Não sou muito afeito a esses métodos de autoajuda que tem por
aí com essas pessoas de sucesso e deveras “perfeitas” que, por intermédio de
livros best sellers e vídeos com milhões de visualizações, elaboram teses e
métodos que dão o mapa da mina da felicidade. Primeiro que não existe
felicidade, mas “surtos” de alegria. Mas não quero ficar aqui proferindo
filosofias de bar e buscar respostas com caminhos complexos, mas mostrar que
momentos simples e conceitualmente banais podem sim, trazer alegrias para a sua
vida, te proporcionar prazeres que podem ser preponderantes para a sua vida,
permitindo que você siga, rejuvenescido o seu caminho, superando os obstáculos
que a vida nos impõe.
Agora vem aquela perguntinha básica: Por que toda essa
história? Porque o vinho, o vinho nosso de cada dia pode te entregar momentos
melhores na sua vida, trazer o elixir para a sua alma, a resposta para muitas
dúvidas, ou simplesmente te proporcionar o prazer que você deseja para aquele
momento em que você só precisa relaxar, descansar, depois da batalha cotidiana.
Uma vez eu ouvi ou li, não sei ao certo, de que da simplicidade vem a nobreza e
essa frase nunca foi tão relevante para o universo do vinho e com esse vinho de
hoje, a frase personifica perfeitamente a sua proposta.
Um vinho simples, descontraído, informal, ligeiro, mas que
traz toda a relevância para o momento! Um vinho que não sintetiza apenas a
tipicidade da região a qual foi produzido, que foi cultivado, com todo o apelo
regionalista, que revela todas as características de um povo, de uma cultura,
de suas cepas, do seu terroir, mas o que proporciona para aquele que enche e
ergue, com prazer, a taça: o prazer, a alegria de celebrar esse momento de
degustar um vinho. E esse vinho que degustei e gostei traz todo o conceito,
mesmo que nas entrelinhas, de força, de prazer diante dos obstáculos difíceis
da vida, de todos os seus infortúnios e reveses. Falo do vinho “Pé de Cabra”,
um IG (Indicação Geográfica) da emblemática região portuguesa do Tejo, com um
blend composto pelas castas Tinta Roriz (35%), Trincadeira (35%) e Castelão
(30%). E, além de todas essas questões espirituais e existenciais, esse vinho
marca uma estreia na minha vida de enófilo: É o meu primeiro IG (Indicação
Geográfica) do Tejo. Então convém falar, até mesmo para entender a proposta de
vinho que estamos degustando, um pouco da região, tradicional de Portugal, e as
suas classificações, bem como os seus conceitos.
Os vinhos do Tejo
A Região Vitivinícola do Tejo está localizada no centro de
Portugal, a pouca distância de Lisboa. O rio não é o que separa, mas o que liga
um território vitivinícola com 12.500 hectares de vinhas distribuídos por 21
municípios. Largo e imponente, o Tejo é o maior rio de Portugal. Como elemento
primordial da paisagem, moldou a história dos que lá vivem, criam e trabalham,
influenciando o clima e o terroir.
Lá, os dias bastante quentes asseguram a maturação da fruta.
As noites, frescas e úmidas, diminuem o estresse hídrico das videiras, dando às
uvas características que permitem fazer vinhos de grande qualidade e com
potencial de guarda. Dos 12.500 hectares de vinha, 2.500 dão origem a vinhos
com denominação de origem DOC do Tejo e 5.000 a vinhos com certificação IG
Tejo. Todos são reconhecidos e apreciados pelo equilíbrio, frescor e aromas
frutados. Resultam de uma combinação harmoniosa de sábias e velhas tradições
com os novos conhecimentos de uma jovem e qualificada geração de viticultores e
enólogos. O Tejo tem alguns dos mais vibrantes e acessíveis vinhos de Portugal,
oferecendo uma gama diversificada e diferenciada de estilos, para todos os
gostos, orçamentos e ocasiões. A produção anual, que cresce safra após safra,
atingiu, no ano passado, os 23,3 milhões de litros. Nos brancos, o perfil
traduz-se em vinhos muito aromáticos, frescos e elegantes. Os tintos são muito
equilibrados, frescos e com taninos distintos. No nariz, sobressai a fruta. Já nos tintos de guarda a madeira revela-se
de forma discreta. A região do Tejo produz também excelentes vinhos rosés,
espumantes, frisantes, e ainda licorosos e colheitas tardias.
