terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Crios Malbec e Bonarda 2014

 

Há quem diga que para degustar um verdadeiro Malbec é preciso investir nos encorpados, barricados, aqueles “malbecões” corpulentos, complexos e estruturados. Claro que tudo é questão de proposta de vinho, claro que também é muito pertinente degustar um Malbec com essas características tão marcantes, sem dúvida um momento especial. Mas não devemos negligenciar os vinhos dessa cepa mais básica, frutadas, sem passagem por barricas de carvalho. Temos que admitir também que é mais difícil encontrar rótulos com essa proposta, um que expresse com fidelidade a essência de uma casta tão importante e necessária para os paladares dos enófilos mais exigentes.

Mas vamos combinar que degustar um Malbec argentino o nível de dificuldade na escolha reduz significativamente? Todas as propostas de Malbec, independente do que eles possam entregar, o Malbec argentino, de Mendoza, de Luján de Cuyo, que seja, traz toda a tipicidade de um terroir único e especial. E, diante de alguns vinhos dessa cepa que eu degustei ao longo do meu percurso um conseguiu, com maestria, unir o conceito frutado e jovem dos vinhos básicos com a personalidade, a estrutura de um Malbec barricado. É possível? Sim, consegui degustar um vinho frutado, um vinho delicado, com nuances amadeiradas e alguma complexidade. E nessa miscelânea improvável e inusitada partiu da mente emancipada de uma das mulheres mais bem sucedidas da história da vitivinicultura argentina e mundial: Susana Balbo.

E tinha que vir das terras férteis e abençoadas da região emblemática de Luján de Cuyo, onde a Malbec encontra os seus predicados. Então depois de algumas informações esclarecidas e divulgadas e meio caminho andado, nada mais pertinente do que revelar esse vinho que foi importante para a construção da minha percepção para com a Malbec. O vinho que degustei e gostei veio de Mendoza, mais precisamente de Luján de Cuyo, na Argentina, e se chama Crios, que, além da Malbec, com 95%, tem também 5% de outra popular casta dos Hermanos, Bonarda, portanto um corte com a predominância da Malbec e a safra é de 2014.

Susana Balbo: a emancipação feminina do vinho argentino

Nascida em uma família tradicional e desafiando as convenções sociais da era Susana, ela decidiu se profissionalizar na produção de vinho. Dessa forma, em 1981, recebeu seu Bacharelado em Enologia como a melhor pós-graduação, tornando-se a primeira enóloga feminina na Argentina.

Susana Balbo

Em 2012, ela foi a única argentina reconhecida pela revista Drinks Business como uma das mulheres mais influentes do mundo do vinho. Em 2015, a mesma publicação reconheceu a "Mulher do ano" (Mulher do ano de 2015 pela The Drinks Business) e, posteriormente em 2018, a nomeou como uma das "As 10 mulheres mais influentes do mundo da veio”. Sua experiência começou em Cafayate, Salta, responsável pela vinícola Michel Torino Sucession, especializada na produção de Torrontés. Depois, trabalhou em vinícolas muito importantes, como Martins e Catena Zapata. Ao longo de mais de 30 anos de carreira, Susana teve a oportunidade de atuar como consultora em importantes vinícolas internacionais em várias regiões vinícolas, o que lhe permitiu estar sempre na vanguarda das tendências do mercado e estilos de vinho. Ela também foi Presidente da Wines of Argentina (WOFA) três vezes (2006-2008, 2008-2010 e 2014-2016) e assumiu o cargo de vice-presidente de 2010 a 2012, tornando-se um ícone da indústria vinícola argentina e mundial.

Luján de Cuyo: o cantinho da Malbec

O departamento de Luján de Cuyo foi instituído em 11 de maio de 1855 sob o nome de “Villa de Luján” durante o governo do General Pedro Pascual Segura. Seu município foi criado em 1872. O povoado de Luján realizou uma grande contribuição à história da Independência Argentina, desempenhou um papel fundamental na formação do Exército dos Andes. Foi declarada “Cidade” a Villa de Luján, em Outubro de 1949. Em 1964, tanto a cidade quanto o departamento passaram a ser chamados “Luján de Cuyo”. No início, quando os espanhóis por ordem do Governador Garcia Hurtado de Mendoza, sob o comando do capitão Don Pedro del Castillo chegaram ao Vale de Huentota durante uma expedição constituída por sessenta espanhóis, mil e quinhentos índios auxiliares e um capelão, Frei Humberto de la Cueva, encontraram um precário sistema de irrigação artificial. Esse era o qual a população local irrigava suas plantações de batata e milho originários da América e desconhecidos até o momento na Europa. O Capitão del Castillo nomeou o lugar Mendoza – Novo Vale de Rioja. Era 2 de março de 1561. O nome foi uma homenagem ao Governador do Chile Hurtado de Mendoza e à pátria natal de Castillo.

