É possível, em um país como o Brasil, por exemplo, degustar
um belíssimo vinho, com vários prêmios conquistados pelo mundo inteiro e ainda
tendo um valor muito atrativo? Pode parecer improvável e inusitado para a nossa
realidade, tendo em vista o altíssimo e injusto Custo X Brasil, comerciantes gananciosos
etc, mas sim é possível encontrar vinhos nessas condições. E os nossos
espumantes têm protagonizado esses momentos! Mais uma vez os nossos tão
adorados espumantes! Mas não se enganem que essa seja uma realidade, não é um
mar de rosas. Na mesma proporção que os nossos espumantes ganham em
credibilidade e prêmios os valores também, infelizmente, na mesma toada: preços
altos parece ser a tônica dos espumantes no Brasil, independente da sua proposta
e um produto brasileiro que ganha respeito e qualidade não chega na mesa do
brasileiro, de todos os credos e distinções sociais. Enfim, como costumo dizer:
só falta o Brasil e os brasileiros conhecerem os nossos vinhos. Mas, discussões
econômicas à parte, que são relevantes, há sim vinhos multi premiados e com
preço justo e tem um nome para eles: Garibaldi.
O vinho que degustei e gostei veio da emblemática e famosa
Serra Gaúcha, do Brasil, e é o Garibaldi Moscatel, não safrado, composto pelas
castas Moscato Branco e Moscato Giallo e produzido pelo método Asti. Mas afinal
o que é o método Asti? Esse processo tem muito a ver com a história da produção
desses tipos de espumantes. Então vamos a história!
Método Asti e os Moscatéis
O método Asti é uma variação do método Charmat, já que o
processo de fermentação de ambos métodos ocorrem dentro de autoclaves. A
diferença é que os espumantes com essa metodologia passam por apenas uma etapa
fermentativa. O método Asti para produção de espumantes consiste em colocar o
mosto (suco extraído das uvas) com as leveduras diretamente dentro de um tanque
de aço inoxidável totalmente vedado. As leveduras comerão o açúcar proveniente
do mosto, o transformando em álcool e gás carbônico. Este gás não é expelido
das cubas e serão as borbulhas do futuro espumante. Para manter a
característica frutada do espumante Moscatel, quando o teor alcoólico atinge em
torno de 8º (pode ser um pouco maior ou menor dependendo da decisão do
produtor), o processo é paralisado pelo resfriamento do mosto. O que acontece é
que restará açúcar residual do mosto ainda não fermentado. Quanto maior o teor
de álcool, menos doce será o espumante. A bebida é então filtrada para eliminar
as leveduras e outros sedimentos e em seguida é engarrafada.
Moscatel
Moscatel nada mais é do que a designação dada a uma família
específica de uvas, chamadas originalmente de Moscato. As frutas dessa casta podem ter cascas brancas, tintas ou
rosadas, originando diferentes tipos de vinho. Entretanto, convencionou-se
chamar "espumante Moscatel" todos aqueles produzidos com a uva
Moscato branca e utilizando o Método Asti de fermentação. Suas características
mais marcantes são: baixo nível de teor alcoólico (entre 6 e 10%), intenso
sabor adocicado frescor e intensidade de aromas florais e frutados.
As origens do Moscatel
O espumante Moscatel elaborado pelo Método Asti surgiu na região de Piemonte, na Itália, de maneira rudimentar, em meados do século XVI. Conta-se que o joalheiro Giovan Battista Croce foi o pioneiro, ao produzir vinhos brancos doces, aromáticos e de baixo teor alcoólico em suas terras. Logo a bebida se tornou famosa e ficou conhecida como Moscato d'Asti, em referência à comuna de Asti, onde os vinhos eram fabricados.
Ao longo do tempo, os processos de produção foram sendo
aprimorados e, em 1865, o francês Carlo Gancia incorporou técnicas de
espumantização ao vinho Moscato branco, dando origem ao espumante Moscato. No
Brasil, o primeiro espumante Moscatel foi produzido somente em 1978, na Serra
Gaúcha. Hoje em dia, a bebida é fabricada por diversas vinícolas brasileiras,
já que a uva Moscatel branca é produzida em larga escala por aqui. Entretanto,
é sempre bom lembrar que a denominação Asti é de origem controlada. Ou seja,
somente os espumantes fabricados em Piemonte podem trazer essa informação em
seus rótulos. As bebidas elaboradas com as mesmas características, mas em
outros países, recebem a denominação "Espumante Moscatel" ou
"Espumante Moscatel elaborado pelo Método Asti".
E agora o vinho!
Na taça tem um amarelo palha com reflexos esverdeados com um
aspecto límpido e muito brilhante com uma bela formação de perlages, bem finas.
