Quando a gente fala em terroir, a gente fala, até
demasiadamente, confesso, em regiões, nos seus climas, nas suas estruturas
geológicas, não é em vão ou para impressionar aquele que nos ouve, aquele que
lê os textos, mas para fomentar as nossas identificações dos vinhos e de
algumas castas com as suas particularidades das regiões.
Por que digo isso? Embora determinadas castas tenham as suas
características essenciais, em comum, há particularidades que, tipicidades que
só o terroir pode conferir ao vinho, além é claro de alguns processos de
vinificação, a famosa intervenção humana.
Então atualmente tenho percebido e valorizado a questão do
terroir para o vinho, afinal são questões que não devem ser dissociadas nem um
pouco. Claro e evidente que algumas pessoas não se apagam a essas questões, até
porque o tema é complexo e, por vezes, difícil de assimilar, mas entender
minimamente a influência da terra e do clima no vinho é, penso, de suma
importância.
E aprendi ou pelo menos estou aprendendo a “exercitar” essas
questões para as percepções dos vinhos que degustamos e observei, ou melhor,
senti isso na casta Pinot Noir.
A Pinot Noir é conhecida pela delicadeza e dificuldade de se
cultivar em determinados climas. Mas diante de algumas degustações realizadas
de rótulos com essa casta em alguns centros de produção vitivinícola do Velho
Mundo, como França, por exemplo, até mesmo a Alemanha, bem como no Novo Mundo,
como Brasil, Chile, Argentina, Nova Zelândia, percebi algumas nuances bem
interessantes.
Os “Pinots” do Velho Mundo me entregaram leveza, delicadeza,
muita fruta, já os vinhos do Novo Mundo, sobretudo da Argentina e Nova Zelândia
se percebe um Pinot Noir mais intenso, mais robusto, mais complexo e esses
últimos muito me agradaram.
Hoje desenvolvi um forte interesse e predileção pelos
“Pinots” da Nova Zelândia e principalmente da Argentina, que são mais
encorpados e marcantes. Claro que há rótulos dessa cepa na França, por exemplo,
complexos e que gozam de longevidade, inclusive, mas os argentinos, de Mendoza,
me ganharam definitivamente.
Não degustei tantos ainda, infelizmente, mas os poucos a que
tive acesso, me surpreenderam nesse sentido, ou seja, de entregarem vinhos
volumosos, encorpados e de boa complexidade o que não é muito comum, em rótulos
de Pinot Noir no Brasil, por exemplo.
Então, dessa vez, me pus a experimentar mais um rótulo de
Pinot Noir mendocino e com uma passagem por 12 meses em barricas de carvalho o
que, para mim, é uma novidade! Nunca havia degustado um Pinot Noir com um tempo
tão longo em barricas! Então a experiência, creio, será válida por mais um
motivo!
E o vinho que escolhi traz um custo extremamente atrativo e vem atingindo em cheio os paladares brasileiros com vendas bem expressivas, claro que o referido custo é determinante, mas os vinhos também trazem qualidade e tipicidade. Falo da linha “Partridge” da vinícola Las Perdices. Inclusive eu degustei o Partridge Reserva Cabernet Sauvignon 2019 e me surpreendeu positivamente!
E dessa vez o vinho que degustei e gostei é o Partridge
Reserva Pinot Noir da safra 2019, da região emblemática argentina, Mendoza. O
vinho definitivamente entrega o terroir da região, mas não falarei, pelo menos
ainda, do vinho, mas de Mendoza.
Quando falamos em Mendoza, na Argentina, em vinhos argentinos
encorpados, estruturados, com complexidade, lembramos, associamos imediatamente
na grande Malbec, na Cabernet Sauvignon, mas também não podemos esquecer da Pinot
Noir, embora não tenha a fama e a representatividade das anteriores.
Tais castas encontraram no solo andino as condições perfeitas
para crescer, um novo e já tradicional terroir argentino, de Mendoza para uma
cepa francesa. E já que falamos em tradição e do solo argentino, a produção e
consumo de vinhos na terra dos hermanos tornou-se tradicional há
aproximadamente duzentos anos. Mas a história do cultivo da uva e da produção
vinícola no país do extremo sul da América começou já com os colonizadores
espanhóis no século XVI.
Devido às ótimas condições de clima e solo da região andina,
não demorou para que os vinhedos se desenvolvessem, mesmo que de forma
rudimentar, logo no período colonial. Foi a partir dos sacerdotes da igreja
católica que a vitivinicultura se iniciou na Argentina: os jesuítas produziam
em seus monastérios o vinho necessário para a celebração de suas missas.
No século XIX, com a chegada maciça dos imigrantes europeus
na região, algumas novas técnicas de cultivo foram implantadas, e, no mesmo
passo, a variedade de uvas também aumentou, diversificando os tipos de vinhos e
elevando a produção de vinho na região a um novo patamar. Castas de uvas como
Malbec, Cabernet Sauvignon, Merlot e Chenin Blanc vieram junto com esses
imigrantes e deram maior qualidade aos vinhos argentinos.
