Pode parecer um iminente risco, e de fato é, escolher vinho
no escuro, sem maiores informações e eu tento, ao máximo, evitar tais riscos,
mas há casos em que quando você bate o olhar em um rótulo em exposição, parece
que você se hipnotiza e que te faz, como em um leviano impulso, um instinto
animalesco, levar o vinho sem pensar. Digo que passei por essa situação, mas
pergunto: E qual enófilo já não passou por esse momento tão arriscado?
Estava eu em minhas famosas e indefectíveis incursões em
supermercados e avistei ao longe, ainda incerto e confuso com o que via, mesmo
que em destaque, alguns rótulos que não reconheci, mas que chamava a atenção
com valores atraentes e com números e valores dispostos de forma garrafal e,
quando me aproximei um pouco mais, um tanto que embebecido pelo que
testemunhava, vi alguns gran reservas com preços assustadoramente excelentes.
Pensei, antes de sequer leva-los a minha mão: Mas como um gran reserva pode
custar tão pouco? Não pode ser verdade! Estava, lembro-me bem, em torno dos R$
45!
Quando depois de todo êxtase sentido, resolvi ter em minhas mãos os
rótulos. Observei atentamente que se tratava de um chileno, da famosa região DO
Maule e havia as castas mais emblemáticas produzidas no Chile, tais como Carménère,
Cabernet Sauvignon e Merlot. Resolvi arriscar com o óbvio, mas que nunca erra: a
famosa Carménère! Há quem diga também que comprar gran reserva a esse preço
também é um risco, um verdadeiro tiro no pé. Eu confesso que não conhecia nada
do vinho, do produtor, pouco tinha a respeito no rótulo e contra rótulo. Mas o
preço me atraía como um imã! Decidi arriscar, mas com algumas controvérsias,
mas o levei para minha adega e por lá não ficou muito tempo, porque a ansiedade
de degusta-lo era tamanha.
Então foi chegado o tão esperado momento! O desarrolhei e
voilá! Que excelente vinho, me arrebatou, me surpreendeu por inteiro. O vinho
que degustei e gostei, como disse, veio da região chilena do Maulle e se chama
Las Casas de Vaqueria Lago Sur Gran Reserva da casta Carménère da safra 2015.
Um vinho que já na cor denunciaria a sua personalidade, o aroma inebriante... Mas
não falarei ainda do vinho, mas sim da famosa região do Maule.
Maule DO
A maior e uma das mais antigas regiões vinícolas do Chile, o
Maule é um lugar cheio de charme e com clima propício à vitivinicultura. A
região se inicia a menos de 300 quilômetros de Santiago, capital do país. Seus
microclimas e solos diversos possibilitam a cultura e produção de uma variedade
muito grande de vinhos, já que praticamente todas as castas de uvas cultivadas
no Chile são encontradas no Vale do Maule. A região tradicionalmente sempre
esteve associada à quantidade da produção muito mais do que à sua qualidade.
Nos últimos anos, porém, isso tem mudado substancialmente. Castas
internacionais e reconhecidas na vitivinicultura mundial vêm suplantando as de
baixa qualidade plantadas na região, e, aliada às práticas cada vez mais
desenvolvidas no cultivo das frutas e produção dos vinhos por parte dos seus
vinicultores, o Maule tem dado vinhos de alta classe ao mercado, especialmente
da variedade Carignan.
O Vale do Maule foi uma das primeiras áreas no país andino
onde se plantou vinhas – a história da viticultura da região é quase tão antiga
quanto a colonização espanhola no novo mundo. É verdade que, de 1550 até 1860,
os assentamentos espanhóis no Maule se deram em menor escala que em outros
pontos de colonização no Chile, mas sua tradição agricultora fortaleceu o
desenvolvimento da região. No século XIX, o governo chileno implantou uma
política de imigração que possibilitou a entrada de europeus vindos de países
como França, Itália, Inglaterra e Portugal para aumentar seu potencial
econômico através da agricultura. Quando os espanhóis chegaram no Maule, no
meio do século 16, trouxeram a uva País que dominou as plantações do vale.
Banhado pelo famoso rio que lhe dá nome, o Maule tem clima
temperado mediterrâneo, com intensidade alta de sol no verão, com temperaturas
máximas entre 19º C e 30º C, e chuva anual concentrada no inverno, quando as
temperaturas chegam à mínima de 7º C. Os dias quentes seguidos de noite frias
facilitam e prolongam a temporada de cultivo e colheita das uvas, dando-lhes um
tempo de amadurecimento total, o que equilibra seus níveis de acidez e doçura. O
Rio Maule, que flui do leste para o oeste do Chile, através de um caminho que
se inicia nos Andes e termina no Pacífico, ainda propícia à região solos
aluvial diversificados, indo desde o granítico até o arenoso. Férteis, esse
solos favorecem o cultivo produtivo nos vinhedos da região.
