quarta-feira, 4 de maio de 2022

Capitán Tomás Reserva Malbec e Cabernet Franc 2018

 

Não é apenas de varietais que tenho vivido algumas gratas e animadas surpresas, mas também de alguns cortes, alguns blends muito inusitados e confesso que também é fantástico, sobretudo aqueles assemblages com poucas castas e que tenham percentuais bem próximos umas das outras, pois, a meu ver, conseguimos captar, sentir, perceber as nuances, as características das variedades envolvidas.

E esse rótulo cujo blend me trouxe a novidade que me refiro vem da emblemática e tradicional região argentina de Mendoza e o produtor também tem me atraído o interesse, pois tenho visto em alguns lugares a oferta de seus rótulos e em profusão, diga-se de passagem.

O produtor que me refiro é a vinícola Las Perdices e o blend é o composto pelas castas Malbec e Cabernet Franc. Como de costume falo da história dos produtores ao término deste texto, mas de antemão digo que a Las Perdices vem ganhando mercado, a aceitação dos brasileiros, com vendas satisfatórias e rótulos expostos em redes sociais com linhas comentadas e muito elogiadas pelos enófilos.

Tanto que recentemente degustei o Partridge Reserva Cabernet Sauvignon da safra 2019 e tive ótima impressão do vinho que demonstrou caráter, expressividade e, para quem aprecia as notas amadeiradas, ele é indicado, mas em pleno equilíbrio com as características marcantes da Cabernet Sauvignon.

Mas inusitado também é o blend: Um corte de Malbec e Cabernet Franc é no mínimo uma ode à complexidade. A Malbec, famosa nas terras argentinas, traz a fruta, a estrutura e a Cabernet Franc, a maciez, a elegância e a personalidade. A primeira é tradicional e a segunda vem sendo produzida com qualidade, ganhando literalmente terreno na Argentina. Lembrando que, falando em inusitado, degustei um espanhol com esse mesmo corte, por incrível que pareça chamado Palacio de Treto da safra 2011!

Então sem mais delongas vamos às apresentações do vinho! O vinho que degustei e gostei veio da região de Mendoza, na Argentina, e se chama Capitán Tomás Reserva com o blend das variedades Malbec e Cabernet Franc da safra 2018. E por mais que seja óbvia a origem dos vinhos de Argentina, em Mendoza, convém falar de suas micro-regiões, das suas sub-regiões que entregam diversidade em suas características geográficas, culturais e tudo o mais. O Capitán Tomás Reserva é oriundo da sub-região de Agrelo, que fica em Luján de Cuyo, em Mendoza.

Por mais que possa parecer óbvio falar de Mendoza, convém, entretanto, falar um pouco da história de Agrelo, Luján de Cuyo, cujas uvas foram cultivadas a 1000 metros de altitude. 

Agrelo, Luján de Cuyo, Mendoza

A região de Agrelo é parte do departamento de Luján de Cuyo, Mendoza. Por tradição ali se plantaram sempre uvas rosadas, principalmente a Criolla Grande, utilizada na produção de vinhos simples e suco de uva. Recentemente foram implantados vinhedos de qualidade, principalmente de Malbec e Chardonnay, e modernas técnicas de viticultura e vinicultura deram origem a vinhos de qualidade que demonstram o potencial da região.

A Malbec amadurece pacificamente sob o sol de Agrelo. "Geralmente, a Malbec de Agrelo tem rendimentos entre baixos e médios e produz uvas de cor intensa e maturação muito boa, valores transferidos para o vinho, juntamente com aromas de frutas negras.

A uva mais cultivada é a Malbec a variedade insigne da Argentina. Mas também se obtêm vinhos muito bons de outras variedades tintas, entre as quais a Cabernet Sauvignon, a Merlot, a Pinot Noir, a Bonarda e a Syrah. Nos últimos anos, a Bonarda é a variedade que parece ter mais potencial, com excelentes resultados.

A água de irrigação provém, principalmente, do degelo da Cordilheira dos Andes. Sendo uma água cristalina, pura e rica em minerais. Lujan de Cuyo, com seu clima quente e seco, sua latitude, altitude e amplitude térmica durante o dia, permite elaborar vinhos de grande corpo. Com níveis de álcool marcados e sabores frutais delicados e intensos, que seduzem amplamente o apreciador.