No nariz traz aromas agradáveis e intensos de frutas brancas
e tropicais e cítricas tais como melão, maçã verde, pera, abacaxi, com um
incrível toque floral, de flores brancas e o famoso toque adocicado, mas nem
tanto, mostrando-se bem equilibrado, nesse sentido.
Na boca é leve, fresco, com um discreto, mas agradável toque
de cremosidade, com uma boa acidez que corrobora a sua jovialidade e
refrescância. Um final persistente, com retrogosto frutado.
Um grande espumante moscatel com a tipicidade e o DNA do terroir
brasileiro, da Serra Gaúcha. O Brasil, a cada dia, a cada rótulo que surge, vem
se especializando na produção e cultivo dos espumantes, das cepas que constroem
os nossos moscatéis. O moscatel da Garibaldi se destaca, pelo preço
competitivo, pela qualidade e pelos prêmios que ostenta e vem ostentando ao
longo do tempo. Em 2014 o Garibaldi Moscatel ficou entre os 100 melhores vinhos do mundo e por duas vezes! Essa lista é elaborada pela Associação Mundial de
Jornalistas e Escritores de Vinhos e Licores classifica os rótulos baseada em
resultados de respeitados concursos internacionais, como os famosos Concours
Mundial de Bruxelles e o International Wine Challenge. Tem uma vocação
gastronômica e harmoniza com frituras, canapés e refeições mais simples. Tem 7,5%
de teor alcoólico.
Sobre a Vinícola Garibaldi:
Situada em Garibaldi (120 Km de Porto Alegre) no coração da
Serra Gaúcha, a maior região vitivinícola do Brasil, a empresa nasceu como Cooperativa Agrícola
Garibaldi na quinta-feira, 22 de janeiro de 1931, na sede do Club Borges de
Medeiros. Naquele dia, Monteiro de Barros reuniu representantes de 73 famílias
para criar uma das mais importantes cooperativas da região. O sucesso da empreitada
foi tanto que, em 1935, o grupo já contava com 416 associados.
A prosperidade, contudo, estancou no começo dos anos 1970. Em
1973, a empresa sofreu uma intervenção que durou cinco anos. O processo, porém,
deu resultado e, no começo dos anos 1980, a Garibaldi passou a se modernizar.
No entanto, o grande passo só seria dado no início dos anos 2000. No passado, a
cooperativa trabalhava muito com vinho de mesa e até a granel, e isso não
rentabilizava o produto. Era uma commodity. Então, teve a necessidade de
agregar valor. Desde 2004, investiu-se fortemente na elaboração de espumantes
para dar essa guinada, rentabilizar os produtos e remunerar a uva dos
associados. Foi feito um intenso trabalho no campo de reconversão, tecnologia
em produto, para chegar a esse reconhecimento de mercado que a vinícola tem
hoje, como referência na produção de espumante. A cooperativa tem hoje 400
famílias associadas, que juntas formam um total de 900 hectares em 12
municípios diferentes do Rio Grande do Sul. Gerenciar tudo isso é um trabalho
complexo. O departamento técnico visita todas as propriedades pelo menos três
vezes ao ano. Tem um contato direto como produtor tanto na orientação técnica
quanto reconversões, conforme os interesses da cooperativa. As 380 famílias são
responsáveis pela produção da uva. Elas elegem um conselho para cuidar do
negócio e cada área tem um responsável, um profissional contratado para gerir.
É cooperativa, mas tem que ser profissional no que faz. Em 2010, a Garibaldi
adquiriu os direitos de produção e comercialização da marca Granja União, que
estava sob domínio da Vinícola Cordelier. Mais recentemente, lançou a linha
Acordes. A vinícola hoje apresenta índices de crescimento superiores aos da
média nacional. Resultado de uma história de investimentos, de
profissionalização, de união e de uma trajetória que carrega em sua bagagem o
trabalho e a vida de milhares de pessoas. O investimento é permanente em
manutenção e melhoria dos processos produtivos e na qualidade dos produtos. Com
uma área de 32 mil metros quadrados de construção e capacidade de processamento
que ultrapassa os 20 milhões de quilos, utilizando tecnologia e equipamentos
europeus para a elaboração de nossos vinhos e espumantes. Uma identidade
marcante, personalidade e características próprias, aliadas ao terroir da Serra
Gaúcha, fez com que os seus espumantes acumulassem uma série de premiações em
concursos no Brasil e no exterior.
Mais informações acesse:
https://www.vinicolagaribaldi.com.br/inicio
Referências de pesquisa:
“Blog dos Vinhos”: https://blogdosvinhos.com.br/como-funciona-o-metodo-asti/
“Blog da Famiglia Valduga”: https://blog.famigliavalduga.com.br/metodo-asti-conheca-o-processo-de-producao-do-espumante-moscatel/
“Sacando a Rolha”: https://www.tuliowig.com/sacando-a-rolha/november-23rd-2020
Degustado
em: 2017
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