Merlot é uma cepa adorável! Poucas são as castas com tamanha
versatilidade, que tem a capacidade de entregar inúmeras propostas aos mais
variados preços. Sem contar com o cultivo, se dá bem em vários terroirs e
assume várias facetas, de fato uma casta multifacetada.
Foi a casta que me mostrou o universo vasto dos vinhos finos!
Isso já tem tanto tempo, mas lembro como se fora ontem! Há 25 anos atrás quando
migrei dos vinhos de mesa, aqueles famosos vinhos de “garrafão”, o chamado
vinho colonial, para os vinhos finos, lá estava o Merlot fazendo a minha
iniciação.
E os Merlots chilenos tiveram uma influência muito grande
nessa predileção pela variedade. Por anos a Merlot foi a minha cepa preferida e
falo, com o carinho incondicional, dela. E o Merlot chileno foi decisivo para
isso.
Já degustei de várias propostas: dos mais básicos, simples
aos mais estruturados e complexos, o Merlot chileno definitivamente me ganhou!
Se são os melhores do mundo eu não sei, mas são os meus melhores, há de fato um
apelo sentimental e eu não tenho nenhum tipo de vergonha em dizer isso.
E hoje degustarei mais um Merlot, com muito orgulho e com um
detalhe todo especial: esse é um vinho orgânico. Práticas sustentáveis que
envolve todas as camadas da sociedade e que contempla a todas essas
indistintamente. Até o vinho e seus produtores precisam trazer práticas limpas
ao seu público, ao seu mercado, os enófilos.
Confesso não me recordar de ter degustado, especificamente,
um Merlot chileno orgânico, mas é, indubitavelmente, um adendo especial ao
ritual da degustação e não tenho dúvidas de que trará maravilhas.
E demorei um pouco para desarrolhá-lo. O comprei há cerca de
um ano ou um pouco mais e lá ficou a evoluir na adega. Esperava e ansiava por
um bom momento para degusta-lo e eis que o dia chegou. Há algum tempo não
aprecio um Merlot chileno e é chegada a hora para este momento.
E o retorno não poderia ser melhor! E não direi
surpreendente, pois tinha a melhor das expectativas por ele, pelo rótulo.
Então, sem mais delongas, o vinho que degustei e gostei veio da emblemática
região do Vale de Casablanca, é o Cruz Andina Estate Colection da casta Merlot
safra 2018. E não é a minha primeira experiência com essa linha de rótulos, pois degustei, há
pouco tempo atrás, o Cruz Andina Chardonnay 2017 e tive uma ótima surpresa. E,
para não perder o costume, falemos um pouco de Casablanca Valley.
Valle de Casablanca, Aconcágua
Os primeiros espanhóis no Vale de Casablanca foram os
expedicionários liderados, em 1536, pelo avançado Dom Diego de Almagro. O
Conquistador, em suas incursões ao longo da costa, entrou na rota Inca, que de
Quillota cruzou Limache e Villa Alemana, penetrando o vale de Margamarga em
direção aos campos de Orozco. De lá avistou o vale (que os nativos chamavam de
Acuyo) cruzando-o para continuar até Melipilla pelo Cordón Ibacache, visitou as
colônias de 'Mitimaes' de Talagante, avançou mais para o Leste e depois voltou
para Quillota. Em 1540, D. Pedro de Valdivia passou com os seus anfitriões, imitando
a estrada para Almagro.
O vale, localizado entre Santiago e o maior porto do Chile,
Valparaíso (recentemente declarado Patrimônio da Humanidade) combina todas as
condições para tornar-se essencial para todos que visitam o país. Casablanca se
caracteriza por ser um vale pre-litoral, localizado na planície costeira da
região, a apenas 18 km do mar e rodeado pela serra costeira.
A origem do nome Casablanca (Casa Branca) está no século XVI,
quando foi construída uma casa de adobe caiada a oeste da cidade. Em 1755, os
trabalhos preparatórios para a nova cidade prosseguiram e o seu traçado
original foi delineado - de acordo com a tradicional grelha espanhola - por Dom
Joseph Bañado y Gracia, juiz agrimensor do Bispado.
Quando as primeiras casas foram construídas, algumas medidas
foram ditadas a fim de garantir o progresso da população. Foi nomeado um
Tenente General do Partido Casablanca, dependente do prefeito de Quillota, que
também recebeu ordens do Governador de Valparaíso em caso de defesa do referido
porto.
Embora, no início, a população tenha crescido, a rivalidade
entre José Montt e Dom Francisco de Ovalle pôs em risco o seu desenvolvimento,
quando este último reivindicou os direitos sobre o terreno onde fora construída
a vila, visto que os habitantes iam abandonando o terreno por entender que eles
iriam perdê-los se Ovalle ganhasse o processo.
O contencioso durou toda a segunda metade do século XVIII e a
situação normalizou-se quando os herdeiros dos litigantes encerraram a ação,
reconhecendo o fundamento e os direitos dos seus habitantes.
Casablanca tem uma clara influência marítima, clima bem mais
frio, com neblinas matinais e uma amplitude térmica de até 19 graus entre o dia
e a noite, o que favorece a lenta maturação das uvas.
A temperatura média do verão é de 14,4 graus, as chuvas se
concentram entre os meses de maio e outubro, com uma média anual de 450 mm. A
influência marítima que o vale recebe faz com que a temperatura média seja
moderada, alcançando não mais do que 20º C durante o período vegetativo. Isso
cria excelentes condições para as variedades brancas, como Sauvignon Blanc e
Chardonnay, refletindo-se na frescura e no intenso aroma cítrico de seus
vinhos.
