Quando eu descobri essa linha, até então, nova de rótulos da
Vinícola Miolo, eu estava com a adega vazia de vinhos desse importante produtor
brasileiro. Importante para a vitivinicultura nacional e muito importante para
aminha vida, a minha trajetória de enófilo.
Eu não tinha nenhum vinho da Miolo em minha humilde adega!
Logo a Miolo que foi tão importante para a minha construção de enófilo, tão
importante naquela indispensável transição dos vinhos de mesa, das uvas
americanas, para as uvas finas, as vitis
viníferas.
E o que foi mais legal não foi apenas repor a minha adega com
um rótulo da Miolo, foi repor a adega e também trazer uma linha nova de vinhos
da vinícola com uma casta autóctone, ou seja, nativa de Portugal, tida como a
famosa das castas tintas de terras lusitanas: Touriga Nacional.
Eu nunca tinha visto ou sequer sabia de vinhos brasileiros
com a casta emblemática portuguesa, a Touriga Nacional. E quando descobri foi
graças a uma premiação que esse vinho da Miolo conquistou adivinha onde? Sim,
ganhou um prêmio em Portugal, onde a cepa reina absoluta e goza de muita
qualidade, tipicidade.
O prêmio, cujos detalhes podem ser lidos aqui, foi
conquistado em um concurso com a chancela da Organização Internacional da Vinha
e do Vinho (OIV) e o este rótulo da poderosa Miolo conquistou uma medalha de
ouro, ou seja, laureado com a honraria máxima deste concurso de suma
importância.
Claro que não podemos definir as nossas escolhas ou
predileções com prêmios e medalhas, afinal, como costumar dizer nós degustamos
vinhos e não prêmios, mas confesso que nesse caso me surpreendeu e me chamou a
atenção para degustar esse vinho e pensei: Irei comprar esse vinho um dia.
Com a premiação o vinho conquistou reconhecimento, projeção e
muitos e-commerces, sites especializados em vendas de vinhos passaram a
oferta-lo, mas ainda um pouco caros, infelizmente. E preferi esperar um pouco
mais. Quando, em uma dessas visitas aleatórias em sites de vinhos, observei o
vinho em questão a um preço atraente e com alguns cupons de descontos que se
tornou mais do que viável a sua compra. O fiz e o guardei por cerca de dois a
três anos na adega. Esperei o melhor momento para tê-lo em minha taça!
E eis que o dia chegou! Então sem mais delongas vamos às
apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da já imponente Campanha
Gaúcha e se chama Miolo Single Vineyard e a casta, claro, é a Touriga Nacional
da safra 2019.
A Touriga Nacional deste rótulo da Miolo foi cultivada no
vinhedo da Quinta do Seival e provém de um micro-lote que expressa as
características do Terroir da Campanha Meridional, Rio Grande do Sul.
Para se chegar a este exemplar, a Miolo testou mais de vinte
variedades portuguesas no vinhedo do Seival, onde, além da Touriga Nacional,
apenas a Tinta Roriz e Alvarinho prosperaram com resultados espetaculares. E
por falar em Campanha Gaúcha, vamos de história dessa região que vem ganhando
projeção em todo o cenário vitivinícola brasileiro.
Campanha Gaúcha
Entre o encontro de rios como Rio Ibicuí e o Rio Quaraí,
forma-se o do Rio Uruguai, divisa entre o Brasil, Argentina e Uruguai. Parte da
Campanha Gaúcha também recebe corpo hídrico subterrâneo, o Aquífero Guarani
representa a segunda maior fonte de água doce subterrânea do planeta, dele
estando 157.600 km2 no Rio grande do Sul.
A Campanha Gaúcha se espalha também pelo Uruguai e pela
Argentina garante uma cumplicidade com os “hermanos” do outro lado do Rio
Uruguai. Os costumes se assemelham e os elementos locais emprestam rusticidade
original: o cabo de osso das facas, o couro nos tapetes, a tesoura de tosquia
que ganha novas utilidades.
No verão, entre os meses de dezembro a fevereiro, os dias
ficam com iluminação solar extensa, contendo praticamente 15 horas diárias de
insolação, o que colabora para a rápida maturação das uvas e também ajuda a
garantir uma elevada concentração de açúcar, fundamental para a produção de
vinhos finos de alta qualidade, complexos e intensos.
