Eu nunca havia degustado essa casta até então! Quando
lembramos da Argentina o que nos vem à mente é sempre, claro, a Malbec, a mais
cultivada, de maior sucesso não só nas terras dos nossos Hermanos, mas no mundo
inteiro, principalmente em nosso país, onde é exportada aos cântaros.
Evidente que há uma grande quantidade de castas que são bem
cultivadas na Argentina sejam elas tintas ou brancas, que merecem a nossa
atenção e a Torrontés é uma delas, a cepa branca mais querida por aquelas
bandas. E há ainda outras tantas, como Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot etc.
Mas uma que hoje é tida como a segunda mais plantada na
Argentina eu nunca havia experimentado, bem, pelo menos até o ano de 2013 ou
2014, não me recordo o ano exato. Falo da Bonarda.
O meu primeiro contato com a Bonarda foi em grande estilo:
Com um rótulo da gigante e tradicional Nieto Senetiner, o Don Nicanor Bonarda
2015! Não havia tido, confesso, a dimensão da importância dessa degustação, mas
lembro-me do quão agradável e prazeroso foi.
Depois dessa especial degustação foi um hiato até o meu
próximo contato com outro rótulo da Bonarda. E quando isso aconteceu, em 2018,
foi de uma forma meio inusitada ou, diria, inesperada.
Recebi uma notificação, por email, de um evento de degustação
de vinhos argentinos, que seria ministrado por uma loja conhecida de vinhos no
tradicional bairro carioca da Tijuca, no Rio de Janeiro.
Bem o evento era gratuito então decidi conferir os rótulos
que seriam expostos para degustação e posterior venda aos participantes do
evento. E diante dos “Malbecs”, “Torrontés” da vida, lá estava um Bonarda! Sim,
um Bonarda! Um misto de ansiedade e curiosidade me tomou de assalto.
E finalmente quando os organizadores disponibilizaram o
rótulo para degustação, uma versão orgânica e sem passagem por barricas de
carvalho, diferente, em termos de proposta, do Don Nicanor, o vinho era ótimo!
Um vinho frutado, leve, saboroso! Assim é o Bonarda na sua essência. O vinho? Colonia Las Liebres Clasica Bonarda 2014!
Vinhos de qualidade, especiais e que, embora não tenha um
histórico de degustação, os poucos que tive experiência de degustar foram
extremamente satisfatórios! Então para não perder a Bonarda de vista resolvi ir
ao garimpo para buscar novos rótulos e não foi muito difícil encontrar um e bem
interessante de um produtor que já tive algumas boas experiências: Viña Las
Perdices.
Estava em um preço arrebatador para um Gran Reserva então não
hesitei e comprei mais um Bonarda, mas resolvi deixar por alguns anos na adega,
talvez cerca de dois ou três anos e hoje com oito anos de garrafa tenho
esperanças e acredito piamente que esteja no auge para degustação.
Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que
degustei e gostei veio da região de Mendoza, na Argentina, e se chama Partridge
Gran Reserva Bonarda da safra 2015. Já que falamos da Bonarda, vamos com a
história dessa cepa que é a segunda mais cultivada na Argentina.
Bonarda
A uva Bonarda Piemontesa, que historicamente era usada para
deixar os taninos da casta Nebbiolo mais macios e conferir mais fruta aos
vinhos mais duros do Piemonte, não tem relação com a uva Bonarda encontrada na
Argentina.
Na verdade, a casta Bonarda argentina é a uva Douce Noire,
originária da Saboia, na França. Por ter características semelhantes à Bonarda
Piemontesa, até na França se acreditava que a uva era originária do Piemonte,
mas estudos de DNA mostraram que se trata de uma variedade distinta de casta.
A uva Bonarda possui cachos bem cheios, compactos e médios.
Com cor bem escura (preto azulado), os bagos da casta possuem polpa macia e
formato de esfera. Com cor bem escura (preto azulado), os bagos da casta
possuem polpa macia e formato de esfera. A uva Bonarda, antigamente era
utilizada somente em cortes, para propiciar maior equilíbrio na acidez dos
tintos.
Hoje, já é possível achar varietais da casta ou bi-varietais,
sendo muito utilizada na elaboração de vinhos com a casta Malbec e a uva Syrah.
Hoje, a casta existe em minúsculas quantidades na França e nos Estados Unidos,
mas a Argentina conta com quase 19.000 hectares plantados, onde é identificada
como Bonarda.
Sabe-se que a Bonarda chegou à Argentina com os primeiros
imigrantes europeus, no final do século XIX. Lentamente, adaptou-se às
condições locais, por meio de uma seleção natural de clones no campo, ajudada
pelo fato de não ser particularmente sensível a nenhuma enfermidade.
Dos 19 mil hectares plantados da Bonarda na Argentina 9 mil são
plantados nas planícies quentes do Leste de Mendoza, nos arredores de San
Martin, Junin, Rivadavia e Santa Rosa, longe dos ventos frios da Cordilheira
dos Andes.
