Sou um réu confesso! Adoro a Pinot Grigio! Nunca deixo de
falar dela e dos seus predicados e, claro, da minha predileção por esta cepa
tão especial. Não diria, neste momento, que é a minha preferida, há outras que
aprecio e muito, mas colocaria a Pinot Grigio em um patamar de importância em
minha enófila vida.
Ela sempre esteve, está e estará figurando em minha reles e
humilde adega, dado o carinho e afeição que, ao longo de quase dez anos tenho
por esta casta. E não me canso de falar dela, não me canso de enaltecer suas
qualidades, mesmo que ainda eu veja, eu leia alguns comentários maldosos,
rejeitando-a.
Evidente que temos de respeitar as opiniões, as percepções
alheias, mas ler algumas opiniões pouco fundamentadas, sem consistência é
perceber que, infelizmente, ainda existe alguns equívocos acerca da cepa. Ela é
leve sim, mas não é inexpressiva. Ela é frutada sim, mas não é sem graça e
enjoativa. Ela expressa as características de um povo, de um país como o nosso,
harmonizando com o clima e o DNA cultural de nosso país.
Já degustei alguns rótulos da Pinot Grigio do Brasil, da
Itália, as mais famosas talvez, do Chile, até da África do Sul e, dentro das
possibilidades, vou tentando desbravar o mundo do vinho com novas opções de
rótulos da velha e querida Pinot Grigio e hoje será especial, para variar, mais
uma vez. Degustarei um rótulo alemão da Pinot Grigio que lá, como na França e
Argentina (degustei um dos Hermanos também!) é chamada de Pinot Gris.
Eu a descobri, por acaso, de uma forma bem despretensiosa,
quando estava a navegar em um site desses famosos de venda de vinhos no Brasil
quando estava procurando o preço de outro vinho! Quando vi o Pinot Gris o
coração balançou e é plenamente plausível, afinal é a Pinot Grigio!
Acho que esqueci da compra do vinho inicial! A compra do
Pinot Grigio ou Pinot Gris foi imediata! E não demorou muito para degusta-lo e
claro a animação é grande para tê-lo em taça! O produtor é o mesmo do J. Meyer Pinot Noir 2018 que um grande amigo de longa e data e hoje confrade Paulo
Roberto trouxe à minha casa para degustarmos juntos e que tivemos uma grata
surpresa.
Então sem mais delongas vamos às apresentações do vinho cuja
“identidade” já foi praticamente revelada. O vinho que degustei e gostei veio
da famosa região germânica de Pfalz e se chama J. Meyer Pinot Gris da safra
2020. Para variar, vamos às histórias, vamos de Pfalz, na Alemanha e falar um
pouco das classificações dos vinhos alemães que ainda é um tanto quanto novo
para a realidade brasileira.
Pfalz
Localizada no sudoeste da Alemanha e fazendo fronteira com a
Alsácia, na França, Pfalz é famosa por seus vinhos. É a segunda maior das 13
regiões vinícolas do país, com mais de três mil famílias de vinicultores
dedicadas à produção de vinho.
Região estreita de 22.000ha, o Platinado se estende a oeste
do Reno, por cerca de 80 km seguindo um eixo norte-sul. Divide-se em três
setores: Mittelhaardt (Haardt média), Deutschen Weinstraße (Rota Alemã do
Vinho) e Südliche Weinstrasse (Rota Sul do Vinho). Os melhores vinhedos ladeiam
as encostas a leste da Floresta do Platinado.
A região é famosa pela qualidade de seus vinhos brancos,
particularmente por seus Rieslings, vinhos de caráter, minerais, geralmente
encorpados, mas também muito finos. A produção dos vinhos tintos é muito limitada,
mas sua qualidade é geralmente excelente.
A região vinícola do Palatinado, denominada oficialmente de
Pfalz, pode ser descoberta da melhor maneira pela Rota Alemã do Vinho
(Deutschen Weinstraße). Essa rota turística de vinhos, a mais antiga do gênero
no mundo, liga diversas cidades produtores de vinho, de Bockenheim, ao norte, a
Schweigen, na fronteira com a França. A rota permite conhecer de maneira
agradável a região vinícola entre a floresta Pfälzerwald e o Reno.
