sexta-feira, 7 de abril de 2023

J. Meyer Pinot Gris 2020

 

Sou um réu confesso! Adoro a Pinot Grigio! Nunca deixo de falar dela e dos seus predicados e, claro, da minha predileção por esta cepa tão especial. Não diria, neste momento, que é a minha preferida, há outras que aprecio e muito, mas colocaria a Pinot Grigio em um patamar de importância em minha enófila vida.

Ela sempre esteve, está e estará figurando em minha reles e humilde adega, dado o carinho e afeição que, ao longo de quase dez anos tenho por esta casta. E não me canso de falar dela, não me canso de enaltecer suas qualidades, mesmo que ainda eu veja, eu leia alguns comentários maldosos, rejeitando-a.

Evidente que temos de respeitar as opiniões, as percepções alheias, mas ler algumas opiniões pouco fundamentadas, sem consistência é perceber que, infelizmente, ainda existe alguns equívocos acerca da cepa. Ela é leve sim, mas não é inexpressiva. Ela é frutada sim, mas não é sem graça e enjoativa. Ela expressa as características de um povo, de um país como o nosso, harmonizando com o clima e o DNA cultural de nosso país.

Já degustei alguns rótulos da Pinot Grigio do Brasil, da Itália, as mais famosas talvez, do Chile, até da África do Sul e, dentro das possibilidades, vou tentando desbravar o mundo do vinho com novas opções de rótulos da velha e querida Pinot Grigio e hoje será especial, para variar, mais uma vez. Degustarei um rótulo alemão da Pinot Grigio que lá, como na França e Argentina (degustei um dos Hermanos também!) é chamada de Pinot Gris.

Eu a descobri, por acaso, de uma forma bem despretensiosa, quando estava a navegar em um site desses famosos de venda de vinhos no Brasil quando estava procurando o preço de outro vinho! Quando vi o Pinot Gris o coração balançou e é plenamente plausível, afinal é a Pinot Grigio!

Acho que esqueci da compra do vinho inicial! A compra do Pinot Grigio ou Pinot Gris foi imediata! E não demorou muito para degusta-lo e claro a animação é grande para tê-lo em taça! O produtor é o mesmo do J. Meyer Pinot Noir 2018 que um grande amigo de longa e data e hoje confrade Paulo Roberto trouxe à minha casa para degustarmos juntos e que tivemos uma grata surpresa.

Então sem mais delongas vamos às apresentações do vinho cuja “identidade” já foi praticamente revelada. O vinho que degustei e gostei veio da famosa região germânica de Pfalz e se chama J. Meyer Pinot Gris da safra 2020. Para variar, vamos às histórias, vamos de Pfalz, na Alemanha e falar um pouco das classificações dos vinhos alemães que ainda é um tanto quanto novo para a realidade brasileira.

Pfalz

Localizada no sudoeste da Alemanha e fazendo fronteira com a Alsácia, na França, Pfalz é famosa por seus vinhos. É a segunda maior das 13 regiões vinícolas do país, com mais de três mil famílias de vinicultores dedicadas à produção de vinho. 

Região estreita de 22.000ha, o Platinado se estende a oeste do Reno, por cerca de 80 km seguindo um eixo norte-sul. Divide-se em três setores: Mittelhaardt (Haardt média), Deutschen Weinstraße (Rota Alemã do Vinho) e Südliche Weinstrasse (Rota Sul do Vinho). Os melhores vinhedos ladeiam as encostas a leste da Floresta do Platinado.

A região é famosa pela qualidade de seus vinhos brancos, particularmente por seus Rieslings, vinhos de caráter, minerais, geralmente encorpados, mas também muito finos. A produção dos vinhos tintos é muito limitada, mas sua qualidade é geralmente excelente.

Pfalz

A região vinícola do Palatinado, denominada oficialmente de Pfalz, pode ser descoberta da melhor maneira pela Rota Alemã do Vinho (Deutschen Weinstraße). Essa rota turística de vinhos, a mais antiga do gênero no mundo, liga diversas cidades produtores de vinho, de Bockenheim, ao norte, a Schweigen, na fronteira com a França. A rota permite conhecer de maneira agradável a região vinícola entre a floresta Pfälzerwald e o Reno.

