É dito como um mantra pelos especialistas e formadores de
opinião do universo do vinho: Os melhores vinhos com a casta Pinot Noir vêm da
Borgonha, a emblemática e tradicional região na França. Bem é claro que é digna
de reverências, além de serem os vinhos mais famosos e expressivos, é a terra
da Pinot Noir! Contudo apesar das reverências e dos devidos e merecidos
reconhecimentos, é inegável também que a Pinot Noir, apesar de ser uma casta
delicada e um tanto quanto arredia no tocante ao seu cultivo, vem ganhando
adeptos e credibilidade em outras partes do planeta, inclusive no Novo Mundo,
tais como: Argentina, Chile, Nova Zelândia e até mesmo no Brasil, cada um com a
sua tipicidade, expressando, com veemência os seus terroirs. Ainda não tive o prazer
e a alegria de degustar um Pinot Noir da Borgonha, mas, por outro lado, obtive
grandes experiências sensoriais com a cepa de outros países e regiões,
principalmente dos acima mencionados. Mas o vinho e as suas grandes novidades
tem me proporcionado novos e grandes momentos e decidi degustar um Pinot Noir
francês! E a novidade não fica por conta da casta e do país somente, haja vista
que já tive o prazer de degustar vinhos franceses Pinot Noir em outras
oportunidades e momentos, mas é a região, em especial e uma região que ganhou a
minha atenção há pouco tempo, mas de forma avassaladora, diria arrebatadora:
Languedoc-Roussillon. Essa região que, ao longo do tempo na França, foi o
patinho feio, que produzia vinhos de baixa qualidade e que, nos últimos 40 anos
vem se notabilizando por produzir ótimos vinhos com valores extremamente
competitivos, que atingem, de forma verdadeiramente democrática, a todos os
bolsos e classes sociais ávidas por um bom e honesto vinho.
E a minha escolha por um Pinot Noir do Languedoc-Roussillon
teve outro fenômeno tão importante quanto o ritual de degustação dessa poesia
líquida: a harmonização. E, em pleno natal, com a sua “confusão gastronômica”,
com tanta comida com as suas texturas e propostas tão distintas, precisava
olhar, de forma mais apurada e carinhosa, na adega para um vinho que tivesse a
versatilidade necessária para harmonizar com todas as comidas tradicionais
natalinas, o famoso vinho “coringa”. E escolhi um Pinot Noir que entrega
delicadeza, expressividade, o toque frutado e leve, com aquele frescor para
expressar o belíssimo fenômeno enogastronômico de que sempre procuramos. E, com
a escolha, surgiu a grata oportunidade de degustar, pela primeira vez, um Pinot
Noir de Languedoc-Roussillon.
Então, celebremos o vinho que degustei e gostei que, como
disse, vem da maravilhosa região francesa do Languedoc-Roussillon, na França,
que se chama Domaine de la Motte da casta Pinot Noir, da safra 2018. Um
legítimo “Pays D’Oc”, um IGP (Indication Géographique Protégée) que sintetiza o
apelo regionalista dos vinhos franceses e que alia bom e justo preço com
qualidade e tipicidade. Mas o que significa “Pays D’Oc”, o que significa “IGP”?
Termos e siglas que podem parecer irrelevantes, mas que traduz
significativamente o vinho que estamos degustando. Então vamos as histórias.
IGP (Indication Géographique Protégée), o antigo “Vin de
Pays”
O Vin de Pays significa “Vinho Regional”. Para nós
brasileiros seria algo como “vinho do interior” ou “country wine” para os
americanos. O Vin de Pays tem uma liberdade maior na hora da produção, ainda
que submetidos a rigorosas regras. Esses vinhos não foram produzidas conforme a
classificação AOC, que veremos adiante. Nessa categoria, podemos ter vinhos com
nome do tipo de uva, como acontece no Brasil, Argentina e Chile. O Vin de Pays
pode ter no rótulo “Cabernet Sauvignon”, já um AOC, não. É uma chance de o
mercado francês competir melhor com os vinhos do “Novo Mundo”. É importante
frisar que nem sempre o Vin de Pays indica qualidade inferior ao AOC. Muitas
vezes o Vin de Pays é caro e de qualidade extrema, inclusive, pode ser
produzido com o resto da produção de uvas que irão para o AOC. O Vin de Pays, a
partir de 2009, foi substituído pelo IGP – Indication Géographique Protégée. O
mesmo acontece aqui. Por motivos estratégicos, as vinícolas não usarão o IGP
por um bom tempo. Essa mudança será introduzida aos poucos. Mas se você
encontrar um IGP saiba que significa o mesmo que Vin de Pays.
