Sou um grande fã dos vinhos da região de Lisboa, da capital
de Portugal, isso é fato! Todavia um vinho, em especial, me fez trazer à tona
algumas lembranças perdidas. Eu explicarei! Quando no período da transição dos
vinhos de mesa para os vinhos de uvas vitivinícolas, aquela transição que todos
os simples enófilos nascidos no Brasil fazem, eu não tinha aquela preocupação
em ter noção ou conhecimento dos rótulos que degustava, aqueles requintes de
detalhes tais como: castas, regiões, passagem ou não por barricas de carvalho
etc. Degustava os vinhos sem ter a preocupação com esses detalhes. Então alguns
rótulos, talvez por conta dessa falta de preocupação ou ainda por
inexperiência, passavam despercebidos, não adquiria a famosa memória
fotográfica ou coisa similar. Porém, quando eu assistia a um dos poucos
programas de TV direcionados ao mundo vinho, que tem transmissão no Canal
Globosat, da TV Globo, chamado “Um Brinde ao Vinho” que dedicou uma temporada
as regiões mais emblemáticas de Portugal e, claro que Lisboa estava na rota do
programa. E quando a apresentadora Cecília Aldaz esteve na jovem AdegaMãe
mostrou alguns dos seus rótulos e, por um relance, mostrou um rótulo que havia
degustado há muito tempo atrás e que tinha caído no esquecimento, mas ainda
assim tinha um lampejo de lembrança. Animado por conhecer um pouco mais do
rótulo que havia degustar a tempos atrás, fui, o mais rápido possível, aos
supermercados em busca do vinho. Coloquei como prioridade achá-lo e degustá-lo.
E achei! Parecia que os tempos de outrora ganhara novos
contornos contemporâneos e que ficaria para todo sempre com uma degustação mais
rebuscada e atraente ao paladar e ao conhecimento adquirido. Quando o
desarrolhei foi como se um novo tempo havia iniciado entre eu e esse rótulo e
essa vinícola. Me apaixonei pelo produtor. O vinho que degustei e gostei se
chama Pinta Negra, um tinto composto pelas castas Castelão e Aragonez, da safra
2016. A região de Lisboa descortinara, mais uma vez, um rótulo, apesar de jovem
e direto, expressivo e de belíssima personalidade. Mas já que a minha relação
com Lisboa é de um amor profundo, falemos, mais uma vez, sobre ela.
Lisboa
Na região de Lisboa, região com longa história na viticultura
nacional, a área de vinha é constituída pelas tradicionais castas portuguesas e
pelas mais famosas castas internacionais. Aqui é produzida uma enorme variedade
de vinhos, possível pela diversidade de relevos e microclimas concentrados em
pequenas zonas da região. A região de Lisboa, anteriormente conhecida por
Estremadura, situa-se a noroeste de Lisboa numa área de cerca de 40 km. O clima
é temperado em virtude da influência atlântica. Os Verões são frescos e os
Invernos suaves, apesar das zonas mais afastadas do mar serem um pouco mais
frias. Esta região possui boas condições para produzir vinhos de qualidade,
todavia há cerca de quinze anos atrás a região de Lisboa era essencialmente
conhecida por produzir vinho em elevada quantidade e de pouca qualidade. Assim,
iniciou-se um processo de reestruturação nas vinhas e adegas. Provavelmente a
reestruturação mais importante realizou-se nas vinhas, uma vez que as novas
castas plantadas foram escolhidas em função da sua produção em qualidade e não
em quantidade. Hoje, os vinhos da Região de Lisboa são conhecidos pela sua boa
relação qualidade/preço. A região concentrou-se na plantação das mais nobres
castas portuguesas e estrangeiras e em 1993 foi criada a categoria “Vinho
Regional da Estremadura”, hoje "Vinho Regional Lisboa". A nova
categoria incentivou os produtores a estudar as potencialidades de diferentes
castas e, neste momento, a maior parte dos vinhos produzidos na região de
Lisboa são regionais (a lei de vinhos DOC é muito restritiva na utilização de
castas). A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de Origem:
Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa), Alenquer,
Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e Encostas
d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).