Região com longa e bem sucedida história na cultura e
produção de vinhos, Maule tem na vitivinicultura sua atividade econômica
principal; alguns dos mais extensos vinhedos do país estão localizados lá, e
alguns deles datam de 1830. Cerca de 50% de todo o vinho exportado do Chile é
oriundo do Vale de Maule, que sempre foi conhecida por sua produção em larga
escala. A uva mais cultivada no Vale do Maule é a Cabernet Sauvignon com 8.888
de hectares plantados. Nos anos 90, essa produção recebeu grandes investimentos
que ocasionaram o desenvolvimento técnico em equipamentos e infraestrutura, que
em conjunto com mudanças significativas nas formas de manejo dos vinhedos,
favoreceu o surgimento de uma produção mais especializada, resultando vinhos de
alto padrão de qualidade e elevado valor comercial. O vale ainda oferece muitos
atrativos turísticos relacionados ao mundo dos vinhos. Uma rota composta por um
conjunto de 15 vinhas em diferentes cidades da região possibilita ao visitante
entrar em contato com o processo de produção, além de degustação de vinhos e
pratos.
E agora o vinho!
Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, escuro, mas com
bordas violáceas com muito brilho, além de uma abundante concentração de
lágrimas, finas e que teimavam em se dissipar das paredes do copo.
No nariz a explosão aromática de frutas vermelhas e negras,
onde se percebiam cereja, amora, ameixa e com o aporte da barrica de carvalho
trouxe uma complexidade maravilhosa, tais como especiarias, tabaco, chocolate,
torrefação.
Na boca é elegante, sofisticado, mas estruturado que lhe
confere personalidade, a robustez, mas domado pelos 12 meses de passagem por
madeira (cerca de 60% do vinho), com taninos presentes, acidez correta, o toque
amadeirado evidente, mas bem integrado ao conjunto do vinho sem mascarar as
características da cepa. A baunilha também é presente, bem como o toque do
chocolate amargo e um final persistente, longo.
Um vinho maiúsculo, robusto, mas delicado e macio, fácil de
degustar, graças as vinhas velhas com mais de 70 anos. Um vinho que, no auge
dos seus suspeitos valores baixo que poderia denotar má qualidade para um gran
reserva, revelou-se um vinho de excelência, um legítimo Carménère chileno,
vigoroso, pleno, como deve ser. Pois é, o risco pode ser iminente em escolher
um vinho no escuro, com escassas informações, mas nunca devemos negligenciar o
nosso feeling e o que o coração nos diz e esse gritou em plenos pulmões: Que
baita vinho! Tem 13,5% de teor alcoólico.
Sobre a Casa Donoso:
A Viña Casa Donoso surgiu no mercado num momento em que a
indústria do vinho chileno começou a tornar-se mais sofisticada. Foi em 1989
quando um grupo de empresários estrangeiros, cativados pela beleza e as
potencialidades do meio ambiente, adquiriu a fazenda “La Oriental”, um
histórico “Domaine” no coração mesmo do Vale do Maule, 250 km ao sul de
Santiago do Chile, que pertencia à senhora Lucia Donoso Gatica. Uma mulher de
especial encanto e empuxe empresarial, ela inspirou o próprio conceito da Vinha
Casa Donoso, orientado para a produção tradicional de vinhos tintos e brancos,
no melhor estilo francês.
Durante muitos anos a Casa Donoso desenvolve um conjunto de
linhas de produção de normas de qualidade muito elevadas, sendo a base para
conceber a produção de vinhos da linha Reserva, Gran Reserva, Premium, todos
aqueles que já qualificados nos cinco continentes em termos de presença,
participação e reconhecimento.
Sobre “Las Casas de Vaqueria”:
Na Fazenda Las Casas de Vaqueria, no Vale do Maule, está a
casa mais antiga entre as fazendas da Casa Donoso. Foi construído no século 19,
conhecido como a "era colonial" no Chile. Graças à combinação ideal
do terroir do Maule, vinhas velhas e o clima perfeito, os enólogos podem
oferecer vinhos premium chilenos inspirados na tradição e história do campo
chileno.
Mais informações acesse:
http://donosogroup.com/index.html
Referências de pesquisa:
“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/vale-do-maule-fertilidade-e-diversidade-de-uvas-e-vinhos/
“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/regiao/valle-de-maule
Degustado em: 2017
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