“Pays D’Oc” ou simplesmente os vinhos do Languedoc-Roussillon
Com vinhedos cultivados desde o ano 125 a.C.,
Languedoc-Roussillon é uma das regiões vinícolas mais importantes da França,
responsável por ¼ de todo o vinho produzido no país. Na opinião de vários
autores, como a inglesa Jancis Robinson, a região origina algumas das melhores
relações qualidade e preço de toda a França. Boa parte da produção é dedicada
aos famosos e saborosos “Vin de Pays d’Oc”, contando ainda com importantes AOC
(Apelação de Origem Controlada) como Minervois, Fitou, Corbières e Coteaux du Langedoc.
Quando elaborados pelos melhores produtores, são vinhos cheios de fruta e
sabor, com boa complexidade, corpo e um delicioso acento regional, perfeitos
para acompanhar as refeições. Languedoc-Roussillon é uma vasta área
vitivinícola, que traz um acentuado toque mediterrâneo e um rico histórico de
cultivo de vinhas e produção de vinhos, um ciclo que teve início há mais de
2.000 anos com as colônias gregas e romanas.
Um cauteloso processo de subdivisão de Languedoc-Roussillon
em terroirs reconhecidamente distintos está em andamento há alguns anos,
originando as apelações Clairette du Languedoc, La Clape, Picpoul de Pinet,
entre outras. Algumas encontram-se bem estabelecidas, com anos de certificação,
outras estão conquistando aos poucos seu espaço perante o mundo do vinho. Com
um solo bastante fértil, as uvas tintas encontradas com maior facilidade na
região francesa são a Syrah, Grenache, Cinsault, Carignan, Merlot e Cabernet
Sauvignon. Entre as variedades brancas, encontram-se Rolle, Clairette, Terret,
Boubolenc, Muscat, Maccabéo, Sauvignon Blanc, Chardonnay, Picpoul, Marsanne e
Viognier. A diversidade de vinhos encontrada na região francesa é imensa. Os
exemplares tintos vãos desde os frutados até os encorpados, e estão sendo cada
vez mais produzidos com sucesso. Os vinhos brancos podem ser mais complexos ou
nítidos, variando entre os doces e oxidados até leves e secos.
Languedoc-Roussillon produz também magníficos vinhos de sobremesa e espumantes
de muito prestígio; seus rosés são intensos, pálidos e muito perfumados. A
tradição de Languedoc-Roussillon estende-se por anos, e a região é dona de
constante evolução e muita variedade. A região tornou-se uma respeitada
produtora, dando origem a vinhos de qualidade e prestígio perante todo o mundo.
Atualmente o Languedoc vem se tornando tão excitantes para vinhos tintos
robustos e frutados a preços convidativos. De trinta anos para cá vinicultores
pioneiros ajudaram a elevar a qualidade para novos níveis. As uvas Syrah,
Grenache e Mourvèdre ocuparam o lugar da Carignan e a procura pela qualidade
reduziu a primazia dos vinhos populares. No período de 1982 a 1993, sub-regiões
como Faugères, Minervois e Limoux enquadram-se como Denominação de Origem
Controlada. Corbières, o vinhedo mais amplo da França Meridional, corre atrás
com tintos apimentados da Grenache.
E agora o vinho!
Na taça apresenta um vermelho rubi um pouco mais intenso para
um Pinot Noir, mas com aquele reflexo violáceo brilhante que caracteriza a
cepa, com lágrimas finas e abundantes, mas que logo se dissipam das paredes do
copo.
No nariz o aroma de frutas vermelhas se revela, tais como
groselha, morango e framboesa, arriscaria notas florais, de flores vermelhas. O
frescor e a jovialidade também se mostram de forma contundente.
Na boca é seco, leve, redondo, equilibrado, mas que revela uma
personalidade marcante. As frutas também aparecem, mas não tão evidente como
outros vinhos da casta Pinot Noir que já degustei, bem como a sua acidez,
evidente, mas que não compromete o conjunto, fazendo do vinho fresco e taninos
sedosos, mas arriscaria em dizer que com certa presença. Final de curta
persistência.
Languedoc-Roussillon não me decepcionou me trouxe mais uma
grata e fantástica percepção de suas nuances mais fiéis, tipicidade em
profusão, o terroir na sua mais perfeita definição, o apelo regionalista pode
ser sim, um fator preponderante para ganhar o mundo com as suas impressões
sensoriais. Esse Domaine de la Motte Pinot Noir entrega certas peculiaridades
que eu não havia percebido, observado em outros rótulos que degustei desta
casta, mas que, ao mesmo tempo, se revela delicado, frutado, como todo bom
Pinot Noir na sua mais fiel essência. E são esses quesitos que faz desse vinho
marcante, com personalidade e que harmonizou maravilhosamente com a culinária
natalina. Que a alma do vinho e a sua perfeita capacidade de celebrar, traga
boas novas para todos e que estimule a busca por grandes rótulos trazendo, além
da degustação, cerne de tudo isso, a mais perfeita manifestação cognitiva, na
incessante busca pela cultura vitivinícola e dos povos que produzem essa poesia
líquida. Tem 12,5% de teor alcoólico.