A uva Bonarda tem um ciclo longo de amadurecimento,
necessitando de bastante calor para conseguir amadurecer. Quando as uvas não
amadurecem o suficiente, seus vinhos têm pouca cor e corpo e, no palato, um
leve toque de ervas. Apesar disso, é muito produtiva.
Os vinhos ralos com uvas provenientes de vinhedos de grande
produção não ajudaram a boa reputação da Bonarda. Produzia vinhos medíocres e
era usada, ainda é, em cortes de uvas Malbec e até com variedades como Criolla,
nos 'vinos gruessos', vinhos baratos dos supermercados argentinos.
Alguns produtores enfrentaram o desafio de elaborar um bom
vinho de Bonarda e vem tido grandes resultados e vários desses vinhos estão
disponíveis em importadoras brasileiras. São vinhos marcados por frescor,
acidez vibrante, fruta fresca e taninos suaves. Por um preço bastante
acessível, constituem uma excelente relação entre qualidade e preço e, na
Argentina, diz-se que são um revigorante para a alma, combatendo tristezas e
saudade.
E agora finalmente o vinho!
Na taça Revela um rubi intenso, profundo, escuro, intransponível,
com halos granada, atijolado, que denotam os seus oito anos de garrafa ou pela
longa passagem por barricas de carvalho, além da viscosidade que mancha o copo.
No nariz é aromático, perfumado, complexo, com as frutas
negras maduras em grande evidência, com as notas amadeiradas também vivaz,
graças a passagem por 18 meses em barricas de carvalho, que entrega baunilha,
couro, tabaco, café torrado, torrefação, tosta alta, chocolate meio amargo e um
herbáceo ao fundo.
Na boca é seco, traz estrutura, alguma robustez, alcoólico, um
vinho gordo, volumoso, corpulento, mas o tempo se encarregou de deixa-lo macio,
elegante, mostrando equilíbrio. A fruta negra madura protagoniza, como no
aspecto olfativo, bem como a madeira, trazendo notas de baunilha, de café, de
chocolate, de torrefação, com um herbáceo e terra molhada, além de taninos
domados, comportados e acidez correta e um final cheio, persistente e de
retrogosto frutado.
Um vinho elegante, complexo, de marcante personalidade,
equilibrado. Assim é o Partridge Gran Reserva da casta Bonarda. O tempo foi
gentil com o vinho, dando-lhe tais características mencionadas. Mendoza lhe deu
a fruta, a austeridade, o bom corpo, corroborando que a Bonarda hoje não é
apenas uma alternativa de vinho barato a Malbec, mas mais um vinho de qualidade
e tipicidade atestada como a Malbec. Hoje a Bonarda é uma realidade e, com
isso, esperamos todos que o nosso mercado seja receptivo e nos brinde com
rótulos especiais como esse. Tem 14% de teor Alcoólico.
Sobre a Viña Las Perdices:
Em 1952, Juan Muñoz López decidiu deixar sua cidade natal,
Andalucia, no sul da Espanha, e ele e sua família emigraram para Mendoza, na
Argentina, a fim de buscar novos horizontes.
Em seguida, já em solo argentino, não pôde deixar de notar as
perdizes que vagavam pela terra. Com efeito, um vizinho disse a ele que essas
aves geralmente são vistas em grupos de três.
Assim sendo, com o passar dos dias, as perdizes se tornaram
as companheiras constantes de Don Juan em seus longos dias de trabalho. Assim,
ele decidiu nomear sua vinícola Partridge Vineyard: “Viña las Perdices”.
A adega hoje é uma operação familiar criada por Juan Muñoz
López, sua esposa Rosario, seus filhos Nicolas e Carlos e sua filha Estela.
A vinícola, assim, se localiza no sopé da Cordilheira dos
Andes a 1.030 metros acima do nível do mar, em Agrelo, Luján de Cuyo – a
primeira zona DOC (denominação de origem controlada) argentina. Do mesmo modo,
as uvas são provenientes de duas de suas vinhas em Agrelo em Lujan de Cuyo e
Barancas em Maipu.
Por fim, hoje Las Perdices continua a ser uma vinícola de
pequena produção e com um espírito entusiasmado em apresentar os vinhos finos
de Mendoza.
Sobre a Partridge Vineyard:
A linha Partridge foi criada em 2009 para complementar o
portfólio da Viña Las Perdices nos mercados internacionais. São vinhos de
perfil clássico e de qualidade, que ganhou a preferência dos consumidores.
A linha tem quatro divisões, que variam de acordo com o
perfil dos rótulos:Partridge Flying, Partridge Reserva, Partridge Gran Reserva
e Partridge Selección de Barricas.
A sub-linha Partridge Flying oferece vinhos fáceis de beber
que são excelentes para o dia a dia. Em Reserva, os rótulos amadurecem em
barricas de carvalho, agregando mais corpo e complexidade aos vinhos. Já na
Gran Reserva, os vinhos são sofisticados e passam no mínimo 12 meses em carvalho,
garantindo grande intensidade. E, por último, a Selección de Barricas, conta
com exemplares de alta gama.
Mais informações acesse:
https://www.lasperdices.com/index.php
Referências:
“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/bonarda
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/uva-bonarda_6000.html