Quando
eu conheci a região emblemática portuguesa da Bairrada, por intermédio de um
programa de televisão, e dos seus singulares vinhos, eu logo pensei: Acho que
nunca irei degustar tais vinhos! Fui taxativo! Mas que bom que cometi um grande
erro!
Logo
que eu descobri essa região e me coloquei a pesquisar sobre seus rótulos, foi
inevitável que o “conteúdo” descortinou para o produtor e enólogo Luis Pato e
seus importantes, mas caros vinhos na triste realidade do mercado brasileiro.
O
homem “desbravou” a região e domou a sua casta mais conhecida, a Baga. Acho que
com esse “cartão de entrada” já vale o vinho, mas, como, a taxa cambial e os
impostos no Brasil são altos, bem como a ganância de alguns revendedores, o
valor final do vinho vai à estratosfera.
Mas
ainda há esperanças para degustar alguns bons e surpreendentes vinhos
bairradinos e esses vinhos vem da Adega de Cantanhede. Vinhos de cooperativa
costumam ter uma ótima relação custo X benefício! Sim, tem! Embora surja uma
corrente depreciativa que professa que os vinhos cooperativados são ruins. O
que dizer então da Aurora, Garibaldi aqui no Brasil? Vinhos de cooperativa e
que recebem prêmios atrás de prêmios.
Quando
descobri a Adega de Cantanhede vislumbrei a possibilidade de ter os primeiros
contatos com a Bairrada! E tive! “Marquês de Marialva”, “Moinho de Sula” são
uns exemplos reais de linhas de vinhos da Bairrada e Beira Atlântico que é
acessível a diversos “bolsos”.
E
hoje a minha humilde adega dispõe de uma satisfatória, pelo menos para a minha
realidade, quantidade de vinhos da Bairrada e isso muito me orgulha e me
alegra, afinal há luz no fim do túnel para que a Bairrada possa adentrar os
nossos lares e figure na nossa mesa e taça.
E
hoje estreio mais uma linha de rótulos da Adega de Cantanhede, talvez uma de
suas mais conhecidas linhas: A Conde de Cantanhede. E é sempre especial porque
se trata de um tinto e como tal tem de carregar a sua mais famosa cepa: Baga! E
Baga valoriza o vinho, traz a concepção de longevidade e complexidade ao rótulo.
E a ansiedade não cabe no peito de degustar mais um rótulo deste grande
produtor.
Eu
já tinha degustado um, claro, surpreendente rosé dessa linha que, embora
básico, revelou ser muito bom, o Conde de Cantanhede Baga, que comprei, pasmem,
por R$19,99!
E
agora a versão tinta que carrega a “Seleção do Enólogo”! Pois é, parece ser
algo bom, no mínimo interessante. Me pus a degusta-lo logo, sem delongas. O
vinho que degustei e gostei se chama Conde de Cantanhede Seleção do Enólogo das
castas Baga (50%), Aragonez (30%) e Touriga Nacional (20%) da safra 2020. Tenho
até certo receio de ser influenciável, por apreciar os vinhos da Adega de
Cantanhede, mas definitivamente esse rótulo também surpreendeu, mostrando
elegância, mas personalidade e uma jovialidade, graças as suas notas frutadas e
boa acidez.
Ah
e o que falar da Adega de Cantanhede? Acho que tudo o que falar desse grande
produtor soará como redundância, mas é melhor ser redundante do que omisso e
vamos falar de algumas histórias ao Conde de Cantanhede que dá nome a essa
linha de vinhos. Vamos às curiosidades históricas.
A
D. Pedro Meneses, 5º Senhor de Cantanhede, foi atribuído o título de 1º Conde
de Cantanhede, como recompensa pela sua participação na Batalha do Toro em
1476, ao lado de D. Afonso V e o futuro D. João II.
A
cidade de Cantanhede recebeu o foral de D. Manuel I, Rei de Portugal, em 1514.
Naquela altura o Rei deu à família Meneses o total controle da região. Foi
notório o contributo dos Meneses para o desenvolvimento da região, promovendo a
agricultura, incluindo a viticultura, para o que, desde sempre foi reconhecido
grande potencial nestas terras.
Empenhada
em prestar homenagem à digna linhagem dos Condes de Cantanhede e ao seu
importante papel na região e na história de Portugal, a Adega de Cantanhede
obteve a necessária autorização dos seus descendentes para lançar esta marca,
que comporta um vasto portfólio com vinhos e espumantes de qualidade.
Bairrada
Localizada
na região central de Portugal e se estendendo até o Oceano Atlântico,
especificamente entre as cidades de Coimbra e Águeda, a região vinícola da
Bairrada, cujo nome é uma referência ao solo argiloso que a compõe (barro) tem
clima temperado bastante favorável às vinhas.
