foram os italianos que tornaram
esse varietal mundialmente conhecido e passaram a dominar a sua produção
global. Isso faz com que muitos acreditem que a uva seja originária do
fantástico "país da bota".
Os vinhos produzidos com a Pinot Grigio são muito
influenciados pelos fatores ambientais e humanos envolvidos no processo, o que
chamamos de terroir. Nas regiões frias são encontrados vinhos com maior
intensidade aromática e acidez vibrante, além de serem tipicamente mais leves e
delicados, normalmente denotando aromas frutados, florais e com a sutil
presença de especiarias.
Bons exemplos disso são os aromas de pêssego, limão,
tangerina, pera, maçã verde, complementados por flores silvestres, mel, tomilho,
orégano e erva-cidreira. Já as regiões mais quentes produzem exemplares mais
viscosos, aumentando a percepção de corpo da bebida, que, dependendo do solo,
pode apresentar um caráter mineral, lembrando pedras e a areia molhada.
Agora, se compararmos o perfil dos vinhos franceses e
italianos, as características sensoriais serão gritantes. Na França, esses
vinhos costumam ser mais encorpados, amarelados e com uma presença picante. Já
na Itália, os exemplares são mais refrescantes, versáteis e fáceis de beber.
Dependendo do estilo do produto, vinícola e vindima, são vinhos brancos com
aptidão ao envelhecimento.
E agora finalmente o vinho!
Na taça tem um lindo e brilhante amarelo palha com reflexos
esverdeados com algumas lágrimas finas e rápidas.
No nariz as notas de frutas brancas, cítricas e tropicais,
tais como lima, pera, abacaxi, maçã-verde, protagonizam nos aromas, de forma
intensa e agradável, com toques florais e um quê de mineralidade e muito, muito
frescor.
Na boca traz um paladar leve, com muita frescura e leveza,
mas com muito sabor, trazendo um ótimo volume de boca, capitaneados pela fruta
branca, cítrica, conferindo-lhe alguma personalidade. Traz um pouco de álcool,
atípico para um Pinot Grigio, mas que entrega a tal da personalidade
identificada. Tem uma ótima acidez e um final longo e persistente.
Um vinho surpreendente! Um vinho especial! Mais uma vez a
Pinot Grigio me deixa de joelhos e gosto dessa doce “subserviência”. Um vinho
surpreendente pelo que valeu, em torno de R$ 29,90, entregando muito além do
que foi pago, fazendo dele uma relação excepcional de custo X benefício. Quando
degusto um Pinot Grigio sempre me faço uma pergunta: Será que estou
sugestionado? Será que o que sobressai é a definição de um fã da cepa? Confesso
que sinto essa existencial dúvida, mas o fato é de que temos de deixar o
coração falar por nós. A Pinot Grigio é definitivamente uma das castas brancas
mais queridas para mim e se bobear atingirá o posto de mais querida de todas as
brancas. Até a próxima experiência! Tem 13% de teor alcoólico.
Curiosidade:
A palavra “Autoritas” vem do latim auctoritas, que significa prestígio, honra, respeito, autoridade.
Esses valores foram o que inspirou a criação desta marca, desenvolvida por Luis
Felipe Edwards Family Wines. A crista (brasão) da família, presente em cada
garrafa, é o selo que reúne esses valores, passados de geração em geração e
expressos em cada copo da Autoritas. Esse prestígio é a assinatura desse
produtor que, graças aos seus rótulos, independente de valores e propostas, foi
conquistado ao longo desses anos.
Sobre a Viña Luis Felipe Edwards:
A Viña Luis Felipe Edwards foi fundada em 1976 pelo
empresário Luis Felipe Edwards e sua esposa. Após alguns anos morando na
Europa, o casal decidiu retornar ao Chile e, ao conhecer terras do Colchágua,
um dos vales chilenos mais conhecidos, se encantou. Ali, aos pés das montanhas
andinas, existia uma propriedade com 60 hectares de vinhedos plantados, uma
pequena adega e uma fazenda histórica que, pouco tempo depois, foi o marco do
início da LFE.
De nome Fundo San Jose de Puquillay até então, o produtor,
que viria a se tornar uma das maiores vinícolas do Chile anos mais tarde,
começou a expandir sua atuação. Após comprar mais 215 hectares de terras no
Vale do Colchágua nos anos de 1980, começou a vender vinho a granel, estudar a
fundo seus vinhedos e os resultados dos vinhos, e cultivar diferentes frutas
para exportação.
O ponto de virada na história da Viña Luis Felipe Edwards
veio na década de 1990, quando Luis Felipe Edwards viu a expectativa do mercado
sobre os vinhos chilenos. Sabendo da alta qualidade dos rótulos que criava, o
fundador resolveu renomear a vinícola e passou a usar o seu próprio nome como
atestado de qualidade. Após um período de crescimento e modernização, especialmente
com o início das vendas do primeiro vinho em 1995, a LFE se tornou um
importante exportador de vinho chileno no começo do século XX. A partir de
então, o já famoso produtor começou a adquirir terras em outras regiões do
país.
Na busca incessante por novos terroirs de qualidade, ele
encontrou no Vale do Leyda um dos seus maiores tesouros: 134 hectares de
videiras plantadas em altitude extrema, a mais de 900 metros acima do nível do
mar.
Mais informações acesse:
Referências:
“Wine”: https://www.wine.com.br/winepedia/sommelier-wine/serie-uvas-pinot-grigio/
“Blog Famiglia Valduga”: https://blog.famigliavalduga.com.br/pinot-grigio-conheca-suas-principais-caracteristicas/
“Portal Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/regiao/valle-central
“Portal Winepedia”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/valle-central-chile/
“Portal Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/186-o-vale-central-no-chile-ponto-de-encontro-de-vinhos-reconhecidos-mundialmente
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