Já dizia o ditado popular: Um raio não cai no mesmo lugar
duas vezes! Aquele clássico que é dito de boca em boca, uma unanimidade, é de
fato verídico? Definitivamente eu não sei dizer, talvez dependa da situação
vivida, mas no universo do vinho, esse ditado nem sempre tem validade, tem
força. Explico: quantas vezes degustamos grandes vinhos duas, três vezes e
sempre nos surpreendemos com algo novo, com alguma nuance que não havíamos
percebido no que degustou anteriormente e isso se confirma quando são safras
distintas, embora sejam de rótulos idênticos.
São vários os fatores, mas o clima e a vinificação são um dos
principais motivos para degustarmos vinhos de rótulos iguais e com nuances
distintas em suas características sensoriais. Mas no caso desse rótulo
brasileiro é um espumante e quando falamos em espumantes nacionais tem um peso
maior, afinal, os melhores espumantes produzidos no planeta estão em terras
tupiniquins. E o que dizer dos rótulos, dos tradicionais espumantes da
Garibaldi?
Quando mencionamos a Cooperativa Garibaldi, falamos em
espumantes, falamos em tradição, falamos em referência na produção dos
borbulhantes, falamos em custo X benefício! E como (sempre me pergunto isso com
satisfação e até com algum ceticismo, as vezes, diante do atual cenário dos
valores dos espumantes no Brasil) que os espumantes da Garibaldi, ganhando
prêmios relevantes em nossas terras e na Europa, conseguem manter um valor
muito competitivo nos seus rótulos, independente da proposta?
Vinhos de excelente qualidade, de tipicidade, que expressam o
terroir de forma plena, com um preço justo e que difunde a democracia da
cultura do vinho! É possível comprar os vinhos, os espumantes da velha
Cooperativa Garibaldi. Lembro-me que quando comprei o Garibaldi Vero Brut,
confesso que não alimentei maiores expectativas acerca do vinho, afinal,
trata-se de um básico espumante, uma linha mais simples do produtor, mas
comprei pelo preço e também pelo know how da Garibaldi. E não é que
surpreendeu? Entregou muito além do que eu esperava! E aí vem a menção aquele
dito popular no início do meu texto: Um raio cai duas vezes no mesmo lugar? Decidi
comprar mais um espumante dessa linha, mais uma vez o preço estava convidativo
então decidi arriscar de novo, estou no lucro.
O vinho que degustei e gostei veio da emblemática e
tradicional Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul, no Brasil, e se chama Garibaldi
Vero Brut Rosé, com um blend interessante das castas Trebbiano, Prosecco e
Ancellotta e não é safrado. Elaborado pelo método Charmat (Leia Diferenças entre os métodos Champenoise e Charmat) esse vinho
surpreendeu, é fantástico o quanto a Garibaldi consegue entregar espumantes
excelentes, em todas as suas propostas, com preços atraentes e que, “de
quebra”, ganha prêmios no Brasil e no mundo. Mas antes de falarmos do vinho,
falemos da valorosa história dessa região que produz um dos melhores espumantes
do mundo: Serra Gaúcha!
Serra Gaúcha
Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra
Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo
volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao
Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento
Gonçalves.
A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das
condições geo-climáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas
as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita,
período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem
ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.
A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra
Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados
ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível
de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança
e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.
O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na
Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença
de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira.
Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina
voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada
ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e
o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da
vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do
Vale.
O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a
obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em
vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a
partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos
do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma
Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da
experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.
O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao
Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado
somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais
para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos
para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O
trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da
potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação
de Origem Controlada) na região.
O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos
imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma
agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do
Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto,
logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local.
Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos
vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de
vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.
Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou
em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores
passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo
diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.
Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da
Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a
Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale).
Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não
produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de
produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos
Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e
processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.
E agora falemos do vinho!
Na taça um lindo rosado claro, límpido e muito brilhante com
uma ótima concentração de perlages muito finos.
No nariz explode em frutas vermelhas onde se destacam a
cereja, morango e framboesa, exaltando um excelente frescor, com um delicado
toque floral e diria notas minerais.
Na boca é jovial com uma boa presença de boca, talvez pelo toque generoso de frutas vermelhas, que lhe confere ainda leveza. Tem uma acidez discreta, talvez pelas notas frutadas, mas ainda assim é fresco e o residual baixo de açúcar, típico de um brut, não é tão evidente, parecendo até mesmo um demi-sec, mas não soa enjoativo, sobretudo para quem não aprecia essa última proposta de espumante. Um final prolongado e frutado.
