sábado, 27 de fevereiro de 2021

56 Hundred Pinot Grigio 2018

 

Dentre as diversas castas brancas que temos para nosso deleite, simples enófilos de plantão, eu adoro a Pinot Grigio. Tenho a impressão de que ela não é muito bem aceita. Já ouvi alguns dos maiores absurdos e injustiça a respeito dela, tais como: aguada, sem expressão, péssimo no paladar, entre outros tristes comentários. Não é discurso de fã cego, mas não há como não se render aos encantos da Pinot Grigio, sobretudo no clima tropical de quase todo ano de nossa terra brasilis. Ela cai como uma luva!

E cabe aqui, embora seja mais uma dessas histórias enfadonhas de enófilos desocupados, contar como a conheci. Estava em uma dessas confraternizações de trabalho que costumas ser um tanto quanto chatas e cansativas. Então, quando cheguei no restaurante onde iria acontecer a reunião, e resolvi pedir o vinho. Um tanto quanto temoroso quanto aos valores que iria encontrar, virei as páginas do cardápio em busca de um rótulo que fosse atrativo, tanto no valor quanto no que ele poderia oferecer no que tange a qualidade. Me deparei com um que, apesar de conhecer o produtor, Miolo, eu não havia reconhecido o nome da casta: Pinot Grigio? Bem, resolvi pedir ao garçom e um branco viria a calhar naquele dia que fazia um calor insuportável! Aproveitei, mesmo sem conhecer a casta, e pedi ao bom e atencioso garçom que colocasse no balde com gelo para ficar no ponto de degustação.

Quando o vinho chegou eu, em uma mescla de animação e ansiedade, logo que tive a taça enchida pelo amável garçom, degustei e voilá: Que vinho delicioso! Uma explosão de frutas brancas e amarelas com um envolvente toque floral e pensei: Que escolha maravilhosa! Que vinho estupendo, apesar de sua simplicidade! Esse foi o Miolo Reserva Pinot Grigio que em um futuro breve textualizarei as minhas agradáveis impressões. E a partir daí não larguei mais do Pinot Grigio, degustando vários outros, de vários países: Chile, Itália (que logo descobrir ser um “oásis” para essa cepa), entre outras.

E hoje, mesmo com a Pinot Grigio faz parte, de forma contínua, em minha vida enófila, hoje degustarei um Pinot Grigio de uma região que não esperava que fosse encontrar cultivo: África do Sul, da região de Western Cape, uma das mais emblemáticas daquele país.

E o produtor não fica atrás, um dos mais importantes: A Nederburg. Então o vinho que degustei e gostei, como disse vem da magnífica região de Western Cape, a casta, claro, é Pinot Grigio e o vinho se chama 56 Hundred, da safra 2018, a linha mais básica, mas digna de plena atenção, haja vista que degustei, também dessa linha, a 56 Hundred Chenin Blanc 2017 que também é surpreendente! Mas não é tão surpreendente como o Pinot Grigio. Bem já que falei da emblemática Western Cape, vou tecer alguns comentários sobre ela e a sua importância para a vitivinicultura sul africana.

Western Cape: a toda poderosa região vinícola sul africana

Localizada a sudoeste da África do Sul, tendo a Cidade do Cabo como ponto central, Western Cape é a principal região vitivinícola do país, responsável por cerca de 90% da produção vinícola do país. Boa parte da indústria do vinho sul-africana se concentra nessa área e microrregiões como Stellenbosch e Paarl são alguns de seus principais destaques. Com terroir bastante diversificado, a combinação do clima mediterrâneo, da geografia montanhosa, das correntes de ar fresco vindas do Oceano Atlântico e da variedade de uvas permite que Western Cape seja considerada uma verdadeira potência da produção de vinhos no país. Suas regiões vinícolas estendem-se por impressionantes 300 quilômetros a partir da Cidade do Cabo até a foz do rio Olifants ao norte, e cerca de 360 quilômetros até a Baía Mossel, a leste – para entender essa grandiosidade, vale saber que regiões vinícolas raramente se estendem por mais de 150 quilômetros.

