Costumo dizer, até de forma demasiada, de que Portugal, mesmo
que tão pequeno, em dimensões territoriais, é significativo e gigante em seus
diversificados terroirs, é um universo inexplorado e maravilhoso, ainda há
muito a se degustar, muitas regiões a se descobrir e vinhos nas suas mais
propostas. Por isso que é impossível alguém, um digno enófilo que seja que não
aprecie os vinhos lusitanos.
E melhor que descobrir novos terroirs, novas regiões, novos
vinhos e novas propostas são conhecê-los nos famosos e imprescindíveis eventos
de vinhos, aqueles festivais de degustação que temos a nossa disposição. Eu
estive em um, no ano de 2017, na minha cidade, em Niterói, de um evento de
degustação de um grande supermercado local, o Festival de Vinhos Supermercado Real 2017, onde os rótulos expostos para
degustação eram os mesmos que estavam sendo ofertados em suas filiais.
Já para o final do evento, eu já estava praticamente me
preparando para deixar o local do evento e vi, ao longe, um estande, até pouco
procurado e com poucos rótulos disponíveis para degustação e vi um rótulo,
simples, mas que me chamou a atenção pela região que confesso não conhecia para
a produção de vinhos: Trás-os-Montes. É uma região conhecida, mas não sabia que
se produziam vinhos por lá, nunca degustei, claro, que isso me atraiu e decidi degusta-lo.
Que vinho maravilhoso e surpreendente era! Degustei primeiro o reserva, depois
o mais básico, ambos tintos e depois um branco. Todos excelentes!
Pensei: tomara que esse vinho tenha no mercado mais próximo
da minha casa! Uma semana após o evento de degustação, decidi ir ao
supermercado para comprar alguns vinhos, sobretudo os que degustei no evento e
gostei, inclusive esse rótulo de Trás-os-Montes. E logo quando adentrei o
mercado, não é que localizei o vinho!! Não hesitei e coloquei o rótulo em meu
carrinho de compras e levei-o, entre outros rótulos, para casa.
Demorei um pouco para degusta-lo, cerca de um ano,
aproximadamente. Mas decidi, em dado momento, que precisava degusta-lo, até
porque era um vinho da safra 2011 e já estava com cerca de 7 anos de vida! O
vinho que degustei e gostei, como disse, veio das terras portuguesas de
Trás-os-Montes e se chama Encostas do Trogão Reserva, com um blend das castas
Tinta Roriz, Touriga Nacional e Trincadeira da safra 2011. E como o Trás-os-Montes
era, até então, uma região vinícola nova para mim, nada mais prudente falar um
pouco sobre ela.
Trás-os-Montes: Os vinhos trasmontanos
Já durante a ocupação dos romanos se cultivava a vinha e se
produzia vinho na região de Trás-os-Montes. Situada no nordeste de Portugal, a
província de Trás-os-Montes e Alto Douro é um lugar onde a identidade
portuguesa, fruto de tradições culturais enraizadas, sobreviveu como em nenhuma
outra região do país lusitano. O seu conhecido isolamento, bem como o alto
índice de emigração e despovoamento, são características que acompanham a
região há muito tempo.
Sua capital é a cidade de Vila Real, e, ao longo da história,
sofreu diversas modificações em seu território e nas atribuições
administrativas. Desde o século XV, passou de Comarca a Província, e suas
fronteiras territoriais, cujos limites foram se adequando com a aquisição ou
perda de regiões, já não são as mesmas da época de sua fundação. Atualmente, é
formada por três sub-regiões: Alto Trás-os-Montes, Douro e Tâmega.
As paisagens desta província apresentam uma beleza natural e
rural exuberante, sendo suas terras ricas em cerais, legumes e frutos como
amêndoas e cerejas, além das oliveiras que produzem azeites. Para completar,
ainda existe a cultura vitivinícola, que, com as inúmeras vinhas da região,
fazem de Trás-os-Montes e Alto Douro um destino turístico perfeito para os
amantes da gastronomia e do vinho de alta qualidade. Montes é uma das regiões
mais ricas em descobertas arqueológicas. Destacam-se as estações do paleolítico
da serra do Brunheiró e Bóbeda, assim como dólmenes e povoados do período neo-eneolítico.
Trás-os-Montes é uma região montanhosa, caracterizada por sua
diversidade de relevo e de clima – altitude, temperatura, pluviosidade, solo,
etc, variam conforme cada cidade da província. As diferenças são bastante
acentuadas. De maneira geral, seu relevo é formado por uma série de elevadas
plataformas onduladas atravessadas por vales e bacias profundas, os solos se
apresentam como graníticos, mas com presença importante de xisto.
Trás-os-Montes tem clima com influência mediterrânico-continental, com áreas de
muito frio nas partes mais altas e outras mais quentes na região do Douro.
A natureza privilegiada é fonte de riqueza para a região: os
recursos hídricos, com rios importantes, por exemplo, são utilizados para gerar
energia elétrica e produzir água mineral.
Essas diferenças climáticas acentuadas permitiram definir
três sub-regiões para a produção de vinhos de qualidade com direito a DO
Trás-os-Montes. Os critérios tidos em conta foram essencialmente as altitudes,
exposição solar, clima e a constituição dos solos, tendo sido a Denominação de
Origem (DO Trás-os-Montes) reconhecida a partir de 9 de Novembro de 2006
(Portaria n.º 1204/2006).