O departamento de Lujan de Cuyo foi instituído em 11 de maio de 1855 sob o nome de Villa de Lujan, durante o governo do General Pedro Pascual Segura, e o município foi criado em 1872. A região é conhecida como a primeira zona dos vinhos argentinos.

Essa denominação não é casual e surgiu do prestígio alcançado por seus vinhos e por possuir a primeira DOC (Denominação de Origem Controlada) da Argentina, desde 2005. Lujan de Cuyo dividiu-se em sub-regiões. Algumas delas já são reconhecidas pelos consumidores em função da qualidade indiscutível de seus vinhos, como por exemplo, Agrelo, Vistalba, Las Compuertas ou Perdriel, entre outras.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi intenso, vívido, brilhante, mas com entornos violáceos, com lágrimas grossas e em média quantidade, que marcam o copo.

No nariz aromas que mostram a vivacidade das frutas vermelhas bem maduras, com notas evidentes da madeira, couro e tabaco, graças aos 12 meses de passagem por barricas de carvalho além de especiarias, com destaque para a pimenta, pimentão verde.

Na boca é seco, traz média estrutura, com bom volume corroborando pelo álcool em evidência, mas sem incomodar e/ou ameaçar o equilíbrio do vinho. Equilíbrio é a tônica do vinho, pois a fruta vermelha madura está em plena sinergia com a madeira que evidente, aporta toques de caramelo, café, torrefação e chocolate. Tem taninos marcados, mas redondos, com acidez média e um bom final.

Mais uma vez, independente de suas micro regiões e micro terroirs, Mendoza sempre entrega prazer, deleite para as nossas experiências sensoriais. Por mais óbvia que seja Mendoza ainda é maravilhosa na produção de grandes vinhos nas suas mais diversas características e propostas e óbvio fica, claro, na massificação da região, por chegar em profusão nas terras brasileiras. Capitán Tomás Reserva é encorpado, marcante, tem o caráter mendocino, mas é frutado, saboroso, fácil de degustar. Tem 14% de teor alcoólico.

Ah vale a curiosidade! Por que o nome do vinho é “Capitán Tomás”? O Capitão Tomás ou Thomas Taylor foi um marinheiro americano que serviu no exército revolucionário argentino de Buenos Aires em 1811.

Sobre a Viña Las Perdices:

Em 1952, Juan Muñoz López decidiu deixar sua cidade natal, Andalucia, no sul da Espanha, e ele e sua família emigraram para Mendoza, na Argentina, a fim de buscar novos horizontes.

Em seguida, já em solo argentino, não pôde deixar de notar as perdizes que vagavam pela terra. Com efeito, um vizinho disse a ele que essas aves geralmente são vistas em grupos de três.

Assim sendo, com o passar dos dias, as perdizes se tornaram as companheiras constantes de Don Juan em seus longos dias de trabalho. Assim, ele decidiu nomear sua vinícola Partridge Vineyard: “Viña las Perdices”.

A adega hoje é uma operação familiar criada por Juan Muñoz López, sua esposa Rosario, seus filhos Nicolas e Carlos e sua filha Estela.

A vinícola, assim, se localiza no sopé da Cordilheira dos Andes a 1.030 metros acima do nível do mar, em Agrelo, Luján de Cuyo – a primeira zona DOC (denominação de origem controlada) argentina. Do mesmo modo, as uvas são provenientes de duas de suas vinhas em Agrelo em Lujan de Cuyo e Barancas em Maipu.

Por fim, hoje Las Perdices continua a ser uma vinícola de pequena produção e com um espírito entusiasmado em apresentar os vinhos finos de Mendoza.

Mais informações acesse:

https://www.lasperdices.com/index.php

Referências:

“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2014/06/agrelo-lujan-de-cuyo-mendonza/

“Premium Vinhos”: http://premiumvinhos.com.br/_regiao_olha.php?reg=41

“Artwine”: https://www.artwine.com.br/artigos-e-reportagens/384/mendoza-e-suas-subzonas-a-terra-de-malbec

 

 

 





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