sábado, 13 de fevereiro de 2021

Barahonda Tranco Monastrell e Cabernet Sauvignon 2016

Quando nos lembramos da Espanha no que tange a produção de vinhos associamos imediatamente das castas mais populares, sobretudo em terras brasilis, que chega para o Brasil que são a Tempranillo e a Garnacha. São inegavelmente as mais emblemáticas da Espanha pelos predicados já expostos demasiadamente por especialistas e enófilos. Mas diante de alguns garimpos que estou me dando o direito de fazer neste vasto e inexplorado universo dos vinhos tenho feito algumas descobertas mais do que espetaculares acerca de castas, blends e regiões, especialmente da Espanha e um país com o arcabouço histórico na vitivinicultura como este, não podemos nos privar, não podemos negligenciar para a nossa vida alguns vinhos e rótulos pouco ortodoxos que há por aí.

E nessa caminhada contra a zona de conforto eu descobri um vinho com um corte, um assemblage que considerei no mínimo inusitado e, de quebra, veio no “pacote” uma região que eu nunca havia ouvido falar, enfim, um combo de novidades. A princípio, após contato com o produtor e as informações que este me passou, decidi guarda-lo um pouco mais, deixa-lo evoluir, haja vista que a vinícola informou que o vinho tem uma boa vocação de guarda que gira em torno dos 5 à 10 anos! Contudo tocado pela curiosidade, com 5 anos de vida, acredito que no seu auge, decidi desarrolhá-lo, sem pestanejar, sem hesitações, afinal, essas características, essa apresentação não pode deixar por muito tempo esquecido nos cantos escuros da adega.

Então o momento chegou! O estouro da taça soou como música para os meus ouvidos e a ansiedade deu lugar a sede de degusta-lo, de ouvir o líquido deslizar pelo bojo da minha taça e voilá! O vinho que degustei e gostei veio de uma região espanhola, pouco conhecida chamada Yecla, e se chama Barahonda Tranco composto pelas castas Monastrell ou Mouvedre (75%) e a francesa globalizada Cabernet Sauvignon (25%) da safra 2016. E antes de imergir nos conceitos, qual o motivo do nome “Tranco”?

O nome "Tranco" faz referência a um jogo que o fundador da vinícola, adorava na sua infância. Além disso, Tranco é como algumas pessoas em Yecla chamam videiras grandes e antigas, por isso o rótulo trazendo a imagem de uma videira. Então já que, mais uma vez falamos da pouco badalada região de Yecla, falemos, é claro, dela.

Yecla

Localizada no sul da Espanha, próxima da região de Murcia, a área vinícola de Yecla desperta a atenção do mundo por sua produção de vinhos que prezam pela ótima relação entre qualidade e preço. A uva símbolo de seus vinhedos e, consequentemente, de seus vinhos, é a cepa Monastrell, responsável por dar origem a vinhos tintos encorpados e frutados.


Yecla DO

Yecla obteve a denominação de origem em 1975. Vinte anos antes, as adegas já tinham começado a proclamar a qualidade dos seus vinhos, que, tomando um novo rumo, iam deixando para trás os antigos, mais robustos, para oferecer novos e interessantes tintos de garrafa, a maioria dos quais explora o grande potencial da Monastrell. A Denominação de Origem inclui o termo municipal de Yecla, a sudeste da Península, na Região de Murcia. O relevo Yeclaan, com solos rochosos calcários profundos e altamente permeáveis, delineia uma vinha situada a uma altitude entre 400 e 800 metros acima do nível do mar. A região de Yecla possui clima e terroir únicos, característica elogiada pelo famoso crítico americano Robert Parker. Sua formação peculiar denota um alto grau de qualidade para os vinhos, sobretudo para os que traduzem as nuances da uva Monastrell, que atinge sua expressão máxima nesta região espanhola. A extensão média de vinhedos de Yecla é de 6.500 hectares, em zonas privilegiadas pelo clima continental. A região possui verões curtos e marcados por temperaturas elevadas. Já os invernos, de maior duração, caracterizam-se pelas temperaturas amenas.

As estações são contrastantes e propiciam uma amplitude térmica interessante para as vinhas que se adaptam aos diferentes picos de temperaturas de Yecla. Tal característica oferece um caráter extremamente particular às cepas ali cultivadas. O solo de cultivo da área espanhola também pode variar de um extremo a outro. No campo de baixo, um dos dois locais onde ocorre a plantação de uvas, a altitude é muito elevada, além de o solo ser constituído de calcário. Já no campo de cima, a altitude é bem mais baixa e o solo é majoritariamente argiloso. Apesar da uva tinta Monastrell ser a dona do maior prestígio na região de Yecla, outras castas podem ser encontradas nos vinhedos hispânicos, entre as quais, destacam-se as de coloração branca Sauvignon Blanc, Airén, Malvasia, Macabeo, Chardonnay e Moscatel e, no caso das variedades tintas, despontam as uvas Tempranillo, Syrah, Garnacha Tinta, Cabernet Sauvignon e Garnacha Tintorera. 