Outra possibilidade de riqueza retirada da natureza da região são as vinhas dispostas nos vales que circundam o Douro e que originam vinhos excelentes e apreciados no mundo todo. O principal deles: o famoso Vinho do Porto. A vitivinicultura em Trás-os-Montes e Alto Douro tem história e tradição. Além de ter sido a primeira região regulamentada para produção vinícola do mundo, em 1756, foi reconhecida pela UNESCO, em 2001, como Património da Humanidade por causa da beleza de suas vinhas. Quanto à produção, 50% dos vinhos elaborados nas vinícolas da região são destinadas para o Vinho do Porto, a outra metade se dedica à produção de vinhos que utilizam a denominação de origem controlada (DOC) “Douro”, e que são tão diversos quanto os microclimas e solos da província.
Tradicionalmente, as vinhas são plantadas de maneiras
diferentes em Trás-os-Montes, aproveitando toda a diversidade da região. Essa
característica se reflete nos vinhos produzidos, que além do vinho do Porto,
pode resultar excelentes vinhos tintos e brancos. As castas brancas dominantes
são: Côdega do Larinho, Malvasia Fina, Fernão Pires, Gouveio, Rabigato, Síria e
Viosinho, e nas tintas Bastardo, Tinta Roriz, Marufo, Touriga Franca, Touriga
Nacional e Trincadeira. Os vinhos brancos são suaves e com aroma floral. Os
vinhos tintos são geralmente frutados e levemente adstringentes.
E agora finalmente o vinho!
Na taça apresenta um vermelho rubi intenso e profundo,
mostrando-se um pouco caudaloso, com lágrimas finas e abundantes que teimavam
em se dissipar.
No nariz há um destaque para um mix de frutas vermelhas e
negras, onde se destacam a ameixa, cereja e amora, sendo muito complexo nesse
sentido, com toques evidentes de especiarias, algo como tabaco, uma linha bem
herbácea, diria. Um vinho ainda vivo e fresco, apesar dos 7 anos de safra à
época.
Na boca é estruturado, redondo, harmonioso, com o protagonismo das frutas vermelhas e negras, mas muito vívido, pleno, com uma boa acidez ainda, com taninos maduros, presentes, mas domados devido ao tempo de vida do vinho, com um final voluptuoso e frutado. Não tem passagem por barricas de carvalho, estagia em cubas de aço inox e 12 meses em garrafa antes de sair da vinícola o que mostra o seu incrível equilíbrio.
Essa degustação foi deveras significativa, não apenas pelo fato de ter sido o meu primeiro rótulo da região de Trás-os-Montes, mas também pela relevância e qualidade deste belíssimo vinho, ainda mais que descobri, quando busquei maiores informações sobre o rótulo de que o ano de 2011 para a vitivinicultura portuguesa foi extremamente produtiva e significativa, sendo uma das melhores de todos os tempos. Que momento especial eu tive com esse grande vinho! Preocupado com possíveis borras que poderia encontrar com o tempo de safra deste vinho decidi decanta-lo, mas não precisou, não tinha sequer um sedimento, nada, e o vinho estava ótimo, muito equilibrado, harmonioso e que o produtor, acertadamente, decidiu não repousá-lo em madeira, elevando ainda mais as características de cada cepa, destacando-se as frutas, a acidez e os taninos que em um impressionante equilíbrio, brilharam sem um ofuscar o outro. Um vinho de 8 anos de vida quando o degustei, mas cheio de vida, personalidade e pegada. Tem 13,5% de teor alcoólico.
Sobre a Adega Cooperativa de Rabaçal:
Com cerca de 400 associados, oriundos dos concelhos de
Vinhais, Valpaços, Mirandela e Macedo de Cavaleiros, a Adega Cooperativa de
Rabaçal, C.R.L.recebe 1,5 milhões de quilos de uvas de uma zona de transição
entre a Terra Quente e a Terra Fria, que garante um grau surpreendente em todos
os néctares que ali são vinificados.
A reconversão da vinha que está em curso e a aposta nas
castas Touriga Nacional, Touriga Franca, Trincadeira e Tinta Roriz já está a
dar os seus frutos ao nível da qualidade do produto final. Ao nível da
promoção, a adega que labora em Rebordelo vive um período de evolução, bem
patente na criação de uma imagem institucional que simboliza o vinho e os
quatro concelhos produtores.
No que se refere à tipicidade dos vinhos da região de
Trás-os-Montes, para além da diversidade existente, a base dos mesmos assenta
nas especificidades únicas das nossas castas.
“Porque o mundo é um
mar de oportunidades e também de desafios, hoje globais; porque acreditamos
que, para além de nos inserirmos num país que se afirma cada vez mais enquanto
produtor de vinhos de excelência e também numa região privilegiada,
Trás-os-Montes, a Adega Cooperativa de Rabaçal, C.R.L. afirma-se com base nos
efetivos vitícolas da Adega, que a alimentam com as melhores castas autóctones,
mantidas por várias gerações, num percurso que se aprimorou cada vez mais a
nossa região, cultura e história, numa descoberta, aqui de novos «territórios
sensoriais», os seus vinhos”.
Filosofia do produtor
Mais informações acesse:
http://www.adegarabacal.com/www/default.asp
Referências:
“Clube dos Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/vinhos/regioes/tras-os-montes/doc-tras-os-montes/
“Wine Tourism Portugal”: https://www.winetourismportugal.com/pt/regioes/tras-os-montes/
“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/tras-os-montes-e-alto-douro-um-paraiso-vinicola-em-portugal/
Degustado em: 2018
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