Luján de Cuyo


E agora o tão esperado vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi intenso e brilhante com reflexos violáceos, lágrimas finas e abundantes que teimam em se dissipar das paredes do copo.

No nariz é intrigante, instigante mostrando aromas de frutas negras, frutas maduras e se destacam cereja preta, groselha, a fruta, como marcante característica da Malbec, se faz presente e evidente no aroma, muito agradável, além de notas de especiarias e baunilha, graças a sua passagem por barricas de carvalho por 9 meses.

Na boca é uma profusão de sabores, uma explosão complexa que envolve, como no quesito olfativo, a fruta negra, madura que se envolve com notas vegetais, de especiarias, um envolvente picante, toque de pimenta explicitado no seu rótulo, com taninos robustos, mas domados, com boa e atraente acidez, com um bom volume de boca e um final cheio, persistente e frutado.

Um senhor vinho! Um vinho considerado básico da linha de Susana Balbo mas que revela um vultosa personalidade, um rótulo encorpado, mas com muito equilíbrio, sendo inclusive fácil de degustar. Um vinho gastronômico que harmoniza com comidas picantes, massas e mais pesadas, como churrasco, por exemplo. A linha Crios se enquadra em uma frase que costumo usar como um mantra que diz: “Da nobreza vem a simplicidade’. Assim são os vinhos da rainha da vitivinicultura: Susana Balbo. E aqui vale fazer um adendo, uma curiosidade sobre o nome “Crios” para essa digna linha de vinhos. Susana Balbo decidiu, ao criar essa linha de vinhos mais jovens da vinícola, homenagear seus filhos que na época, eram crianças, daí o nome “crios” que significa “criança”. Vale dizer também que tive uma experiência incrível com o Torrontés dessa linha, o Crios Torrontés 2013. Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Susana Balbo Wines:

Em 1999, com quase duas décadas oferecendo seu talento ao aconselhamento de empresas nacionais e internacionais do setor vitivinícola, Susana Balbo decidiu realizar seu sonho de ter sua própria vinícola e foi para que Susana Balbo Wines se enraizasse no coração de Luján de Cuyo Mendoza. Após mais de dez anos de constante crescimento nos mercados internacionais, outro sonho se tornou realidade: seus filhos, José, um enólogo da UC Davis (Califórnia) e Ana, formada em Administração de Empresas pela Universidade de Em San Andrés, eles decidiram continuar com a tradição da família e se juntar à equipe Susana Balbo WInes. Nos últimos anos, Susana e sua equipe trabalharam duro para atender aos mais altos padrões de qualidade em nível internacional, demonstrando seu compromisso com os problemas mais importantes do século XXI: segurança alimentar, sustentabilidade e responsabilidade social corporativa.

Mais informações acesse:

https://www.susanabalbowines.com.ar/

https://www.criosdesusanabalbo.com.ar/



Referência de pesquisa:

Portal da cidade de Luján de Cuyo, em: https://lujandecuyo.gob.ar/lujandecuyo/

Portal Mendoza Travel, em: https://www.mendoza.travel/pt/resena-historica-8/#:~:text=O%20departamento%20de%20Luj%C3%A1n%20de,do%20General%20Pedro%20Pascual%20Segura.&text=O%20povoado%20de%20Luj%C3%A1n%20realizou,forma%C3%A7%C3%A3o%20do%20Ex%C3%A9rcito%20dos%20Andes.

Portal Experience Mendoza, em: http://www.experiencemendoza.com/pt/vinho-degusta%C3%A7%C3%A3o/visitando-as-vin%C3%ADcolas-de-mendoza/#:~:text=Luj%C3%A1n%20de%20Cuyo,-Com%20vinhedos%20plantados&text=O%20departamento%20faz%20parte%20da,t%C3%AAm%20se%20mostrado%20bastante%20expressivas.

Degustado em: 2017



 


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