Arte, inspiração, poesia líquida etc. Alguns adjetivos
parecem personificar o vinho. Ambos se enlaçam em uma convergência, a
necessidade de um complementar o outro para entender, sentir as suas nuances,
evocar os seus terroirs. Assim costumo enxergar, perceber o vinho, mesmo que
por um aspecto lúdico.
Algumas vinícolas costumam imprimir essa filosofia aos seus
vinhos, que vai desde a vinificação até na concepção estética de seus rótulos,
por exemplo. É claro que traz todo um aspecto mercadológico por detrás dessa
concepção, afinal aliar um rótulo, uma linha de vinhos a esses quesitos pode
ser viável comercialmente, mas não é só a estética e o conceito, mas também
como método de vinificação.
Quando descobri uma vinícola de nome “Estampa” eu logo me lembrei,
ou melhor, associei à tecidos. Sim! Roupas, tecido, a arte de costurar roupas,
criar uma vestimenta a partir de fragmentos de tecidos.
E acredito que seja isso mesmo, pequenos fragmentos que
formam um todo! E “viajando” um pouco mais em seu site, com o intuito de buscar
respostas para o que percebi, no que tange às propostas dos vinhos, observei
que todos os vinhos do produtor ou que pelo menos estavam expostos no site, são
cortes, formados por blends.
Creio que aí está a resposta: pequenos tecidos, estampas que
juntas formam um todo, tendo como alicerce o terroir, as características das
regiões onde se encontram as vinhas. Embora traga algo meio “romantizado”, na
prática é perfeitamente concebível levando em conta a metodologia imposta pela
vinícola.
As variedades (castas) são vinificadas separadamente, são
vindimadas em datas distintas, tudo conspira para esse fato, para esta
observação. E cada detalhe como esses inspira, requer competência e
sensibilidade do enólogo que precisa para que o vinho entrega tipicidade,
entregue qualidade.
E com base nisso comprei um rótulo desse produtor que, além da inspiração, trouxe também o atrativo valor: na faixa dos R$58! E melhor: para um “Gran Reserva”! Decidi, claro, “assumir o risco” e comprar o rótulo.
Levei algum tempo para degusta-lo! Repousou calmamente na
adega por pelo menos dois ou três anos! E hoje, no auge dos 7 anos, mostrou-se
vivaz, pleno e altivo. O vinho que degustei e gostei veio da região chilena de
Marchigue DO, no emblemático Vale do Colchágua, e se chama Estampa Gran Reserva
com um corte das castas Carmènére (85%), Syrah (10%) e Cabernet Sauvignon (5%)
da safra 2016.
Castas que ganharam destaque no Chile e que estão juntas oferecendo um arrebatamento sensorial, uma salutar experiência que só os chilenos podem proporcionar. Mas antes de entrar nos pormenores do vinho, nada mais relevante do que aflar um pouco do Vale do Colchágua.
Vale do Colchágua
O Vale do Colchágua está localizado à aproximadamente 180 km de Santiago no centro do país, exatamente entre a Cordilheira dos Andes e o Pacífico. É cortado pelas águas do rio Tinguiririca, suas principais cidades são San Fernando e Santa Cruz, e possui algumas regiões de grande valor histórico e turístico como Chimbarongo, Lolol ou Pichilemu. Colchágua significa na língua indígena “lugar de pequenas lagunas”.
A fertilidade de suas terras, a pouca ocorrência de chuva e
constante variação de temperatura possibilita o cultivo de mais de 27 vinhas,
que, com o manejo certo nos grandes vinhedos da região e padrões elevados no
processo de produção, faz com que os vinhos produzidos no vale sejam conhecidos
internacionalmente, com alto conceito de qualidade.
Clima estável e seco (que evita as pragas), no verão, muito
sol e noites frias, solo alimentado pelo degelo dos Andes e pelos rios que
desaguam no Pacífico, o Vale de Colchágua é de fato um paraíso para o cultivo
de uvas tintas e produção de vinhos intensos.
