Quando falamos em Tempranillo espanhol o que lembramos? O que
associamos? Os vinhos de personalidade forte, vinhos de estrutura média a
encorpada, com volume de boca, sobretudo representados por aqueles rótulos
amadeirados que ostentam, em seus rótulos, o “reserva”, “gran reserva” etc.
É praticamente impensado um Tempranillo jovem, leve, que
infelizmente é encarado, associado a vinhos inexpressivos, ruins, aqueles
vinhos de volume que são imprestáveis para a degustação.
Acredito que, com esses panoramas, tais vinhos podem ser
alvos fáceis de rejeição, haja vista que quem deseja degustar um legítimo
Tempranillo espanhol, não vá querer arriscar com os famosos baratinhos,
principalmente aqueles que gozam de uma vultosa conta bancária e que tem
condições de ter os Tempranillos complexos e barricados.
Entendo, mas não concordo. Poderíamos e até deveríamos buscar
fundamentações teóricas para explicar a discordância, mas prefiro explicar com
fatos e experiências concretas, embora as experiências sejam bem particulares.
Já tive alguns contatos com alguns Tempranillos mais básicos
da Espanha e boa parte deles, confesso, não corresponderam às minhas
expectativas, não tive uma boa impressão, mas um, em especial, me trouxe uma
satisfação, diria, arrebatadora. Pode parecer certo exagero de minha parte usar
termos como “arrebatador” ou “surpreendente”, mas é a mais legítima verdade,
pelo menos a minha verdade e o mínimo que posso fazer para comprovar é
recomendar. Então lá vai!
O vinho que degustei e gostei veio da região de Valência e se
chama Murviedro Coleccion da casta Tempranillo da safra 2015. E além das gratas
surpresas, tinha sido um dos meus primeiros contatos, um dos meus primeiros
rótulos da Bodegas Murviedro, um excelente produtor cuja experiência
excepcional inaugural que tive foi com o Murviedro Coleccion Peti Verdot safra 2015. E antes de falar do vinho, falemos um pouco da história da
região do vinho: Valência.
Valência
A produção de vinho no norte da região de Valencia – escrito
València na língua local, e também conhecida pelos espanhóis como Levante ou
Valenciano – é dominada por antigas áreas de plantações ao redor de Valencia, a
terceira maior cidade da Espanha.
Situada no interior da província de Valencia, na zona mais
interiorana de Vall d´Albaida, a 80 quilômetros do Mar Mediterrâneo, e com uma
altitude média de 600 metros sobre o nível do mar. Esta região do interior do
Levante Valenciano possui um clima continental muito especial. Com invernos
frios e verões cálidos que se suavizam com o vento que atravessa todo o Vall
d´Albaida desde o Mediterrâneo, refrescando todo o vale, e criando assim um
microclima ótimo para a viticultura.
Valência é uma região que produz vinhos há milhares de anos,
segundo arqueólogos. E que, desde 1957, é oficialmente reconhecida e regulada
por um conselho constituído formalmente.
Apesar de Valência está na costa leste da Espanha, virada
para o Mediterrâneo, poucos vinhedos estão próximos do mar. A maior parte dos
vinhedos sofrem influências de clima continental, estando mais próximas do
interior.
Na teoria, e segundo a legislação local, cultivadores de
Valência podem escolher entre uma longa lista de variedades de uvas
autorizadas. Na prática, a maioria prefere plantar as castas Merseguera,
Malvasia, Tempranillo, Monastrell e Moscatel. Mas há produtores que produzem
outras castas como Bobal, Forcallat, Mandó, as francesas Cabernet Sauvignon,
Merlot, Syrah, Pinot Noir, entre as tintas e as brancas são Macabeo ou Viúra,
Pedro Ximenez, Tortosina, Verdil, Sauvignon Blanc e Chardonnay. Os tintos
oferecem jovialidade, são muito aromáticos e apresentam um equilíbrio de
acidez, maciez e tanicidade, já os brancos oferecem vinhos perfumados,
brilhantes e transparentes e os rosés frutados e agradáveis. Vale lembrar que,
para a minha alegria, eu degustei um surpreendente e maravilhoso Petit Verdot
da igualmente maravilhosa Murviedro, da região de Valência, onde fiz uma
resenha que pode ser lida aqui.