Pfalz possui uma grande variedade de solos: arenito (na maior
parte da região), calcário erodido, ardósia, rocha basáltica e loess (sedimento
fértil de cor amarela que só existe em algumas partes da Europa e da China),
entre outros - o que permite o cultivo de amplo sortimento de castas de uvas
tintas e brancas.
Comparado a outras regiões alemãs, o clima de Pfalz é mais
quente, porém ameno. Não há invernos rigorosos e verões de altíssimas
temperaturas. A chuva acontece na medida certa e tudo isto beneficia o cultivo
das uvas, influenciando diretamente na qualidade destas.
Em Pfalz são cultivadas 45 castas de uva branca e 22 de uva
tinta. Aproximadamente 25% dos vinhedos do local são cultivados com a variedade
Riesling, por isso, Pfalz é considerada a maior produtora destas uvas em todo o
mundo. Entretanto, 40% dos vinhedos são de frutas tintas, e a região é a maior
produtora de vinhos tintos do país.
Além da Riesling, as uvas brancas Gewürztraminer e Scheurebe
são destaque na região. Entre as tintas cultivadas em Pfalz temos Dornfelder,
Portugieser, Spätburgunder (Pinot Noir) e Regent, além das mundialmente
conhecidas Cabernet Sauvignon, Merlot, Tempranillo e Syrah. Em Pfalz a Pinot
Noir dá os melhores resultados dentre as regiões alemãs.
Nomenclatura e definições dos vinhos alemães
O medo do desconhecido é o principal empecilho do vinho
alemão. Devido aos conceitos, às expressões e ao idioma, o país possui um dos
rótulos mais difíceis do mundo para compreender. Esse conteúdo vai além da
safra, região de origem, teor alcoólico, uva e o nome do produtor, pois trazem
dados como categoria de qualidade, número do teste de controle de qualidade,
tipo e estilo do vinho.
Aliás, existem alguns dados que são obrigatórios e outros que
são apenas opcionais. O vinho alemão passa por um rigoroso teste de controle de
qualidade (A.P.NR.), desenvolvido pela Sociedade Alemã de Agricultura (DLG).
Além disso, seus exemplares são divididos em categorias de qualidade.
Essa categorização depende de dois fatores: maturidade e
qualidade das uvas, e a especificidade e tipicidade da região. As categorias de
qualidade podem ser consideradas um sinônimo das Denominações de Origem, por
também conter regras e normas específicas como área delimitada, uvas
autorizadas, entre outros.
Deutscher Wein: São os vinhos mais simples de todas as
categorias. Os vinhos podem ser produzidos com uvas colhidas em vinhedos de
todo o território alemão.
Landwein: Assim como a Deutscher Wein, também possui vinhos
simples, quando relacionado aos de outras categorias. Pode ser comparado aos
IGP’s de outros países europeus. 85% das uvas devem ser provenientes de
vinhedos de regiões reconhecidas pela categoria.
Qualitätswein bestimmter Anbaugebiet (QbA): É considerada a
categoria dominante no país. As uvas precisam ser autorizadas e atingir um grau
mínimo exigido de maturação. As uvas devem ser permitidas pela categoria e
provenientes de uma das treze regiões vitícolas específicas. Além disso, o nome
da região precisa estar estampado no rótulo. Os rótulos podem conter termos que
indicam o nível de doçura do vinho como:
Trocken: vinho seco.
Halbtrocken: vinho meio-seco ou ligeiramente doce.
Feinherb: um termo não oficial para descrever vinhos
semelhantes ao Halbtrocken.
Liebliche: vinho doce.
Em setembro de 1994, foi permitida a criação de uma
subcategoria QbA, a Qualitätswein garantierten Ursprungs (QGU). Comparada a uma
Denominação de Origem Controlada e Garantida, a QGU abrange uma região, vinha
ou aldeia específica, que expressa além de alta qualidade, tipicidade. Nessa
categoria, os vinhos passam por rigorosas análises sensoriais e analíticas.