Pfalz possui uma grande variedade de solos: arenito (na maior parte da região), calcário erodido, ardósia, rocha basáltica e loess (sedimento fértil de cor amarela que só existe em algumas partes da Europa e da China), entre outros - o que permite o cultivo de amplo sortimento de castas de uvas tintas e brancas.

Comparado a outras regiões alemãs, o clima de Pfalz é mais quente, porém ameno. Não há invernos rigorosos e verões de altíssimas temperaturas. A chuva acontece na medida certa e tudo isto beneficia o cultivo das uvas, influenciando diretamente na qualidade destas.

Em Pfalz são cultivadas 45 castas de uva branca e 22 de uva tinta. Aproximadamente 25% dos vinhedos do local são cultivados com a variedade Riesling, por isso, Pfalz é considerada a maior produtora destas uvas em todo o mundo. Entretanto, 40% dos vinhedos são de frutas tintas, e a região é a maior produtora de vinhos tintos do país.

Além da Riesling, as uvas brancas Gewürztraminer e Scheurebe são destaque na região. Entre as tintas cultivadas em Pfalz temos Dornfelder, Portugieser, Spätburgunder (Pinot Noir) e Regent, além das mundialmente conhecidas Cabernet Sauvignon, Merlot, Tempranillo e Syrah. Em Pfalz a Pinot Noir dá os melhores resultados dentre as regiões alemãs.

Nomenclatura e definições dos vinhos alemães

O medo do desconhecido é o principal empecilho do vinho alemão. Devido aos conceitos, às expressões e ao idioma, o país possui um dos rótulos mais difíceis do mundo para compreender. Esse conteúdo vai além da safra, região de origem, teor alcoólico, uva e o nome do produtor, pois trazem dados como categoria de qualidade, número do teste de controle de qualidade, tipo e estilo do vinho.

Aliás, existem alguns dados que são obrigatórios e outros que são apenas opcionais. O vinho alemão passa por um rigoroso teste de controle de qualidade (A.P.NR.), desenvolvido pela Sociedade Alemã de Agricultura (DLG). Além disso, seus exemplares são divididos em categorias de qualidade.

Essa categorização depende de dois fatores: maturidade e qualidade das uvas, e a especificidade e tipicidade da região. As categorias de qualidade podem ser consideradas um sinônimo das Denominações de Origem, por também conter regras e normas específicas como área delimitada, uvas autorizadas, entre outros.

Deutscher Wein: São os vinhos mais simples de todas as categorias. Os vinhos podem ser produzidos com uvas colhidas em vinhedos de todo o território alemão.

Landwein: Assim como a Deutscher Wein, também possui vinhos simples, quando relacionado aos de outras categorias. Pode ser comparado aos IGP’s de outros países europeus. 85% das uvas devem ser provenientes de vinhedos de regiões reconhecidas pela categoria.

Qualitätswein bestimmter Anbaugebiet (QbA): É considerada a categoria dominante no país. As uvas precisam ser autorizadas e atingir um grau mínimo exigido de maturação. As uvas devem ser permitidas pela categoria e provenientes de uma das treze regiões vitícolas específicas. Além disso, o nome da região precisa estar estampado no rótulo. Os rótulos podem conter termos que indicam o nível de doçura do vinho como:

Trocken: vinho seco.

Halbtrocken: vinho meio-seco ou ligeiramente doce.

Feinherb: um termo não oficial para descrever vinhos semelhantes ao Halbtrocken.

Liebliche: vinho doce.

Em setembro de 1994, foi permitida a criação de uma subcategoria QbA, a Qualitätswein garantierten Ursprungs (QGU). Comparada a uma Denominação de Origem Controlada e Garantida, a QGU abrange uma região, vinha ou aldeia específica, que expressa além de alta qualidade, tipicidade. Nessa categoria, os vinhos passam por rigorosas análises sensoriais e analíticas.

