quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Conde de Cantanhede Seleção do Enólogo tinto 2020

 

Quando eu conheci a região emblemática portuguesa da Bairrada, por intermédio de um programa de televisão, e dos seus singulares vinhos, eu logo pensei: Acho que nunca irei degustar tais vinhos! Fui taxativo! Mas que bom que cometi um grande erro!

Logo que eu descobri essa região e me coloquei a pesquisar sobre seus rótulos, foi inevitável que o “conteúdo” descortinou para o produtor e enólogo Luis Pato e seus importantes, mas caros vinhos na triste realidade do mercado brasileiro.

O homem “desbravou” a região e domou a sua casta mais conhecida, a Baga. Acho que com esse “cartão de entrada” já vale o vinho, mas, como, a taxa cambial e os impostos no Brasil são altos, bem como a ganância de alguns revendedores, o valor final do vinho vai à estratosfera.

Mas ainda há esperanças para degustar alguns bons e surpreendentes vinhos bairradinos e esses vinhos vem da Adega de Cantanhede. Vinhos de cooperativa costumam ter uma ótima relação custo X benefício! Sim, tem! Embora surja uma corrente depreciativa que professa que os vinhos cooperativados são ruins. O que dizer então da Aurora, Garibaldi aqui no Brasil? Vinhos de cooperativa e que recebem prêmios atrás de prêmios.

Quando descobri a Adega de Cantanhede vislumbrei a possibilidade de ter os primeiros contatos com a Bairrada! E tive! “Marquês de Marialva”, “Moinho de Sula” são uns exemplos reais de linhas de vinhos da Bairrada e Beira Atlântico que é acessível a diversos “bolsos”.

E hoje a minha humilde adega dispõe de uma satisfatória, pelo menos para a minha realidade, quantidade de vinhos da Bairrada e isso muito me orgulha e me alegra, afinal há luz no fim do túnel para que a Bairrada possa adentrar os nossos lares e figure na nossa mesa e taça.

E hoje estreio mais uma linha de rótulos da Adega de Cantanhede, talvez uma de suas mais conhecidas linhas: A Conde de Cantanhede. E é sempre especial porque se trata de um tinto e como tal tem de carregar a sua mais famosa cepa: Baga! E Baga valoriza o vinho, traz a concepção de longevidade e complexidade ao rótulo. E a ansiedade não cabe no peito de degustar mais um rótulo deste grande produtor.

Eu já tinha degustado um, claro, surpreendente rosé dessa linha que, embora básico, revelou ser muito bom, o Conde de Cantanhede Baga, que comprei, pasmem, por R$19,99!

E agora a versão tinta que carrega a “Seleção do Enólogo”! Pois é, parece ser algo bom, no mínimo interessante. Me pus a degusta-lo logo, sem delongas. O vinho que degustei e gostei se chama Conde de Cantanhede Seleção do Enólogo das castas Baga (50%), Aragonez (30%) e Touriga Nacional (20%) da safra 2020. Tenho até certo receio de ser influenciável, por apreciar os vinhos da Adega de Cantanhede, mas definitivamente esse rótulo também surpreendeu, mostrando elegância, mas personalidade e uma jovialidade, graças as suas notas frutadas e boa acidez.

Ah e o que falar da Adega de Cantanhede? Acho que tudo o que falar desse grande produtor soará como redundância, mas é melhor ser redundante do que omisso e vamos falar de algumas histórias ao Conde de Cantanhede que dá nome a essa linha de vinhos. Vamos às curiosidades históricas.

A D. Pedro Meneses, 5º Senhor de Cantanhede, foi atribuído o título de 1º Conde de Cantanhede, como recompensa pela sua participação na Batalha do Toro em 1476, ao lado de D. Afonso V e o futuro D. João II.

A cidade de Cantanhede recebeu o foral de D. Manuel I, Rei de Portugal, em 1514. Naquela altura o Rei deu à família Meneses o total controle da região. Foi notório o contributo dos Meneses para o desenvolvimento da região, promovendo a agricultura, incluindo a viticultura, para o que, desde sempre foi reconhecido grande potencial nestas terras.

D. Pedro de Meneses

Empenhada em prestar homenagem à digna linhagem dos Condes de Cantanhede e ao seu importante papel na região e na história de Portugal, a Adega de Cantanhede obteve a necessária autorização dos seus descendentes para lançar esta marca, que comporta um vasto portfólio com vinhos e espumantes de qualidade.