A
Bairrada é uma daquelas regiões portuguesas com grande personalidade. Apesar de
sua longa história vínica, a certificação da região é recente. A Denominação de
Origem Controlada (DOC Bairrada) para vinhos tintos e brancos é de 1979 e para
espumantes de 1991. A Região Demarcada da Bairrada possui também uma Indicação
Geográfica: IG Beira Atlântico.
António
Augusto de Aguiar estudou os sistemas de produção de vinhos e definiu as
fronteiras da região. Em 1867, vinte anos mais tarde, fundou a Escola Prática
de Viticultura da Bairrada. Destinada a promover os vinhos da região e melhorar
as técnicas de cultivo e produção de vinho.
O
primeiro resultado prático da escola foi a criação de vinho espumante em 1890.
E foi com os espumantes que a região conquistou o mundo. Frutados, com um toque
mineral e boa estrutura esses vinhos tornaram-se referencias e, até hoje, fazem
da Bairrada uma das maiores regiões produtoras de espumantes de Portugal. Com o
passar do tempo, as criações tintas ganharam espaço.
Muito
por conta do que os produtores têm feito com a Baga, casta autóctone da região.
O grande responsável pelo fortalecimento internacional da região é o engenheiro
Luís Pato. Conhecido como o "Mr. Baga", Pato tem um trabalho
minucioso sobre as uvas, tudo para conseguir um vinho autêntico com o mínimo de
interferência externa. A uva Baga, uma das principais uvas nativas de Portugal,
é capaz de oferecer enorme complexidade aos rótulos que compõe.
Demonstrando
muita classe e estrutura, a variedade da casta de tintos é única no seu valor e
possui um fantástico potencial de envelhecimento, que atua com o vinho na
garrafa durante anos após sua fabricação. Além de refinados e inimitáveis, os
vinhos produzidos com esta variedade de uva apresentam muita personalidade e
distinção. No passado, a Baga era conhecida por ser empregada na produção de
vinhos rústicos, excessivamente ácidos e tânicos e de pouca concentração.
Porém, após a chegada do genial Luís Pato, conhecido como o “revolucionário da
Bairrada” e maior expoente desta variedade, a casta da uva Baga foi
“domesticada”.
A
localização da DOC Bairrada e suas características de clima e solo fazem dela
uma região única. Paralelamente, o plantio das vinhas é feito em lotes
descontínuos de pequenas proporções e faz divisa com outras culturas e outros
usos de solo. Com isso, seus vinhos são de terroir, ou seja, o local onde a uva
é plantada influencia diretamente em suas particularidades. Delimitada a Sul,
pelo rio Mondego, a Norte pelo rio Vouga, a Leste pelo oceano Atlântico e a
Oeste pelas serras do Buçaco e Caramulo, a região é composta por planalto de
baixa altitude.
O
solo é predominantemente argilo-calcário, mas há algumas poucas regiões com
solos arenosos e de aluvião. O clima é mediterrânico moderado pelo Atlântico. A
região recebe forte influência marítima do oceano Atlântico. Os invernos são
frescos, longos e chuvosos e os verões são quentes, suavizados pela presença de
ventos frequentes nas regiões junto ao mar. A área se beneficia de grande
amplitude térmica na época do amadurecimento das uvas. A variação que pode
chegar aos 20ºC de diferença entre o dia e a noite.
O Decreto-Lei n.º 70/91 estabeleceu as castas autorizadas e recomendadas para
produção de vinhos na DOC Bairrada. A lei descreve as diretrizes para
elaboração dos vinhos tintos, rosés, brancos e espumantes. Para a produção de
tintos e rosés com o selo DOC Bairrada, as castas recomendadas são Baga (ou
Tinta Poeirinha), Castelão, Moreto e Tinta-Pinheira. No conjunto ou
separadamente, deverão representar 80% do vinhedo, não podendo a casta Baga
representar menos de 50%. As castas autorizadas são Água-Santa, Alfrocheiro,
Bastardo, Jaen, Preto-Mortágua e Trincadeira.
Para
os vinhos brancos as castas recomendadas são Maria-Gomes (também conhecida como
Fernão Pires), Arinto, Bical, Cercial e Rabo-de-Ovelha, no conjunto ou
separadamente com um mínimo de 80% do encepamento: e as autorizadas são
Cercialinho e Chardonnay. O vinho base para espumantes naturais devem ser
elaborados através das castas recomendadas Arinto, Baga, Bical, Cercial,
Maria-Gomes e Rabo-de-Ovelha; ou das autorizadas Água-Santa, Alfrocheiro-Preto,
Bastardo, Castelão, Cercialinho, Chardonnay, Jaen, Moreto, Preto-Mortágua,
Tinta-Pinheira e Trincadeira.
