segunda-feira, 9 de maio de 2022

Frank Tempranillo Rosé 2019

 

Têm castas que já faz parte da nossa vida de enófilo! Aquelas que, apesar de manjadas, tem tradição, se estão nas mentes e taças de muita gente são porque tem história, imponência e respeitabilidade, até aí não é, pelo menos para mim, novidade.

Mas ainda assim, mesmo que com essas castas já tão conhecidas e respeitadas no universo do vinho, são capazes de trazer gratas novidades, experiências surpreendentes.

E hoje, particularmente hoje, as grandes surpresas e experiências sensoriais tomaram de assalto as minhas percepções e sentimentos acerca dessa casta que tenho tanto apreço, tanto carinho e que me entregou momentos sublimes. Falo da Tempranillo.

Tempranillo, como todos são capazes de saber, ganhou prestígio na Espanha, mas ela dá o seu ar da graça em Portugal e recebe outros nomes como Aragonez, no Alentejo e Tinta Roriz no Douro.

Porém mesmo degustando vinhos especiais, sobretudo os espanhóis, da Tempranillo, ainda há espaço para, como disse, novidades, mesmo sendo, para muitos, algo, diria, banal. Mas é aquilo, todo grande momento novo tem de ser vivido plenamente.

E vou contar uma história para ilustrar esse momento de novidade! Sempre quis degustar um Tempranillo rosé, desde que conheci e fiquei sabendo que se faziam Tempranillos no “formato” rosé. Então, por um momento de minha vida, decidi garimpar, buscar rótulos rosés da variedade.

Acessei sites de lojas especializadas, procurei em supermercados, queria degustar um a qualquer custo. Vi alguns rótulos em alguns sites, mas a proposta não estava em consonância com os valores praticados e quando achei um em supermercado famoso em minha região, fiquei receoso em compra-lo. Queria que esse momento fosse especial!

Por um momento dessa trajetória eu desisti de procurar. Mas quando o amigo Luciano, da loja Pemarcano Vinhos, me disse que mandaria, tão gentilmente, tão carinhosamente, alguns rótulos de cortesia, um deles era um Tempranillo rosé! Quando não procurei ele veio até a mim!

E melhor: um Tempranillo rosé brasileiro e melhor ainda: um Tempranillo rosé brasileiro e da região paulista de São Roque. São Roque está figurando de forma intensa e maravilhosa em minhas taças e, mais uma vez, a experiência retomaria com essa tradicional região brasileira de produção de vinhos.

Então sem mais delongas vamos às apresentações do vinho que degustei e gostei que veio, claro, de São Roque e se chama Frank, um rosé da casta Tempranillo da safra 2019. E para a minha alegria eu já havia degustado o Frank Tempranillo 2020 tinto e a experiência foi ótima! Antes de falar do vinho vamos à história de São Roque e a sua importância para a viticultura brasileira.

São Roque: a “terra do vinho”

A cidade de São Roque foi fundada no dia 16 de agosto de 1657, mas começou como uma grande fazenda do capitão paulista Pedro Vaz de Barros, que pertencia a uma família de bandeirantes e sertanistas. Vaz de Barros também participou de diversas Bandeiras. O fundador da cidade, também conhecido como Vaz Guaçú, contava com aproximadamente 1.200 índios que trabalhavam em suas terras, onde eram cultivados trigo e uva. Alguns anos após a morte de Vaz de Barros, seu irmão, Fernão Paes de Barros, se estabeleceu na mesma região, onde construiu uma casa e uma capela, que foram restauradas em 1945 pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a pedido do escritor Mário de Andrade, dono da propriedade.

Na região de São Roque, podem-se identificar referências à vitivinicultura desde a sua fundação, por volta do final do século XVII. Conforme informações encontradas e divulgadas pelos moradores da cidade, através da tradição oral, ou mesmo citado pelo Professor Joaquim Silveira dos Santos em seu artigo para a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, volume XXXVII, nessa época toda a região pertencia a apenas três grandes proprietários de terras: Pedro Vaz de Barros, seu irmão Fernão Paes de Barros e o padre Guilherme Pompeu de Almeida, sendo que Pedro Vaz (tido como o fundador da cidade) se estabeleceu próximo da atual igreja Matriz, seu irmão mais ao norte, onde até hoje ainda se encontra a casa grande e capela Santo Antônio, e por fim a fazenda do padre Guilherme Pompeu se encontrava na hoje atual cidade de Araçariguama que faz divisa com Santana do Parnaíba.

