sábado, 8 de maio de 2021

Putruele Extra Brut 2018

 

Costumo falar, até de forma demasiada, de que degustar vinhos é como se fora uma celebração. Celebrar a vida, aqueles que amamos e o próprio rótulo que está degustando após uma dedicada e esforçada escolha e garimpo. E o que costuma simbolizar esse momento de celebração é o brinde! O tilintar das taças traz o som da alegria, da degustação, do momento especial. E apesar de alguns modismos que vem e vão, a celebração e o clima festivo que gira em torno do vinho não perece, não se torna obsoleto.

E um rótulo que não costuma sair de moda nesses momentos é o bom espumante ou o velho e especial champanhe. E nós, como brasileiros, valorizamos, nesse momento, o nosso espumante que, ao longo dos anos, vem ganhando qualidade e notoriedade, conquistando inúmeros prêmios em todos os cantos do planeta, inclusive em polos de excelência de produção de vinhos, sobretudo na Europa. Então a escolha é certa! Um grande e necessário espumante brasileiro! Sim! Sim? Talvez... Nem sempre!

Mas por quê? Isso é um sacrilégio, como talvez? Espumante brasileiro é o que há de melhor, a escolha é certa e inevitável! Certa com certeza! O nosso espumante traz a certeza da escolha com a sua tipicidade, o valor do terroir nunca foi tão evidenciada ao longo desse tempo e o resultado são os prêmios ostentados, mas inevitável, nunca! Defendo que devemos valorizar o produto nacional, sem discursos ufanistas, e a escolha de nossos espumantes é mais do que certa, mas não devemos também negligenciar as bebidas de borbulha espalhadas pelo mundo afora.

E quando estava em mais uma das minhas incursões aos supermercados observei que um em especial, estava com algumas interessantes promoções para os espumantes. Logo me aproximei para conferir, na esperança de encontrar um rótulo tupiniquim. Quem sabe eu encontraria? Encontrei de fato alguns com preços muito atrativos, mas a esmagadora maioria eu já tinha degustado e fiquei, confesso um tanto quanto frustrado, até que, em um relance, avistei um rótulo que já tinha visto neste mesmo mercado por um valor alto, mas estava na faixa dos R$ 30,00! Era um argentino! Um argentino? Rejeitei de início, mas decidi inspecioná-lo com mais detalhe, acessei o site do produtor naquele momento e gostei do que li. Resolvi compra-lo para ver o que ele poderia me oferecer.

O dia tão esperado para desarrolhá-lo enfim chegou. Recebi um querido amigo em minha casa e achei que o rótulo viria a calhar. E voilá! Estupendo vinho! Então o vinho que degustei e gostei veio de uma região na Argentina chamada San Juan, em Valle de Tulum, e se chama Putruele, um extra brut, produzido pelo método Charmat com um corte das castas Chardonnay e Pinot Blanc, da safra 2018. E como apareceu uma nova região para mim, San Juan, não podemos deixar de falar um pouquinho sobre ela e a sua importância para o cenário vitícola argentino.

San Juan

Com uma população de mais de 600.000 habitantes e uma superfície de 89.651 km, a economia sanjuanina tem caráter eminentemente agrícola, eis que depende da presença de verdadeiros oásis ao pé da montanha, regada de rios e junto aos quais se concentra toda a população. A viticultura é a atividade agrícola mais importante dessa região, eis que os vinhedos estão localizados em diversos vales irrigados pelos rios Jáchal e San Juan. É a segunda província argentina em produção e suas zonas vinícolas mais importantes são: Valle de Tulum, Valle de Ullum-Zonda, Valle de Calingasta e Valle El Pedernal.

San Juan

A Região de San Juan é considerada o oásis na terra dos vizinhos argentinos, graças à produção farta e diferenciada. A região vitivinícola da Província de San Juan despontou recentemente (em relação a outras regiões) no mercado Argentino. Isso porque segue produzindo exemplares ímpares, que carregam em seus sabores e aromas. Seus vinhos surgem de um relevo montanhoso e de grande altitude, além das ricas condições climáticas da região. O Valle de San Juan localiza-se nos arredores da província de Mendoza, e sua capital homônima dista 1.255 km da capital argentina. Seus vinhedos estão estampados ao longo de quase 90.000 quilômetros, alcançando altitudes acima de 600 metros. Porém os vinhedos estão a diferentes altitudes, podendo ir desde 600 metros (próximo ao Vale de Tulum) até os 1.400 metros no que se estende ao Vale de Pedernal.

Principais cepas brancas: Chardonnay, Viognier, Torrontés Sanjuanino e Pinot Gris. Cepas tintas: Syrah, Cabernet Sauvignon, Bonarda, Cabernet Franc e Tannat. Nos últimos anos, essa província de um salto qualitativo principalmente na produção das uvas tintas. A aparição de algumas cepas com plena adaptação ao terroir local marca esse salto. Syrah, Cabernet Franc e Bonarda entregam bons varietais. Existe em San Juan um corte típico da Austrália: Cabernet Sauvignon e Syrah. Nos brancos, o destaque fica por conta da Viognier.

E agora finalmente o vinho!

Na taça conta com um amarelo palha, tendendo ao dourado, com muito brilho e limpidez, perlages finas e de média intensidade, além de uma incrível concentração de lágrimas finas, mas que logo se dissipam.

No nariz a explosão de frutas brancas e cítricas se torna evidente e agradável, além da presença da tosta e do fermento, graças ao estágio em leveduras de fermentação (sur lie) por 6 meses, mais 6 meses em garrafa em estiva de cava.

Na boca é seco, mas saboroso, fresco, com as notas frutadas com destaque para o abacaxi, maçã verde, pêssego e pera. Apresenta certa untuosidade, cremosidade, trazendo um bom volume de boca. Como no aspecto olfativo o fermento também está em destaque, mas sutil, mostrando elegância. Tem uma boa acidez e um final persistente e frutado.

Uma celebração à altura! À vida! E com grande estilo! Um espumante argentino com personalidade, graças ao seu curto envelhecimento nas leveduras ganhando untuosidade, expressividade, mas não perdendo o frescor, a leveza, a elegância que um bom espumante deve entregar, deve proporcionar. As taças represaram um verdadeiro néctar, mas que rompeu com o apelo das papilas gustativas que estava ávida por tê-la. A celebração não tem fronteiras e tão pouco país e bandeiras. Exploremos, façamos de nossas percepções e experiências sensoriais globalizadas, expandindo-as. Tem 12,4% de teor alcoólico.

Curiosidade

O que é envelhecimento em leveduras de fermentação? O Sur Lie!

Sur lie é um termo francês que significa “sobre as borras” e trata-se de uma técnica de amadurecimento muito utilizada em espumantes e vinhos brancos e que também pode ser explorada nos tintos. Após a fermentação, alguns enólogos optam por manter o vinho em contato com as borras finas, ou seja, as leveduras. Com o fim da fermentação, elas morrem e sofrem um processo chamado de autólise, que consiste em uma autodestruição espontânea. Essa decomposição da levedura libera diversos compostos como proteínas que, ao entrar em contato com o vinho, agregam elegância, maciez, estrutura, complexidade aromática e cremosidade (no caso dos espumantes).