Em
2012 foi publicada a Portaria n.º 380/2012, que atualiza a lista de castas
permitidas para e das portuguesas Touriga Nacional, Castelão, Rufete, Camarate,
Tinta Barroca, Tinto Cão e Touriga Franca. Vinhos elaborados com castas que não
estejam relacionadas na elaboração dos vinhos DOC Bairrada. Foi incluída recentemente uma autorização
para o cultivo das castas internacionais Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot,
Petit Verdot e Pinot Noir. Por Decreto-Lei, não podem receber o selo de DOC
Bairrada e são rotulados com o selo Vinho Regional Beira Atlântico.
E
agora finalmente o vinho!
Na
taça apresenta um vermelho rubi intenso, com entornos granada e lágrimas finas,
lentas e em profusão.
No
nariz é bem aromático para frutas vermelhas bem maduras, com destaque para
amoras, framboesas e groselhas, além de toques de baunilha, caramelo e defumado,
couro e tabaco.
Na
boca traz média estrutura, é marcante, mas macio e elegante, com as frutas
vermelhas maduras protagonizando, como no aspecto olfativo, com discretas notas
amadeiradas, devido aos 6 meses em carvalho, com especiarias doces, taninos
presentes e acidez média. Final longo e persistente.
Definitivamente
a Adega de Cantanhede me possibilitou degustar, conhecer a região da Bairrada e
não se enganem, não são vinhos ruins por entregar preços competitivos. Não! São
vinhos excelentes em todas as suas camadas de propostas e o Conde de Cantanhede
Seleção do Enólogo personifica essa máxima! É sim possível degustar bons
bairradinos a preços acessíveis, justos, sobretudo. E esse rótulo ainda tinha
muito a oferecer ao longo dos anos. A Baga realmente é especial e proporciona
longevidade quando predomina, seja no blend, e obviamente quando vem na versão
varietal. Um vinho de excelente custo que fatalmente teria de 7 a 8 anos pela
frente sem sombras de dúvidas. Que venham outras experiências da Bairrada e da
Adega de Cantanhede. Tem 13% de teor alcoólico.
Sobre
a Adega de Cantanhede:
Fundada
em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega de Cantanhede conta hoje
com 500 viticultores associados ativos e uma produção anual de 6 a 7 milhões de
quilos de uva, constituindo-se como o principal produtor da Região Demarcada da
Bairrada, representando cerca de 40% da produção global da região. Hoje
certifica cerca de 80% da sua produção, sendo líder destacado nas vendas de
vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.
Reconhecendo
a enorme competitividade existente no mercado nacional e internacional, a
evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado da mais moderna tecnologia,
com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega Certificada pela norma ISO
9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.), mas também da promoção das
castas Portuguesas, que sempre guiou a sua estratégia, particularmente das variedades
tradicionais da Bairrada – Baga, Bical e Maria Gomes – mas também de outras
castas
Portuguesas
que encontram na Bairrada um Terroir de eleição, como sejam a Touriga Nacional,
Aragonez e Arinto, pois acredita que no inequívoco potencial de diferenciação e
singularidade que este património confere aos seus vinhos.
O
seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto, branco e rose os
seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a que acresce uma
vasta gama de espumantes produzidos exclusivamente pelo Método Clássico, bem
como Aguardentes e Vinhos Fortificados. É um portfólio que, graças à sua
diversidade e versatilidade, é capaz de atender a diferentes segmentos de
mercado, com diferentes graus de exigência em qualidade, que resulta na
presença dos seus produtos em mais de 20 mercados.
A
sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos e das suas marcas,
vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos prémios que vem
acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750 distinções atribuídas
nos mais prestigiados concursos nacionais e internacionais, com destaque para
Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de Bruxelles, Selections Mondiales du
Vins - Canada, Effervescents Monde – França, Berliner Wein Trophy – Alemanha e
Japan Wine Challenge, sendo por diversas ocasiões o único produtor da Bairrada
com vinhos premiados nesses concursos e, por isso, hoje um dos mais galardoados
produtores da região. Em 2015 integrou o TOP 100 dos Melhores Produtores
Mundiais, pela WAWWJ – Associação Mundial dos Jornalistas e Críticos de Vinho e
Bebidas Espirituosas. Nos últimos 8 anos foi eleita “Melhor Adega Cooperativa”
em Portugal por 3 vezes pela imprensa especializada.
Mais
informações acesse:
Referências:
Mistral:
https://www.mistral.com.br/regiao/bairrada
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