Bairrada

Localizada na região central de Portugal e se estendendo até o Oceano Atlântico, especificamente entre as cidades de Coimbra e Águeda, a região vinícola da Bairrada, cujo nome é uma referência ao solo argiloso que a compõe (barro) tem clima temperado bastante favorável às vinhas.

A Bairrada é uma daquelas regiões portuguesas com grande personalidade. Apesar de sua longa história vínica, a certificação da região é recente. A Denominação de Origem Controlada (DOC Bairrada) para vinhos tintos e brancos é de 1979 e para espumantes de 1991. A Região Demarcada da Bairrada possui também uma Indicação Geográfica: IG Beira Atlântico.

Bairrada

António Augusto de Aguiar estudou os sistemas de produção de vinhos e definiu as fronteiras da região. Em 1867, vinte anos mais tarde, fundou a Escola Prática de Viticultura da Bairrada. Destinada a promover os vinhos da região e melhorar as técnicas de cultivo e produção de vinho.

O primeiro resultado prático da escola foi a criação de vinho espumante em 1890. E foi com os espumantes que a região conquistou o mundo. Frutados, com um toque mineral e boa estrutura esses vinhos tornaram-se referencias e, até hoje, fazem da Bairrada uma das maiores regiões produtoras de espumantes de Portugal. Com o passar do tempo, as criações tintas ganharam espaço.

Muito por conta do que os produtores têm feito com a Baga, casta autóctone da região. O grande responsável pelo fortalecimento internacional da região é o engenheiro Luís Pato. Conhecido como o "Mr. Baga", Pato tem um trabalho minucioso sobre as uvas, tudo para conseguir um vinho autêntico com o mínimo de interferência externa. A uva Baga, uma das principais uvas nativas de Portugal, é capaz de oferecer enorme complexidade aos rótulos que compõe.

Demonstrando muita classe e estrutura, a variedade da casta de tintos é única no seu valor e possui um fantástico potencial de envelhecimento, que atua com o vinho na garrafa durante anos após sua fabricação. Além de refinados e inimitáveis, os vinhos produzidos com esta variedade de uva apresentam muita personalidade e distinção. No passado, a Baga era conhecida por ser empregada na produção de vinhos rústicos, excessivamente ácidos e tânicos e de pouca concentração. Porém, após a chegada do genial Luís Pato, conhecido como o “revolucionário da Bairrada” e maior expoente desta variedade, a casta da uva Baga foi “domesticada”.

A localização da DOC Bairrada e suas características de clima e solo fazem dela uma região única. Paralelamente, o plantio das vinhas é feito em lotes descontínuos de pequenas proporções e faz divisa com outras culturas e outros usos de solo. Com isso, seus vinhos são de terroir, ou seja, o local onde a uva é plantada influencia diretamente em suas particularidades. Delimitada a Sul, pelo rio Mondego, a Norte pelo rio Vouga, a Leste pelo oceano Atlântico e a Oeste pelas serras do Buçaco e Caramulo, a região é composta por planalto de baixa altitude.

O solo é predominantemente argilo-calcário, mas há algumas poucas regiões com solos arenosos e de aluvião. O clima é mediterrânico moderado pelo Atlântico. A região recebe forte influência marítima do oceano Atlântico. Os invernos são frescos, longos e chuvosos e os verões são quentes, suavizados pela presença de ventos frequentes nas regiões junto ao mar. A área se beneficia de grande amplitude térmica na época do amadurecimento das uvas. A variação que pode chegar aos 20ºC de diferença entre o dia e a noite.

Decreto-Lei n.º 70/91 estabeleceu as castas autorizadas e recomendadas para produção de vinhos na DOC Bairrada. A lei descreve as diretrizes para elaboração dos vinhos tintos, rosés, brancos e espumantes. Para a produção de tintos e rosés com o selo DOC Bairrada, as castas recomendadas são Baga (ou Tinta Poeirinha), Castelão, Moreto e Tinta-Pinheira. No conjunto ou separadamente, deverão representar 80% do vinhedo, não podendo a casta Baga representar menos de 50%. As castas autorizadas são Água-Santa, Alfrocheiro, Bastardo, Jaen, Preto-Mortágua e Trincadeira.

Para os vinhos brancos as castas recomendadas são Maria-Gomes (também conhecida como Fernão Pires), Arinto, Bical, Cercial e Rabo-de-Ovelha, no conjunto ou separadamente com um mínimo de 80% do encepamento: e as autorizadas são Cercialinho e Chardonnay. O vinho base para espumantes naturais devem ser elaborados através das castas recomendadas Arinto, Baga, Bical, Cercial, Maria-Gomes e Rabo-de-Ovelha; ou das autorizadas Água-Santa, Alfrocheiro-Preto, Bastardo, Castelão, Cercialinho, Chardonnay, Jaen, Moreto, Preto-Mortágua, Tinta-Pinheira e Trincadeira.