Utilizadas em tanques ou barricas de carvalho, as borras naturalmente se depositam no fundo do recipiente, porém, é necessário agitar periodicamente esse sedimento, para proporcionar um contato com todo o vinho. Aqui entra a bâtonnage que é, justamente, essa ação de proporcionar movimento. A frequência da bâtonnage, assim como o tempo em que o vinho permanece em contato com as borras, é determinada pelo enólogo e pode variar de acordo com o seu objetivo. Quanto mais tempo o vinho permanecer em contato com as borras, maior será o grau de complexidade do exemplar. O começo dessa técnica de amadurecimento é incerto, mas há indícios de que tenha surgido na Borgonha, França, com a uva Chardonnay. Existem também alguns relatos sobre um historiador romano de nome Cato, que comparou as diferenças de aromas e sabores de vinhos submetidos (e não) ao contato com as borras finas.

Sobre a Bodega Putruele:

Don Carlos Putruele, filho de imigrantes italianos, radicou-se em San Juan de la Frontera nos anos 50, dedicando-se à viticultura. Com produção própria, a vinícola foi fundada em 1958 no Vale de Tulum; com um crescimento constante na produção de uvas e vinhos.

Em 1950 foram feitas as primeiras plantações de uvas onde a Vinícola Putruele está atualmente localizada na cidade de San Martín, San Juan. Funcionava como um transportador comum de vinho. Nos anos 1970 a produção é ampliada e novos vinhedos começam a se desenvolver em fazendas como Angaco e Santa Lucía, ambas de propriedade da empresa. A grande virada começou em 1980 quando foram plantados vinhedos de uvas finas com vistas ao seu próprio parcelamento.

Em 1997 foi incorporada a primeira máquina de fracionamento de garrafas. Desde então, a vinícola vem se renovando constantemente e incorporando a mais avançada tecnologia para a produção de vinhos finos, a fim de melhorar continuamente a qualidade de seus produtos. Tanques de aço inoxidável são adquiridos para um volume total de 1.500.000 litros de vinho. Estas com capacidades de 10, 15, 25, 30 e até 60 mil litros cada.

A vinícola agregou recentemente às suas instalações a mais avançada tecnologia de espumante da província, com o objetivo de promove-los em seu já diversificado portfólio. Atualmente possui todo o equipamento para a elaboração do mesmo.

Hoje a família Putruele continua o trabalho de crescimento, aprimorando-se constantemente em busca da excelência, promovendo as exportações e desenvolvendo produtos de alto padrão.

Mais informações acesse:

http://www.bodegaputruele.com/inicio.html

Referências:

“Site Wine”: https://www.wine.com.br/winepedia/sommelier-wine/sur-lie-e-batonnage/#:~:text=Sur%20lie%20%C3%A9%20um%20termo,%2C%20ou%20seja%2C%20as%20leveduras.

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/233-a-regiao-de-san-juan-um-oasis-argentino

“Blog do Jeriel”: https://blogdojeriel.com.br/2011/11/18/o-vale-de-san-juan-argentina/


 


 


terça-feira, 4 de maio de 2021

Traversa Merlot 2019

 

Atualmente o cenário para os enófilos brasileiros é desanimador. Desanimador no que tange aos preços que sobem de uma forma abusiva e, em alguns momentos, de maneira injustificável. Mas o custo Brasil é deveras alto e a carga tributária que incide sobre o mercado da bebida de Baco é devastador. Políticas para alavancar o setor são mencionadas pelo Poder Público não são efetivadas e nós, pobres mortais trabalhadores apreciadores no néctar, ainda sofre e muito com os valores. Como democratizar a cultura do vinho neste país com um panorama desolador desses?

Mas não quero, a priori, entrar no mérito da discussão que é urgente e necessária e a mencionei apenas como fator ilustrativo para falar sobre alguns vinhos, de alguns países que, há 20 anos, por exemplo, eram praticamente inviáveis nas gôndolas dos principais supermercados das grandes cidades brasileiras. Mas há 20 anos o Bruno, enófilo, ainda estava muito cru no universo dos vinhos, os contatos com o vinho ainda estavam sendo edificados e, precisava de uma “litragem” maior.

O fato é que, independente da falta ou excesso de experiência no universo dos vinhos, é que, por exemplo, o panorama do e-commerce no Brasil, há 20 anos, era incipiente, tomando como parâmetro as inúmeras opções que temos no mercado em dias atuais e, consequentemente, mais rótulos são ofertados. Lembro-me que era, no passado, praticamente impossível encontrar alguns vinhos de algumas nacionalidades inclusive a uruguaia. Ah como era difícil encontrar vinhos uruguaios. Talvez, pela minha pouca “litragem” eu não sabia onde e como procurar, talvez estivesse procurando nos lugares errados, mas o fato é que era uma dificuldade atroz encontrar um rótulo do nosso pequeno vizinho.

Atualmente e isso eu posso dizer, sem medo, de que o panorama, a oferta de rótulos de vinhos uruguaios é muito melhor do que alguns anos atrás. Hoje eu posso dizer que aprecio os rótulos de um determinado produtor do Uruguai ou aprecio vinhos de uma região em especial desse país. E isso se deve muito a popularização do país e de seus produtos nacionais e o vinho está entre eles. O vinho uruguaio é, diferentemente do Brasil, priorizado como um produto de exportação do nome do país, uma marca que não se dissocia da cultura dos uruguaios.

E a minha nova e agradável preferência daquelas terras vem de sua capital, Montevidéu, os vinhos da Família Traversa. E, desde já, compartilho aqui duas experiências maravilhosas que tive degustando o Traversa Chardonnay da safra 2018 e o Traversa Roble Tannat e Merlot da safra 2016. E a minha nova experiência sensorial vem da Família Traversa e o vinho que degustei e gostei se chama Traversa Merlot da safra 2019. O meu primeiro Merlot (100%) do Uruguai! Então falemos um pouco desse pequeno grande país e de seus feitos viníferos.

Montevidéu

Montevidéu começou seu processo de fundação em 1723. O Governador do Río de la Plata, Bruno Mauricio de Zabala, foi enviado pela coroa espanhola para fundar esta cidade portuária e expulsar aos portugueses, que tinham construído o Fuerte de Montevideu sobre a baia. Assim, as primeiras famílias que povoaram “San Felipe y Santiago de Montevideo” foram de origem espanhol, provenientes do grande centro colonial do Río de la Plata: Buenos Aires. Pela sua condição de principal porto do Rio da Prata e Montevidéu teve não teve bom relacionamento com a cidade vizinha.

Montevideo

Pedro Millán traçou o primeiro plano da cidade em 1726, ano em que começaram a chegar os colonos das Ilhas Canarias. A antiga Ciudadela de Montevidéu (edificada ao longo de uns quarenta anos) apresentava as características típicas das cidades colônias da época: Uma Praça de Armas no centro (Atual Praça Constitución o mais conhecida como Matriz) rodeada pela Igreja (atual Catedral) e o edifício do governo (Cabildo). A pequena cidade estava rodeada de muralhas das que hoje só ficam o portal de entrada, a simbólica Puerta de la Ciudadela. Em 1807 se produziram as Invasões Inglesas, enfrentadas e vencidas pelos orientais. Este fato deu a Montevidéu o status de “Muy Fiel y Reconquistadora” e a converteu no bastião espanhol do Río de la Plata. Montevidéu se manteve fiel a Espanha durante as Revoluções de Maio de 1810 em Buenos Aires. Durante esse período, a coroa espanhola se instalou em Montevidéu, o que significou o um grande crescimento para a cidade.

