Dentre as diversas castas brancas que temos para nosso
deleite, simples enófilos de plantão, eu adoro a Pinot Grigio. Tenho a
impressão de que ela não é muito bem aceita. Já ouvi alguns dos maiores
absurdos e injustiça a respeito dela, tais como: aguada, sem expressão, péssimo
no paladar, entre outros tristes comentários. Não é discurso de fã cego, mas
não há como não se render aos encantos da Pinot Grigio, sobretudo no clima
tropical de quase todo ano de nossa terra brasilis. Ela cai como uma luva!
E cabe aqui, embora seja mais uma dessas histórias enfadonhas
de enófilos desocupados, contar como a conheci. Estava em uma dessas
confraternizações de trabalho que costumas ser um tanto quanto chatas e
cansativas. Então, quando cheguei no restaurante onde iria acontecer a reunião,
e resolvi pedir o vinho. Um tanto quanto temoroso quanto aos valores que iria
encontrar, virei as páginas do cardápio em busca de um rótulo que fosse
atrativo, tanto no valor quanto no que ele poderia oferecer no que tange a
qualidade. Me deparei com um que, apesar de conhecer o produtor, Miolo, eu não
havia reconhecido o nome da casta: Pinot Grigio? Bem, resolvi pedir ao garçom e
um branco viria a calhar naquele dia que fazia um calor insuportável! Aproveitei,
mesmo sem conhecer a casta, e pedi ao bom e atencioso garçom que colocasse no
balde com gelo para ficar no ponto de degustação.
Quando o vinho chegou eu, em uma mescla de animação e
ansiedade, logo que tive a taça enchida pelo amável garçom, degustei e voilá:
Que vinho delicioso! Uma explosão de frutas brancas e amarelas com um
envolvente toque floral e pensei: Que escolha maravilhosa! Que vinho estupendo,
apesar de sua simplicidade! Esse foi o Miolo Reserva Pinot Grigio que em um
futuro breve textualizarei as minhas agradáveis impressões. E a partir daí não
larguei mais do Pinot Grigio, degustando vários outros, de vários países:
Chile, Itália (que logo descobrir ser um “oásis” para essa cepa), entre outras.
E hoje, mesmo com a Pinot Grigio faz parte, de forma
contínua, em minha vida enófila, hoje degustarei um Pinot Grigio de uma região
que não esperava que fosse encontrar cultivo: África do Sul, da região de
Western Cape, uma das mais emblemáticas daquele país.
E o produtor não fica atrás, um dos mais importantes: A
Nederburg. Então o vinho que degustei e gostei, como disse vem da magnífica
região de Western Cape, a casta, claro, é Pinot Grigio e o vinho se chama 56
Hundred, da safra 2018, a linha mais básica, mas digna de plena atenção, haja
vista que degustei, também dessa linha, a 56 Hundred Chenin Blanc 2017 que
também é surpreendente! Mas não é tão surpreendente como o Pinot Grigio. Bem já
que falei da emblemática Western Cape, vou tecer alguns comentários sobre ela e
a sua importância para a vitivinicultura sul africana.
Western Cape: a toda poderosa região vinícola sul africana
Localizada a sudoeste da África do Sul, tendo a Cidade do Cabo
como ponto central, Western Cape é a principal região vitivinícola do país,
responsável por cerca de 90% da produção vinícola do país. Boa parte da
indústria do vinho sul-africana se concentra nessa área e microrregiões como
Stellenbosch e Paarl são alguns de seus principais destaques. Com terroir
bastante diversificado, a combinação do clima mediterrâneo, da geografia
montanhosa, das correntes de ar fresco vindas do Oceano Atlântico e da
variedade de uvas permite que Western Cape seja considerada uma verdadeira
potência da produção de vinhos no país. Suas regiões vinícolas estendem-se por
impressionantes 300 quilômetros a partir da Cidade do Cabo até a foz do rio
Olifants ao norte, e cerca de 360 quilômetros até a Baía Mossel, a leste – para
entender essa grandiosidade, vale saber que regiões vinícolas raramente se
estendem por mais de 150 quilômetros.
O clima fresco e chuvoso também favorece o plantio e a
colheita por toda a região. Entre os grandes destaques de Western Cape estão as
uvas Pinotage, Cabernet Sauvignon e Shiraz, que dão origem a excelentes
varietais e blends. Entre os brancos – que, por si só, têm grande
reconhecimento mundial –, brilham a Chenin Blanc, uva mais cultivada do país, a
Chardonnay e a Sauvignon Blanc. As primeiras vinhas plantadas na região remetem
ao século XVII, trazidas por exploradores europeus que se fixaram por lá.