As condições climáticas são melhores que as da Serra Gaúcha e
tem-se avançado na produção de uvas europeias e vinhos de qualidade. Com o bom
clima local, o investimento em tecnologia e a vontade das empresas, a região
hoje já produz vinhos de grande qualidade que vêm surpreendendo a vinicultura
brasileira.
A mais de 150 anos, antes mesmo da abolição da escravatura, a
fronteira Oeste do Rio Grande do Sul já produzia vinhos de mesa que eram
exportados para os países do Prata (Uruguai, Argentina e Paraguai) e vendidos
no Brasil.
A primeira vinícola registrada do Brasil ficava na Campanha
Gaúcha. Com paredes de barro e telhado de palha, fundada por José Marimon, a
vinícola J. Marimon & Filhos iniciou o plantio de seus vinhedos em 1882, na
Quinta do Seival, onde hoje fica o município de Candiota.
E o mais interessante é que, desde o início da elaboração de
vinhos na região, os vinhos da Campanha Gaúcha comprovam sua qualidade
recebendo medalha de ouro, conforme um artigo de fevereiro de 1923, do extinto
jornal Correio do Sul de Bagé.
IP (Indicação de Procedência) da Campanha Gaúcha
Em 2020 a Campanha Gaúcha ganhou reconhecimento de Indicação
de Procedência (IP) para seus vinhos. Aprovada pelo Inpi na modalidade de I.P.,
a designação vem sendo utilizado pelas vinícolas da região a partir do ano de
2020 para os vinhos finos, tranquilos e espumantes, em garrafa.
A Indicação Geográfica (IG) foi o resultado de mais de 5 anos
de pesquisa, discussões e estudos de um grupo interdisciplinar coordenados pela
Embrapa Uva e Vinhos do Rio Grande do Sul.
Além disso, os vinhos devem ser elaborados a partir das 36
variedades de vitis viníferas
permitidas pelo regulamento, plantados em sistema de condução em espaldeira e
respeitando os limites máximos de produtividade por hectare e os padrões de
qualidade das frutas que seguirão para a vinificação. Finalmente, os vinhos
precisam ser avaliados e aprovados sensorialmente às cegas por uma comissão de
especialistas.
Esta é uma delimitação localizada no bioma Pampa do estado do
Rio Grande do Sul, região vitivinícola que começou a se fortalecer na década de
1980, ganhando novo impulso nos anos 2000, com o crescimento do número de
produtores de uva e de vinho, expandindo a atividade para diversos municípios
da região.
A área geográfica delimitada totaliza 44.365 km2. A IP
abrange, em todo ou em parte, 14 municípios da região: Aceguá, Alegrete, Bagé,
Barra do Quaraí, Candiota, Dom Pedrito, Hulha Negra, Itaqui, Lavras do Sul,
Maçambará, Quaraí, Rosário do Sul, Santana do Livramento e Uruguaiana.
A Campanha Gaúcha está situada entre os paralelos 29º e 31º
Sul e trata-se de uma zona ensolarada, com as temperaturas mais elevadas e o
menor volume de chuvas entre as regiões produtoras do Sul do Brasil.
Ao mesmo tempo, as parreiras – predominantemente plantadas em
sistema de espaldeira – foram estabelecidas em grandes extensões de planície
(altitude entre 100 e 360 m.) com encostas de baixa declividade, o que favorece
a mecanização das colheitas, reduz os custos e potencializa a escala produtiva.
Uma característica importante é o solo basáltico e arenoso, com boa drenagem,
que somada aos outros fatores propicia a ótima qualidade das uvas.
Esta foi uma conquista para a região, que pode refletir em
uma garantia da qualidade de seus produtos. Fica a torcida para que, após muito
tempo de consistência de qualidade e de uma real identificação da tipicidade, a
Campanha Gaúcha possa ter o reconhecimento de uma Denominação de Origem (DO).
Leia aqui na íntegra o regulamento de uso da IP da Campanha Gaúcha.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um vermelho bem intenso, escuro, com alguma
viscosidade, com lágrimas espessas, grossas, lentas e em profusão que desenham
as bordas do copo.
No nariz traz os aromas complexos e evidentes das frutas
vermelhas e negras bem maduras, diria em estágio de geleia, com as notas
florais, de violetas, de tipicidade da Touriga Nacional, com a madeira também
assumindo destaque, graças aos 12 meses em barricas de carvalho, que entregam
baunilha, couro, tabaco, café, torrefação, chocolate.
