domingo, 8 de maio de 2022

Palacio del Conde Gran Reserva Tempranillo e Monastrell 2015

 

Quando buscamos a proposta de vinhos amadeirados quais são os vinhos e os países que vem à mente? Não há como se esquecer dos vinhos do Velho Mundo, sobretudo da Espanha e Itália! As opções são diversas, nas propostas e preços. Claro que os italianos, capitaneados pelos Chiantis, Brunelos e Barolos são mais caros, chegam ao Brasil com valores mais elevados, já os espanhóis trazem consigo algumas opções mais palpáveis para bolsos mais vazios.

Claro que há as regiões badaladas que consequentemente são mais caras, tais como Rioja e Ribera del Duero, por exemplo, mas atualmente há opções ótimas de outras regiões que, a cada dia, vem ganhando notoriedade no Brasil, por exemplo, que trazem também preços, valores mais atrativos, bem como também rótulos atraentes sim.

Cito aqui regiões como Utiel Requena, Valdepeñas, Navarra e a minha mais nova queridinha Castilla La Mancha, são algumas que valem a pena um olhar mais atencioso e carinhoso. Há sim, claro, algumas regiões com produção de grande volume, mas, penso, no ápice de minha simplicidade enófila, que temos de rever conceitos de que vinhos de volume é sinônimo de má qualidade e perceber que as regiões acima mencionadas vem crescendo significativamente na tecnologia de ponta para produção de vinhos e que, há pouco tempo atrás tinha um mercado caseiro e hoje exporta para alguns países, mostrando força e um olhar mais voltado também para a qualidade com vistas a esse investimento para mercados fora de seus domínios.

E com essas opções de vinhos amadeirados, do Velho Mundo que entrega longevidade, capacidade de boa evolução, complexidade e preços atraentes me abriram os olhos e fez com que me interessasse, de forma ávida, admito, por vinhos com essas propostas, por vinhos reserva, gran reserva, os crianzas e que atualmente tem recheado a minha adega como nunca. E pensar que, há alguns anos atrás, eu tinha dificuldade para escolher os vinhos espanhóis.

E hoje decidi desarrolhar um gran reserva de uma região que pouco degustei vinho e que, diante dessa minha nova predileção, viria a calhar. Falo de Valência, uma região, embora tradicional para a produção de vinhos na Espanha, desde tempos imemoriais, não tem a badalação de Rioja e Ribera del Duero. Então já que dizem, e que concordo plenamente, nada mais especial abrir um Gran Reserva espanhol de Valência com as castas mais populares de toda a Espanha.

Quando o vi, em uma das minhas incursões aos mercados, achei demasiadamente barato para a proposta do vinho e, confesso, que me preocupei, com algum receio em compra-lo, mas decidi correr o risco, afinal, comprar risco e aceitar riscos, em algumas situações calculados, claro.

Então sem mais delongas vamos ao vinho que degustei e gostei, e como gostei, uma surpresa estonteante: O nome é Palacio del Conde, um Gran Reserva da região de Valência (DO), composto pelas castas Tempranillo (90%) e Monastrell (10%) da safra 2015. E antes de falar do vinho falemos um pouco de Valência, da Denominação de Origem (DO) de Valência.

Valência (DO)

A produção de vinho no norte da região de Valencia – escrito València na língua local, e também conhecida pelos espanhóis como Levante ou Valenciano – é dominada por antigas áreas de plantações ao redor de Valencia, a terceira maior cidade da Espanha.

Situada no interior da província de Valencia, na zona mais interiorana de Vall d´Albaida, a 80 quilômetros do Mar Mediterrâneo, e com uma altitude média de 600 metros sobre o nível do mar. Esta região do interior do Levante Valenciano possui um clima continental muito especial. Com invernos frios e verões cálidos que se suavizam com o vento que atravessa todo o Vall d´Albaida desde o Mediterrâneo, refrescando todo o vale, e criando assim um microclima ótimo para a viticultura.

 

Valência é uma região que produz vinhos há milhares de anos, segundo arqueólogos. E que, desde 1957, é oficialmente reconhecida e regulada por um conselho constituído formalmente.

Apesar de Valência está na costa leste da Espanha, virada para o Mediterrâneo, poucos vinhedos estão próximos do mar. A maior parte dos vinhedos sofrem influências de clima continental, estando mais próximas do interior.

Na teoria, e segundo a legislação local, cultivadores de Valência podem escolher entre uma longa lista de variedades de uvas autorizadas. Na prática, a maioria prefere plantar as castas Merseguera, Malvasia, Tempranillo, Monastrell e Moscatel. Mas há produtores que produzem outras castas como Bobal, Forcallat, Mandó, as francesas Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah, Pinot Noir, entre as tintas e as brancas são Macabeo ou Viúra, Pedro Ximenez, Tortosina, Verdil, Sauvignon Blanc e Chardonnay. Os tintos oferecem jovialidade, são muito aromáticos e apresentam um equilíbrio de acidez, maciez e tanicidade, já os brancos oferecem vinhos perfumados, brilhantes e transparentes e os rosés frutados e agradáveis. Vale lembrar que, para a minha alegria, eu degustei um surpreendente e maravilhoso Petit Verdot da igualmente maravilhosa Murviedro, da região de Valência, onde fiz uma resenha que pode ser lida aqui.