Durante vários séculos, fatores como o estilo rudimentar de produção, o
Apartheid e a falta de investimentos mantiveram a cultura vitivinícola
sul-africana limitada ao próprio país. Somente no início do século XX, com a
formação da cooperativa KWV, que a África do Sul começou a responder por todo o
controle de qualidade do vinho que se produzia por lá, e seus rótulos passaram
a chamar a atenção do mercado internacional, dando início a um processo de
exportação que conta, inclusive, com selos de qualidade específicos para a
atividade. A proximidade da Cidade do Cabo facilita o acesso dos visitantes às
inúmeras rotas vinícolas e turísticas de Western Cape, que incluem experiências
como caminhadas, degustações por suas muitas bodegas, além de ótimos
restaurantes e hospedagens em suas pequenas e aconchegantes cidades, a maioria
em estilo europeu.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um amarelo palha, clarinho, translúcido,
brilhante e com discretos reflexos esverdeados e algumas dispersas lágrimas
finas e que se dissipa rapidamente.
No nariz uma intensa explosão aromática de frutas brancas e
cítricas com o destaque para melão, pera, maçã verde, lima e limão, além de um
toque floral excelente.
Na boca as notas frutadas são evidentes como no aspecto
olfativo, é leve, jovem, mas com uma personalidade potencializada pela ótima
acidez que faz do vinho fresco e refrescante. Um final persistente e com um
retrogosto frutado.
Mais um capítulo importante na minha vida, na minha
trajetória enófila com uma degustação de novo rótulo da casta Pinot Grigio.
Embora o nível de rejeição da mesma seja alto, ela está em alta em meu humilde
conceito. E com direito a mais uma grata novidade: meu primeiro Pinot Grigio da
África do Sul que, a cada rótulo, a cada degustação tem se revelado o óbvio: um
dos principais países de produção e cultivo de vinhos do mundo! Como que um
vinho básico, como essa linha da Nederburg, pode cativar tanto? Ser tão bom?
Aprendi com um especialista e crítico de vinhos que, para mensurar a qualidade
e idoneidade de um produtor, deguste os seus vinhos básicos e a Nederburg se
enquadra perfeitamente nessa frase. Um Pinot Grigio alegre, delicado, elegante
e que pode substituir perfeitamente aquela cerveja de fim de semana em dias de
intenso calor. Que novas experiências com a Pinot Grigio me arrebate sempre,
por inteiro! Tem 12% de teor alcoólico.
Sobre a Nederburg:
A história de Nederburg começou em 1791, quando o imigrante
alemão Philippus Wolvaart adquiriu 49 hectares de terra no vale de Paarl. Ele
nomeou sua propriedade Nederburgh, em homenagem ao comissário Sebastiaan
Cornelis Nederburgh. Mais tarde, o 'h' foi retirado da grafia do nome da
fazenda e tornou-se Nederburg como é conhecido hoje. A bela mansão holandesa do
Cabo, coberta de palha e empena, que Wolvaart completou em 1800 é hoje um
monumento nacional. E sobre a linha “56 Hundred” há uma curiosidade: Essa
variedade de vinhos refrescantes, frutados e suave leva o nome ao preço de mil
e seiscentos florins que Philippus Wolvaart pagou em 1791 pela fazenda em que
deveria nomear Nederburg. Um visionário que reconheceu o potencial vitícola da
terra, ele teve a tenacidade de domesticar a propriedade e estabelecer uma
fazenda que continua a florescer hoje. Em 1810, vendeu a fazenda para a família
Retief, que conservou a propriedade por 70 anos. Em seguida a Nederburg passou
por diversos proprietários até ser adquirida, em 1937, por Johann Graue que foi
buscar na Alemanha o talentoso enólogo Günter Brözel para comandar a produção.
Durante anos, Brözel elevou a reputação da Nederburg a nível mundial. Quem o
sucedeu foi o enólogo romeno Razvan Macici, que recebeu inúmeros prêmios ao
longo dos anos. Macici aliava a capacidade de criar vinhos exclusivos à
habilidade para a elaboração de rótulos acessíveis. A Nederburg é conhecida
pela visão vanguardista, sempre valorizando os cuidados no vinhedo e na
vinificação para a elaboração de exemplares famosos mundialmente.
Mais informações acesse:
Referências de pesquisa:
“Vinho Capital”: https://vinhocapital.com/tag/wine/page/3/
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