São 4 as sub regiões valencianas ou sub regiões da
denominação valenciana:
ü Alto Turia: com solos arenosos e alta
altitudes, entre 700 e 1.100 metros, onde destacam-se os brancos frescos,
frutados e aromáticos, produzidos principalmente com as castas Merseguera e
Macabeo;
ü Valentino: a maior das sub regiões,
na parte central de Valência, onde a diversidade de solos e climas reflete-se,
também, em variedade de vinhos, tanto tintos como brancos;
ü Moscatel de Valência: com baixas
altitudes e clima quente e ensolarado, oferece um dos vinhos mais conhecidos da
região, licoroso, sendo o mais representativo da história dessa denominação;
ü Clariano: subzona do sul da
província, na qual mais perto do mar destacam-se as variedades brancas e a
tinta Tintoreira, e o interior é reconhecido pelas tintas Monastrell, Cabernet
Sauvignon, Merlot e Tempranillo.
Atualmente são cerca de 50 milhões de garrafas de vinhos
valencianos, produzidas a cada ano. Mais de 80 vinícolas e quase 12.000
viticultores estão envolvidos no processo de produção desses vinhos. Suas
plantações ocupam 13.000 hectares de vinhedos. E os vinhos são exportados para
mais de 100 países, incluindo, felizmente, o Brasil, graças ao porto da cidade.
Um acordo formal permite que as bodegas de Valencia comprem vinho da região
vizinha Utiel-Requena.
E agora finalmente o vinho!
Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, brilhante, mas
com entornos violáceos e uma média quantidade de lágrimas finas e rápidas.
No nariz predomina o aroma de frutas vermelhas frescas, em
compota, onde se destacam a framboesa, cereja, morango, além de um delicado
toque floral com notas especiadas, algo talvez de pimenta, de ervas.
Na boca é seco, de estrutura leve para média, com a fruta
vermelha reproduzida como no aspecto olfativo, com taninos leves, maduros, com
uma ótima acidez, que faz do vinho vívido e fresco, com um final prolongado.
O Murviedro Colección Tempranillo pode ser “atípico” para
aquele vinho estruturado, potente e que “adora” uma barrica de carvalho,
sobretudo os oriundos da Espanha. Pode causar estranheza, rejeição logo de
cara, mas nunca podemos negligenciar antes de tentar, afinal, comprar vinhos é
aceitar certos riscos. Um vinho versátil e que harmoniza, por exemplo, com
carnes vermelhas, massas e refeições simples ou apenas sozinho em uma conversa
descontraída com bons amigos. Descontraído, informal é este vinho. Mesmo diante
de sua simplicidade consegue ser especial no que se propõe, entregando mais do
que esperava. Um belo vinho! Tem 12,5% de teor alcoólico.
Sobre a Bodega Murviedro:
A Bodegas Murviedro foi fundada em Valência em 1927, a
princípio como filial espanhola do Grupo Swiss Schenk, que cresceu e se tornou
uma das vinícolas mais importantes da região.
A Schenk España decide então, em 1931, concentrar as suas
atividades na adega de Valência, o que, localizado junto ao porto, significou o
início de um dos principais pilares da marca: a exportação.
Posteriormente, já em 2002, a empresa aproveita ao máximo as
comemorações do 75º aniversário ao mudar seu nome para ‘Bodegas Murviedro’ em
homenagem ao seu vinho Cavas Murviedro, uma das marcas de vinho mais
emblemáticas da Comunidade Valenciana, o que fez de Murviedro uma das vinícolas
mais renomadas.
A vinícola, desde que começou a sua atividade, sempre teve
acesso a uma ampla variedade de castas indígenas e internacionais e produzem um
amplo portfólio de estilos de vinho.
A filosofia da empresa baseia-se na combinação de modernas técnicas de vinificação com uvas de vinhas tradicionais para atender aos mais altos padrões internacionais de qualidade, mantendo seu caráter espanhol assim como a originalidade.
Mais informações acesse:
Referências:
“Cataimport”: https://cataimport.com/espanha/valencia/#
“Vinho Virtual”: https://vinhovirtual.com.br/regioes-123-Valencia
“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2016/08/valencia-espanha/
“Tintos & Tantos”: http://www.tintosetantos.com/index.php/denominando/755-valencia#:~:text=Uma%20regi%C3%A3o%20que%20produz%20vinhos,fato%2C%20est%C3%A3o%20pr%C3%B3ximos%20ao%20mar
Degustado em: 2018
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