Eu estou me reencontrando com o vinho brasileiro! Uma espécie
de reconexão ou talvez uma conexão com contornos de novidades mescladas a
revelações. Talvez eu não esteja sendo muito claro e girando em devaneios, mas
com uma explicação mais calcado em dados concretos, certamente me farei
compreender.
O vinho brasileiro foi de suma importância para o meu começo,
a minha imersão no universo do vinho! Os meus primeiros rótulos de uvas vitis,
as uvas finas, foram brasileiros!
Não posso deixar de negligenciar os vinhos da Miolo, Almadén,
antes de se associar ao Grupo Miolo, aos vinhos do Rio Sol entre tantos outros
que ajudaram a edificar a minha percepção e amor pela poesia líquida. Mas
conforme os anos passando e também com novas descobertas, sobretudo de outros
países, eu fui perdendo a conexão com os vinhos brasileiros e passaram a
figurar menos na minha adega.
Não era litígio, não era ojeriza, não era medo, preconceito
com os vinhos brasileiros, não tinha um motivo forte dessa separação. Não sei
dizer o motivo pelo qual essa separação se deu: Um mero distanciamento por
conta de novas descobertas e a incapacidade de minha parte em saber
diversificar a adega no que tange a castas, propostas e países. Essa é uma
forte possibilidade!
Tão forte que, curiosamente, hoje uma das minhas intenções e
esforços está se concentrando exatamente na diversidade e, por incrível que
pareça, os vinhos brasileiros estão trafegando e se estabelecendo de forma
definitiva em minha adega. E junto com essa diversidade vem também o crescimento
vertiginoso da qualidade, da tipicidade dos vinhos brasileiros, apesar dos
entraves governamentais e burocráticos que assola o mercado do vinho.
E algumas descobertas, de novos produtores, abnegados e que
produzem vinhos de autor, de caráter, de expressividade, vem me tomando de
assalto, me arrebatando de uma forma incrível, jamais imaginada. Falo da
Vinícola Peruzzo que vem produzindo ótimos vinhos na também grandiosa região da
Campanha Gaúcha, no Rio Grande do Sul. A Campanha vem crescendo vertiginosamente
e fatores como esses está trazendo de volta às minhas taças o vinho brasileiro.
E não foi apenas isso que a Peruzzo, entre outras vinícolas
brasileiras, estão me cativando. É a capacidade de produzir vinhos longevos, de
vocação de guarda! Sim! Quem esperaria que os vinhos brasileiros tivessem a
capacidade para tal? E o meu primeiro contato com a Peruzzo foi um Cabernet
Sauvignon da safra 2012 maravilhoso que degustei com 10 anos de safra e que
estava vivo, pleno e saboroso. Fiz uma resenha dele que pode ser lida aqui.
E diante disso, animado com os rótulos da Peruzzo, vi que
muitas pessoas compartilharam nas redes sociais outro rótulo importante da
vinícola também de safra com algum tempo de safra que decidi comprar e hoje
será o dia de desarrolhá-lo. O vinho que degustei e gostei veio da grande
Campanha Gaúcha, do Brasil, e se chama Peruzzo Cabernet Franc da safra 2013. E
com esse aquecimento do vinho brasileiro, não podemos deixar de falar da
Campanha Gaúcha e da sua história que reforça o seu atual status de um dos
grandes terroirs nacionais.
Campanha Gaúcha
Entre o encontro de rios como Rio Ibicuí e o Rio Quaraí,
forma-se o do Rio Uruguai, divisa entre o Brasil, Argentina e Uruguai. Parte da
Campanha Gaúcha também recebe corpo hídrico subterrâneo, o Aquífero Guarani
representa a segunda maior fonte de água doce subterrânea do planeta, dele
estando 157.600 km2 no Rio grande do Sul.
A Campanha Gaúcha se espalha também pelo Uruguai e pela
Argentina garante uma cumplicidade com os hermanos do outro lado do Rio
Uruguai. Os costumes se assemelham e os elementos locais emprestam rusticidade
original: o cabo de osso das facas, o couro nos tapetes, a tesoura de tosquia
que ganha novas utilidades.
No verão, entre os meses de dezembro a fevereiro, os dias
ficam com iluminação solar extensa, contendo praticamente 15 horas diárias de
insolação, o que colabora para a rápida maturação das uvas e também ajuda a
garantir uma elevada concentração de açúcar, fundamental para a produção de vinhos
finos de alta qualidade, complexos e intensos.