A região mais tradicional de produção vinícola na Argentina é
a província de Mendoza, no oeste do país, responsável por mais da metade da
produção nacional. Foi nessa região que em 1534 que as primeiras videiras no
país foram plantadas, e partir de lá que o cultivo da uva se espalhou para as
outras regiões da Argentina. O Padre Cidrón e o fundador da província de
Mendoza, Juan Jufré, foram os responsáveis pela primeira plantação de videiras
na Argentina, no séc. XVI. Fonte: Clube dos Vinhos em: Argentina e seu perfeito solo andino.
E agora finalmente o vinho!
Na taça entrega um vermelho rubi com algum intensidade,
atípico para um Pinot Noir, com tonalidades violáceas, diria roxas, com
lágrimas finas e em média quantidade.
No nariz a profusão de frutas vermelhas, tais como morango,
cerejas e framboesas, talvez um quê de frutas maduras, com um delicado e
agradável toque floral, além de notas de pimenta preta, tabaco, especiarias,
talvez em virtude da passagem por carvalho durante 12 meses, embora não tenha
percebido as notas amadeiradas.
Na boca o frescor e a elegância, típica da casta, se faz
perceber, graças também as notas frutadas que protagonizam, como no aspecto
olfativo, mas com um pouco de complexidade, pois só nota a madeira, a baunilha,
o toque mentolado, conferindo-lhe também alguma estrutura, com taninos contidos
e elegantes, com uma ótima acidez que corrobora a sua frescura. Tem um final
curto e de retrogosto frutado.
Falamos de terroir demasiadamente, de tipicidade, um assunto,
um tema tão complexo, tão interminável, com tantos “microclimas” dentro de uma
região, parece que, mesmo diante de nossa incapacidade enciclopédica do
assunto, parece que quando degustamos um Pinot Noir argentino, em especial,
percebemos as nuances de um vinho produzido em Mendoza desta casta. O Partridge
Reserva entrega com fidelidade, com, olha a palavra de novo, TIPICIDADE. Essas
impressões, as experiências sensoriais se tornam tão aguçadas que quando, às
vezes, falta a questão técnica sobre o entendimento do terroir, nos sobra os
sentidos, o que já é, claro, relevante. Percebi que uma das filosofias da Viña
Las Perdices, produtor responsável pela linha “Partridge”, é de que os vinhos
têm de maturar em barricas de carvalho, tendo o aporte da madeira, sendo
incorporados ao vinho, conferindo-lhe estrutura e complexidade o que esse
rótulo garante, mas nunca mascarando as características essenciais da Pinot
Noir, sendo um vinho frutado, saboroso, potente, robusto, mas equilibrado e
harmonioso: a sinergia perfeita. Tem 13,5% de teor alcoólico.
Sobre a Viña Las Perdices:
Em 1952, Juan Muñoz López decidiu deixar sua cidade natal,
Andalucia, no sul da Espanha, e ele e sua família emigraram para Mendoza, na
Argentina, a fim de buscar novos horizontes.
Em seguida, já em solo argentino, não pôde deixar de notar as
perdizes que vagavam pela terra. Com efeito, um vizinho disse a ele que essas
aves geralmente são vistas em grupos de três.
Assim sendo, com o passar dos dias, as perdizes se tornaram
as companheiras constantes de Don Juan em seus longos dias de trabalho. Assim,
ele decidiu nomear sua vinícola Partridge Vineyard: “Viña las Perdices”.
A adega hoje é uma operação familiar criada por Juan Muñoz
López, sua esposa Rosario, seus filhos Nicolas e Carlos e sua filha Estela.
A vinícola, assim, se localiza no sopé da Cordilheira dos
Andes a 1.030 metros acima do nível do mar, em Agrelo, Luján de Cuyo – a
primeira zona DOC (denominação de origem controlada) argentina. Do mesmo modo,
as uvas são provenientes de duas de suas vinhas em Agrelo em Lujan de Cuyo e
Barancas em Maipu.
Por fim, hoje Las Perdices continua a ser uma vinícola de
pequena produção e com um espírito entusiasmado em apresentar os vinhos finos
de Mendoza.
Sobre a Partridge Vineyard:
A linha Partridge foi criada em 2009 para complementar o
portfólio da Viña Las Perdices nos mercados internacionais. São vinhos de
perfil clássico e de qualidade, que ganhou a preferência dos consumidores.
A linha tem quatro divisões, que variam de acordo com o
perfil dos rótulos:Partridge Flying, Partridge Reserva, Partridge Gran Reserva
e Partridge Selección de Barricas.
A sub-linha Partridge Flying oferece vinhos fáceis de beber
que são excelentes para o dia a dia. Em Reserva, os rótulos amadurecem em
barricas de carvalho, agregando mais corpo e complexidade aos vinhos. Já na
Gran Reserva, os vinhos são sofisticados e passam no mínimo 12 meses em
carvalho, garantindo grande intensidade. E, por último, a Selección de
Barricas, conta com exemplares de alta gama.
Mais informações acesse:
https://www.lasperdices.com/index.php
Referências:
“Winepedia”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/vinhos-las-perdices-o-melhor-do-terroir-argentino/
“Clube de Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/argentina-e-seu-perfeito-solo-andino/
“Vinho Vida Viagem”: https://vinhovidaviagem.com.br/enoturismo-em-mendoza-argentina/
“Clube dos Vinhos”: (https://www.clubedosvinhos.com.br/argentina-e-seu-perfeito-solo-andino/
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