Qualitätswein mit Prädikat (QmP) ou Prädikatswein
As uvas devem ser permitidas pela categoria e provenientes de
uma das treze regiões vitícolas específicas. Além disso, o nome da região
precisa estar estampado no rótulo. As uvas devem atingir um grau específico de
maturação, açúcar e teor alcoólico natural. Os rótulos precisam estampar alguns
atributos específicos referentes ao nível de maturação das uvas e ao método de
colheita:
Kabinett: colheita realizada com uvas completamente maduras.
Gera vinhos mais leves e com baixo teor alcoólico.
Spätlese: colheita tardia, ou seja, as uvas são colhidas em
um período posterior ao considerado ideal. Gera vinhos concentrados e com
intenso aroma, mas não especificamente com o paladar adocicado.
Auslese: uvas colhidas muito maduras, mas apenas os cachos
selecionados. Gera vinhos nobres, com intensidade tanto no aroma quanto no
paladar. A doçura no paladar não é uma regra.
Eiswein: uvas sobreamadurecidas como a Beerenauslese, porém
colhidas e prensadas congeladas. Gera vinhos nobres e singulares, com alta
concentração.
Trockenbeerenauslese (TBA): uvas sobreamadurecidas,
infectadas por Botrytis cinerea, que secam por um determinado tempo adquirindo
características próximas a de uvas passas. Gera vinhos doces, ricos e nobres.
Beerenauslese (BA): uvas sobreamadurecidas, infectadas por
Botrytis cinerea, com seleção criteriosa dos bagos. Essas uvas são colhidas
apenas em safras excepcionais. Gera vinhos longevos, ricos e doces.
E agora finalmente o vinho!
Na taça apresenta um amarelo palha, brilhante e reluzente, já
tendendo ao dourado.
No nariz entrega aromas de frutas de polpa branca maduras,
com destaque para o pêssego, melão, maçã-verde, limão e damasco, com delicados
e agradáveis notas de flores brancas, o típico floral da cepa.
Na boca é leve, com frescor, porém aliado a uma personalidade
marcante, diria uma boa intensidade e volume, com as notas frutadas, as frutas
maduras em evidência, como no aspecto olfativo, além de uma acidez equilibrada
e um final de boa persistência, um final longo.
O fato é que na Alemanha se elabora grandes e emblemáticos
vinhos brancos, a Riesling está aí para confirmar esse fato, com vinhos
expressivos, de personalidade, frescos e também longevos, de potencial de
guarda invejáveis. E Pfalz com a sua diversidade de solos e climas propicia não
apenas a produção de Riesling, mas também de Pinot Gris, mostrando, além de ter
sido adaptado ao clima ameno do local, mas entregando um rótulo refrescante,
frutado e equilibrado, com nuances de damasco, pêssego, pera e toques florais
bem delicados. Uma grata experiência com o meu primeiro Pinot Gris alemão. E
que venham vários outros! Tem 12,5% de teor alcoólico.
Sobre a Moselland:
A princípio, no século XIX, muitos produtores individuais da
Alemanha se uniram por necessidade econômica para formar pequenas cooperativas
vitícolas: eles pretendiam trabalhar com mais eficiência, unindo forças.
Em seguida, em 1969, as principais cooperativas se fundiram
com a Hauptkellerei Koblenz para formar a maior cooperativa vitícola do estado
de Rheinland-Pfalz. Desse modo, o resultado foi a criação da Moselland,
localizada em Bernkastel Kues, que por mais de um quarto de século, foi um nome
garantiu alta qualidade.
Sendo assim, na Moselland, a qualidade começa bem na vinha.
Os viticultores são especialistas em gerenciamento de vinhedos, desde o plantio
até a colheita, assim produzem uvas da mais alta qualidade que são entregues em
nas estações de prensagem e coleta, ao lado das vinhas. Além disso, a equipe
altamente qualificada assume o processo de vinificação usando os mais modernos
maquinários.
Mais informações acesse:
Referências:
“Vinho sem Segredo”: https://vinhosemsegredo.com/2011/05/02/nomenclatura-do-vinho-alemao-i/
“Winepedia”: https://www.wine.com.br/winepedia/dicas/como-ler-rotulos-alemanha/
“Art des
Caves”: https://blog.artdescaves.com.br/conheca-pfalz-regiao-que-mais-produz-vinhos-alemanha
“Carpevinum”: https://www.carpevinum.com.br/loja/noticia.php?loja=677095&id=255
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