1| Encostas de Aire
2| Lourinhã
3| Óbidos
4| Torres Vedras
5| Alenquer
6| Arruda
7| Colares
8| Carcavelos
9| Bucelas
As regiões de Colares, Carcavelos e Bucelas outrora muito
importantes, hoje têm praticamente um interesse histórico. A proximidade da
capital e a necessidade de urbanizar terrenos quase levou à extinção das vinhas
nestas Denominações de Origem. A Denominação de Origem de Bucelas apenas produz
vinhos brancos e foi demarcada em 1911. Os seus vinhos, essencialmente
elaborados a partir da casta Arinto, foram muito apreciados no estrangeiro,
especialmente pela corte inglesa. Os vinhos brancos de Bucelas apresentam
acidez equilibrada, aromas florais e são capazes de conservar as suas
qualidades durante anos. Colares é uma Denominação de Origem que se situa na
zona sul da região de Lisboa. É muito próxima do mar e as suas vinhas são
instaladas em solos calcários ou assentes em areia. Os vinhos são
essencialmente elaborados a partir da casta Ramisco, todavia a produção desta
região raramente atinge as 10 mil garrafas. A zona central da região de Lisboa
(Óbidos, Arruda, Torres Vedras e Alenquer) recebeu a maioria dos investimentos
na região: procedeu-se à modernização das vinhas e apostou-se na plantação de
novas castas. Hoje em dia, os melhores vinhos DOC desta zona provêm de castas
tintas como por exemplo, a casta Castelão, a Aragonez (Tinta Roriz), a Touriga
Nacional, a Tinta Miúda e a Trincadeira que por vezes são lotadas com a
Alicante Bouschet, a Touriga Franca, a Cabernet Sauvignon e a Syrah, entre
outras. Os vinhos brancos são normalmente elaborados com as castas Arinto,
Fernão Pires, Seara-Nova e Vital, apesar da Chardonnay também ser cultivada em
algumas zonas. A região de Alenquer produz alguns dos mais prestigiados vinhos
DOC da região de Lisboa (tintos e brancos). Nesta zona as vinhas são protegidas
dos ventos atlânticos, favorecendo a maturação das uvas e a produção de vinhos
mais concentrados. Noutras zonas da região de Lisboa, os vinhos tintos são
aromáticos, elegantes, ricos em taninos e capazes de envelhecer alguns anos em
garrafa. Os vinhos brancos caracterizam-se pela sua frescura e carácter
citrino. A maior Denominação de Origem da região, Encostas d’Aire, foi a última
a sofrer as consequências da modernização. Apostou-se na plantação de novas
castas como a Baga ou Castelão e castas brancas como Arinto, Malvasia, Fernão
Pires, que partilham as terras com outras castas portuguesas e internacionais,
como por exemplo, a Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Aragonez, Touriga Nacional
ou Trincadeira. O perfil dos vinhos começou a alterar-se: ganharam mais cor,
corpo e intensidade.
E agora o vinho!
Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, escuro e
brilhante com uma boa proliferação de lágrimas, finas e que teimavam em se
dissipar das bordas do copo.
No nariz é intenso, muito aromático, notas de frutas
vermelhas frescas e um toque floral muito agradável.
Na boca é um vinho meio seco, macio, fácil de degustar, um
vinho despretensioso e saboroso, mas que revela certa expressividade,
personalidade. Tem taninos macios, mas gulosos, com uma acidez equilibrada. Tem
um final persistente, de retrogosto frutado. É um vinho com muita fruta, mas
sem soar enjoativo.
O passado revisitou o presente e ajudou a construir um futuro
na minha vida de enófilo e me fez observar e entender que, além do maravilhoso
exercício da análise sensorial, a história do vinho, como seu terroir, sua
história, sua região, pode ser sim, sem sombra de dúvida, um aditivo para a
construção de sua percepção perante o rótulo. Pinta Negra é um vinho básico,
para o dia a dia, mas que entrega muito além da sua proposta, definitivamente
uma grata surpresa. Tem 13% de teor alcoólico.
Sobre a AdegaMãe:
A AdegaMãe pertence ao grupo Riberalves, empresa familiar
portuguesa, que é a maior produtora de bacalhau do mundo – 30 mil toneladas por
ano, o equivalente a 10% de todo o bacalhau pescado no mundo! É uma homenagem
da família à sua matriarca, Manuela Alves. Em 2009, investindo na paixão pelo
vinho, a família inaugurou a vinícola, que fica próxima da sede da
empresa. A vinícola fica em Torres
Vedras, que faz parte da CVR Lisboa (Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa),
antiga Estremadura, zona com grande influência atlântica, devido à proximidade
com o oceano, com solos calcários, terroir propício para a produção de vinhos
bastante minerais e com acidez marcante. A AdegaMãe tem um projeto lindíssimo e
Diogo, juntamente com Anselmo Mendes, enólogo consultor, entrou desde o começo
da concepção da adega, no projeto das vinhas, de forma a definir as melhores
variedades para a região, tanto que as vinhas velhas que ali estavam foram
arrancadas, pois não eram boas o suficiente para os vinhos que pretendiam fazer.
Mas é possível ver a vinha mãe da adega exposta como obra de arte, em uma das
paredes da vinícola.
A Norte de Lisboa e a um passo da costa oceânica, a AdegaMãe
potencia um terroir fortemente
influenciado pelas brisas marítimas predominantes, destacando-se pelos seus vinhos
de inspiração atlântica, plenos de carácter, frescos e minerais, premiados a
nível nacional e internacional. Referida pela arquitetura exclusiva, e pela
forma como se harmoniza com a fantástica paisagem envolvente, a AdegaMãe foi
desenhada de raiz para integrar a melhor experiência de visita, assumindo-se
como uma referência no enoturismo da Região de Vinhos de Lisboa.
Mais informações acesse:
Referências de pesquisa:
Portal Infovini, em: http://www.infovini.com/pagina.php?codNode=3901
Degustado em: 2018
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