Os meses com riscos de geadas são setembro e outubro, ficando
bem mais seco entre novembro e abril, época do crescimento e maturação das
uvas. A colheita, diferente de outros vales, acontece mais tarde, a partir de
15 de março até final de abril. Essas características climáticas trazem vinhos
de qualidade superior, com muita concentração de fruta, acidez muito boa e um
final brilhante.
A região é dominada pelas castas brancas, que correspondem a
75% da área plantada. Lá reina a Chardonnay, que ocupa mais de 1.800 hectares.
Outras variedades importantes são a Sauvignon Blanc (1.000 ha), a Merlot (430
ha) e a Pinot Noir (426 ha). Esta última, apesar de ser apenas a quarta mais
plantada, forma, junto com a Chardonnay, a dupla de uvas emblemáticas da
região.
E agora finalmente o vinho!
Na taça entrega um vermelho rubi vivo e pleno com tonalidades
granada e lágrimas finas e em profusão, se dissipando vagarosamente, desenhando
as bordas do copo.
No nariz explode em aromas frutados, frutas vermelhas e
pretas maduras, onde se destaca groselha, cereja preta, ameixa, amora, com
notas amadeiradas, graças aos oito meses de passagem por barricas de carvalho,
que traz ainda um tostado, couro e especiarias.
Na boca é marcante, saboroso, logo de bom volume, cheio, de
média estrutura, mas macio, redondo, fácil de degustar, tem um toque terroso,
com as frutas sendo percebidas, bem como a madeira, como no aspecto olfativo,
mas em perfeito equilíbrio, entregando ainda a baunilha, o chocolate meio
amargo. Tem taninos maduros, presentes, mas domados, boa acidez e um final longo de retrogosto frutado.
Um autêntico Merlot do Vale de Casablanca! A história, o
terroir (olha a palavrinha bonita) denuncia isso de forma veemente. A
assinatura de uma região personificada em seus rótulos, a fidelidade da terra,
o DNA de seus traços geológicos delimita as belíssimas características desse
Cruz Andina Merlot Estate Colection. Entrega ainda uma filosofia calcada nas
práticas sustentáveis, entregando vinhos singulares, com o respeito ao ambiente
natural, levando à mesa de nós, felizes enófilos, não somente um belo produto,
mais um produto que entrega prazer e sinônimo de saúde. Um vinho expressivo, que
traz toda a característica de uma região de clima mais frio, próximo do litoral
chileno, entregando um vinho estruturado sim, mas fresco, vivaz e solar. Lembrando
ainda que 2018 foi um ano muito especial para o Chile e praticamente para todo
o Cone Sul, o que, certamente, influencia na qualidade do vinho. Tem 14,5% de
teor alcoólico.
Sobre a Vinícola Veramonte:
A vinha em Veramonte é a maior vinha contígua do Chile, já
que se estende por mais de 350 hectares na área de cultivo principal do Vale do
Casablanca, no Chile. Em 1990, Agustin Huneeus escolheu este local para a
Vinícola Veramonte, reconhecendo então que os microclimas e solos deste belo
vale são semelhantes às prestigiadas regiões vinícolas da Califórnia, Napa
Valley e Carneros.
O Veramonte Vineyard Manager utiliza os mais recentes avanços
na tecnologia vitícola a fim de produzir frutos da mais alta qualidade
possível. Ele gerencia cuidadosamente os rendimentos, eliminando a colheita,
controlando a irrigação e experimentando diferentes técnicas de poda com a
finalidade de maximizar a maturidade e a maturação das uvas.
Portanto, ele limita a produção de 5 a 7 toneladas por hectare
para colher uvas de alta qualidade com sabor, definição e concentração
intensos.
Veramonte foi introduzido pela primeira vez em 1996 e, desde
então, recebeu elogios da crítica internacional por Chardonnay, Merlot,
Cabernet Sauvignon, Sauvignon Blanc e Primus, um rico e picante proprietário
vermelho, misturado com Carménère (uma bela variedade de Bordeaux, agora
praticamente exclusiva do Chile), e Cabernet Sauvignon.
A vinícola de Veramonte é uma instalação de fato moderna de
vinificação, projetada por um dos principais arquitetos líderes do Chile, Jorge
Swinburn. Inaugurada em 1998, a vinícola de 7.896 metros quadrados inclui dessa
forma a mais recente tecnologia em linhas de engarrafamento, fermentadores
alimentados por gravidade e tanques ultramodernos de aço inoxidável.
Assim como é projetado para vinificação em pequenos lotes,
permitindo fermentação e envelhecimento separados de blocos individuais de
vinha e parcelas experimentais de vinha. Quando os hóspedes entram na vinícola,
são recebidos no “Casona”, uma sala, inegavelmente, de tirar o fôlego, com uma
rotunda alta, tetos de 16 metros e paredes de vidro que revelam as cavernas do
barril abaixo.
No momento em que a família Huneeus era pioneira no Vale do
Casablanca, no Chile, em 1990, havia menos de 40 hectares plantados em
videiras. Posteriormente, nos dias atuais, a propriedade Veramonte Alto de
Casablanca ganhou reconhecimento mundial pela qualidade de seus vinhos.
Todas as propriedades aderem a práticas orgânicas que
garantem assim as melhores condições para o desenvolvimento das vinhas e a
obtenção de vinhedos sustentáveis ao longo do tempo. Solos vigorosos e
equilibrados cultivam uvas de qualidade que sem dúvida alguma expressam o potencial
máximo de seu terroir.
Mais informações acesse:
https://www.veramonte.cl/disclaimer
Referências:
“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=CASABLANCA
“Portal Casablanca”: http://valle.casablanca.cl/zona/zona1.shtm