O departamento de Montevidéu se estabeleceu em 1816, como a primeira divisão administrativa da Banda Oriental. Ao se declarar o novo Estado Independente em 1828, Montevidéu foi estabelecido como capital, e a partir da “Jura de la Constitución de 1830” começou a se projetar a “Nova Cidade” por fora dos limites da Ciudadela. Contudo, a atual Ciudad Vieja foi durante muitas décadas o centro econômico e cultural de Montevidéu. As grandes bandas migratórias da Europa (principalmente espanhóis, mas também italianos, alemães, franceses, húngaros, judeus e ingleses) deram ao Montevidéu de 1900 um ar cosmopolita. A herança dos escravos africanos trazidos durante a época colonial aportou o caráter multicultural da cidade, que se percebe até hoje. Ao longo do século XX Montevidéu se expandiu sobre a baia para o leste, e também para o norte, com numerosos centros de população afastadas do centro. A emblemática Rambla de Montevidéu, principal cartão postal da cidade, foi construída em 1910. Outros monumentos significativos datam dos anos 20 e 30, como o Palacio Legislativo e o Estádio Centenário.

O Uruguai era originalmente povoado pelos índios Charruas, mas em 1680 os portugueses começaram a se assentar na região; os espanhóis chegaram logo em seguida. As primeiras uvas viníferas foram cultivadas em território uruguaio há mais de 250 anos. A produção de vinhos, entretanto, só começou a ser realizada comercialmente na segunda metade do século XIX. Em 1870, Dom Pascal Harriague introduziu ao Uruguai várias castas de uva em busca de uma que se adaptasse bem ao solo e clima da região. A Tannat foi a que se saiu melhor na experiência e desde então, por causa do seu sucesso imediato e duradouro no país, ela dá vida ao autêntico vinho uruguaio. Na década de 1970, houve uma renovação na vitivinicultura do Uruguai; novas técnicas de plantio e cultivo, bem como a introdução de novas variedades de uvas, possibilitaram um desenvolvimento substancial à sua indústria de vinhos. Aliado a tudo isso, a evolução dos vinhos uruguaios aconteceu por causa da paixão dos produtores e apreciadores de lá pela bebida. A maneira artesanal e a relação respeitosa que eles têm com as uvas que cultivam tornaram seus vinhos premiados e bastante reconhecidos no mercado internacional.

Fortemente influenciado pelo Rio da Prata e Oceânico Atlântico, o Uruguai tem as suas principais regiões produtoras de vinhos na costa sul – Maldonado, Canelones e Colônia. Situado entre os paralelos 30 e 35, a exemplo de Chile, Argentina, Austrália e África do Sul, o país tem a possibilidade de elaborar vinhos que possuem a energia do Novo Mundo e o refinamento do Velho Mundo. É a terra do Tannat, sim, mas há muito mais por descobrir. O Uruguai é comparado com a região de Bordeaux, na França. Seu Rio da Prata é comumente equiparado ao estuário do Gironde. A maior região vitivinícola – Canelones – é dona de 60% da produção total. Fica bem no centro do país, ao sul, muito próxima da capital Montevidéu, que abriga 40% da população local com 3,4 milhões de moradores.

As demais regiões produtoras do sul do país ficam a menos de duas horas da capital – à oeste, Colônia (pela Rota 1) e, à leste, Maldonado (pela Rota 9). O Uruguai possui uma rota de vinho especial e aconchegante, coordenada pela Associação de Turismo Enológico do Uruguai, que reúne muitas bodegas familiares, com estrutura e história que fascinam seus visitantes. A rota, batizada de “Os caminhos do vinho” passa por regiões de Montevidéu, Canelones, Maldonado, Colônia e Rivera, cujas paisagens belas e exuberantes são atrativos que complementam sua ótima gastronomia e seus vinhos finos.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um lindo vermelho rubi intenso, mas com brilhantes reflexos violáceos, com uma grande formação de finas lágrimas que lindamente desenham as paredes do copo.

No nariz mostra a exuberância perfumada de frutas vermelhas que se destacam como morango, cereja e framboesa com delicadas e discretas notas de especiarias, herbáceas. Destacam-se também as notas florais, de flores vermelhas que dão ao vinho caráter aromático de expressividade.

Na boca também revelam seus predicados. Um vinho jovem, portanto mostra todo o seu frescor, sendo aveludado e elegante, mas com alguma marcante personalidade, sobretudo pela sua versatilidade nas harmonizações com diversos tipos de comida. Seus taninos são polidos e delicados e a acidez é muito equilibrada, na medida certa com um final persistente, prolongado e com um curioso picante ou amargor com um retrogosto frutado.

O Uruguai, bem como Portugal, está na moda! O país vem promovendo e construindo, de forma exemplar, o seu enoturismo e mesmo tão pequeno se torna tão grandioso valorizando a sua cultura a projetando em seus rótulos, em seus vinhos, tornando eloquente, catapultando os seus terroirs, entregando vinhos de grande tipicidade em todas as suas escalas de proposta, com vinhos surpreendentes e especiais. Um Merlot surpreendente e, mesmo sendo um vinho simples, jovem e fácil de degustar, revelou uma marcante personalidade, sendo expressivo e versátil, harmonioso e elegante. A Família Traversa definitivamente, apesar de uma jovem vinícola, está em franca expansão, investindo em uma forte política de marketing a começar pelos vários rótulos diferentes que variam de acordo com o mercado que quer atingir, com vinhos com preços justos (O meu Traversa Merlot custou, pasmem R$ 22,90), mesmo com um panorama tão difícil para nós, brasileiros, e que entregam muito, muito além do que valem! Tem 12,7% de teor alcoólico.

Sobre a Família Traversa:

Esta empresa com as suas vastas vinhas e fábricas de processamento de vinho, conta com a presença constante da Família Traversa. Sessenta anos de muito trabalho e três gerações que sustentam a qualidade dos seus vinhos. Cada novo plantio e manutenção, processamento, embalagem e distribuição de vinho, marketing e atendimento ao cliente são sempre supervisionados por um membro da família. Assim somos e ambicionamos qualidade, e este é o resultado do nosso trabalho. A história desta família é o legado de bondade e esperança que, como no nosso caso, estamos unidos nas vinhas e há três gerações.

Em 1904, Carlos Domingo Traversa veio para o Uruguai com seus pais. Filho de imigrantes italianos, foi em sua juventude peão rural em fazendas de vinhedos, e em 1937 com sua esposa, Maria Josefa Salort, conseguiu comprar 5 hectares de terras em Montevidéu. Suas primeiras plantações de uvas de morango e moscatel foram em pequena escala. Em 1956 fundou a adega com os seus filhos, Dante, Luis e Armando, que hoje com os seus netos têm muito orgulho de continuar o seu sonho.

A atitude constante de crescimento contínuo, com dedicação e desenvolvimento levou e ainda leva a vinícola a ser um exemplo em todo o Uruguai. Em mais de 240 hectares próprios, além de vinhedos de produtores cujas safras são controladas diretamente pela empresa, obtendo assim uma grande harmonia com os vinhos e as próprias uvas. As variedades plantadas são: Tannat, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e Sauvignon Blanc. As uvas são processadas com maquinários e instalações da mais alta tecnologia. Inicia-se com um rígido controle de produção, colheita no momento ideal, plantio de leveduras selecionadas, controle de fermentação, aplicação a frio no processo de elaboração, clarificações e degustação dos vinhos para definir diferentes categorias de qualidade. Daí passa-se a armazenar em grandes recipientes de grande tecnologia, como inox, tanques térmicos, ou em barricas de carvalho americano e francês.

