Quando buscamos a proposta de vinhos amadeirados quais são os
vinhos e os países que vem à mente? Não há como se esquecer dos vinhos do Velho
Mundo, sobretudo da Espanha e Itália! As opções são diversas, nas propostas e
preços. Claro que os italianos, capitaneados pelos Chiantis, Brunelos e Barolos
são mais caros, chegam ao Brasil com valores mais elevados, já os espanhóis
trazem consigo algumas opções mais palpáveis para bolsos mais vazios.
Claro que há as regiões badaladas que consequentemente são
mais caras, tais como Rioja e Ribera del Duero, por exemplo, mas atualmente há
opções ótimas de outras regiões que, a cada dia, vem ganhando notoriedade no
Brasil, por exemplo, que trazem também preços, valores mais atrativos, bem como
também rótulos atraentes sim.
Cito aqui regiões como Utiel Requena, Valdepeñas, Navarra e a
minha mais nova queridinha Castilla La Mancha, são algumas que valem a pena um
olhar mais atencioso e carinhoso. Há sim, claro, algumas regiões com produção
de grande volume, mas, penso, no ápice de minha simplicidade enófila, que temos
de rever conceitos de que vinhos de volume é sinônimo de má qualidade e
perceber que as regiões acima mencionadas vem crescendo significativamente na
tecnologia de ponta para produção de vinhos e que, há pouco tempo atrás tinha
um mercado caseiro e hoje exporta para alguns países, mostrando força e um
olhar mais voltado também para a qualidade com vistas a esse investimento para
mercados fora de seus domínios.
E com essas opções de vinhos amadeirados, do Velho Mundo que entrega
longevidade, capacidade de boa evolução, complexidade e preços atraentes me
abriram os olhos e fez com que me interessasse, de forma ávida, admito, por
vinhos com essas propostas, por vinhos reserva, gran reserva, os crianzas e que
atualmente tem recheado a minha adega como nunca. E pensar que, há alguns anos
atrás, eu tinha dificuldade para escolher os vinhos espanhóis.
E hoje decidi desarrolhar um gran reserva de uma região que
pouco degustei vinho e que, diante dessa minha nova predileção, viria a calhar.
Falo de Valência, uma região, embora tradicional para a produção de vinhos na
Espanha, desde tempos imemoriais, não tem a badalação de Rioja e Ribera del
Duero. Então já que dizem, e que concordo plenamente, nada mais especial abrir um
Gran Reserva espanhol de Valência com as castas mais populares de toda a
Espanha.
Quando o vi, em uma das minhas incursões aos mercados, achei
demasiadamente barato para a proposta do vinho e, confesso, que me preocupei,
com algum receio em compra-lo, mas decidi correr o risco, afinal, comprar risco
e aceitar riscos, em algumas situações calculados, claro.
Então sem mais delongas vamos ao vinho que degustei e gostei,
e como gostei, uma surpresa estonteante: O nome é Palacio del Conde, um Gran
Reserva da região de Valência (DO), composto pelas castas Tempranillo (90%) e
Monastrell (10%) da safra 2015. E antes de falar do vinho falemos um pouco de
Valência, da Denominação de Origem (DO) de Valência.
Valência (DO)
A produção de vinho no norte da região de Valencia – escrito
València na língua local, e também conhecida pelos espanhóis como Levante ou
Valenciano – é dominada por antigas áreas de plantações ao redor de Valencia, a
terceira maior cidade da Espanha.
Situada no interior da província de Valencia, na zona mais
interiorana de Vall d´Albaida, a 80 quilômetros do Mar Mediterrâneo, e com uma
altitude média de 600 metros sobre o nível do mar. Esta região do interior do
Levante Valenciano possui um clima continental muito especial. Com invernos
frios e verões cálidos que se suavizam com o vento que atravessa todo o Vall
d´Albaida desde o Mediterrâneo, refrescando todo o vale, e criando assim um
microclima ótimo para a viticultura.
Valência é uma região que produz vinhos há milhares de anos,
segundo arqueólogos. E que, desde 1957, é oficialmente reconhecida e regulada
por um conselho constituído formalmente.
Apesar de Valência está na costa leste da Espanha, virada
para o Mediterrâneo, poucos vinhedos estão próximos do mar. A maior parte dos
vinhedos sofrem influências de clima continental, estando mais próximas do
interior.
Na teoria, e segundo a legislação local, cultivadores de
Valência podem escolher entre uma longa lista de variedades de uvas autorizadas.
Na prática, a maioria prefere plantar as castas Merseguera, Malvasia,
Tempranillo, Monastrell e Moscatel. Mas há produtores que produzem outras
castas como Bobal, Forcallat, Mandó, as francesas Cabernet Sauvignon, Merlot,
Syrah, Pinot Noir, entre as tintas e as brancas são Macabeo ou Viúra, Pedro
Ximenez, Tortosina, Verdil, Sauvignon Blanc e Chardonnay. Os tintos oferecem
jovialidade, são muito aromáticos e apresentam um equilíbrio de acidez, maciez
e tanicidade, já os brancos oferecem vinhos perfumados, brilhantes e
transparentes e os rosés frutados e agradáveis. Vale lembrar que, para a minha
alegria, eu degustei um surpreendente e maravilhoso Petit Verdot da igualmente
maravilhosa Murviedro, da região de Valência, onde fiz uma resenha que pode ser
lida aqui.