A região de Barahonda, que dá nome a vinícola, está localizada na Denominação de Origem Yecla, na região do Altiplano, uma zona de transição entre o planalto e o Mediterrâneo cercada por um anel de baixas montanhas e montanhas. A antiga tradição vitivinícola desta região remonta à época dos fenícios, que já cultivavam a vinha nestas terras de solo pobre e clima extremo. Nos últimos anos, o pequeno DO Yecla ganhou rápido reconhecimento pelo caráter peculiar e pela qualidade dos seus vinhos elaborados com a casta nativa Monastrell.

E agora o vinho!

Na taça revela um lindo e brilhante vermelho rubi intenso, escuro, mas com entornos violáceos, com lágrimas finas e abundantes que desenham e teimam em se dissipar das paredes da taça. Uma bebida caudalosa, que “mancha” a taça, já mostrando a sua potência.

No nariz apresenta uma explosão de frutas vermelhas e negras com destaque para a cereja, framboesa, ameixa e amora, com um delicado e agradável toque amadeirado.

Na boca é volumoso, estruturado, o aporte das frutas vermelhas e negras é percebida, como no aspecto olfativo, uma verdadeira compota de frutas, mas é muito equilibrado e até macio, mostrando que está no auge de sua condição. Tem taninos gulosos e presentes, mas contidos, com uma ótima acidez, além do amadeirado graças aos 3 meses de passagem por barricas de carvalho que a Cabernet Sauvignon, neste blend, passou. Um final de média persistência com retrogosto frutado.

O tempo certamente poderia conspirar a favor do Barahonda Tranco, mas o auge entregou um vinho robusto, pleno, poderoso, quente e impetuoso. Talvez diria que o tempo não passou de um mero detalhe, não passou de um mero coadjuvante com o protagonismo de um grande vinho de uma região pouco conhecida, mas em franco crescimento em termos de visibilidade, de credibilidade e que entregam, pela impressão que tive, acerca desse rótulo vinhos expressivos, de personalidade marcante. Um vinho equilibrado, redondo, vivo e que inundou de prazer e celebração o meu dia. Produzido com uvas colhidas a mais de 2 mil metros de altitude, esse rótulo conquistou medalha de ouro no Concours Mondial Mundus Vini 2016 e 89 pontos Robert Parker. Tem 14,5% de teor alcoólico que, embora alto e evidente no paladar, está muito bem integrado ao conjunto do vinho. Que vinho!

Esse Barahonda Tranco harmonizou com queijo provolone

Sobre a Bodega Señorio de Barahonda:

A história da Barahonda teve início em 1850, quando Pedro Candela Soriano começou a produzir e a comercializar pequenas quantidades de vinho na região espanhola de Yecla. Em 1925, Antonio Candela García fundou oficialmente uma pequena vinícola, a Bodegas Antonio Candela, a primeira da família Candela. Alguns anos depois, Antonio Candela Poveda assumiu o comando, aumentando a dimensão do projeto. Atualmente, já na quarta geração da família, os dois filhos de Poveda, Alfredo e Antonio, são os responsáveis por gerir os negócios familiares.

Em 1999, eles construíram uma nova vinícola, batizada de Barahonda, nome de um vinhedo que pertence à família Candela há mais de sete gerações. A vinícola Barahonda foi fundada com a filosofia de produzir rótulos de alta qualidade, engarrafados sob a Denominação de Origem Yecla, mas sem perder a essência da origem familiar. Ao longo dos anos, cada pai passava para o filho toda a tradição, conhecimento e a paixão pelo vinho. Focada na elaboração de exemplares expressivos, a Barahonda conquista novos prêmios, reconhecimento e altas pontuações a cada nova safra, dos melhores críticos do mundo do vinho. O logo da Barahonda tem como símbolo uma garrafa de vinho com raízes, para expressar a ligação com a terra e a videira. A vinícola foca na produção de uvas de alta qualidade, para mostrar o potencial e a tipicidade do terroir local.

Mais informações acesse:

https://www.barahonda.com/

Referências de pesquisa:

“Barahonda”: https://www.barahonda.com/do-yecla/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/yecla

“Winepedia”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/vinicola-exclusiva-barahonda/

 

 

 

 

 






 

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