Mais informações acesse:

http://grupotraversa.com.uy/en/

Referências:

“Uruguai.org”: http://www.uruguai.org/a-historia-de-montevideu/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/uruguai-natural_9771.html

 

 

 

 

 

 


 




sábado, 1 de maio de 2021

Pasqua Pinot Grigio 2012

 

Já falei a plenos pulmões, já revelei o meu amor a casta branca Pinot Grigio. Foi amor à primeira vista, ou melhor, a primeira degustação. Já degustei Pinot Grigio chileno, brasileiro, sul africano, argentino, que é chamado de Pinot Gris, nunca falta, nunca faltou essa casta em minha adega. Ela sempre desfilou, em suas várias personificações, em várias regiões, em vários terroirs. Sempre mostrou a sua finesse, a sua delicadeza, o seu frescor, a sua acidez instigante.

Mas não há como negligenciar os vinhos dessa casta produzidos na Itália. E quando degustei os meus primeiros rótulos de Pinot Grigio eu, ávido por informações sobre ela, descobri que os melhores rótulos nascem na “Terra da Bota”. E, decidido, pensei: Vou degustar um Pinot Grigio italiano! Preciso desse momento em meu registro enófilo.

Estava em mais uma de minhas incursões ao Supermercado e fazendo aquelas inspeções mais detalhadas, com um olhar mais dedicado e apurado, avistei um rótulo muito bonito, em evidência e, com grande destaque para o nome da casta, ela mesmo, Pinot Grigio e logo larguei outro rótulo, confesso menos atrativo e fui até o rótulo azul que parecia me chamar como um imã!

O coloquei em minhas mãos e logo percebi que, além, claro, de ser um Pinot Grigio, era da região do Vêneto, na Itália! Ah o meu Pinot Grigio italiano apareceu! O momento, enfim, chegou. Apesar do valor um pouco alto para este tipo de vinho, eu não hesitei e o levei para casa, senti que a adega o merecia. Então o vinho que degustei e gostei, veio da região emblemática da Itália chamada Vêneto e se chama Pasqua da casta Pinot Grigio da safra 2012. Então já que falamos da Pinot Grigio e da Itália como o berço dos grandes rótulos dessa casta, falemos um pouco da Pinot Grigio e também da região do Vêneto.

Vêneto

O Veneto é a terra natal de algumas das mais conhecidas denominações italianas, como Prosecco, Valpolicella e Bardolino. Um dos maiores vinhos italianos produzidos nesta região é o encorpadíssimo Amarone. Situada no nordeste da Itália, a região do Veneto apresenta uma área total um pouco menor do que as demais áreas vinícolas de Piemonte, Lombardia, Toscana, Puglia e Sicília, no entanto, possui um volume de produção maior do que tais regiões italianas.

Vêneto

Embora as regiões da Puglia e Sicília fossem, por um longo tempo, as principais produtoras de vinho na Itália, a partir da metade do século XX esse cenário passou por notáveis mudanças. Na década de 1990, o Vêneto conquistou cada vez mais espaço e reconhecimento com a produção de alguns dos melhores vinhos italianos, como os tintos Valpolicella e Amarone, além do maravilhoso vinho branco Soave e do espumante Prosecco.

Na região do Vêneto encontra-se Valpolicella e sua sub-região Valpatena. Tal área é a responsável pela produção de meio milhão de hectolitros de vinho por ano e, em termos de volume, Valpolicella é a única DOC italiana capaz de competir com a famosa DOC Chianti, na Toscana. Ao leste do Veneto encontra-se Soave, responsável por abrigar o vinho branco seco que carrega o mesmo nome e encontra-se entre os vinhos italianos mais apreciados.

Apesar de as uvas mais cultivadas no Vêneto serem da casta Merlot e Prosseco, as videiras que deram origem aos vinhos com certificação de Denominação de Origem Controlada (DOC) são, na verdade, das castas Pinot Grigio, Riesling, Garganega, Pinot Nero, Barbera e Corvina, atualmente, as uvas de maior importância para a produção dos vinhos do Veneto apreciados e cultuados mundo afora.

Formado pelas sub-regiões de Veneza, Belluno, Verona e Rovido, o Veneto extrai a maior parte de sua produção de Verona, contabilizando anualmente cerca de dois milhões de hectolitros de vinhos italianos. O destaque dessa sub-região vai além do volume de produção local, Verona é o berço dos reverenciados, famosos e cultuados exemplares de Bardolino e Valpolicella.

Uma curiosidade a respeito do Vêneto é sua forte ligação com a vinicultura do Brasil, que recebeu muitos imigrantes italianos desta região na Serra Gaúcha, hoje a melhor área de elaboração de vinhos do nosso país. Não por acaso, a maioria das vinícolas de sucesso do Vale dos Vinhedos, na Serra Gaúcha, pertence a famílias de descendentes desses imigrantes de Vêneto, no nordeste da Itália.

Pinot Grigio

Se você nunca ouviu falar na uva Pinot Grigio, talvez já tenha degustado um vinho produzido com a Pinot Gris. É possível encontrar a casta sendo chamada pelos dois nomes diferentes, a depender da origem do vinho, podendo ser italiano ou francês, respectivamente. A diferença na forma como chamamos a uva passa pelo próprio significado das duas palavras: o nome Grigio significa cinza em italiano e Gris, cinza em francês – sendo referência à cor da casca da fruta. A coloração da uva é um resultado natural do cruzamento entre a Pinot Noir e a Pinot Blanc.

A Pinot Grigio surgiu na região da Borgonha, contudo foi em outra região francesa que ela ganhou um lar e ganhou notoriedade também, a Alsácia. Onde era conhecida por outro nome famoso, Tokay, mas que causava muita confusão. Tokay é um termo utilizado para os vinhos mais famosos (e caros) da Hungria, os longevos Tokaji, que nada tem a ver com a Pinot Grigio.

A origem da Pinot Grigio foi descoberta a poucas décadas, onde constatou-se ser uma cruzamento genético natural entre a Pinot Noir e a Pinot Blanc. Embora seja de origem francesa, foram os italianos que tornaram esse varietal mundialmente conhecido e passaram a dominar a sua produção global. Isso faz com que muitos acreditem que a uva seja originária do fantástico "país da bota".

Os vinhos produzidos com a Pinot Grigio são muito influenciados pelos fatores ambientais e humanos envolvidos no processo, o que chamamos de terroir. Nas regiões frias são encontrados vinhos com maior intensidade aromática e acidez vibrante, além de serem tipicamente mais leves e delicados, normalmente denotando aromas frutados, florais e com a sutil presença de especiarias. Bons exemplos disso são os aromas de pêssego, limão, tangerina, pera, maçã verde, complementados por flores silvestres, mel, tomilho, orégano e erva-cidreira. Já as regiões mais quentes produzem exemplares mais viscosos, aumentando a percepção de corpo da bebida, que, dependendo do solo, pode apresentar um caráter mineral, lembrando pedras e a areia molhada.

