A Espanha definitivamente entrou no meu radar! A cada dia e
cada oferta de rótulos, que são muitos, descubro novas e atraentes regiões que
compõe o cenário vitivinícola espanhol. E o melhor: a preços igualmente
atraentes.
Porém há certa rejeição quando se fala em valores,
principalmente valores baixos de alguns rótulos da Espanha, mais precisamente
aos vinhos que ostentam as nomenclaturas “crianza”, “reserva” e “gran reserva”.
Parece que existe um custo alto a se pagar por rótulos mais
baratos de regiões que não gozam de fama da Espanha, como Navarra, Catalunha,
Valência etc. Há uma “distinta” rejeição quando se fala ou menciona quaisquer
rótulos que não seja Rioja, Priorat ou Ribera del Duero.
Mas antes de valores preconizo, de forma unânime, o garimpo
às regiões espanholas, a busca por novos terroirs, isso sim é o mais importante
de tudo! E tenho me aventurado com um prazer único! Grandes e fantásticas
surpresas vem surgindo a cada rótulo, a cada degustação!
E uma, em especial, não posso deixar de comentar, fica na
maior região produtora de vinhos da Espanha, ou melhor, sub-região, Valdepeñas.
Essa região ficou um pouco mais conhecida graças aos vinhos da linha “Pata
Negra” e, mais tarde, da linha “Anciano” que teve uma agressiva propaganda de
marketing de um ´popular e-commerce brasileiro.
A propósito tive o privilégio de degustar dois rótulos, em
uma espécie de “mini-vertical” com um grande amigo em meu aniversário, da linha
Anciano Gran Reserva, das safras 2006 e 2008 e simplesmente foi espetacular
degustar vinhos de mais de uma década de vida e ainda vivos, plenos e com
muitos e muitos anos pela frente!
E isso, a longevidade, me atrai também. Vinhos que se
degustam na plenitude de suas características e que entregam tipicidade,
qualidade, com expressão do terroir e melhor, com valores extremamente
interessantes.
E há também outro ponto interessante: produtor, a vinícola. Será a minha segunda
experiência com os rótulos da Bodegas Fernando Castro, que conheci com o El Artista Gran Reserva Tempranillo da safra 2012 e que surpreendeu de forma
positiva quando o degustei quando tinha 10 anos de garrafa!
Então sem mais delongas vamos às apresentações do “novo”
vinho! O vinho que degustei e gostei veio, como disse, de Valdepeñas, de
Castilla La Mancha, na Espanha, e se chama Raíces Gran Reserva, um 100%
Tempranillo, da safra 2012. Para variar, vamos de história, vamos de
Valdepeñas.
Valdepeñas
A D.O. Valdepeñas fica ao sul de Castilla La Mancha no centro
da Espanha. Trata-se de uma região muito propícia para o cultivo da vinha, com
um clima continental de baixo índice pluviométrico, e que registra temperaturas
extremas, com máximas que superam os 40°C, e mínimas que podem ser inferiores a
-10°C.
Os solos, pobres em matéria orgânica e de baixa fertilidade,
obrigam as raízes das videiras a se desenvolverem, a se aprofundarem e a se
fortalecerem. Nesse cenário, cultivam-se uvas que alcançam boa maturação, e que
são capazes de produzir vinhos muito estruturados, complexos, aromáticos e de
coloração muito profunda.
Anualmente, são produzidos cerca de 57 milhões de litros de
vinho rotulados com a denominação Valdepeñas, sendo que quase 40% da produção
são destinadas à exportação da Espanha para outros países.
A grande maioria dos vinhos de Valdepeñas, cerca de 77%
deles, são tintos. Os brancos representam cerca de 18%, e os rosés de
Valdepeñas, tradicionalmente famosos, representam apenas 5%.
A notoriedade de Valdepeñas encontra sua origem em vinhos
rosés do passado, que foram lentamente dando lugar a tintos elegantes, sempre
aveludados e frutados, que podem ser jovens ou envelhecidos em barris de
carvalho.
A variedade mais importante de Valdepeñas é sem dúvida, a
Tempranillo, que também é conhecida nessa região como Cencibel. Outras uvas autorizadas
para cultivo em Valdepeñas são as tintas Garnacha, Cabernet Sauvignon, Merlot,
Syrah e Petit Verdot, além das brancas Airén, Macabeo, Chardonnay, Sauvignon
Blanc, Moscatel de Grano Menudo e Verdejo.
Denominação de Origem e história
A Denominação de Origem Valdepeñas nasceu em 1932 conforme
consta do Estatuto do Vinho, a produção de vinho na região remonta ao século V
aC, como comprovam os estudos científicos do sítio ibérico "Cerro de las
Cabezas" localizado geograficamente dentro da área que hoje é a sua área
de produção.
Foi em 1968 que a Denominação de Origem Valdepeñas foi dotada
do seu primeiro regulamento, que durou até 2009, altura em que se constituiu
como Associação Interprofissional, criando o quadro de trabalho entre
produtores e adegas, pela qualidade diferenciada no processo de viticultura e a
produção e engarrafamento dos seus vinhos.
Apesar de ser mundialmente reconhecida como "Denominação
de Origem Valdepeñas", sua área de produção inclui dez municípios:
Valdepeñas, Alcubillas, Moral de Calatrava, San Carlos del Valle, Santa Cruz de
Mudela, Torrenueva, parte do distrito Torre de Juan Abad, Granátula de
Calatrava, Alhambra e Montiel.