Western Cape

O clima fresco e chuvoso também favorece o plantio e a colheita por toda a região. Entre os grandes destaques de Western Cape estão as uvas Pinotage, Cabernet Sauvignon e Shiraz, que dão origem a excelentes varietais e blends. Entre os brancos – que, por si só, têm grande reconhecimento mundial –, brilham a Chenin Blanc, uva mais cultivada do país, a Chardonnay e a Sauvignon Blanc. As primeiras vinhas plantadas na região remetem ao século XVII, trazidas por exploradores europeus que se fixaram por lá. Durante vários séculos, fatores como o estilo rudimentar de produção, o Apartheid e a falta de investimentos mantiveram a cultura vitivinícola sul-africana limitada ao próprio país. Somente no início do século XX, com a formação da cooperativa KWV, que a África do Sul começou a responder por todo o controle de qualidade do vinho que se produzia por lá, e seus rótulos passaram a chamar a atenção do mercado internacional, dando início a um processo de exportação que conta, inclusive, com selos de qualidade específicos para a atividade. A proximidade da Cidade do Cabo facilita o acesso dos visitantes às inúmeras rotas vinícolas e turísticas de Western Cape, que incluem experiências como caminhadas, degustações por suas muitas bodegas, além de ótimos restaurantes e hospedagens em suas pequenas e aconchegantes cidades, a maioria em estilo europeu.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um amarelo palha, clarinho, translúcido, brilhante e com discretos reflexos esverdeados e algumas dispersas lágrimas finas e que se dissipa rapidamente.

No nariz uma intensa explosão aromática de frutas brancas e cítricas com o destaque para melão, pera, maçã verde, lima e limão, além de um toque floral excelente.

Na boca as notas frutadas são evidentes como no aspecto olfativo, é leve, jovem, mas com uma personalidade potencializada pela ótima acidez que faz do vinho fresco e refrescante. Um final persistente e com um retrogosto frutado.

Mais um capítulo importante na minha vida, na minha trajetória enófila com uma degustação de novo rótulo da casta Pinot Grigio. Embora o nível de rejeição da mesma seja alto, ela está em alta em meu humilde conceito. E com direito a mais uma grata novidade: meu primeiro Pinot Grigio da África do Sul que, a cada rótulo, a cada degustação tem se revelado o óbvio: um dos principais países de produção e cultivo de vinhos do mundo! Como que um vinho básico, como essa linha da Nederburg, pode cativar tanto? Ser tão bom? Aprendi com um especialista e crítico de vinhos que, para mensurar a qualidade e idoneidade de um produtor, deguste os seus vinhos básicos e a Nederburg se enquadra perfeitamente nessa frase. Um Pinot Grigio alegre, delicado, elegante e que pode substituir perfeitamente aquela cerveja de fim de semana em dias de intenso calor. Que novas experiências com a Pinot Grigio me arrebate sempre, por inteiro! Tem 12% de teor alcoólico.

Sobre a Nederburg:

A história de Nederburg começou em 1791, quando o imigrante alemão Philippus Wolvaart adquiriu 49 hectares de terra no vale de Paarl. Ele nomeou sua propriedade Nederburgh, em homenagem ao comissário Sebastiaan Cornelis Nederburgh. Mais tarde, o 'h' foi retirado da grafia do nome da fazenda e tornou-se Nederburg como é conhecido hoje. A bela mansão holandesa do Cabo, coberta de palha e empena, que Wolvaart completou em 1800 é hoje um monumento nacional. E sobre a linha “56 Hundred” há uma curiosidade: Essa variedade de vinhos refrescantes, frutados e suave leva o nome ao preço de mil e seiscentos florins que Philippus Wolvaart pagou em 1791 pela fazenda em que deveria nomear Nederburg. Um visionário que reconheceu o potencial vitícola da terra, ele teve a tenacidade de domesticar a propriedade e estabelecer uma fazenda que continua a florescer hoje. Em 1810, vendeu a fazenda para a família Retief, que conservou a propriedade por 70 anos. Em seguida a Nederburg passou por diversos proprietários até ser adquirida, em 1937, por Johann Graue que foi buscar na Alemanha o talentoso enólogo Günter Brözel para comandar a produção. Durante anos, Brözel elevou a reputação da Nederburg a nível mundial. Quem o sucedeu foi o enólogo romeno Razvan Macici, que recebeu inúmeros prêmios ao longo dos anos. Macici aliava a capacidade de criar vinhos exclusivos à habilidade para a elaboração de rótulos acessíveis. A Nederburg é conhecida pela visão vanguardista, sempre valorizando os cuidados no vinhedo e na vinificação para a elaboração de exemplares famosos mundialmente.

Harmonizando com um queijo minas

Mais informações acesse:

https://www.nederburg.com/

Referências de pesquisa:

“Vinho Capital”: https://vinhocapital.com/tag/wine/page/3/

“Wine”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/western-cape-a-gigante-sul-africana/?doing_wp_cron=1611015613.7245669364929199218750#:~:text=Localizada%20a%20sudoeste%20da%20%C3%81frica,alguns%20de%20seus%20principais%20destaques.

 

 





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