O garimpo, a busca pelo vinho ainda se torna necessário e
urgente, mesmo em tempos de e-commerce e questões virtuais com as suas
conveniências e comodidades. Digo isso, pois tive a sorte de ganhar um convite,
de uma rede grande de supermercados, de participar de uma palestra de um
enólogo da vinícola, uma das melhores da Argentina atualmente, chamada Susana
Balbo Wines. Além da história, dos processos de vinificação, do mercado externo
de vinhos, conceitos de comportamento de degustação e degustadores, tivemos,
para o nosso deleite, degustações de alguns dos mais importantes rótulos deste
grande produtor.
Na época deste evento eu já conhecia, bem antes, de alguns
rótulos da vinícola, sobretudo a linha básica deste produtor, a “Crios”. O meu
primeiro contato foi com o Crios da casta Torrontés safra 2013. Que vinho,
dignos leitores! Não se enganem ou crie uma mentalidade pré-concebida pelo fato
da linha ser básica, trata-se de um excepcional Torrontés e foi um dos melhores
que degustei desta casta ícone argentina. Depois deste eu decidi buscar outros
rótulos da vinícola e encontrei a clássica casta Malbec, o Crios Malbec 2014,
outro excelente vinho que expressa a tradição da casta produzida em Mendoza com
o arrojo contemporâneo dos vinhos da excelente enóloga Susana Balbo.
Mas voltando ao evento da Susana Balbo Wines, tudo estava
perfeito para todo bom enófilo: o assunto abordado, as degustações de rótulos
especiais e quando eu tive acesso a outro rótulo da linha Crios eu tive uma
espécie de arrebatamento, algo que deixa sem reações, somente a alegria
incontida de ter as características daquele vinho impactando os seus sentidos.
Quando o degustei eu pensei, ainda atônito: Preciso compra-lo!
Alguns vinhos disponibilizados para degustação não estavam, infelizmente,
disponíveis para venda e isso me preocupou, pois queria o vinho que me
arrebatou, que me deixou animado para tê-lo em minha simples e humilde adega,
mas o encontrei e não hesitei em leva-lo.
Demorei um pouco para abri-lo, mas o momento chegou! Já havia
degustado e já sabia o que me aguardava, mas ainda assim, aquele ritual para a
abertura de um vinho que estruturei foi levado à risca, como se fora o meu
primeiro contato com o rótulo. O vinho que degustei e gostei veio da fantástica
região, localizada em Mendoza, chamada Luján de Cuyo, e se chama Crios, um
Malbec Rosé da safra 2017. E para não perder tempo falemos um pouco da história
da emblemática sub-região de Valle de Uco e também da vinícola de Susana Balbo,
bem como a história do nome “Crios”.
Valle de Uco, a grande produtora de vinhos da Argentina
Foi possível confirmar a presença de aborígenes que povoaram
o vale de Uco muitos anos antes de Cristo. Nos petróglifos encontraram seu modo
de vida: eram pessoas que se dedicavam à agricultura e à caça de animais,
graças aos benefícios que o lugar lhes oferecia. No século XVI, a chegada dos
conquistadores espanhóis das terras chilenas e peruanas marca as primeiras
explorações em terras habitadas por dóceis e laboriosas famílias indígenas: os
huarpes. Daquela época vem a palavra "Uco", que se refere ao nome do
cacique Cuco. Além disso, é traduzido como uma nascente de água, elemento
fundamental da região.
Um século depois, os padres jesuítas se estabeleceram no
vale. Eles constituíram a primeira cidade organizada e fundaram o Curato de
Uco, dando início à evangelização. O general José de San Martín governou Cuyo
com sede em Mendoza entre 1814 e 1816, enquanto organizava os preparativos para
empreender a travessia dos Andes e libertar o Chile e o Peru. Em várias
ocasiões, ele se encontrou com nativos na área antes da expedição de
libertação. Também com o militar argentino Manuel de Olazábal quando retornou à
sua terra natal pelo desfiladeiro El Portillo, no que hoje é conhecido como
Manzano Histórico.
Por sua vez, a história da viticultura na região tem suas
referências. Na década de 1880, Juan Giol, Bautista Gargantini e Pascual Toso
chegaram de suas terras europeias e se associaram e se dedicaram à produção de
vinhos. Três apelidos famosos que deram origem à San Polo Winery and Vineyards
no início dos anos 1930, que tem a honra de ter, até hoje, cinco gerações de
enólogos.
O Vale do Uco foi “descoberto” pela indústria vitivinícola
nos anos 1990. Localizado no sudoeste da cidade de Mendoza, bem aos pés dos
Andes, seus vinhedos estão plantados em uma zona de clima temperado, com
invernos rigorosos e verões quentes com noites frescas. Pode-se dizer que Uco é
uma área realmente fria da região de Mendoza – e também de grande amplitude
térmica (pode chegar a até 16o C), em parcelas que variam entre 850 e 1.700
metros de altitude. Os solos são predominantemente pedregosos, com seixos
rolados misturados à areia grossa, de boa permeabilidade, boa drenagem e pouco
férteis. Em algumas zonas, observa-se argila ou calcário e até áreas com
depósitos de cálcio, estas últimas mais raras e valorizadas, e também de onde
vêm saindo alguns dos melhores vinhos lá produzidos atualmente. O índice
pluviométrico é baixo e a irrigação dos vinhedos é normalmente feita por
gotejamento com água de degelo das montanhas.
