Não é apenas de varietais que tenho vivido algumas gratas e
animadas surpresas, mas também de alguns cortes, alguns blends muito inusitados
e confesso que também é fantástico, sobretudo aqueles assemblages com poucas
castas e que tenham percentuais bem próximos umas das outras, pois, a meu ver,
conseguimos captar, sentir, perceber as nuances, as características das
variedades envolvidas.
E esse rótulo cujo blend me trouxe a novidade que me refiro
vem da emblemática e tradicional região argentina de Mendoza e o produtor
também tem me atraído o interesse, pois tenho visto em alguns lugares a oferta
de seus rótulos e em profusão, diga-se de passagem.
O produtor que me refiro é a vinícola Las Perdices e o blend é
o composto pelas castas Malbec e Cabernet Franc. Como de costume falo da
história dos produtores ao término deste texto, mas de antemão digo que a Las
Perdices vem ganhando mercado, a aceitação dos brasileiros, com vendas
satisfatórias e rótulos expostos em redes sociais com linhas comentadas e muito
elogiadas pelos enófilos.
Tanto que recentemente degustei o Partridge Reserva Cabernet Sauvignon da safra 2019 e tive ótima impressão do vinho que demonstrou caráter,
expressividade e, para quem aprecia as notas amadeiradas, ele é indicado, mas
em pleno equilíbrio com as características marcantes da Cabernet Sauvignon.
Mas inusitado também é o blend: Um corte de Malbec e Cabernet
Franc é no mínimo uma ode à complexidade. A Malbec, famosa nas terras
argentinas, traz a fruta, a estrutura e a Cabernet Franc, a maciez, a elegância
e a personalidade. A primeira é tradicional e a segunda vem sendo produzida com
qualidade, ganhando literalmente terreno na Argentina. Lembrando que, falando
em inusitado, degustei um espanhol com esse mesmo corte, por incrível que
pareça chamado Palacio de Treto da safra 2011!
Então sem mais delongas vamos às apresentações do vinho! O
vinho que degustei e gostei veio da região de Mendoza, na Argentina, e se chama
Capitán Tomás Reserva com o blend das variedades Malbec e Cabernet Franc da
safra 2018. E por mais que seja óbvia a origem dos vinhos de Argentina, em
Mendoza, convém falar de suas micro-regiões, das suas sub-regiões que entregam
diversidade em suas características geográficas, culturais e tudo o mais. O
Capitán Tomás Reserva é oriundo da sub-região de Agrelo, que fica em Luján de
Cuyo, em Mendoza.
Por mais que possa parecer óbvio falar de Mendoza, convém, entretanto, falar um pouco da história de Agrelo, Luján de Cuyo, cujas uvas foram cultivadas a 1000 metros de altitude.
Agrelo, Luján de Cuyo, Mendoza
A região de Agrelo é parte do departamento de Luján de Cuyo,
Mendoza. Por tradição ali se plantaram sempre uvas rosadas, principalmente a
Criolla Grande, utilizada na produção de vinhos simples e suco de uva. Recentemente
foram implantados vinhedos de qualidade, principalmente de Malbec e Chardonnay,
e modernas técnicas de viticultura e vinicultura deram origem a vinhos de
qualidade que demonstram o potencial da região.
A Malbec amadurece pacificamente sob o sol de Agrelo.
"Geralmente, a Malbec de Agrelo tem rendimentos entre baixos e médios e
produz uvas de cor intensa e maturação muito boa, valores transferidos para o
vinho, juntamente com aromas de frutas negras.
A uva mais cultivada é a Malbec a variedade insigne da
Argentina. Mas também se obtêm vinhos muito bons de outras variedades tintas,
entre as quais a Cabernet Sauvignon, a Merlot, a Pinot Noir, a Bonarda e a
Syrah. Nos últimos anos, a Bonarda é a variedade que parece ter mais potencial,
com excelentes resultados.
A água de irrigação provém, principalmente, do degelo da
Cordilheira dos Andes. Sendo uma água cristalina, pura e rica em minerais.
Lujan de Cuyo, com seu clima quente e seco, sua latitude, altitude e amplitude
térmica durante o dia, permite elaborar vinhos de grande corpo. Com níveis de
álcool marcados e sabores frutais delicados e intensos, que seduzem amplamente
o apreciador.