Ah sim senhor, um raio cai duas vezes no mesmo lugar ou
melhor, para se adequar ao universo dos vinhos, um vinho cai duas vezes na
mesma taça sim. Apesar deste Garibaldi Vero Brut ser um rosé o que degustei
antes um espumante brut branco, são da mesma linha da vinícola e o que mais
surpreende: uma linha básica deste excelente produtor. Mais uma vez a Garibaldi
não decepciona e apesar de, lamentavelmente, não despontar em reconhecimento,
entre os melhores produtores de espumantes do Brasil, sem dúvida nenhuma para
os meus humildes aspectos sensoriais, são vinhos especiais. É isso! Essa é a palavra:
especiais. Não é apenas o aspecto sensorial, mas vinhos, rótulos que tem um
forte apelo sentimental, que faz parte da nossa história e que ela é viva,
latente e que sempre estarão despontando em minhas taças, alegrando, celebrando
os nossos dias de degustação. Esse Garibaldi Vero Rosé Brut definitivamente é
leve, fresco, refrescante, simples, nobre, porque é expressivo, traz a
tipicidade dos vinhos borbulhantes produzido em nossas terras e olha essa
matéria que fala do prêmio que Garibaldi Vero Brut Rosé ganhou em 2019: Cooperativa Vinícola Garibaldi é a mais premiada do brinda Brasil Edição 2019.
Fantástico! Tem 11,5% de teor alcoólico.
Sobre a Vinícola Garibaldi:
Situada em Garibaldi (120Km de Porto Alegre) no coração da Serra Gaúcha, a maior região vitivinícola do Brasil, a empresa nasceu como Cooperativa Agrícola Garibaldi na quinta-feira, 22 de janeiro de 1931, na sede do Club Borges de Medeiros. Naquele dia, Monteiro de Barros reuniu representantes de 73 famílias para criar uma das mais importantes cooperativas da região. O sucesso da empreitada foi tanto que, em 1935, o grupo já contava com 416 associados.
A prosperidade, contudo, estancou no começo dos anos 1970. Em
1973, a empresa sofreu uma intervenção que duraram cinco anos. O processo,
porém, deu resultado e, no começo dos anos 1980, a Garibaldi passou a se
modernizar. No entanto, o grande passo só seria dado no início dos anos 2000.
No passado, a cooperativa trabalhava muito com vinho de mesa e até a granel, e
isso não rentabilizava o produto. Era uma commodity. Então, teve a necessidade
de agregar valor. Desde 2004, investiu-se fortemente na elaboração de
espumantes para dar essa guinada, rentabilizar os produtos e remunerar a uva
dos associados. Foi feito um intenso trabalho no campo de reconversão,
tecnologia em produto, para chegar a esse reconhecimento de mercado que a
vinícola tem hoje, como referência na produção de espumante.
A cooperativa tem hoje 400 famílias associadas, que juntas
formam um total de 900 hectares em 12 municípios diferentes do Rio Grande do
Sul. Gerenciar tudo isso é um trabalho complexo. O departamento técnico visita
todas as propriedades pelo menos três vezes ao ano. Tem um contato direto como
produtor tanto na orientação técnica quanto reconversões, conforme os
interesses da cooperativa. As 380 famílias são responsáveis pela produção da
uva. Elas elegem um conselho para cuidar do negócio e cada área tem um
responsável, um profissional contratado para gerir. É cooperativa, mas tem que
ser profissional no que faz. Em 2010, a Garibaldi adquiriu os direitos de
produção e comercialização da marca Granja União, que estava sob domínio da
Vinícola Cordelier. Mais recentemente, lançou a linha Acordes.
A vinícola hoje apresenta índices de crescimento superiores
aos da média nacional. Resultado de uma história de investimentos, de
profissionalização, de união e de uma trajetória que carrega em sua bagagem o
trabalho e a vida de milhares de pessoas. O investimento é permanente em
manutenção e melhoria dos processos produtivos e na qualidade dos produtos. Com
uma área de 32 mil metros quadrados de construção e capacidade de processamento
que ultrapassa os 20 milhões de quilos, utilizando tecnologia e equipamentos
europeus para a elaboração de nossos vinhos e espumantes. Uma identidade
marcante, personalidade e características próprias, aliadas ao terroir da Serra
Gaúcha, fez com que os seus espumantes acumulassem uma série de premiações em
concursos no Brasil e no exterior.
Mais informações acesse:
https://www.vinicolagaribaldi.com.br/inicio
Referências:
“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA
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