Em Colchágua, predomina o clima temperado mediterrâneo, com
temperaturas entre 12ºC como mínima e 28ºC, máxima no verão e 12ºC e 4ºC, no
inverno. Com este clima estável é quase nenhuma variação de uma safra para a
outra; e a ausência de chuva possibilita um amadurecimento total dos vários
tipos de uvas cultivadas na região. Entre as principais variedades de uvas
presentes no Vale de Colchágua estão as tintas Cabernet Sauvignon, Merlot,
Carmenère, Syrah e Malbec, que representam grande parte da produção chilena.
O cultivo das variedades brancas, apesar de em plena
ascensão, ainda se dá de forma bastante reduzida se comparada às tintas; as
principais uvas brancas produzidas no vale são a Chardonnay e a Sauvignon
Blanc. Ambas as variedades resultam vinhos premiados e cultuados por
especialistas e amantes do vinho.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um intenso, quase negro, vermelho rubi, com
contornos granada e uma linda profusão de lágrimas grossas e lentas que
desenham as bordas do copo.
No nariz mostrou-se tímido no início, mas logo se revelou
frutado, frutas negras maduras, como ameixa preta, amora e cereja em total
sinergia com as perceptíveis notas amadeiradas, graças aos seus 14 meses em
barricas de carvalho, com toques levemente tostados, de baunilha, com
especiarias, com destaque para pimenta preta e um agradável herbáceo.
Na boca mostrou o destaque, entregando um vinho, aos sete
anos de garrafa, muito elegante, com as notas frutadas em convergência com a
madeira, replicando as impressões olfativas, mas ainda assim cheio, volumoso e
saboroso. O carvalho traz também um delicioso chocolate meio amargo e
torrefação. Os taninos estão macios e amáveis, com acidez discreta e uma
persistência longa com retrogosto tentador que investe em mais e mais taças.
O conceito, a filosofia, o método, o terroir, o vinho. Quando
costumamos falar da cultura de um povo que é expressada dentro de uma garrafa
de vinho, é exatamente nesse preceito que a Vinícola Estampa se baseia para
apresentar seus rótulos. Criação, inovação, inspiração enológica são nomes bem
pertinentes para personificar o trabalho da Estampa em seus belos vinhos. A
“versão” Gran Reserva, com a predominância da casta icônica do Chile,
Carmènére, é bem preponderante para a qualidade dos rótulos. Tem 14% de teor
alcoólico.
Sobre a Vinícola Estampa:
Há mais de um século, Don Manuel González Dieguez, imigrante
espanhol, comprou um moinho de trigo em Santiago, Chile, e nomeou-o, Estampa. O
moinho de grãos original ainda está em operação, mas a última geração de
descendentes de D. Manuel, a família González-Ortiz, iniciou uma nova expansão
do negócio. Construíram a primeira vinícola no Chile, dedicada aos vinhos de “Assemblage” e a nomearam Estampa,
mantendo a tradição familiar para honrar o avô, fundador da empresa.
A Viña Estampa foi fundada em 2001 pelo empresário e
visionário Miguel González Ortiz, que descende de uma família que há cem anos
dedica-se a indústria agroalimentar. Nascido no Chile, ele escolhe Palmilla, na
Rota do Vinho do Vale do Colchagua para estabelecer esse magnífico projeto
vitivinícola.
A arquitetura exuberante da sede já diz muito sobre a própria
essência da empresa que tem como características a inovação, ousadia e o primor
no que faz e produz nesse maravilhoso segmento do mundo dos vinhos. Tem
capacidade de produção de 700 mil garrafas ao ano, possui uma sala de barrica
com 700m2 e foram pioneiros na América Latina a utilizarem microvinificação com
Ânforas.
Possuem cerca de 400 hectares divididos em três terroirs do
Vale do Colchagua, Palmilha onde está a sua sede, e em Paredones e Marchigüe
onde foi uma das pioneiras em plantação de vinhas com microclimas tão
peculiares. Especializaram-se na produção de vinhos blends, e o que vemos é
diversidade de inúmeras castas plantadas em cada vinhedo.
Mais informações acesse:
Referências:
“Dayane Casal”: https://dayanecasal.com/vina-estampa-uma-expressao-do-espirito-de-inovacao-no-chile/
“Vinho Virtual”: https://www.vinhovirtual.com.br/vinicolas-1644-Estampa
“Clube dos
Vinhos”: “Clube dos Vinhos” em: https://www.clubedosvinhos.com.br/um-passeio-pelo-vale-do-colchagua/
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