O Vale estende-se por três departamentos (segundo nível de
divisão administrativa nas províncias argentinas): Tupungato, Tunuyán e San
Carlos. A altitude e a grande amplitude térmica constante que os três
departamentos compartilham exercem influência na qualidade das uvas produzidas,
uma vez que torna a fase de amadurecimento da fruta mais longa, permitindo que
o caráter varietal de cada cepa cultivada desenvolva-se por completo, ao mesmo
tempo em que um teor agradável de acidez seja preservado.
O sucesso do vale é tamanho que, no início da década de 2010,
a área de vinhedos plantados chegava a quase 26.000 hectares, praticamente o
dobro do que havia no local no início dos anos 2000. O desenvolvimento da
região é inconteste, assim como a sua crescente reputação dentro da
vitivinicultura argentina, haja vista que um grande número de vinícolas
estabelecidas em outras áreas de Mendoza busca adquirir vinhedos no vale e
também construir novas plantas na região.
Aproximadamente 75% dos vinhedos são de uvas tintas,
especialmente Malbec, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot e Pinot Noir,
com destaque para a vedete nacional nos últimos anos, a Cabernet Franc. Dentre
as brancas, brilham a Chardonnay, a Sémillon e a Sauvignon Blanc, mas também há
vinhos com Viognier e Torrontés.
E agora finalmente o vinho!
Na taça conta com o desconcertante rosa intenso, poderoso e
muito brilhante, com algumas finas lágrimas que logo se dissipam, mas que já
denuncia o sua personalidade.
No nariz uma explosão de frutas vermelhas tais como morango,
groselha, framboesa e cereja, com um toque floral que lhe confere frescor e
vivacidade, com muita elegância.
Na boca se confirmam as notas de frutas vermelhas,
extremamente frutado, sem ser enjoativo, com uma atípica estrutura para um
rosé, mas que denunciam também um frescor graças a sua vibrante acidez, sendo
um vinho delicado, mas marcante, muito versátil. Tem um final prolongado e
persistente com um retrogosto muito frutado.
A linha Crios nasceu do amor de Susana Balbo pelos filhos e
do desejo de deixar um legado para a família que os ajudasse a percorrer os
seus próprios caminhos com lições de vida que aprendeu na sua carreira de
empreendedora incansável. O símbolo icônico de mãos sobrepostas em cada
mamadeira representa essa relação mãe-filho e, por sua vez, as mãos como
ferramentas poderosas para as mães fornecerem apoio, calor, conforto e
transmitirem os ensinamentos de sabedorias e habilidades aprendidas.
Convicção, energia e identidade são necessárias para criar
algo com as mãos e deixar uma marca pessoal indelével. Cuidando de seus vinhos
Crios para destacar o melhor de suas variedades, Susana e sua equipe escolhem
as melhores regiões vinícolas da Argentina para cada tipo de uva e, em seguida,
criam cada varietal para elevar suas características intrínsecas.
E com esse conceito tão evidente, tão forte da questão da
identidade, da cultura de um povo, de sua terra, esse belíssimo Crios Malbec
Rosé entrega, de forma divina e maravilhosa, a tipicidade, o terroir de uma
região emblemática como Valle de Uco, Mendoza, do Malbec argentino que é tão
singular e global. Um Malbec rosé com uma cor rosada escura e intensa, mas
brilhante, reluzente, bonita, um Malbec rosé, diria, atípico, com uma incrível
estrutura, que parece que deve ser consumido, degustado com “garfo e faca”, de
tão caudaloso, de tão encorpado para um rosé, mas que entrega frescor, boa
acidez, mesmo com seus 4 anos de safra! Um vinho básico e excepcional e que
proporciona aos mais ávidos fãs da poesia líquida as terras abençoadas da
Argentina e a sua Mendoza. Tem 14,5% de teor alcoólico, mas que está muito bem
integrado ao conjunto do vinho com muito equilíbrio.
Sobre a Susana Balbo Wines:
Em 1999, com quase duas décadas oferecendo seu talento ao
aconselhamento de empresas nacionais e internacionais do setor vitivinícola,
Susana Balbo decidiu realizar seu sonho de ter sua própria vinícola e foi para
que Susana Balbo Wines se enraizasse no coração de Luján de Cuyo Mendoza. Após
mais de dez anos de constante crescimento nos mercados internacionais, outro
sonho se tornou realidade: seus filhos, José, um enólogo da UC Davis
(Califórnia) e Ana, formada em Administração de Empresas pela Universidade de
Em San Andrés, eles decidiram continuar com a tradição da família e se juntar à
equipe Susana Balbo Wines. Nos últimos anos, Susana e sua equipe trabalharam
duro para atender aos mais altos padrões de qualidade em nível internacional,
demonstrando seu compromisso com os problemas mais importantes do século XXI:
segurança alimentar, sustentabilidade e responsabilidade social corporativa.
Mais informações acesse:
https://www.susanabalbowines.com.ar/
https://www.criosdesusanabalbo.com.ar/
Referências:
“Site Crios”: https://www.susanabalbowines.com.ar/vinos/categorias/crios/
“Welcome Argentina”: https://www.welcomeargentina.com/valle-de-uco/historia.html
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/conheca-o-vale-do-uco-local-que-reune-grandes-vinhos-argentinos_11401.html
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