Agora, se compararmos o perfil dos vinhos franceses e italianos, as características sensoriais serão gritantes. Na França, esses vinhos costumam ser mais encorpados, amarelados e com uma presença picante. Já na Itália, os exemplares são mais refrescantes, versáteis e fáceis de beber. Dependendo do estilo do produto, vinícola e vindima, são vinhos brancos com aptidão ao envelhecimento.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um amarelo palha bem claro, transparente, com reflexos violáceos bem brilhantes.

No nariz explode em aromas frutados, de frutas brancas e cítricas, tais como pera, maça verde, melão, laranja e limão, com o característico toque floral, lembrando flores brancas que traz a sensação de frescor leveza ao vinho.

Na boca é seco, leve, fresco, com um bom volume de boca, mostrando alguma personalidade e também graças a sua acidez em evidência, mas muito bem integrada ao conjunto do vinho. Muito frutado traz à tona a sua jovialidade aflorada e um final persistente e prolongado.

Minha primeira e satisfatória experiência com um Pinot Grigio italiano corrobora a sua reputação de um dos grandes produtores, em escala global, da casta Pinot Grigio. Um vinho simples, mas com uma inigualável personalidade, bem marcante, fazendo deste rótulo muito versátil, gastronomicamente falando. Se ainda há alguns questionamentos com relação a Pinot Grigio esse vinho pode, sem sombra de dúvida desmistificar, mostrando que a casta é sim especial. Um vinho com o DNA brasileiro, ótimo e ideal para harmonizar com o nosso clima, um vinho que dizem que é para “beira da piscina”, despretensioso, informal e especial. Um viva a Pinot Grigio! Tem 12% de teor alcoólico.

Sobre a Pasqua Vigneti e Cantine:

A Easter Vigneti e Cantine é uma empresa histórica produtora de vinhos venezianos e italianos de qualidade, uma das líderes no mercado italiano e estrangeiro. Uma paixão familiar. Quase um século de história. A história de Pasqua Vigneti e Cantine começou em 1925, quando a primeira geração dos irmãos Pasqua chegou a Verona com o objetivo de fundar uma empresa dedicada à venda de vinhos de sua terra natal, a Puglia. Da venda dos vinhos chegaram à base de uma verdadeira adega. Em poucos anos a empresa se estabeleceu no cenário do vinho italiano com a aquisição de novos vinhedos na região de Verona.

Na década de 1960, a segunda geração ingressou na empresa, trazendo uma abertura para a exportação e uma orientação para a qualidade. O nascimento na década de 1980 de Cecilia Beretta, uma fazenda e centro de estudos de última geração para a pesquisa de vinhas, enxertos e vinhedos, é um símbolo da busca contínua pela excelência.

Em meados dos anos 2000 a empresa fez um investimento substancial, que demonstra as suas raízes no seu território, com uma nova adega e instalações de produção em San Felice, no coração das suas vinhas.

Com a entrada na empresa de terceira geração, composta por Riccardo e Alessandro, o impulso para o mercado externo se fortaleceu ainda mais, culminando em 2009 com a criação da Pasqua Usa LLC em Nova York.

Em 2017, a Pasqua adquiriu seu próprio importador chinês, fundando a Pasqua Asia Ltd com sede em Dalian. A empresa está atualmente presente em 65 mercados ao redor do mundo.

Mais informações acesse:

https://www.pasqua.it/it/home/

Referências:

“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/regiao/veneto

“Blog Sonoma”: https://blog.sonoma.com.br/regioes/veneto-entre-amores-e-vinhos/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/veneto

“Wine”: https://www.wine.com.br/winepedia/sommelier-wine/serie-uvas-pinot-grigio/

“Blog Famiglia Valduga”: https://blog.famigliavalduga.com.br/pinot-grigio-conheca-suas-principais-caracteristicas/

Degustado em 2016

 

 

 

 

 

  




domingo, 25 de abril de 2021

D. João I branco

 

Já ouvi um grande crítico e especialista de vinhos dizer: “Vinhos simples e básicos não requer uma grande análise”. Em tese até faz sentido, um vinho simples para uma grande análise não “harmonizariam”. Mas o que dizer de um vinho que, embora seja simples e básico, seja especial para quem o degusta? Então, com todo o devido respeito ao nobre especialista, requer sim, uma grande e entusiasmada análise, sem sombra de dúvida. Independente de valores e proposta, todo vinho é especial se o enófilo gostar dele. Valor não define se o vinho é bom ou ruim, são apenas propostas de vinhos distintas que entregam sensações distintas em momentos distintos.

E o rótulo que degusto hoje e que já degustei em um passado não muito distante, mas por um tempo suficiente para relembrar e querer degusta-lo novamente, fez com que viesse à tona em meus pensamentos. E não é pelo valor, não, até porque, ao longo desse tempo, o vinho aumentou consideravelmente, mas porque ele me deixou uma marca, diria, sem exageros, indelével, uma surpresa digna de arrebatamento. Precisava degusta-lo novamente, sem essas atitudes de retrocesso ou a temida zona de conforto, mas para perceber possíveis novas nuances, novas percepções. Quem sabe? Simples e básico sim, mas especial, e quem sabe novas surpresas!

Então o vinho que degustei e gostei, duas vezes, veio das Terras da Beira, da sub-região de Pinhel, o D. João I branco composto pela típica casta portuguesa Síria e não safrado. E apesar da casta branca Síria ser muito difundida e conhecida em terras lusitanas, mas no Brasil não é muito comentada e muito consumida diria, a não ser em rótulos alentejanos, onde é conhecida como Roupeiro. Essa é a minha segunda experiência com o rótulo, com o surpreendente D. João I branco. E já que falei da Síria que, nas Terras de Beira é conhecida como Codo, vamos a história dela!

Síria

Cultivada nas regiões do interior de Portugal, já foi a casta branca mais plantada na região alentejana, onde é denominada Roupeiro, contudo, verificou-se que as temperaturas demasiado elevadas do Alentejo não eram benéficas para esta casta: os vinhos não tinham frescura, boa acidez e perdiam os aromas rapidamente. Assim, desenvolveu-se o cultivo da Síria nas terras mais altas e frescas da Beira Interior (nomeadamente na zona de Castelo Rodrigo) e Dão (onde a casta é conhecida por Alvadurão, Côdega ou Crato Branco). A Síria é uma casta muito produtiva de cachos e bagos pequenos. Apesar de ser bem resistente ao oídio e ao míldio, é bastante sensível à podridão.

Síria

Seus vinhos podem apresentar, no aroma, especiarias leves e folha de louro. Destacam-se, principalmente, as notas florais e frutas como laranja, limão, pêssego e melão. Na maioria, de tonalidade clara, seus exemplares são indicados para serem consumidos enquanto jovens, pois apresentam sua melhor expressão. A acidez nos rótulos elaborados com essa uva pode ser de média para alta. A Síria é a variedade mais plantada na região de Beira Interior, localizada no interior do país, na faixa estreita que se estende de norte a sul, na fronteira com a Espanha.

Beira Interior: As Terras da Beira

É na Beira Interior, identificada geograficamente como prolongamento do sistema central ibérico e histórico e culturalmente pelas matrizes testemunhadas nas suas aldeias medievais e cidadelas fortificadas que, a Denominação de Origem Beira Interior foi criada a 2 de novembro de 1999, resultado da aglutinação das regiões de Castelo Rodrigo, Cova da Beira e Pinhel, que passaram a sub-regiões desde então. Tem um passado histórico vitivinícola que remonta à fundação da nacionalidade portuguesa, está localizada no interior centro de Portugal, tem cerca de 16 000 hectares de vinhas e uma grande variedade de castas. Situada no interior centro/norte de Portugal é a região vitivinícola mais alta de Portugal, com vinhas plantadas entre os 300 e os 700 metros de altitude.