Por denominação de origem "DO", entende-se o nome
geográfico de uma região, que serve para designar ou identificar um produto
vitivinícola originado de uvas provenientes dessa região e cuja qualidade ou
características se devem, essencialmente ou exclusivamente, ao meio geográfico,
incluindo os fatores naturais e humanos e cuja vinificação e elaboração ocorrem
no interior daquela área ou região geográfica delimitada. Por indicação
geográfica "IG", entende-se o nome de um país ou região, ou de uma
denominação tradicional, associada a uma origem geográfica, ou não, que serve
para designar ou identificar um produto vitivinícola originado de uvas daí
provenientes em pelo menos 85%, no caso de região ou de local determinado, cuja
reputação, determinada qualidade ou outra característica podem ser atribuídas a
essa origem geográfica e cuja vinificação ocorra no interior daquela área ou
região geográfica delimitada.
E agora finalmente o vinho!
Na taça entrega um lindo vermelho rubi intenso, mas com
entornos violáceos e uma abundante concentração de lágrimas finas, mas que logo
se dissipam.
No nariz revela uma explosão de frutas vermelhas e negras,
onde se destacam amoras e framboesas, com notas, diria, de especiarias, de
ervas, e até de tabaco.
Na boca é seco, confirma as impressões olfativas no que tange
a fruta, tendo ainda um bom corpo, mostrando uma personalidade marcante, mas
macio, redondo, equilibrado, fácil de degustar. Tem taninos presentes, mas
domados com acidez correta e um final persistente e frutado.
Um vinho surpreendente! Tem o corpo da Tinta Roriz, as
especiarias e toque herbáceo da Trincadeira e a fruta da Castelão. Um bom
percentual entre as castas nesse blend. Um excelente vinho que, mesmo com uma
proposta mais básica, mais simples, revela a sua imponência, revela a sua
personalidade. Um vinho com bom corpo, mas fácil de degustar, redondo,
equilibrado. O vinho entrega além do que vale, além de sua proposta, com uma
boa vocação gastronômica, mas que, dada a sua descontração, pode ser degustado
sozinho e de preferência com amigos para celebrar a vida! E por falar em vida,
o nome do vinho é “Pé de Cabra” e faz menção a aquela ferramenta que se usa
para abrir tampas e objetos pesados usando a força de alavancas. Ou seja, pode
ser entendido como um vinho que nos dá forças para seguir a vida com alguma
alegria, mesmo que fugaz, e para superar os obstáculos difíceis da vida. Tem
13% de teor alcoólico.
Sobre a Quinta do Gradil:
Não muito distante do sopé da vertente poente da Serra de
Montejunto, entre Vilar e Martim Joanes, está instalada a Quinta do Gradil.
Considerada uma das mais antigas, senão a mais antiga, herdade do concelho do
Cadaval, a Quinta do Gradil tem uma forte tradição vitivinícola que se prolonga
desde há séculos. A propriedade é composta por uma capela nobre ornamentada por
um torreão artisticamente decorado, um núcleo habitacional, uma adega e uma
área agrícola de 200 hectares ocupados com produções vinícolas e frutícolas. A
Quinta do Gradil foi adquirida, nos finais dos anos 90, pelos netos de António
Gomes Vieira, precursor da tradição de vinhos na família desde 1945. Os novos
proprietários iniciaram, em 2000, o processo de reconversão de toda a área de
vinha primando por castas de maior qualidade. A adega sofreu melhoramentos,
estando projetada uma reformulação profunda nos próximos 2 anos, e as cocheiras
recuperadas deram lugar a uma sala de tertúlias. O palacete e capela, em fase
muito avançada de degradação aquando da aquisição da Quinta pelos novos
proprietários, foram limpos e contam agora com um projecto ambicioso de
recuperação, sendo que a herdade tem marcas históricas seculares e constitui um
marco arquitetônico significativo. As mais antigas referências documentais
encontradas sobre a Quinta do Gradil remontam ao final do século XV, num documento
Régio. Em de 14 de Fevereiro de 1492, data do documento, D. Martinho de Noronha
recebeu de D. João II a carta de doação da jurisdição e rendas do Concelho do
Cadaval e da Quinta do Gradil. Por ocasião da ascensão de D. Manuel I ao trono
português e a sua atuação a favor dos membros da Casa de Bragança, a Quinta do
Gradil torna a ser referenciada na confirmação de doação concedida por D.