São 4 as sub regiões valencianas ou sub-regiões da denominação valenciana:

ü  Alto Turia: com solos arenosos e alta altitudes, entre 700 e 1.100 metros, onde destacam-se os brancos frescos, frutados e aromáticos, produzidos principalmente com as castas Merseguera e Macabeo;

ü  Valentino: a maior das sub-regiões, na parte central de Valência, onde a diversidade de solos e climas reflete-se, também, em variedade de vinhos, tanto tintos como brancos;

ü  Moscatel de Valência: com baixas altitudes e clima quente e ensolarado, oferece um dos vinhos mais conhecidos da região, licoroso, sendo o mais representativo da história dessa denominação;

ü  Clariano: subzona do sul da província, na qual mais perto do mar destacam-se as variedades brancas e a tinta Tintoreira, e o interior é reconhecido pelas tintas Monastrell, Cabernet Sauvignon, Merlot e Tempranillo.

Atualmente são cerca de 50 milhões de garrafas de vinhos valencianos, produzidas a cada ano. Mais de 80 vinícolas e quase 12.000 viticultores estão envolvidos no processo de produção desses vinhos. Suas plantações ocupam 13.000 hectares de vinhedos. E os vinhos são exportados para mais de 100 países, incluindo, felizmente, o Brasil, graças ao porto da cidade. Um acordo formal permite que as bodegas de Valencia comprem vinho da região vizinha Utiel-Requena.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, brilhante, mas que não é escuro e já com discretos tons atijolados, granada, no entorno, com lágrimas finas e lentas.

No nariz traz um aroma de frutas pretas bem maduras, com destaque para ameixa, amora, cereja preta, frutas secas, como avelã, amêndoa, um toque meio rústico, tendo um amadeirado em destaque, graças aos 24 meses de passagem por barricas de carvalho, além da baunilha, um tostado leve e especiarias, corroborando o tabaco, pimenta e pimentão.

Na boca é seco, com médio corpo, alguma estrutura que o torna marcante, cheio e cremoso e alcoólico, mostrando personalidade e certa complexidade, com as notas frutadas e amadeiradas proeminentes, como no aspecto olfativo, com o aporte do chocolate meio amargo, com uma tosta média, taninos presentes, marcados, mas redondos, acidez equilibrada e um final longo e persistente. Apresenta ainda incrível capacidade de evolução, melhorando a cada taça degustada.

Mais uma vez as percepções sensoriais acerca dos espanhóis amadeirados foram as melhores possíveis. E, mais uma vez também, aqueles pequenos e sutis preconceitos que surgem sorrateiros, em nossas mentes, de que vinhos baratos são perigosos, ruins, caiu por terra. Não é regra que vinhos baratos é ruim, como também não deve ser regra que todos os vinhos baratos são bons. É preciso pesquisar, conhecer o vinho, bem como a sua proposta e sempre visitar o site do produtor para se salvaguardar de algumas tristes revelações na degustação e também para ver se tem uma identificação com o que o vinho pode te entregar. E o que mais me surpreende e de que Palacio del Conde foi um vinho na faixa dos R$ 40,00 e que entrega complexidade, uma capacidade de evolução por anos e anos e com qualidade. Ele estava na sua plenitude, com seus 7 anos e ainda tinha muito a oferecer ao longo dos anos. Definitivamente o que reforça tudo isso é, sem dúvida, o blend: a Tempranillo que se dá muito bem com a barrica de carvalho e a Monastrell que dá o aporte das frutas maduras, mesmo que em pequenas proporções. Que a minha viagem aos espanhóis longevos se torne tão longevas que me permita ter experiências sensoriais únicas. Tem 14% de teor alcoólico. 


Sobre as Bodegas Anecoop:

A Anecoop começou a comercializar vinho em 1986. A oferta das adegas associadas, pertencentes às Denominações de Origem de Valência e Navarra, faz da diversidade uma das vantagens competitivas das Bodegas Anecoop.

Isso permite ter vinhos de alto nível, que, combinando tradição e modernidade em um mesmo produto, conseguem atrair e agradar consumidores de mais de 38 países, com uma relação qualidade/preço imbatível.

O desenvolvimento de novos e melhores produtos é essencial para continuar a surpreender o mercado, assim como a implementação de novas variedades e otimização das existentes, com os meios técnicos mais avançados.

Neste sentido, o trabalho conjunto de viticultores, enólogos e técnicos de qualidade é fundamental para atingir os objetivos traçados.

Mais informações acesse:

https://anecoopbodegas.com/

Referências:

“Cataimport”: https://cataimport.com/espanha/valencia/#

“Vinho Virtual”: https://vinhovirtual.com.br/regioes-123-Valencia

“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2016/08/valencia-espanha/

“Tintos & Tantos”: http://www.tintosetantos.com/index.php/denominando/755-valencia#:~:text=Uma%20regi%C3%A3o%20que%20produz%20vinhos,fato%2C%20est%C3%A3o%20pr%C3%B3ximos%20ao%20mar.

 

 




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