Portanto realmente não se podem esperar grandes referências desse período da história, afinal o Brasil era apenas uma colônia e que existiam restrições da fabricação de qualquer tipo de produto em nosso solo, ou seja, em tese tudo deveria vir de Portugal, inclusive o vinho.

Outro fator que pode ter influenciado e não ter feito prosperar o cultivo da videira seria a prioridade da época de então, que era a descoberta de ouro, principalmente na região das Minas Gerais. Sabemos que São Paulo até então era somente um vilarejo sem grande importância econômica para a metrópole portuguesa, e se bem analisarmos a história da agricultura brasileira a uva e o vinho nunca foram tidos como principal interesse por parte de nossos colonizadores.

Após um período difícil, o povoado originado por Pedro Vaz foi elevado à categoria de Freguesia no dia 15 de agosto de 1768, recebendo o nome de São Roque do Carambeí. No dia 10 de julho de 1832, a Freguesia foi elevada à categoria de vila, mas o progresso do local só começou em 1838, quando começaram as lavouras de milho, algodão, arroz, mandioca e farinha de mandioca, cana de açúcar e derivados, legumes e verduras. Em março de 1846, seis anos após instalar-se na vila o destacamento da Guarda Nacional, Dom Pedro II e uma pequena comitiva permaneceram um dia na cidade de São Roque. Com a passagem de Dom Pedro II, Antônio Joaquim começou a se destacar no cenário político e, graças ao morador ilustre, São Roque foi elevada à categoria de cidade no dia 22 de abril de 1864.

Após esse longo período de estagnação, o primeiro registro oficial de plantação de uvas na região de São Roque se dá por volta de 1865, quando o Doutor Eusébio Stevaux inicia uma pequena plantação na sua fazenda em Pantojo. Pela mesma época, um colono italiano adquire uma pequena propriedade no bairro de Setúbal, alguns anos mais tarde um português na terra do então Sítio Samambaia forma um razoável vinhedo e inicia o processo de fabricação do vinho.

Dr. Eusébio Stevaux

Já em 1875 foi inaugurada a Estrada de Ferro Sorocabana, que ligou a cidade de São Paulo a São Roque e Sorocaba. Após alguns anos, em 1884, começou a grande chegada de imigrantes à cidade, fazendo com que as vinícolas aparecessem novamente e ganhassem força nos anos seguintes. Em 1924, a cidade já contava com 17.300 habitantes e foram produzidos 10 mil litros de vinho a cada ano, tendo doze produtores de vinhos, sendo cinco deles italianos.

O que possibilitou o retorno da cultura da uva e fabricação do vinho foi a importação de videiras oriundas dos Estados Unidos, pois estas eram mais resistentes ao clima brasileiro. Dentre as principais videiras trazidas estão inicialmente a “Izabel”, a “Seibel 2” (importada da França), curiosamente trazida por imigrantes italianos que se instalaram na região e posteriormente a “Niágara Branca”, oriunda da região do Alabama, EUA.

Portanto, a divisão do período da cultura vinícola de São Roque, desde a fundação da cidade até a época atual em quatro fases distintas:

1ª fase: 1657 – 1880: importação de videiras portuguesas, plantações domiciliares, sem qualquer cunho comercial, ou seja, somente para consumo próprio.

2ª fase: 1880 – 1900: Retomada da viticultura são-roquense, ainda que amadora, quase que familiar, continua voltada basicamente para o consumo e pequeno varejo. Já apresenta uma tendência a profissionalização graças às técnicas trazidas pelos imigrantes italianos e portugueses. Já se utiliza da videira americana que melhor se adaptou ao clima tropical brasileiro (talvez seja este um dos principais fatores de sucesso do cultivo da uva na região de São Roque);

3ª fase 1900 – até aproximadamente final da década de 1950: processo de industrialização e profissionalização da produção do vinho com aplicações de técnicas mais modernas permitindo assim obter resultados e desempenho melhores.