Beira Interior

Os vinhos são muito influenciados pela montanha e a orologia da região é dominada pelas serras da Estrela, Gardunha, Açor, Marofa e Malcata. Os solos são de origem granítica (80%), na sua maioria, sendo os restantes essencialmente de origem xistosa, existindo entre o granito e o xisto alguns filões de quartzo. O clima da região é muito agreste, com temperaturas negativas no Inverno e Verões muito quentes e secos. Os encepamentos mais tradicionais são nas brancas a Síria, Fonte Cal, Malvasia, Arinto e Rabo de Ovelha, e Malvasia e nas Tintas, a Rufete, Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz, Trincadeira, Mourisco, Jaen e alfrocheiro.

E agora o vinho!

Na taça apresenta um amarelo palha, bem claro, quase transparente com o aparecimento de algumas lágrimas finas, mas que logo se dissipa das paredes do copo.

No nariz surpreende pela estrutura aromática com notas de frutas brancas como maçã verde, melão e pera, além de algo discretamente cítrico, com destaque para o abacaxi. O toque floral entrega um vinho fresco e agradável.

Na boca é seco, fresco, leve, macio, com as frutas brancas em evidência como no aspecto olfativo, com uma acidez leve para média, um vinho com um belo volume de boca que o torna saboroso, com um final prolongado e retrogosto frutado.

Um vinho coringa, fácil de degustar, simples, básico, mas especial e surpreendente. Sim, ele continua surpreendendo os meus mais simplórios sentidos de um humilde enófilo, mas muito feliz por ter degustado novamente o bom e necessário D. João I branco que, há 4 anos atrás, descobri, pelo mesmo especialista que diz que um vinho simples não requer uma grande análise. Talvez esteja certo, mas por ser um vinho tão especial, a análise pode ser grandiosa e singular, pois é arrebatador e, diante de sua simples proposta, entrega muito além do que poderia se esperar. Ele harmonizou com um dia ensolarado de outono. Leve, delicado e agradável. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Adega Cooperativa de Pinhel:

Desde tempos muito antigos que em Pinhel, e seu termo, se praticava a cultura da vinha e se produziam vinhos de alta qualidade; já nos princípios do ano 1500, o Rei D. Manuel I, o Venturoso, concedeu diversas regalias e privilégios em favor dos vinhos de Pinhel. Em 1942 e 1943, houve colheitas abundantes e não havia escoamento para a produção, foi então que a Junta Nacional do Vinho, recentemente criada, como organismo de Coordenação Económica, e que veio substituir a antiga Federação dos Vinicultores do Centro e Sul de Portugal, instalou em Pinhel uma caldeira móvel de destilação, acionada por uma geradora locomóvel, em que foram destilados milhões de litros de vinho e que veio resolver a crise gravíssima, que afetava os lavradores da Região, que viviam exclusivamente do rendimento do vinho. 

De todos os Organismos Corporativos, criados pelo Estado Novo, a Junta Nacional do Vinho, era o mais querido, pelos beneficias que trouxe a toda a região vitivinícola, por isso os vinicultores depositavam toda a confiança esperançados que o organismo, quando necessário, lhe resolvesse os problemas respeitantes ao vinho. Os vinhos desta área eram tão bons que as aguardentes vínicas resultantes da destilação ficavam de finíssima qualidade. Quando transportadas para os armazéns da Mealhada não eram misturadas com outras provenientes de outras áreas ficando em depósitos separados. 

Em 1945, a Junta Nacional do Vinho iniciou a instalação de duas caldeiras fixas de destilação contínua, que trabalhavam de dia e de noite, só paravam cada 15 dias para limpeza. Como era pena destilar vinhos de tão boa qualidade, a Junta Nacional do Vinho, em colaboração com o Grémio da Lavoura de Pinhel, pensou na criação da Adega Cooperativa, nas suas próprias instalações que tinham sido compradas à Câmara Municipal de Pinhel e que tinham ficado devolutas pela saída das Forças Militares, ali aquarteladas, e que se tinham revoltado contra o Governo da Ditadura Militar.Em 1947, construíram-se 6 lagares em granito, no parque utilizado pelas viaturas militares e os tonéis foram montados nas cavalariças depois de devidamente adaptadas. 

A primeira laboração foi feita por processos artesanais, pois em Pinhel não havia energia elétrica com potência suficiente e a mesma era desligada à meia-noite; às próprias bombas de trasfega, eram movidas por motores de explosão. Foram 33 sócios, a entregar as uvas nesse ano na Adega; embora com bastantes dificuldades, estava criada e posta a funcionar a Adega Cooperativa. Dos primitivos 33 cooperantes, atingiu-se os 2.300 atuais.

Maiores informações acesse:

http://www.acpinhel.com/index.html

Referências:

“Além do Vinho”: https://alemdovinho.wordpress.com/tag/uva-siria/

“Wine”: https://www.wine.com.br/winepedia/sommelier-wine/serie-uvas-siria/

“Vinho Virtual”: https://www.vinhovirtual.com.br/uvas-207-S%C3%ADria








sábado, 24 de abril de 2021

Salton Talento 2011

 

Já dizia aquele velho ditado, já manjado: Quem espera sempre alcança! Talvez esse conceito possa ser bem aplicado para os vinhos evoluídos, afinal, alguns atingem a sua maturidade, o seu grande momento, o seu brilho, com alguns anos de guarda. Mas há quem diga que isso pode ser subjetivo, haja vista que alguns vinhos depreciem com o tempo e neste caso podemos levar em consideração alguns fatores como a forma de armazenamento, por exemplo. Mas como esse é um assunto deveras complexo, não entrarei no mérito, não agora pelo menos, mas sim darei o protagonismo, é claro, ao rótulo, ao vinho, que é sempre o artista do espetáculo da degustação.

E esse vinho eu aguardei pacientemente. Como sou um apreciador dos vinhos evoluídos, decidi, quando o comprei, há cerca de dois anos, em degusta-lo quando completasse exatamente 10 anos de safra. Degustar vinhos assim, nessas condições, pode ser um risco, mas também uma honra, um momento único, com o vinho no seu momento mais apoteótico e especial. Fui tomado por um espírito de positividade e aguardei cada dia e cada hora para degusta-lo e, com isso, pergunto: Quem disse que vinhos brasileiros não tem potencial de guarda? O tempo, literalmente falando, dirá pela excelência dos rótulos nacionais! E diz, com veemência, com a sua qualidade, tipicidade e expressividade.

O vinho que degustei e gostei é tupiniquim, é brasileiro, é o Salton Talento composto pelas castas Cabernet Sauvignon (50%), Merlot (30%) e Tannat (20%) da safra 2011. As castas Cabernet Sauvignon e Tannat são oriundas da Campanha Gaúcha e o Merlot veio da Serra Gaúcha. Sim! Um vinho que explora a multiplicidade de duas regiões, de alguns terroirs, uma mescla de tipicidades. Sem contar que já degustei a safra de 2009, minha primeira experiência com esse rótulo.