O departamento de Lujan de Cuyo foi instituído em 11 de maio
de 1855 sob o nome de Villa de Lujan, durante o governo do General Pedro
Pascual Segura, e o município foi criado em 1872. A região é conhecida como a
primeira zona dos vinhos argentinos.
Essa denominação não é casual e surgiu do prestígio alcançado
por seus vinhos e por possuir a primeira DOC (Denominação de Origem Controlada)
da Argentina, desde 2005. Lujan de Cuyo dividiu-se em sub-regiões. Algumas
delas já são reconhecidas pelos consumidores em função da qualidade
indiscutível de seus vinhos, como por exemplo, Agrelo, Vistalba, Las Compuertas
ou Perdriel, entre outras.
E agora finalmente o vinho!
Na taça entrega um vermelho rubi intenso, vívido, brilhante,
mas com entornos violáceos, com lágrimas grossas e em média quantidade, que
marcam o copo.
No nariz aromas que mostram a vivacidade das frutas vermelhas
bem maduras, com notas evidentes da madeira, couro e tabaco, graças aos 12
meses de passagem por barricas de carvalho além de especiarias, com destaque
para a pimenta, pimentão verde.
Na boca é seco, traz média estrutura, com bom volume
corroborando pelo álcool em evidência, mas sem incomodar e/ou ameaçar o
equilíbrio do vinho. Equilíbrio é a tônica do vinho, pois a fruta vermelha
madura está em plena sinergia com a madeira que evidente, aporta toques de
caramelo, café, torrefação e chocolate. Tem taninos marcados, mas redondos, com
acidez média e um bom final.
Mais uma vez, independente de suas micro regiões e micro
terroirs, Mendoza sempre entrega prazer, deleite para as nossas experiências
sensoriais. Por mais óbvia que seja Mendoza ainda é maravilhosa na produção de
grandes vinhos nas suas mais diversas características e propostas e óbvio fica,
claro, na massificação da região, por chegar em profusão nas terras
brasileiras. Capitán Tomás Reserva é encorpado, marcante, tem o caráter
mendocino, mas é frutado, saboroso, fácil de degustar. Tem 14% de teor
alcoólico.
Ah vale a curiosidade! Por que o nome do vinho é “Capitán
Tomás”? O Capitão Tomás ou Thomas Taylor foi um marinheiro americano que serviu
no exército revolucionário argentino de Buenos Aires em 1811.
Sobre a Viña Las Perdices:
Em 1952, Juan Muñoz López decidiu deixar sua cidade natal,
Andalucia, no sul da Espanha, e ele e sua família emigraram para Mendoza, na
Argentina, a fim de buscar novos horizontes.
Em seguida, já em solo argentino, não pôde deixar de notar as
perdizes que vagavam pela terra. Com efeito, um vizinho disse a ele que essas
aves geralmente são vistas em grupos de três.
Assim sendo, com o passar dos dias, as perdizes se tornaram
as companheiras constantes de Don Juan em seus longos dias de trabalho. Assim,
ele decidiu nomear sua vinícola Partridge Vineyard: “Viña las Perdices”.
A adega hoje é uma operação familiar criada por Juan Muñoz
López, sua esposa Rosario, seus filhos Nicolas e Carlos e sua filha Estela.
A vinícola, assim, se localiza no sopé da Cordilheira dos
Andes a 1.030 metros acima do nível do mar, em Agrelo, Luján de Cuyo – a
primeira zona DOC (denominação de origem controlada) argentina. Do mesmo modo,
as uvas são provenientes de duas de suas vinhas em Agrelo em Lujan de Cuyo e
Barancas em Maipu.
Por fim, hoje Las Perdices continua a ser uma vinícola de
pequena produção e com um espírito entusiasmado em apresentar os vinhos finos
de Mendoza.
Mais informações acesse:
https://www.lasperdices.com/index.php
Referências:
“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2014/06/agrelo-lujan-de-cuyo-mendonza/
“Premium Vinhos”: http://premiumvinhos.com.br/_regiao_olha.php?reg=41
“Artwine”: https://www.artwine.com.br/artigos-e-reportagens/384/mendoza-e-suas-subzonas-a-terra-de-malbec
Nenhum comentário:
Postar um comentário