Qualitätswein mit Prädikat (QmP) ou Prädikatswein

As uvas devem ser permitidas pela categoria e provenientes de uma das treze regiões vitícolas específicas. Além disso, o nome da região precisa estar estampado no rótulo. As uvas devem atingir um grau específico de maturação, açúcar e teor alcoólico natural. Os rótulos precisam estampar alguns atributos específicos referentes ao nível de maturação das uvas e ao método de colheita:

Kabinett: colheita realizada com uvas completamente maduras. Gera vinhos mais leves e com baixo teor alcoólico.

Spätlese: colheita tardia, ou seja, as uvas são colhidas em um período posterior ao considerado ideal. Gera vinhos concentrados e com intenso aroma, mas não especificamente com o paladar adocicado.

Auslese: uvas colhidas muito maduras, mas apenas os cachos selecionados. Gera vinhos nobres, com intensidade tanto no aroma quanto no paladar. A doçura no paladar não é uma regra.

Eiswein: uvas sobreamadurecidas como a Beerenauslese, porém colhidas e prensadas congeladas. Gera vinhos nobres e singulares, com alta concentração.

Trockenbeerenauslese (TBA): uvas sobreamadurecidas, infectadas por Botrytis cinerea, que secam por um determinado tempo adquirindo características próximas a de uvas passas. Gera vinhos doces, ricos e nobres.

Beerenauslese (BA): uvas sobreamadurecidas, infectadas por Botrytis cinerea, com seleção criteriosa dos bagos. Essas uvas são colhidas apenas em safras excepcionais. Gera vinhos longevos, ricos e doces.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um amarelo palha, brilhante e reluzente, já tendendo ao dourado.

No nariz entrega aromas de frutas de polpa branca maduras, com destaque para o pêssego, melão, maçã-verde, limão e damasco, com delicados e agradáveis notas de flores brancas, o típico floral da cepa.

Na boca é leve, com frescor, porém aliado a uma personalidade marcante, diria uma boa intensidade e volume, com as notas frutadas, as frutas maduras em evidência, como no aspecto olfativo, além de uma acidez equilibrada e um final de boa persistência, um final longo.

O fato é que na Alemanha se elabora grandes e emblemáticos vinhos brancos, a Riesling está aí para confirmar esse fato, com vinhos expressivos, de personalidade, frescos e também longevos, de potencial de guarda invejáveis. E Pfalz com a sua diversidade de solos e climas propicia não apenas a produção de Riesling, mas também de Pinot Gris, mostrando, além de ter sido adaptado ao clima ameno do local, mas entregando um rótulo refrescante, frutado e equilibrado, com nuances de damasco, pêssego, pera e toques florais bem delicados. Uma grata experiência com o meu primeiro Pinot Gris alemão. E que venham vários outros! Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Moselland:

A princípio, no século XIX, muitos produtores individuais da Alemanha se uniram por necessidade econômica para formar pequenas cooperativas vitícolas: eles pretendiam trabalhar com mais eficiência, unindo forças.

Em seguida, em 1969, as principais cooperativas se fundiram com a Hauptkellerei Koblenz para formar a maior cooperativa vitícola do estado de Rheinland-Pfalz. Desse modo, o resultado foi a criação da Moselland, localizada em Bernkastel Kues, que por mais de um quarto de século, foi um nome garantiu alta qualidade.

Sendo assim, na Moselland, a qualidade começa bem na vinha. Os viticultores são especialistas em gerenciamento de vinhedos, desde o plantio até a colheita, assim produzem uvas da mais alta qualidade que são entregues em nas estações de prensagem e coleta, ao lado das vinhas. Além disso, a equipe altamente qualificada assume o processo de vinificação usando os mais modernos maquinários.

Mais informações acesse:

https://www.moselland.de/

Referências:

“Vinho sem Segredo”: https://vinhosemsegredo.com/2011/05/02/nomenclatura-do-vinho-alemao-i/

“Winepedia”: https://www.wine.com.br/winepedia/dicas/como-ler-rotulos-alemanha/

“Art des Caves”: https://blog.artdescaves.com.br/conheca-pfalz-regiao-que-mais-produz-vinhos-alemanha

“Carpevinum”: https://www.carpevinum.com.br/loja/noticia.php?loja=677095&id=255

 






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