Podemos dividir esta fase primeiramente num período de início do processo de profissionalização e logo após (a partir da década de 1920), o período em que realmente a região investiu e desenvolveu as técnicas vinicultoras, durando até aproximadamente a década de 1950, onde após a massificação da produção entra num processo de decadência.

4ª fase década de 1960 – atual: esta fase engloba o processo de decadência da viticultura são-roquense. Por motivos econômicos e climáticos e até mesmo por falta de investimentos em pesquisas, que se reduziram sensivelmente tanto a qualidade como a quantidade de vinho produzido, levando ao fechamento de diversas adegas (isso principalmente a partir da década de 1980). São Roque permanecendo hoje somente com o título de “terra do vinho”, sendo que os poucos fabricantes que restaram (aproximadamente treze adegas) fabricam seu vinho não de uvas nativas de São Roque, mas sim oriundas de outras partes do Estado ou mesmo de outros estados (exemplo: Rio Grande do Sul).

Há atualmente um movimento para tentar a reversão dessa situação, porém continua bem modesto em relação a todo o histórico e números do passado no ápice do cultivo da videira em São Roque.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um lindo rosado com alguma intensidade, tendendo para o escuro, como uma casca da cebola, mas muito brilhante.

No nariz explodem os aromas de frutas vermelhas frescas, frutas compotadas, que se destacam morango e framboesa, com um delicado floral, de flores vermelhas.

Na boca reproduzem-se as impressões olfativas, com muita fruta, sendo leve, fresco e despretensioso, com algum volume, acidez equilibrada, correta e um curioso toque de especiarias doces. Final médio com retrogosto frutado.

A experiência que, para muitos, pode ser taxada de banal, para mim foi única, incrível, especial. Degustar meu primeiro Tempranillo Rosé foi maravilhoso! Um vinho frutado, alegre, descompromissado, fresco, leve, com uma acidez ótima, mas com um toque marcante, de alguma personalidade, como deve ser a velha e eterna Tempranillo. E que os grandes momentos, por mais simples que sejam, aconteçam, porque são nobres, porque da simplicidade vem a nobreza. Tem 12% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Frank:

Tudo começou há 97 anos com seu pai o Sr. Roque de Oliveira Santos que passou todas as suas experiências e habilidades para o Sr. Frank Vicente dos Santos.

No sitio da sua família deu continuidade no parreiral e no cultivo de uvas e se especializou na vitivinicultura que hoje conta com uma experiência de mais de 60 anos.

Casou-se com a Sra. Ferdinanda, uma imigrante italiana que veio para o Brasil na segunda guerra mundial e teve duas filhas onde tocam seus negócios até hoje.

Em 1965 fundou a marca que levaria seu nome, conhecida por VINHOS FRANK, que com muito trabalho, dedicação e amor tornou-se uma marca muito conhecida em todo Brasil por manter suas qualidades desde o primeiro litro de vinho até hoje.

Hoje a marca conta com 07 linhas de produtos, são elas: Tradicional, Bordô, varietais, frisante, espumante, cooler e suco de uva.

Toda sua produção continua sendo supervisionada e orientada pelo Sr. Frank que hoje tem 95 anos de vida e toma seu vinho todos os dias.

A marca "Vinhos Frank” nos meados de 1990 inaugurou seu restaurante que está sendo um dos principais atrativos, contando com um ótimo cardápio, com muitas variedades de pratos, sendo harmonizados com a linha de vinhos FRANK.

Mais informações acesse:

https://www.vinhosfrank.com/

Referências:

“Assembleia Legislativa de São Paulo”: https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=301135

“Blog do Lullão”: http://www.lullao.com/p/historia-do-vinho-em-sao-roque.html?m=1

“Sites Google”: https://sites.google.com/site/historiadovinhodesaoroque/home/historia-do-vinho-de-sao-roque

 

 






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