Sobre a Vignobles Bonfils:
Localizada no Sul da França, a Vinhedos Bonfils é resultado
de uma história de lutas e conquistas de homens e mulheres que há 5 gerações,
trabalham pela paixão de promover a excelência do bom vinho. Uma família unida
pela determinação e paixão por desafios desde o século XVII. Tudo começou em
1870 com o jovem professor Joseph Bonfils quando ao participar do “Commune
Paris” – movimento contrário ao regime político francês da época – foi exilado
na Argélia. Lá ele conheceu Honorine Duvaux, que veio a tornar-se sua esposa e
a ser a primeira mulher a receber uma medalha de honra ao mérito agrícola. É
Honorine que monta uma fazenda agrícola com muitas vinhas e planta
incansavelmente, iniciando uma plantação de mais de 6 hectares de vinhas. A
fazenda gerou resultado até a declaração da independência da Argélia, quando a
propriedade do casal foi nacionalizada e foram forçados a voltar para a França.
Joseph e Honorine recomeçaram a plantação de vinhedos aos pés
do Mont Ventoux e Dentelles de Montmirail, sem saber que estavam começando uma
história que seria perpetuada por gerações. O filho do casal, Abel, desde
criança continuou a tradição da família e logo passou a introduzir o filho Jean
Michel Bonfins, nas vinhas e adegas da família. Jean seguiu os passos dos avôs
e de seu pai, que se instalaram perto de Béziers, onde se deu a construção da
Vignobles Bonfils, que trazia a marca da força da fabricação artesanal de
vinhos. Depois disso, Jean Bonfins, aproveitando todas as oportunidades que
surgiam, fez crescer o patrimônio da família e comprou de volta as vinhas de
Languedoc, que no passado pertenciam aos seus avôs, somando assim 10 hectares
de plantação de uvas bem selecionas e especiais. Em 1978 comprou os terrenos do
Domaine de Cibadiés e Capestang No Hérault, atual sede da Vignobles Bonfils.
Logo depois, em 1990, o filho de Jean Bonfins, Laurent Bonfins, com apenas 25
anos de idade e recém-formado, assumiu o comando do Cibadiés Domain. Com a
ajuda de seus irmãos Olivier e Jerome, um na supervisão e auxiliando na
administração das vinícolas e outro na direção e gerência de marketing da
Vignobles Bonfils, uniram experiência e competência para tomarem as principais
decisões e impulsionarem ainda mais os negócios.
As vinhas da família Bonfils estão localizadas em terrenos
que oferecem ótimas condições de solo e clima que favorece a qualidade das uvas
atendendo as exigências do mercado, mas principalmente a marcante preocupação
da família. As videiras são cultivadas seguindo rigorosos padrões que vão desde
analise das condições do solo até a seleção de tamanho e estado de maturação da
fruta. Sendo feita a colheita manual em algumas áreas, há também a preocupação
que os frutos não recebam excessivo calor do sol e onde são observados todos os
cuidados com os impactos ambientais. As adegas são equipadas com equipamentos
modernos de ultima geração que contrastam com arquitetura original. Todos estes
cuidados dão origem a vinhos autênticos, de excelente qualidade, de sabor
exótico e incomparável. Os vinhos da Bonfils são orgânicos, ou seja, não
recebem adição de produtos químicos ou influencia de maquinário pesado sendo
distribuídos em 35 países e tendo reputação premiadíssima. O que provém da
ideia impressa nas palavras do próprio Jean Michel Bonfils: “Não há nenhum
grande vinho sem um bom vinhedo e sem respeito pela terra que a alimenta”.
Atualmente, os vinhedos Bonfils são constituídos por mais
1800 hectares distribuídos em 23 vinícolas (incluindo 3 castelos) e oferecem 16
castas diferentes de uvas especiais e selecionadas garantindo a alta qualidade
dos vinhos. À frente da vinícola hoje estão: Olivier, Jerome, Laurent e
Christian Bonfils, membros da 5ª geração da família, formados em
Borgonha/França, onde adquiriram vasta experiência em viticultura e enologia.
Conseguem mesclar castas e aproveitas as expressões minerais dos solos onde
cultiva de forma memorável, o que leva seus vinhos a exprimirem sabores únicos.
Eles se valem da paixão e respeito incondicional pela terra, passada de geração
em geração, levando em mente a ideia de cultivar vinhas com uvas da mais alta
qualidade, respeitando o terroir em sua máxima expressão.
Mais informações acesse:
Referências de pesquisa:
“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/vignobles-bonfils-tradicao-e-amor-pela-terra/
“Vem da Uva”: https://www.vemdauva.com.br/o-que-e-vin-de-pays/
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/o-vinho-de-languedoc_8053.html
“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/languedoc-roussillon
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