Na boca é igualmente complexo, austero, trazendo untuosidade, volume,
estruturado, mas se mostra equilibrado, macio, sendo fácil de degustar. A fruta
e a madeira são notadas e estão em plena convergência e entrega frescor, notas
de baunilha, terra molhada, caramelo, café torrado, chocolate, além de taninos
presentes, marcados, mas de boa textura, domado, com acidez correta e um final
cheio e persistente, um final frutado.
“O fato de ganharmos
Ouro com o Touriga Nacional em Portugal, na sua terra de origem, valida ainda
mais todo o trabalho que vem sendo construído há 19 anos no projeto Seival na
Campanha Meridional”.
Adriano Miolo, superintendente da Miolo.
Muito melhor que a celebração de um prêmio conquistado por
esta linha de rótulos da Miolo é a corroboração de um terroir que expressa toda
a sua realidade, todas as suas características e que este grande produtor fez e
faz questão de projetar em seus rótulos. É a prova contundente que mesmo se
tratando de um vinho de volume traz, entrega qualidade, tipicidade,
desmistificando qualquer questionamento oriundo de visões preconceituosas de
aristocratas do vinho que insistem em dizer que todo o vinho produzido em larga
escala é ruim. É a comprovação de que o elo entre este humilde enófilo com essa
grande vinícola ainda está vivo e pleno, uma parceria que irá perdurar por anos
e anos e que ainda me proporciona grandes novidades. Que venham outros tantos!
Tem 14,5% de teor alcoólico!
Sobre a Vinícola Miolo:
A paixão pelo mundo fascinante do vinho é facilmente
explicada pela história da família Miolo que, além de trabalhar na
vitivinicultura desde a chegada de Giuseppe no Brasil em 1897, inova ano após
ano. Uma das fundadoras do projeto Wines of Brasil, a Miolo Wine Group é a
maior exportadora de vinhos do Brasil e a mais reconhecida no mercado
internacional. A produção dentre as 4 vinícolas do grupo soma, em média, 10
milhões de litros por ano numa área cultivada de vinhedos próprios com aproximadamente
1.000 hectares.
A Miolo exporta para mais de 30 países de todos os
continentes. É o maior exportador de vinhos finos do Brasil. De 30 hectares em
1989, a Miolo cultiva hoje, 30 safras mais tarde, cerca de 950 hectares de
vinhedos em quatro terroirs brasileiros: Vale dos Vinhedos (Serra Gaúcha),
Seival/Candiota (Campanha Meridional), Almadén/Santana do Livramento (Campanha
Central) e Terranova/Casa Nova (Vale do São Francisco), sendo a única empresa
do setor genuinamente brasileira com atuação em quatro diferentes regiões
produtoras.
Com uma produção anual de cerca de 10 milhões de litros, é a
marca que detém o maior portfólio de rótulos verde amarelos, exibindo centenas
de prêmios conquistados no mundo inteiro. O pioneirismo na elaboração dos
vinhos se estendeu para o enoturismo, onde a marca gera experiência,
aproximando e formando novos apreciadores da bebida. Assim é no Vale dos
Vinhedos com o Wine Garden Miolo, assim é no Vale do São Francisco com o Vapor
do Vinho pelo Velho Chico, onde a Miolo transformou o sertão em vinhedo. Este
mesmo espírito empreendedor que fez da pequena vinícola familiar a maior
produtora de vinhos finos do Brasil em apenas 30 safras, é que move gerações e
aproxima quem sonha de quem quer fazer.
Mais informações acesse:
Referências:
“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=CAMPANHA
“Vinhos da Campanha”: https://www.vinhosdacampanha.com.br/campanha-gaucha/
“Vinhos da Campanha”: https://www.vinhosdacampanha.com.br/ciclo-de-crescimento-da-uva/
“Tudo do Vinho”: https://tudodovinho.wordpress.com/2020/07/14/i-p-campanha-gaucha/
“Além do Vinho”: https://alemdovinho.wordpress.com/2015/09/20/brasil-campanha-gaucha-melhor-terroir-para-a-tannat/
“Conceito de Luxo”: https://conceitodeluxo.com.br/miolo-touriga-nacional-do-brasil-e-ouro-em-portugal/
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