Tudo conspirou para essa degustação: desde o primeiro contato nas gôndolas dos supermercados, com um preço na faixa dos R$ 50,00, um ótimo preço, até o derramar deste na minha taça. A vida, a longevidade conspira sempre a favor e, claro, falo do vinho! Mas antes de falar no néctar, vamos conhecer um pouco sobre as regiões de onde veio, emblemáticas regiões, diga-se de passagem: Vamos da Serra e Campanha Gaúcha.

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geo-climáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira. Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do Vale.

O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação de Origem Controlada) na região.

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto, logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local. Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.

Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.

Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.

Campanha Gaúcha

Entre o encontro de rios como Rio Ibicuí e o Rio Quaraí, forma-se o do Rio Uruguai, divisa entre o Brasil, Argentina e Uruguai. Parte da Campanha Gaúcha também recebe corpo hídrico subterrâneo, o Aquífero Guarani representa a segunda maior fonte de água doce subterrânea do planeta, dele estando 157.600 km2 no Rio grande do Sul. A Campanha Gaúcha se espalha também pelo Uruguai e pela Argentina garante uma cumplicidade com os hermanos do outro lado do Rio Uruguai. Os costumes se assemelham e os elementos locais emprestam rusticidade original: o cabo de osso das facas, o couro nos tapetes, a tesoura de tosquia que ganha novas utilidades.

Campanha Gaúcha

No verão, entre os meses de dezembro a fevereiro, os dias ficam com iluminação solar extensa, contendo praticamente 15 horas diárias de insolação, o que colabora para a rápida maturação das uvas e também ajuda a garantir uma elevada concentração de açúcar, fundamental para a produção de vinhos finos de alta qualidade, complexos e intensos.

As condições climáticas são melhores que as da Serra Gaúcha e tem-se avançado na produção de uvas europeias e vinhos de qualidade. Com o bom clima local, o investimento em tecnologia e a vontade das empresas, a região hoje já produz vinhos de grande qualidade que vêm surpreendendo a vinicultura brasileira.

Há mais de 150 anos, antes mesmo da abolição da escravatura, a fronteira Oeste do Rio Grande do Sul já produzia vinhos de mesa que eram exportados para os países do Prata (Uruguai, Argentina e Paraguai) e vendidos no Brasil.

A primeira vinícola registrada do Brasil ficava na Campanha Gaúcha. Com paredes de barro e telhado de palha, fundada por José Marimon, a vinícola J. Marimon & Filhos iniciou o plantio de seus vinhedos em 1882, na Quinta do Seival, onde hoje fica o município de Candiota.

E o mais interessante é que, desde o início da elaboração de vinhos na região, os vinhos da Campanha Gaúcha comprovam sua qualidade recebendo medalha de ouro, conforme um artigo de fevereiro de 1923, do extinto jornal Correio do Sul de Bagé.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso e escuro, mas mostrando uma tonalidade meio atijolada nas bordas, em seu entorno, revelando a sua idade, o auge dos seus dez anos de vida, com lágrimas finas e abundantes marcando nas paredes do copo.

No nariz entrega aromas, ainda evidentes e intensos, de frutas negras e em compota, tais como ameixa, cereja e amora, com notas de torrefação, café, tabaco e especiarias e toque amadeirado em evidência, graças aos 12 meses de passagem por barricas de carvalho, mais 12 meses afinando em caves subterrâneas da vinícola.

Na boca é elegante, equilibrado, excelente estrutura mostrando marcante personalidade, as frutas negras, como no aspecto olfativo, se mostra agradavelmente no paladar, com taninos presentes, mas domados e sutis, com uma acidez ainda vivaz, o que faz do vinho pleno aos 10 anos de idade. Tudo isso harmonizando maravilhosamente com o toque amadeirado, muito bem integrado aos taninos, a acidez e o álcool, além do tabaco, do toque de pimentão e de couro. Final persistente e prolongado.

O tempo dirá! Mais um ditado popular que se adequou maravilhosamente ao Salton Talento. A vida, plena e intensa, pulsava dentro da garrafa, ansiosa por sair e explodir as minhas impressões sensoriais, inundar a minha taça do mais puro néctar, da poesia líquida que, a cada degustação, me arrebatou por inteiro. O tempo disse, o vinho se expressou maduro, intenso, a personalidade marcante, mostrou também delicadeza, elegância. A noção de terroir, de tipicidade estava evidente a cada degustação e que, graças a sua complexidade, aguça, ainda mais, o enófilo a explorar ainda mais o seu paladar. A honra e o prazer são evidentes, a sensação é indescritível, o ritual se faz necessário, todos os componentes de uma degustação, embora simples e direta, se mostra maravilhosa e singular. Senti-me tão pequeno, tão feliz, tão vivo! Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Salton:

Antônio Domenico Salton veio para o Brasil em 1878 e junto com seus filhos fundou em 1910 a vinícola que é reconhecida por ser a maior produtora brasileira de espumantes e top 3 entre as produtoras de vinho no Brasil!

Nos anos 1980 o forte da empresa era a produção e venda de conhaque. O vinho deixava a desejar e para mudar essa realidade foi contratado o enólogo Lucindo Copat, um dos fundadores da Vinícola Aurora. Novos equipamentos foram comprados e a produção foi modernizada.

Outro marco foi a criação em 1995 do projeto que resultaria em 2002 no Salton Talento e na nova unidade no distrito de Tuiuty, que trouxe tecnologia de ponta para a empresa. No ano de 2019 a empresa inaugurou a bela Enoteca Salton na capital paulista. Local que mais do que pronto para a compra de vinhos, serve como um ponto para degustar os sabores que a Salton tem.

Fundadores da Vinícola Salton

Na extensa lista de conquistas destes mais de 100 anos de história comemora o fato de ser familiar e 100% brasileira. Com a terceira geração à frente da empresa, tanto na Unidade em Bento Gonçalves quanto em São Paulo, revela em seus quadros a quarta geração Salton, que promete o mesmo empenho e dedicação com que a empresa foi comandada até agora.












quinta-feira, 22 de abril de 2021

Ventisquero Reserva Pinot Noir 2015

 

Era um domingo extremamente agradável. Um toque primaveril ensolarado, mas calor. Tudo conspirava para uma degustação. Não estava no meu roteiro de degustação naquele dia, mas algo dizia para abrir um rótulo naquela tarde de domingo que nascia. Decidi degustar um vinho e, a partir dessa decisão, faltava escolher o rótulo, de preferência que harmonizasse com o dia que estava muito agradável. Olhei todos os cantos da adega, inspecionei cada rótulo e avistei um que, a meu ver, teria tudo a ver com o momento.

Tudo conspira com uma degustação! Não é apenas aquele prato, o alimento, mas o momento, o estado de espírito, tudo que está ao nosso redor conta e muito para o enredo e o ritual da degustação de um vinho. E, para o momento que narrei em questão, escolhi um Pinot Noir chileno. Um vinho essencialmente fresco, agradável, mas com alguma personalidade, típica dessa casta produzida no Chile. Adoro os Pinots chilenos porque eles priorizam a tipicidade da cepa, mas com uma “pegada” incomum, uma boa personalidade.

Então o vinho que degustei e gostei veio da sub região de Valle de Casablanca que fica no Aconcágua, um chileno da tradicional Viña Ventisquero que é o Ventisquero Pinot Noir Reserva da safra 2015. Um vinho estupendo, um Pinot Noir que eu não havia degustado há tempos, mas não quero revela-lo, por inteiro, ainda, apesar da minha excitação para tal. Mas falemos um pouco da importante região de Valle de Casablanca, que fica no Valle de Aconcágua, que vem crescendo vertiginosamente, a olhos vistos.

