Hoje é o dia do meu aniversário! Dia de celebração? Em tese
sim, afinal mais um ano de vida, mas há tempos que não festejo aniversário da
forma convencional, com convidados, festas etc. Não que eu esteja deprimido ou
não queira as pessoas que tanto amo perto de mim neste momento dito tão
importante, é porque simplesmente não me interessa mesmo esse “formato”.
Entretanto o conceito de celebração não pode e tão pouco deve ser colocado de
lado, sobretudo quando se tem, na vida, o vinho que é a personificação da
celebração.
Então já que o momento pede algo especial e que o mencionado
vinho pode significa, entre outras coisas, a celebração, por que não convergir
tudo isso? Juntar tudo a nosso favor? Degustar um belo vinho no meu
aniversário? Está aí uma boa “harmonização”, levando a coisa para o mundo do
vinho.
Como alguns “entendidos” costumam dizer: Precisa acertar na
escolha de um vinho mais imponente para essa data tão importante que é o
aniversário. Outra coisa que sempre me colocou a pensar, a contextualizar:
Existem vinhos para momentos em especial? Claro que em um dia de sol na praia
ou na piscina um bom vinho branco ou rosé bem leve e frutado é o ideal ou
aquele vinho robusto, barricado e complexo para um churrasco ou dia frio, mas
existe um vinho específico para aniversário, comemoração, promoção profissional
etc?
Todo vinho é especial, todo vinho quando derramado na sua
taça, escolhido por você para degustar é especial, independente da sua
proposta, do que você entrega. Se você o escolheu se tornou, desde já,
especial. Mas apesar dessas discussões o dia pede, o momento é propício!
O vinho de hoje é especial! Eu o comprei há dois anos, um
pouco mais de dois anos e decidi esperar esse tempo todo para que o vinho
completasse exatamente 15 anos de safra! Sim! 15 anos de idade! Espero que a
sua evolução tenha sido satisfatória, que o vinho tenha envelhecido bem e que
proporcione complexidade, personalidade e a elegância da maturidade.
O vinho que, por algum tempo hibernou na adega, finalmente
foi retirado dela com uma expectativa do tamanho da sua longevidade, de sua
vida muito bem resolvida, evoluída, pronto para o meu deleite, para a
celebração. A rolha saiu e de cara os aromas terciários já se revelaram a
expectativa em profusão, os sentidos aguçados.
A taça inundada do vinho, os sentidos transbordam de
curiosidade! O vinho que degustei e gostei veio da Espanha, da região de Valdepeñas,
e se chama o já famoso Anciano Gran Reserva da casta Tempranillo da safra 2006.
É um prazer degustar um vinho de 15 anos de safra e que evoluiu por 10 anos na
garrafa antes de sair da vinícola, além de 18 meses de passagem por barricas de
carvalho. É simplesmente demais! E ainda de “quebra” tem uma região que nunca
degustei: Valdepeñas. Então, antes de falar do vinho, falemos dessa importante
região produtora de vinhos na Espanha.
Valdepeñas DO
A D.O. Valdepeñas fica imediatamente ao sul de Castilla-La
Mancha, que fica no centro da Espanha. Trata-se de uma região muito propícia
para o cultivo da vinha, com um clima continental de baixo índice
pluviométrico, e que registra temperaturas extremas, com máximas que superam os
40°C, e mínimas que podem ser inferiores a -10°C.
Os solos, pobres em matéria orgânica e de baixa fertilidade,
obrigam as raízes das videiras a se desenvolverem, a se aprofundarem e a se
fortalecerem. Nesse cenário, cultivam-se uvas que alcançam boa maturação, e que
são capazes de produzir vinhos muito estruturados, complexos, aromáticos e de
coloração muito profunda.
Anualmente, são produzidos cerca de 57 milhões de litros de
vinho rotulados com a denominação Valdepeñas, sendo que quase 40% da produção é
destinada à exportação da Espanha para outros países.
A grande maioria dos vinhos de Valdepeñas, cerca de 77%
deles, são tintos. Os brancos representam cerca de 18%, e os rosés de
Valdepeñas, tradicionalmente famosos, representam apenas 5%.
A notoriedade de Valdepeñas encontra sua origem em vinhos
rosés do passado, que foram lentamente dando lugar a tintos elegantes, sempre
aveludados e frutados, que podem ser jovens ou envelhecidos em barris de
carvalho.
A variedade mais importante de Valdepeñas é sem dúvida, a
Tempranillo, que também é conhecida nessa região como Cencibel. Outras uvas
autorizadas para cultivo em Valdepeñas são as tintas Garnacha, Cabernet
Sauvignon, Merlot, Syrah e Petit Verdot, além das brancas Airén, Macabeo,
Chardonnay, Sauvignon Blanc, Moscatel de Grano Menudo e Verdejo.