São 4 as sub regiões valencianas ou sub-regiões da
denominação valenciana:
ü Alto Turia: com solos arenosos e alta
altitudes, entre 700 e 1.100 metros, onde destacam-se os brancos frescos,
frutados e aromáticos, produzidos principalmente com as castas Merseguera e
Macabeo;
ü Valentino: a maior das sub-regiões,
na parte central de Valência, onde a diversidade de solos e climas reflete-se,
também, em variedade de vinhos, tanto tintos como brancos;
ü Moscatel de Valência: com baixas
altitudes e clima quente e ensolarado, oferece um dos vinhos mais conhecidos da
região, licoroso, sendo o mais representativo da história dessa denominação;
ü Clariano: subzona do sul da
província, na qual mais perto do mar destacam-se as variedades brancas e a
tinta Tintoreira, e o interior é reconhecido pelas tintas Monastrell, Cabernet
Sauvignon, Merlot e Tempranillo.
Atualmente são cerca de 50 milhões de garrafas de vinhos
valencianos, produzidas a cada ano. Mais de 80 vinícolas e quase 12.000
viticultores estão envolvidos no processo de produção desses vinhos. Suas
plantações ocupam 13.000 hectares de vinhedos. E os vinhos são exportados para
mais de 100 países, incluindo, felizmente, o Brasil, graças ao porto da cidade.
Um acordo formal permite que as bodegas de Valencia comprem vinho da região
vizinha Utiel-Requena.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um vermelho rubi intenso, brilhante, mas que
não é escuro e já com discretos tons atijolados, granada, no entorno, com
lágrimas finas e lentas.
No nariz traz um aroma de frutas pretas bem maduras, com
destaque para ameixa, amora, cereja preta, frutas secas, como avelã, amêndoa,
um toque meio rústico, tendo um amadeirado em destaque, graças aos 24 meses de
passagem por barricas de carvalho, além da baunilha, um tostado leve e
especiarias, corroborando o tabaco, pimenta e pimentão.
Na boca é seco, com médio corpo, alguma estrutura que o torna
marcante, cheio e cremoso e alcoólico, mostrando personalidade e certa
complexidade, com as notas frutadas e amadeiradas proeminentes, como no aspecto
olfativo, com o aporte do chocolate meio amargo, com uma tosta média, taninos
presentes, marcados, mas redondos, acidez equilibrada e um final longo e
persistente. Apresenta ainda incrível capacidade de evolução, melhorando a cada
taça degustada.
Mais uma vez as percepções sensoriais acerca dos espanhóis amadeirados foram as melhores possíveis. E, mais uma vez também, aqueles pequenos e sutis preconceitos que surgem sorrateiros, em nossas mentes, de que vinhos baratos são perigosos, ruins, caiu por terra. Não é regra que vinhos baratos é ruim, como também não deve ser regra que todos os vinhos baratos são bons. É preciso pesquisar, conhecer o vinho, bem como a sua proposta e sempre visitar o site do produtor para se salvaguardar de algumas tristes revelações na degustação e também para ver se tem uma identificação com o que o vinho pode te entregar. E o que mais me surpreende e de que Palacio del Conde foi um vinho na faixa dos R$ 40,00 e que entrega complexidade, uma capacidade de evolução por anos e anos e com qualidade. Ele estava na sua plenitude, com seus 7 anos e ainda tinha muito a oferecer ao longo dos anos. Definitivamente o que reforça tudo isso é, sem dúvida, o blend: a Tempranillo que se dá muito bem com a barrica de carvalho e a Monastrell que dá o aporte das frutas maduras, mesmo que em pequenas proporções. Que a minha viagem aos espanhóis longevos se torne tão longevas que me permita ter experiências sensoriais únicas. Tem 14% de teor alcoólico.
Sobre as Bodegas Anecoop:
A Anecoop começou a comercializar vinho em 1986. A oferta das
adegas associadas, pertencentes às Denominações de Origem de Valência e
Navarra, faz da diversidade uma das vantagens competitivas das Bodegas Anecoop.
Isso permite ter vinhos de alto nível, que, combinando
tradição e modernidade em um mesmo produto, conseguem atrair e agradar
consumidores de mais de 38 países, com uma relação qualidade/preço imbatível.
O desenvolvimento de novos e melhores produtos é essencial
para continuar a surpreender o mercado, assim como a implementação de novas
variedades e otimização das existentes, com os meios técnicos mais avançados.
Neste sentido, o trabalho conjunto de viticultores, enólogos
e técnicos de qualidade é fundamental para atingir os objetivos traçados.
Mais informações acesse:
Referências:
“Cataimport”: https://cataimport.com/espanha/valencia/#
“Vinho Virtual”: https://vinhovirtual.com.br/regioes-123-Valencia
“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2016/08/valencia-espanha/
“Tintos & Tantos”: http://www.tintosetantos.com/index.php/denominando/755-valencia#:~:text=Uma%20regi%C3%A3o%20que%20produz%20vinhos,fato%2C%20est%C3%A3o%20pr%C3%B3ximos%20ao%20mar.
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