E agora finalmente o vinho!
Na taça apresenta um vermelho rubi com intensidade, com pouco
brilho e halos acastanhados, em tons granada, já denotando os 11 anos de idade,
além de lágrimas finas, lentas e em profusão.
No nariz explodem em complexidade a começar com as notas
frutadas, frutas pretas e vermelhas já passadas, em estágio de geleia, com a
madeira também assumindo o protagonismo, entregando toques de baunilha,
torrefação, chocolate, além da rusticidade com destaque para o couro, tabaco, defumado,
terra molhada e especiarias.
Na boca revela um misto de potência e elegância! Um vinho
austero, maduro, mas macio, redondo, uma estrutura perfeitamente harmônica e
equilibrada. As frutas em compota aparecem e está em plena convergência com a
madeira, sendo complexo e aveludado. Percebe-se a baunilha, a torrefação,
discreto café torrado e chocolate, com taninos domados, mas ainda presentes,
com acidez correta e um final de média persistência.
O Raíces Gran Reserva é um vinho complexo, a madeira
protagoniza, porém juntamente com as notas frutadas, o que é incrível aos 11
anos de vida. Um vinho macio, redondo, equilibrado, entregando a elegância
típica de vinhos como esse. Não esperem peso, estrutura ou algo que o valha,
afinal 18 meses de barricas de carvalho com outros 18 meses em garrafa, o
afinamento trará complexidade e estrutura, não peso. E o mais gratificante é
degustar um vinho em uma faixa de preço extremamente acessível. É possível sim
degustar um Gran Reserva espanhol com um valor competitivo e que atinja sim a
todos os níveis sociais, sem taxar o vinho como aristocrático e de difícil
alcance entre os enófilos indistintamente. Uma reverência aos revendedores e a
vinícola que provaram que é possível degustar um vinho com tal proposta a um
valor justo e possível. Democratizemos a cultura do vinho! Tem 13% de teor
alcoólico.
Sobre a Bodegas Fernando Castro:
A Bodegas Fernando Castro foi fundada em 1850, é a mais
antiga adega CLM sob a direção da mesma família. A família Castro começou a
produzir vinhos brancos e tintos a partir de uvas cultivadas na sua propriedade
em Santa Cruz de Mudela, seguindo os métodos tradicionais da região.
Desde 1895, as Bodegas Fernando Castro estão presentes nos
pontos mais importantes do território nacional, graças ao conhecido Comboio do
Vinho e posteriormente através da sua própria rede de transportes, conquistando
a confiança dos grandes centros de compras.
Com uma localização geográfica imbatível, estando no centro
de Espanha, os seus produtos chegam a qualquer ponto da geografia, o que
juntamente com a ênfase na qualidade dos seus produtos e eficiência no serviço,
tem facilitado a expansão do seu mercado ao máximo desde 70 países para onde
exportam atualmente.
A adega Fernando Castro está localizada no centro nevrálgico
da Denominação de Origem Valdepeñas. Localizada no extremo sul do planalto
ibérico e bem delimitada pela planície de La Mancha a norte, os campos de
Montiel a leste, Calatrava a oeste e Serra Morena a sul, Santa Cruz de Mudela
preserva o património cultural e gastronómico de A Mancha.
A região contém uma abundância de solos calcários, arenosos e
argilosos (avermelhados), atravessados pelo rio Jabalón e bronzeados pelo sol.
Terrenos com um clima continental marcado de temperaturas extremas e baixa
pluviosidade, onde as temperaturas podem ultrapassar os 40ºC e descer abaixo
dos -10ºC.
Viticultores por tradição familiar, Bodegas Fernando Castro
tem 380 hectares de vinhas aninhadas em torno da Finca Los Altos,
supervisionadas pessoalmente pela família Castro. Os seus vinhos expressam a
personalidade de uma região única, situada a 705 metros de altitude e com um
clima de temperaturas extremas, os seus solos são pobres em matéria orgânica e
de baixa fertilidade, condição ideal para o cultivo da vinha.
Mais de 2.500 horas de sol por ano se traduzem em uvas bem
maduras e vinhos com maior intensidade de cor, estrutura ideal e poder
aromático.
Atualmente, duas gerações da família Castro trabalham juntas,
com o apoio inestimável de grandes profissionais que contribuem para a
produção, processamento, envelhecimento e comercialização dos seus vinhos,
utilizando instalações modernas, confortáveis e funcionais.
Na última década, alargaram a sua gama de produtos a setores
novos e emergentes como os vinhos espumantes, vinhos não alcoólicos, vinhos
Kosher, vinhos biológicos e até sangrias, garantindo os mesmos níveis de qualidade
e serviço nestes novos produtos.
Todos os anos os vinhos são premiados nos mais prestigiados
concursos internacionais do mundo, como Berliner Wein Thophy, Mundus Vini,
Sakura Japan Awards ou o Best Wine-in-Box da França.
Mais informações acesse:
https://bodegasfernandocastro.es/
Referência:
“Vinos Valdepeñas”: https://vinosvaldepenas.com/denominacion/
“Bardot Vinhos e Artes”: http://www.bardotvinhoseartes.com.br/2015/11/denominacion-de-origen-valdepenas.html
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