Denominação de Origem e história
A Denominação de Origem Valdepeñas nasceu em 1932 conforme
consta do Estatuto do Vinho, a produção de vinho na região remonta ao século V
aC, como comprovam os estudos científicos do sítio ibérico "Cerro de las
Cabezas" localizado geograficamente dentro da área que hoje é a sua área
de produção.
Foi em 1968 que a Denominação de Origem Valdepeñas foi dotada
do seu primeiro regulamento, que durou até 2009, altura em que se constituiu
como Associação Interprofissional, criando o quadro de trabalho entre
produtores e adegas, pela qualidade diferenciada no processo de viticultura e a
produção e engarrafamento dos seus vinhos.
Apesar de ser mundialmente reconhecida como "Denominação
de Origem Valdepeñas", sua área de produção inclui dez municípios:
Valdepeñas, Alcubillas, Moral de Calatrava, San Carlos del Valle, Santa Cruz de
Mudela, Torrenueva, parte do distrito Torre de Juan Abad, Granátula de
Calatrava, Alhambra e Montiel.
Cidades com muitas histórias para contar, eternamente ligadas
-como os seus vinhos- à história de Espanha de alguns dos seus filhos ou aos
acontecimentos históricos que protagonizaram os nomes dos seus solos como: D.
Álvaro de Bazán, primeiro Marquês de Santa Cruz; Francisco de Quevedo ou o
regicídio entre Pedro I e Enrique II de Castela.
E agora finalmente o vinho!
Na taça um vermelho rubi intenso, com alguns reflexos
violáceos, mas também com aquele acastanhado, uma cor atijolada se revelando
devido aos 15 anos de safra, mas ainda vivo graças a um incomum brilho, com uma
proeminente concentração de lágrimas finas e densas que desenhavam as bordas do
copo.
No nariz o destaque para o buquê aromático, um estágio de complexidade,
onde se destacam as notas de frutas secas e frutos secos também, um toque de amêndoa,
talvez, o discreto toque amadeirado, com toques de baunilha, de couro, de
terra, de fazenda, especiarias.
Na boca é delicado, elegante, redondo, não é estruturado, mas
complexo, o aporte de 18 meses de barricas de carvalho entrega o toque, também
discreto, da madeira, um pouco de rusticidade, talvez, os taninos macios e
dóceis, o tempo denuncia essa condição, mas com uma incrível acidez que mostrou
um vinho ainda vivo e pleno. Final persistente e longo.
Muito mais do que um aniversário, é celebrar o tamanho de um
longevo, mas pleno, expressivo e elegante vinho que amadureceu que evoluiu
maravilhosamente por 10 anos em garrafa, vagarosamente, pacientemente até sair
da bodega para ganhar o mundo, as mesas dos mais exigentes e ávidos enófilos
com seus aguçados sentidos. Um vinho de 15 anos que abrilhantou mais um ano de
minha vida que celebro grandemente com esse rótulo que de fato merece ser
chamado de “GRAN”, um grandioso vinho que é complexo, aromático que entrega de
forma indelével as características marcantes da casta mais popular e
emblemática da Espanha, a Tempranillo que com o aporte da madeira, longos 18
meses de passagem, garantem personalidade, equilíbrio, mas delicadeza, com
taninos presentes, mas dóceis pelo tempo com as notas de chocolate, de
especiarias, de terra, fazenda, baunilha. Um vinho que os prêmios, os diversos
prêmios corroboram a sua qualidade. O tempo definitivamente foi generoso com
este rótulo que ouso dizer que teria mais alguns anos pela frente. 15
aniversários para 42 aniversários. Tem 13% de teor alcoólico.
Sobre a vinícola Anciano:
Anciano é uma vinícola fundada a princípio no início do
século XX por Don Juan Sánchez, um fazendeiro que decidiu construir uma adega
para elaborar seu próprio vinho ao invés de vender suas uvas para outras
pessoas.
Localizada no coração de La-Mancha, a Anciano desfruta dessa
forma do solo especial de Valdepeñas para a produção dos vinhos. Valdepeñas
significa, a saber, “vale das pedras” devido ao solo especial formado por
pequenas e grandes pedras.
Estas pedras não apenas absorvem o calor do sol durante o dia
e o libera à noite, mas também permitem que o calcário do solo absorva a água
necessária para regar os vinhedos durante ao verão de calor intenso de
La-Mancha. Ou seja, o local possui as condições perfeitas para o nascimento de
grandes rótulos.
Posteriormente, a vinícola foi adquirida e hoje faz parte do
grupo Guy Anderson Wines, um grupo multinacional criado pelo enólogo Guy
Anderson.
Mais informações acesse:
Referências:
“Vinos Valdepeñas”: https://vinosvaldepenas.com/denominacion/
“Bardot Vinhos e Artes”: http://www.bardotvinhoseartes.com.br/2015/11/denominacion-de-origen-valdepenas.html
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