Valle de Casablanca, Aconcágua

Os primeiros espanhóis no Vale de Casablanca foram os expedicionários liderados, em 1536, pelo avançado Dom Diego de Almagro. O Conquistador, em suas incursões ao longo da costa, entrou na rota Inca, que de Quillota cruzou Limache e Villa Alemana, penetrando o vale de Margamarga em direção aos campos de Orozco. De lá avistou o vale (que os nativos chamavam de Acuyo) cruzando-o para continuar até Melipilla pelo Cordón Ibacache, visitou as colônias de 'Mitimaes' de Talagante, avançou mais para o Leste e depois voltou para Quillota. Em 1540, D. Pedro de Valdivia passou com os seus anfitriões, imitando a estrada para Almagro.

O vale, localizado entre Santiago e o maior porto do Chile, Valparaíso (recentemente declarado Patrimônio da Humanidade) combina todas as condições para tornar-se essencial para todos que visitam o país. Casablanca se caracteriza por ser um vale pre-litoral, localizado na planície costeira da região, a apenas 18 km do mar e rodeado pela serra costeira.

Valle de Casablanca

A origem do nome Casablanca (Casa Branca) está no século XVI, quando foi construída uma casa de adobe caiada a oeste da cidade. Em 1755, os trabalhos preparatórios para a nova cidade prosseguiram e o seu traçado original foi delineado - de acordo com a tradicional grelha espanhola - por Dom Joseph Bañado y Gracia, juiz agrimensor do Bispado. Quando as primeiras casas foram construídas, algumas medidas foram ditadas a fim de garantir o progresso da população. Foi nomeado um Tenente General do Partido Casablanca, dependente do prefeito de Quillota, que também recebeu ordens do Governador de Valparaíso em caso de defesa do referido porto. Embora, no início, a população tenha crescido, a rivalidade entre José Montt e Dom Francisco de Ovalle pôs em risco o seu desenvolvimento, quando este último reivindicou os direitos sobre o terreno onde fora construída a vila, visto que os habitantes iam abandonando o terreno por entender que eles iriam perdê-los se Ovalle ganhasse o processo. O contencioso durou toda a segunda metade do século XVIII e a situação normalizou-se quando os herdeiros dos litigantes encerraram a ação, reconhecendo o fundamento e os direitos dos seus habitantes.

Casablanca tem uma clara influência marítima, clima bem mais frio, com neblinas matinais e uma amplitude térmica de até 19 graus entre o dia e a noite, o que favorece a lenta maturação das uvas. A temperatura media do verão é de 14,4 graus, as chuvas se concentram entre os meses de maio e outubro, com um amédia anual de 450 mm. A influência marítima que o vale recebe faz com que a temperatura média seja moderada, alcançando não mais do que 20º C durante o período vegetativo. Isso cria excelentes condições para as variedades brancas, como Sauvignon Blanc e Chardonnay, refletindo-se na frescura e no intenso aroma cítrico de seus vinhos. Os meses com riscos de geadas são setembro e outubro, ficando bem mais seco entre novembro e abril, época do crescimento e maturação das uvas. A colheita, diferente de outros vales, acontece mais tarde, a partir de 15 de março até final de abril. Essas características climáticas trazem vinhos de qualidade superior, com muita concentração de fruta, acidez muito boa e um final brilhante.

A região é dominada pelas castas brancas, que correspondem a 75% da área plantada. Lá reina a Chardonnay, que ocupa mais de 1.800 hectares. Outras variedades importantes são a Sauvignon Blanc (mil hectares), a Merlot (430 ha) e a Pinot Noir (426 ha). Esta última, apesar de ser apenas a quarta mais plantada, forma, junto com a Chardonnay, a dupla de uvas emblemáticas da região.

E agora o vinho!

Na taça goza de um vermelho rubi brilhante, um tanto quanto escuro, para o Pinot Noir, mas apresentando um brilho típico da casta, com lágrimas finas e em média intensidade desenhando as paredes do copo.

No nariz traz aromas de frutas vermelhas maduras como cereja, por exemplo, com toques delicados de flores, toque floral que entrega suavidade e elegância ao vinho, com notas de baunilha e torrefação, graças a passagem por 10 meses em barricas de carvalho, de 70% do vinho.

Na boca é complexo e com médio corpo, mas que não perdeu, em momento algum, a tipicidade da casta, trazendo delicadeza, frescor, graças a sua acidez equilibrada e de média intensidade e de taninos finos e domados. Traz um pouco da madeira, bem discreto e bem integrado ao vinho, com toques de café.

Um autêntico Pinot Noir chileno, seu terroir, sua tipicidade assinada por uma região importante e com vocação para a produção da casta. O DNA está na cultura, no saber fazer de seus produtores, de sua gente, a terra faz a sua parte. Um Pinot Noir chileno que entrou para a minha história de degustação, emblemático, poderoso, expressivo, mas delicado, elegante como característica essencial e importante desta linda cepa. Um vinho versátil e saboroso, que enche a boca e que tem uma vocação gastronômica que impressiona. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Viña Ventisquero:

Liderada por uma equipe jovem, criativa e empreendedora, em 1998 começou  produção da Viña Ventisquero, sob o slogan “um passo além”. A ideia foi elaborar vinhos de alta qualidade, vanguardistas e modernos, combinados com uma nova maneira de se comunicar com o público-alvo e os processos de marketing. Ela é apenas um dos ramos de poderosa holding chamada Agrosuper, que comercializa carne, frango, porco, peru, frutas, embutidos, além de vinho. Criada em 1998 por Gonzalo Vial, a vinícola tem hoje 1.500 hectares de vinhedos em diferentes regiões como os vales de Casablanca, do Maipo, de Rapel, de Colchagua e de Apalta. O nome Ventisquero deriva de um glaciar, massa de gelo que se concentra nas montanhas. Da mão do enólogo-chefe, Felipe Tosso, a vinícola surgiu em 2003 no Maipo Costa, área onde nasceram os primeiros vinhos. Depois de três anos, foram dados novos passos no Vale de Casablanca e no Vale de Colchágua, mais precisamente no Vale de Apalta, berço dos vinhos de alta gama da Ventisquero. Uma das características da vinícola é a preocupação com o meio ambiente, desde o plantio, que obedece à agricultura orgânica, até a redução de emissões de CO2 nos transportes de seus vinhos. Outra é a alta tecnologia que permite à equipe de enólogos acompanharem todo o processo do vinho. Outro fator que concorre para a qualidade dos vinhos é a disponibilidade de recursos. Só um açude construído no meio dos vinhedos para captar a água dos Andes custou dois milhões e meio de dólares. Buscando consolidar qualidade, se aventuraram a criar vinhos ícones com John Duval, um dos mais prestigiados enólogos da Austrália e do mundo. Com vinhedos nas melhores áreas vitivinícolas do Chile (Lolol é um exemplo), e um forte trabalho de pesquisa em terroir, o desafio foi oferecer a melhor qualidade e consistência nos vinhos Ventisquero. Com escritórios nos EUA, Espanha, Inglaterra e Japão e presença em mais de 55 países, é uma das cinco vinícolas mais importantes do Chile.

Mais informações acesse:

http://www.vinaventisquero.com/en

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=CASABLANCA

“Portal Casablanca”: http://valle.casablanca.cl/zona/zona1.shtm