As condições climáticas são melhores que as da Serra Gaúcha e
tem-se avançado na produção de uvas europeias e vinhos de qualidade. Com o bom
clima local, o investimento em tecnologia e a vontade das empresas, a região
hoje já produz vinhos de grande qualidade que vêm surpreendendo a vinicultura
brasileira.
Há mais de 150 anos, antes mesmo da abolição da escravatura,
a fronteira Oeste do Rio Grande do Sul já produzia vinhos de mesa que eram
exportados para os países do Prata (Uruguai, Argentina e Paraguai) e vendidos
no Brasil.
A primeira vinícola registrada do Brasil ficava na Campanha
Gaúcha. Com paredes de barro e telhado de palha, fundada por José Marimon, a
vinícola J. Marimon & Filhos iniciou o plantio de seus vinhedos em 1882, na
Quinta do Seival, onde hoje fica o município de Candiota.
E o mais interessante é que, desde o início da elaboração de
vinhos na região, os vinhos da Campanha Gaúcha comprovam sua qualidade
recebendo medalha de ouro, conforme um artigo de fevereiro de 1923, do extinto
jornal Correio do Sul de Bagé.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um vermelho rubi intenso, quase escuro, porém
com entornos já atijolados, meio granada, graças aos nove anos de garrafa, com
lágrimas finas e médias.
No nariz traz a característica marcante de frutas vermelhas
bem maduras, com destaque para a ameixa, amora, cereja, morango, diria ainda
que traz um aroma compotado, como se fora um cesta com muitas frutas reunidas.
Tem um toque de especiarias, de ervas, algo de couro, terra, talvez.
Na boca é seco, equilibrado, elegante, macio, mas tem
estrutura média, com bom volume de boca, pelo álcool proeminente, mas bem
integrado ao conjunto do vinho, com taninos presentes, porém redondos, com uma
boa acidez, o que surpreende pelo tempo de safra. Tem um final médio e picante.
Definitivamente o vinho brasileiro retornou à minha vida de
enófilo e retornou em grande estilo, ganhou vida novamente em minhas taças e
não veio apenas compor adega ou espaço, mas com protagonismo, não por questões
ufanistas sem um olhar mais sensível, mas com qualidade, com a certeza de que
as regiões brasileiras aptas para a produção de vinhos, não é mera produtora,
mas que entrega a tipicidade do vinho brasileiro. Hoje posso dizer com certeza
e felicidade de que o vinho brasileiro tem a cara do vinho brasileiro e não
cópias de Chile e França. O Peruzzo Cabernet Franc trouxe essa máxima e também
de que o vinho brasileiro, mais do que nunca, produzem vinhos longevos, de
complexidade, de personalidade, mas que, ao mesmo tempo, é versátil, pois a
longevidade traz a experiência, a elegância. Assim é o Peruzzo Cabernet Franc.
Tem 13% de teor alcoólico.
Sobre a Vinícola Peruzzo:
Motivados por um desejo antigo de produzir vinhos, associado
com as oportunidades e perspectivas que a Região da Campanha oferece no mundo
dos vinhos, a família Peruzzo, com muito entusiasmo decidiu investir no cultivo
de uvas viníferas em sua propriedade localizada no município de Bagé/RS.
As primeiras videiras foram plantadas em 2003, provenientes
de mudas importadas de renomados viveiristas da França, Itália e Portugal. A
vinícola foi inaugurada em 2008, com um processo de elaboração que incorpora
modernas tecnologias.
Sua cave, localizada no subsolo da cantina, garante que os
espumantes e vinhos amadureçam sob temperaturas constantes próximas dos 18 a
20º C. Além da produção de Vinhos, a propriedade da família Peruzzo também se
dedica a criação de Ovinos e Bovinos.
Com muito entusiasmo, alegria e dedicação, a Vinícola Peruzzo
trabalha na arte de criar seus vinhos e espumantes para fazer parte de momentos
alegres, descontraídos, únicos e marcantes na vida de seus clientes.
Mais informações acesse:
https://www.vinicolaperuzzo.com.br/
Referências:
“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=CAMPANHA
“Vinhos da Campanha”: https://www.vinhosdacampanha.com.br/campanha-gaucha/
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