Manuel I a D. Álvaro de Bragança, irmão mais novo do 3º Duque de Bragança, D.
Fernando II, que acusado de traição foi mandado degolar por D. João II, em
1483. A Quinta terá sido adquirida pelo Marquês de Pombal por ocasião do
movimento que a partir de 1760 levou à ocupação de terras municipais,
admitindo-se que já na altura contasse com o cultivo de vinha, fator que terá
sido decisivo para o estadista que criou a Companhia das Vinhas do Alto Douro.
Manteve-se na pretensa da família até meados do século XX, quando foi comparada
por Sampaio de Oliveira. Já nos finais dos anos 90 que os atuais proprietários,
a família Vieira, adquirem a herdade.
Sobre a Parras Wines:
A Parras Vinhos de Luís Vieira nasce no ano de 2010,
atualmente com sede em Alcobaça, onde também está instalada a unidade de
engarrafamento do grupo. Cinco anos depois, com a empresa consolidada e voltada
para o mercado internacional, surge a necessidade de se fazer um
reposicionamento de marca e “vesti-la” de outra forma, mais atual. É assim que
no início de 2016 aparece a Parras Wines, mais jovem, mais flexível, e numa
linguagem universal para que possa ser facilmente compreendida por todos, mesmo
os que estão além-fronteiras. Descendente de um pai e de um avô que sempre
trabalharam com vinho, Luís Vieira é o único dono deste projeto. Aos cinco anos
caiu num depósito de vinho e quase morreu afogado, não fosse um colaborador do
avô na altura, que atualmente é seu, tê-lo salvo. Hoje, recorda com graça esse
episódio e diz mesmo que simboliza o seu “batismo nestas andanças do vinho”. A
empresa começa então a formar-se com terra própria na Região Vitivinícola de
Lisboa, mais exatamente na freguesia do Vilar, Cadaval, com duzentos hectares
de propriedade em extensão, sendo que 120 são hoje de vinha plantada. Na mesma
região do país, um bocadinho mais acima, na zona de Óbidos, a Parras Wines é
também responsável pela exploração de 20 hectares de vinha que dão origem aos
vinhos Casa das Gaeiras. Com sede em Alcobaça, nas antigas instalações de uma
fábrica de faianças, deu-se início a uma nova área de negócio – uma Unidade de
Engarrafamento de Bebidas, que hoje serve também de sede à Parras Wines e que
se chama Goanvi. Cinco anos mais tarde, em 2010, constitui-se então a Parras
Vinhos, hoje Parras Wines. Para além de terra na Região de Lisboa, o grupo
começou paralelamente a produzir vinhos de outras regiões do país. Através de
parcerias com produtores locais, a empresa consegue assim dar resposta às
necessidades globais que iam surgindo do mercado, produzindo vinhos do Douro,
Vinhos Verdes, Dão, Lisboa, Tejo, Península de Setúbal e Alentejo.
Mais informações acesse:
https://www.quintadogradil.wine/pt/
Referências de pesquisa:
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/entre-na-regiao-dos-vinhos-do-tejo_12582.html
“Comissão Vitivinícola Regional do Tejo”: https://www.cvrtejo.pt/
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