Em 2012 foi publicada a Portaria n.º 380/2012, que atualiza a lista de castas permitidas para e das portuguesas Touriga Nacional, Castelão, Rufete, Camarate, Tinta Barroca, Tinto Cão e Touriga Franca. Vinhos elaborados com castas que não estejam relacionadas na elaboração dos vinhos DOC Bairrada.  Foi incluída recentemente uma autorização para o cultivo das castas internacionais Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot, Petit Verdot e Pinot Noir. Por Decreto-Lei, não podem receber o selo de DOC Bairrada e são rotulados com o selo Vinho Regional Beira Atlântico.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, com entornos granada e lágrimas finas, lentas e em profusão.

No nariz é bem aromático para frutas vermelhas bem maduras, com destaque para amoras, framboesas e groselhas, além de toques de baunilha, caramelo e defumado, couro e tabaco.

Na boca traz média estrutura, é marcante, mas macio e elegante, com as frutas vermelhas maduras protagonizando, como no aspecto olfativo, com discretas notas amadeiradas, devido aos 6 meses em carvalho, com especiarias doces, taninos presentes e acidez média. Final longo e persistente.

Definitivamente a Adega de Cantanhede me possibilitou degustar, conhecer a região da Bairrada e não se enganem, não são vinhos ruins por entregar preços competitivos. Não! São vinhos excelentes em todas as suas camadas de propostas e o Conde de Cantanhede Seleção do Enólogo personifica essa máxima! É sim possível degustar bons bairradinos a preços acessíveis, justos, sobretudo. E esse rótulo ainda tinha muito a oferecer ao longo dos anos. A Baga realmente é especial e proporciona longevidade quando predomina, seja no blend, e obviamente quando vem na versão varietal. Um vinho de excelente custo que fatalmente teria de 7 a 8 anos pela frente sem sombras de dúvidas. Que venham outras experiências da Bairrada e da Adega de Cantanhede. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Adega de Cantanhede:

Fundada em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega de Cantanhede conta hoje com 500 viticultores associados ativos e uma produção anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, constituindo-se como o principal produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da produção global da região. Hoje certifica cerca de 80% da sua produção, sendo líder destacado nas vendas de vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.

Reconhecendo a enorme competitividade existente no mercado nacional e internacional, a evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado da mais moderna tecnologia, com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega Certificada pela norma ISO 9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.), mas também da promoção das castas Portuguesas, que sempre guiou a sua estratégia, particularmente das variedades tradicionais da Bairrada – Baga, Bical e Maria Gomes – mas também de outras castas

Portuguesas que encontram na Bairrada um Terroir de eleição, como sejam a Touriga Nacional, Aragonez e Arinto, pois acredita que no inequívoco potencial de diferenciação e singularidade que este património confere aos seus vinhos.

O seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto, branco e rose os seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a que acresce uma vasta gama de espumantes produzidos exclusivamente pelo Método Clássico, bem como Aguardentes e Vinhos Fortificados. É um portfólio que, graças à sua diversidade e versatilidade, é capaz de atender a diferentes segmentos de mercado, com diferentes graus de exigência em qualidade, que resulta na presença dos seus produtos em mais de 20 mercados.

A sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos e das suas marcas, vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos prémios que vem acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750 distinções atribuídas nos mais prestigiados concursos nacionais e internacionais, com destaque para Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de Bruxelles, Selections Mondiales du Vins - Canada, Effervescents Monde – França, Berliner Wein Trophy – Alemanha e Japan Wine Challenge, sendo por diversas ocasiões o único produtor da Bairrada com vinhos premiados nesses concursos e, por isso, hoje um dos mais galardoados produtores da região. Em 2015 integrou o TOP 100 dos Melhores Produtores Mundiais, pela WAWWJ – Associação Mundial dos Jornalistas e Críticos de Vinho e Bebidas Espirituosas. Nos últimos 8 anos foi eleita “Melhor Adega Cooperativa” em Portugal por 3 vezes pela imprensa especializada.

Mais informações acesse:

https://www.cantanhede.com/

Referências:

Mistral: https://www.mistral.com.br/regiao/bairrada

Reserva85: https://reserva85.com.br/vinho/indicacao-geografica-ig-denominacao-de-origem-do/regioes-demarcadas-de-portugal/bairrada/

 








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